sábado, agosto 30, 2008

A ponte mento

Na "economia" há muita movimentação. Sobre as areias movediças e sob as núvens negras da "financeirização".

A OMC não está bem a ser o que se pretendia que fosse na "globalização" esperada, e imposta como o que é: a actual face do imperialismo.

Entretanto, em Portugal, ao nível das empresas, há um "facto novo" que se tem vindo a instalar e a acelerar - cá e lá -, a atracção angolana.

Na Festa do avante! também se vai debater isto e aquilo. O mundo em que vivemos. O mundo em que queremos que se viva. Pelo qual lutamos.

quarta-feira, agosto 27, 2008

terça-feira, agosto 26, 2008

Materialismo histórico - 19

A descoberta-invenção da roda, o seu uso em diversíssimas circunstâncias, a domesticação de alguns animais, correspondia a transformações fundamentais nas forças produtivas. O corpo, os braços, as mãos, as pernas que percorriam caminhos, tinham sempre novos e cada vez mais importantes complementos e auxiliares.
A possibilidade de atrelar ao peito animais domesticados, com muito mais força e resistência que o ser humano, mudou condições objectivas com que se fazia o arado penetrar a terra, torná-la objecto de trabalho e fértil, com que se podia transportar grandes pesos, já não por arrastamento porque havia a roda, com que se podia ir muito para além e mais depressa do que as pernas e os pulmões permitiam.
Os escravos não deixaram de ser a principal força produtiva de um momento (histórico!) para o outro, mas começou a haver outras forças produtivas que os podiam substituir e, nalguns casos, com grande vantagem. Basta pensar na diferença entre arrastar pesos apenas com a força humana, e poder fazê-lo com animais de tracção, atrelados ao peito, e sobre rodas.
No entanto, não foram. apenas, as mudanças nas condições objectivas. A exploração dos escravos agravava cada vez mais a contradição fundamental entre os possuidores de escravos e os escravos, produtores directos de bens materiais. Se havia classes, começou a haver luta de classes, sob a forma de revoltas de escravos.
A mais famosa de todas foi a conhecida por “third servile war” e pelo nome de Spartacus. Sobre esta revolta há um livro, de Howard Fast e, a partir deste livro, um filme, de Stanley Kubrick (que teve, em 1961, 4 Óscares),
em que se podem encontrar todos os sinais de uma dinâmica histórica que, com ou sem a consciência dos autores, é a do materialismo histórico.
Entretanto, e é necessário sublinhá-lo, para retomar já a seguir, o facto – importantíssimo – de, no modo de produção e formação social do esclavagismo haver excedentes, isto é, bens ou produtos que excediam as necessidades dos seus produtores directos, introduz a categoria económica da troca.

segunda-feira, agosto 25, 2008

Express(o)amente cruel!

Não tenho nenhuma ligação p’rá vida (para o bem e para o mal) com o Expresso, mas é verdade que há muitos anos o leio (quase) fielmente. E que me dá, semanalmente, muito mais irritações que satisfações.
Às vezes, reajo publicamente às irritações e quase nunca às satisfações (informativas!). Não é justo, embora estas raras sejam.
Na última edição, de 23 de Agosto, as páginas 2 e 3 do caderno Economia deram-me satisfação. São verdadeiramente cruéis para o governo. Não me deram satisfação pela crueldade (não intencional) mas pela informação que veiculam que, ela sim, é cruel!
Na página 2, em apenas duas meias colunas que ensanduícham um quarto de coluna fazem-se contas ao emprego. Dois extractos:
«O primeiro-ministro foi a Santo Tirso inaugurar o centro de atendimento a clientes da PT, referindo inclusivamente que estavam a ser criados 1200 postos de trabalho qualificado. E aí destacou o ‘feito’ de terem sido criados, até ao segundo trimestre deste ano e de acordo como Instituto Nacional de Estatística (INE), 133,7 mil empregos desde o primeiro trimestre de 2005, altura em que assumiu a governação. Chamou-lhe “o dado económico mais relevante dos últimos anos”.»
(…)
«O objectivo
(criação líquida de 150 mil empregos) foi definido por Sócrates em Novembro de 2004, com base no que o então secretário-geral do PS dizia ter sido a destruição de 150 mil postos de trabalho pelos anteriores governos liderados pelo PSD. No entanto, no período em causa o que aconteceu foi que ficaram sem emprego 6300 pessoas e não foram criados empregos para 133,9 mil, que entretanto passaram a fazer parte da população activa. Houve um aumento de 140,3 mil desempregados, mas essencialmente à custa da não criação de emprego para os que chegaram ao mercado do trabalho.
Uma das questões que toda a gente coloca é onde estão afinal os 133,7 mil empregos que o Governo, com base em indicadores do INE, diz terem sido criados. É uma resposta que ninguém consegue dar nesta fase.(…)»
O transcrito não está no avante!, nem foi estudo de um comunista. Reproduziu-se de “Emprego: é fazer as contas”, em o Expresso, da autoria de Ana Sofia Santos e Anabela C. Campos!
.
Da página 3, reproduzem-se apenas os títulos:

«Call centers» são emprego qualificado?
Salários dos novos trabalhadores estagnados
ou a cair desde 2000

domingo, agosto 24, 2008

Silêncio!

De repente, silêncio tornou-se a palavra política. Ou da política.
Porque foi anunciada como estratégia, porque há prazos para o silêncio, porque se comenta o silêncio, porque se vigia o silêncio, porque se espreita a quebra do silêncio.
Porque se enchem páginas sobre silêncio. Ridiculamente.
E estamos nós nisto, eis senão quando a silenciosa-mor, a instigadora do silêncio como palavra política, na coluna em que nunca se calou escreve sobre silêncio alarmante!
Acudam-nos. Estarão a gozar connosco?
.
Ora calem-se!
E falem, ou escrevam... mas digam coisas que valha a pena ouvir ou ler.

Breve crónica de uma tarde de festa na FESTA

Cheguei à Festa. À cidade em construção.
Por aqui, por este imenso espaço de verdes e azul e lonjuras, gosto de passear. Depois, nos três dias de Setembro, por aqui, neste imenso espaço de encontros e recordações e amizades e abraços, vivo e renasço.
Agora, estamos no tempo-intervalo da construção.
Há trabalho, já muito trabalho feito, ainda mais por fazer.
Ao fundo da rampa que será mar de gente, está o palco ainda só estrutura, e por detrás dela, lá longe, até se vê Lisboa.

Aqui é (será) Santarém e, naturalmente, por aqui começo. Até porque, este ano, será recepção para quem entrar pela Medideira.

Logo abaixo, Viseu e, quando passo, embebendo-me da Festa antes da Festa, alguém me chama lá das alturas. É um camarada de todas as lutas e de todas as festas (como tantos são) que está a consertar o pano que diz ser ali Viseu. Saudação amiga, e pela saudação gritada nos ficamos porque ele está lá em cima e eu aqui em baixo, e não há balcão onde nos arrimemos para umas lascas de presunto e um copito para empurrar e completar o abraço. Viro na direcção do lago. Na passagem, no espaço dos Pioneiros, vejo uma jovem em equilíbrio a pintar os varões da estrutura. Pergunto-lhe “Ó camaradinha, posso fotografar-te?”, o sorriso contente é a resposta.

Chego lá abaixo, descanso os olhos no lago e nas águas para lá do espaço da Festa, vejo o esqueleto do palco 1º de Maio, e regresso. Ao passar onde antes tirara a fotografia, ouço a jovem dizer para outra que ia a passar "... sabes?... aquele homem tirou-me uma fotografia!, fixe...". Rio e corrijo… “Um homem?!... um camarada, ó camarada!”. Rimos.
Subo a avenida, saudando este e aquele, trocando um ou outro comentário. Mas rápido porque há muito trabalho em curso.

Páro na rotunda e fotografo o que vai ser o Pavilhão Central. “… isto parece atrasado e só faltam quinze dias…”, penso. Mas nada digo porque eles é que sabem.Detenho-me no que vai ser a “cidade do livro”.
Deixo-me ficar. Talvez mais tempo, talvez com mais atenção, talvez… porque este ano vai ser especial para mim! Ali vai ser o Porto, e enquanto uns projectam e preparam materiais, um grupo discute colectivamente como colocar o solho (?), e outro observa, comentando com ironia, as dificuldades da discussão colectivas levada à risca… mas assim tem de ser!Volto a Santarém. Como se já fosse Festa. E é!
Encaminho-me para o convívio, ouvindo que outros convívios há, de caracolada um, do que for outros. Aqui se juntam muitos camaradas, quase todos com o duche já tomado alguns nem por isso, as imperiais à espera, e aqui se vai conversar um bocado sobre um tema. Desta vez, foram os 160 anos de O Manifesto!

E custa voltar à terra e ao mundo sem Festa, de onde se veio para passar este bocado de dia de festa da Festa antes Festa. Quando me aproximo do carro, tudo está aparentemente deserto. Mas há um passante e passeante. Talvez vigilante.

Até logo, camaradas!

23 de Agosto de 2008

sábado, agosto 23, 2008

"... máquinas de triturar pessoas"?

Na entrevista de fundo do Jornal de Leiria, o professor universitário Carlos André vem afirmar, do alto da sua cátedra e da sua experiência política, aliás repleta - e por via partidária -, que "os partidos políticos são máquinas de triturar pessoas". Ele lá saberá porque o diz...
No entanto, permito-me comentar, dizendo que tal afirmação é bem um retrato do ambiente em que vivemos, da nossa "democracia" e suas similares da "globalização", com o individualismo estreme a ser o maior valor no "mercado" e o colectivo a ter, nesse "mercado", baixa ou nula cotação. Por outro lado, custoa ver tão capacitado homem de cultura, que nunca abdicou da participação civico-política, pouco mais adiantar do que ideias sobre pessoas e suas potencialidades de acederem à presidência da Câmara de Leiria, como quem aposta em corridas... em que ele não está a pensar participar, agora... mas talvez em 2013.

sexta-feira, agosto 22, 2008

Notas (sobre) olímpicas

  1. Pequim veio confirmar, gritantemente, a ciclotímia portuguesa: passámos da esperança infundada, ao desespero derrotista, à recuperada euforia.
  2. Destes Jogos, retenha-se a lição do absurdo, mas verdadeiramente ilustrador; de ter havido compromissos (orçamentais…) com base na fixação de número de medalhas a “conquistar”.
  3. Que o comportamento desportivo-cívico de alguns atletas não tenha sido o mais correcto não pode ser exemplo e bode expiatório, que o comportamento desportivo-cívico de alguns atletas tenha sido exemplar não pode tornar-se glorificação e exemplo.
  4. Não há resultados significativos em alta competição sem educação física e desportiva de massas e “tudo começa na escola” e no associativismo desportivo.
  5. Os resultados que tivemos e que não tivemos ilustram o desporto que não temos, e as excepções que (honra lhes seja!) confirmam as regras.
  6. “Os Comunistas são partidários do desenvolvimento do desporto de alto nível, de confrontações internacionais e dos Jogos Olímpicos que são a sua expressão suprema, por razões fundamentais, inerentes à própria natureza do desporto.
  7. “O ideal da superação, do recuo permanente dos limites das possibilidades humanas, corresponde ao dinamismo profundo da prática desportiva.
  8. “Ao contrário do cepticismo burguês que (…) baptizava o século xx de “esse estranho século do desporto, da hipocrisia (que denunciava) “o gigantismo que contaminou os Jogos Olímpico,s (…) do confusionismo (que vêem, na razão nos fracassos nos resultados,) “o derrotismo dos círculos intelectuais pretensamente esclarecidos”.
  9. “Que desvio de responsabilidades e quantas ideias! Mas é evidente, para nós, que o desenvolvimento do desporto de alto nível não deve ser considerado como um fim em si, uma preocupação exclusiva. (…) não pode existir relação automática entre o número de desportistas e o nível de um escol. O desenvolvimento de uma prática desportiva educativa (e associativa) para a massa tem que ser acompanhada pelo progesso ao nível do escol.
  10. “A função do campeão deve assumir valor educativo e exemplar. (…)”

(a itálico, transcrições de “Os comunistas e o desporto”,
P. Laurent e outros,
História e sociologia do desporto,
Prelo Editora
, 1974)

quinta-feira, agosto 21, 2008

Comunicado do Gabinete de Imprensa do PCP

Sobre o veto do Presidente da República
ao novo regime de divórcio

A decisão de veto ao novo regime de divórcio por parte do Presidente da República merece do PCP os seguintes comentários:

  1. Votámos favoravelmente o projecto na Assembleia da República por considerar que, globalmente, este introduz aspectos positivos relativamente à legislação de 1977 (que então já representou avanços muitos positivos nesta matéria) de que destacamos designadamente: acabar com a chamada tentativa de conciliação quando à decisão comum de divórcio; acabar com a “culpa” ou o divórcio-sanção, já que o casamento deve existir quando ambos queiram que ele exista.
  2. Recordamos, entretanto, que ao longo deste processo o PCP chamou a atenção para aspectos a salvaguardar na nova lei, designadamente nos casos em que os cônjuges não estão de acordo sobre o divórcio, devendo haver uma solução final justa que não permita que quem requer o divórcio (contra a vontade do outro) possa ser beneficiado ou com isso deixar o outro em situação muito difícil.
  3. Voltando este processo à Assembleia da República, o PCP estará disponível para intervir no sentido de salvaguardar o carácter progressista desta lei, (combatendo o regresso a concepções retrógradas sobre a família a este propósito) e contribuirá para os aperfeiçoamentos que o PCP considere necessários e ajustados.
  4. Da nossa parte continuamos empenhados na luta contra as causas económicas e sociais que estão na origem de situações de vulnerabilidade económica e social que atingem, no nosso país, particularmente as mulheres e as famílias, por efeitos da política de direita.

20.8.2008
O Gabinete de Imprensa do PCP

Salvé, Nelson Évora!


Tu (e a Vanessa) salvaram a honra do convento.

Como gostariamos de te ver na nossa Festa!

quarta-feira, agosto 20, 2008

Estamos sempre contra tudo e contra todos?

Assim dizem de nós.
Porque estivemos contra Soares, e contra Cavaco (e uns que houve pelo meio), e contra Guterres, e contra Durão, e contra Santana, e contra Sócrates.
E assim, agora, pensam calar o que justifica que estejamos contra Sócrates. Estaríamos contra Sócrates como teríamos estado contra Santana, e contra Durão, e contra Guterres, e contra Cavaco, e contra Soares (e uns que houve pelo meio). Contra tudo e contra todos. Sempre.
Pois bem, não estamos contra tudo e contra todos. Estamos contra o que sempre estivemos: estamos contra a política que, desde 1976, estes sucessivos governos têm prosseguido, com estes nomes como protagonistas.
Em 1976, no 1º governo constitucional, entre um caminho (difícil?, sim!, decerto) de independência e de soberania nacionais, de uma economia aproveitando recursos nossos numa estratégia de “emprego e necessidades essenciais”, no quadro de uma democracia avançada porque participada
e um caminho de sujeição aos ajustamentos estruturais, de cartas ao FMI, de “Europa connosco”, de recuperação da prevalência e domínio do económico-financeiros sobre o político-social,
foi este o que se escolheu.
Depois, sendo este o caminho, entre uma negociação com a CEE em que se defendessem os nossos interesses e especificidades, com os recursos marinhos e as potencialidades naturais a serem nossa “arma” e nossa “trincheira”,
e uma subserviência aos ditames da subordinação da sociedade e da economia portuguesas a um europeísmo e a um iberismo de cópia e imitação, com um papel subalterno e crescentemente dependente na divisão europeia e global capitalista do trabalho,
foi esta via que se prosseguiu. Antes e depois da adesão, de Maastrich, da UEM e moeda única, da estratégia de Lisboa, da Jugoslávia, do Afeganistão, do Iraque, da “Constituição Europeia” (e seu tratado reformado). Sempre, sempre ao lado das posições politicamente mais recuadas, socialmente mais perniciosas. E, internamente, com a economia cada vez mais dependente, com os recursos nossos desaproveitados, quase sempre em desconvergência, com uma situação social dos trabalhadores e do povo sistematicamente na cauda e a ser ultrapassada por outros povos.

Por isso, não estamos sempre contra tudo e contra todos, estamos contra o que sempre estivemos. Porque as opções políticas serviram o contrário do que defendemos, e têm sido continuamente agravadas, numa euforia de optimismos balofos, numa sucessão de esperanças frustradas, num demissionismo inaceitável em termos pátrios.

terça-feira, agosto 19, 2008

Federico Garcia Lorca, há 72 anos...

... no Ano da morte de Ricardo Reis.
Ver aqui.

Por Ourém

Como se não bastasse... resolvi abrir um novo blog. Responde a uma necessidade e a uma vontade pessoais. Enquanto preparo a sua "apresentação à sociedade", pode ser espreitado.

Parabéns!

Materialismo histórico - 18

Com as novas relações de produção, correspondendo ao desenvolvimento das forças produtivas, a sociedade deixou de ser predominantemente comunitária e começou a cindir-se em três grupos, formados em função das suas posições relativamente aos instrumentos de trabalho.
Eram i) os detentores dos instrumentos de trabalho, antes de todos os escravos, principal força produtiva, eram ii) os escravos e eram iii) os seres humanos livres, embora estes últimos, com o tempo, tendessem a tornar-se ou em escravos ou em detentores de instrumentos de trabalho, que não escravos, dominando a sua própria utilização.
Este processo é determinado pela evolução das forças produtivas. O braço que se prolongava com o ramo, a que se juntava a pedra, é também o braço que se prolongou do mesmo modo e criou o arado, que passou a revolver a terra, e a fazê-la produzir. Ainda não se tinham domesticado animais de (ou para) tracção mas o “outro”, o escravo, servia para conduzir o arado e para transportar de um lugar para outro o que antes de haver escravos era mais difícil de deslocar por menor ser a força de trabalho ou ser o esforço insuficiente. E para fazer tudo o que o proprietário desse seu instrumento, ou até objecto, quisesse
A tracção por arrastamento era penosa e, até à descoberta-invenção da roda, exigia um esforço por vezes sobre-humano. Esta descoberta ilustra, de forma evidente, o desenvolvimento das forças produtivas. Há quem considere a invenção de roda como a que possibilitou a maior transformação de todo o processo histórico, o que, sendo naturalmente discutível, não deixa de ter sentido se se pensar como tudo seria impossível sem a existência da roda que tudo antecede.

Quando cada indivíduo, ou a comunidade em que se integrava, apenas colhia ou produzia o estritamente necessário para sobreviver, era impossível a exploração do homem pelo homem. Só quando o domínio sobre a natureza e a crescente disponibilidade de meios de produção passou a permitir que se colhessem ou produzissem mais bens que os necessários para a sobrevivência do produtor (ou da comunidade) é que foi possível um grupo de seres humanos fazer trabalhar outros seres humanos, retendo para si o sobre-produto do seu labor, o que sobrava do necessário para a sua própria sobrevivência.
E se assim, neste modo de produção, começou a exploração do homem pelo homem, também a História começou a ser a história da luta de classes.
___________________
Foto de Sebastião Salgado

domingo, agosto 17, 2008

Filhos de...

Porque um Filho de... um César começa, no Expresso, a sua "coluna de opinião" desta forma insultuosa (nas intenções, claro... porque esse "f. de um c." não insulta quem quer)
«Um espectro ensombra a Europa: o culto amaricado da guerra»,
para moderar os ímpetos de lhe responder mas incapaz de não desabafar, fui buscar este vídeo com uma versão norte-americana de fils de..., essa canção inesquecível (qual a não é?) de Jacques Brel:

Os pobres segundo Segismundo

Acho que vale a pena!
Ver aqui

A propósito...

... de Jogos Olímpicos e de atletismo

ou a nova modalidade de lançamento de dor de dentes

ou o peso da dor des dentes.

(Barták!)

sábado, agosto 16, 2008

A Prelo Editora

Sobre a Prelo Editora coloquei uma série de "posts" no blog som-da-tinta.blogspot.com. Foi um "inventário" não exaustivo da actividade dessa editora, que fiz, por agora, apenas para registo pessoal. Por isso, e porque nada fiz para ter "visitantes" enquanto fazia esse trabalho (que trabalho é), poucas "visitas" teve. No entanto, no final do "inventário", ainda coloquei dois "posts", a que chamei para-Prelo, que gostaria de trazer para "apresentar" a quem passa por estas paragens.

Quem o quiser espreitar, pode ver sobre o Vietnam aqui e sobre a censura aqui.

sexta-feira, agosto 15, 2008

Avante!

Depois do post sobre o Cáucaso, continua a leitura do avante!. E a reflexão que sempre provoca.
A partir da informação sobre as lutas, sobre as lutas por cá (e tantas são!), das quais a outra comunicação social não dá notícia, ou só a dá enviesada, ou porque alguém quer “pôr os corninhos ao Sol” (páginas 5 a 12, 23 e 32).
A partir da informação sobre as lutas que andam lá por fora, bem diferente das versões e omissões da outra comunicação social, como sobre o Cáucaso (muita e bem diferente), a Alemanha e o seu pico de greves, a França e a defesa dos direitos democráticos, a Suécia e a contestação na rua à “lex Orwel”, a Bolívia e o povo a ratificar Morales, a Colômbia e assassinatos e perseguições, os Estados Unidos e as eleições e a candidatura contra-corrente de Cynthia McKinney (é de não perder o artigo de Larry Holmes).
Com base no editorial (Um tempo sombrio) e em comentários e opiniões de Rui Paz (já referida), de Leandro Martins, Anabela Fino e Filipe Diniz, na secção Actual, de Fernanda Mateus (Dar mais força à luta das mulheres), de Ilda Figueiredo (Produção e comércio), de Larry Holmes, de Anabela Fino (Sem espinhas em a talhe de foice).
Mais o artigo de Domingos Lobo sobre Armindo Rodrigues – o poeta do lirismo que nos interroga e inquieta, e as secções habituais de Religião, Ciência & Tecnologia (que alterna com Desporto e Gastronomia), Pontos Cardeais, TVisto (Difíceis dias de Agosto), o aconteceu e a agenda, o cartoon do Monjinho. Ainda o suplemento coleccionável sobre a Festa do avante!.
E não fui exaustivo…

Enfim, a informação de que há outro mundo e a certeza de que o mundo pode ser outro!

Materialismo histórico - anexo sobre a religião e a (tomada de) consciência

«O medo criou os deuses» (Lucrécio)

«(…) O homem procede do animal. O animal utiliza o meio (que se tem designado por natureza); o homem transforma-o e domina-o pelo trabalho. Mas esta superioridade só se adquire depois de uma longa aprendizagem histórica. De início as forças produtivas permanecem tão rudimentares que o panorama da natureza apenas se modificou. O homem permanece longo tempo em concorrência directa com o mundo animal do qual há pouco saíra. Aprende lentamente a adaptar o mundo vegetal às suas necessidades (e a adaptar-se ao mundo animal e vegetal). As catástrofes materiais – variações climatéricas, inundações, epidemias – são por ele suportadas tal como imprevisíveis e incontroláveis destinos. A subalimentação e a insegurança condenam-no à permanente angústia. Como não adorar, como não suplicar ou recear as forças das quais a existência depende? Não há plantas ou animais dos quais a necessidade não haja feito deuses.»
(…)
«Todavia o desenvolvimento das técnicas e a paralela acumulação do conhecimento empírico, científico depois, permitiram às sociedades mais desenvolvidas afirmar definitivamente o seu domínio sobre a natureza (afirmar não é o mesmo que ter alcançado…). A caça transforma-se num divertimento, a colheita numa festa feliz… Teriam, então, os Deuses acabado? (…)»

(dois trechos de Os marxistas e a religião – ensaio sobre o ateísmo moderno, Michel Verret, Prelo, BP, 1975)



sem mais comentários (aqui!...)
além dos que estão entre parênteses

quinta-feira, agosto 14, 2008

Quem quer enganar quem?

Na comunicação social portuguesa há um jornal e uma rádio que não enganam ninguém. O avante! e a comunic são órgãos do Partido Comunista Português, e têm essa qualidade escarrapachada nos frontespícios.
Já dos outros não se pode dizer o mesmo. São, quase todos, órgãos do que se sabe e do que não se sabe, mas escondem-no e apresentam-se como se fossem… neutrais, isentos. Ao pé deles aqueles “vendedores de banha de cobra” que vinham gritar (agora, sucessores seus usam amplificadores) para as praças públicas que não estavam ali para enganar ninguém, são verdadeiramente... verdadeiros.
Os exemplos multiplicam-se dia-a-dia, hora-a-hora. A situação no Cáucaso ilustraria… exemplarmente. Acabo de ouvir a D. Teresa de Sousa (só a voz me faz brotoeja) transcrever as posições dos Estados Unidos (da outra D. não-sei-quê Arroz) como se fosse informação.
Entretanto, chego a casa, “armado” do jornal que não engana ninguém porque diz o que é, e leio, nas páginas 2 e 25 , opinião e informação sobre o caso.Com base na informação que está na página 25 (merece particular destaque a posição do Comité da Paz da Geórgia, que é transcrita), a opinião, de Rui Paz, vem na Crónica Internacional, com o título O imperialismo está a atear o fogo, e vale a pena transcrever o parágrafo inicial:


«Ainda é demasiado cedo para poder fazer-se uma avaliação exacta dos acontecimentos militares no Cáucaso. Mas desde já há algumas interrogações que não podem deixar de se colocar. Terão sido os ataques de Thilissi contra a Ossédia do Sul um acto de loucura isolado de um presidente megalómano incapaz de avaliar a diferença de poderio militar existente entre a Rússia e a Geórgia? Ou estaremos em face de um teste à reacção da Rússia provocado por um exército que desde há anos tem vindo a ser treinado e formado pela doutrina agressiva dos Estados Unidos e da NATO? Ou será ainda a investida militar da Geórgia apenas o prelúdio de uma nova escalada na extensão dos conflitos militares numa região cuja desestabilização constitui um dos objectivos centrais do imperialismo na sua estratégia de cerco à Rússia? (…)»

quarta-feira, agosto 13, 2008

Títulos significativos...

Entretanto, entre tantos, ontem no Público:

(o ano passado foram interditadas 8 praias e meia?)

«É uma “ilusão” que os imigrantes em Portugal cometam mais crimes que os portugueses»
(ilusão? e entre aspas?)

«O SNS será tanto mais forte quanto mais eficiente for, e tanto mais vulnerável quanto mais desperdício alimentar» (ante-título da opinião de Vital Moreira)
(este ante-título é retirado tal-e-qual do texto… Como ficaria diferente se tivesse mais um verbo: «... e tanto mais vulnerável quanto mais desperdício alimentar houver»! Mas o afã de vir apoiar o governo e governantes é tanto mais vulnerabilizador quanto estes não têm opinião pública em que se apoiar…)

Hoje, a ouvir a antena1 no carro (mais ou menos, i.e., de memória):

«… a União Europeia, sob o comando de Sarkosi…»
(já não é presidência e francesa, é comando de comandante?)

«Os Estados Unidos advertiram Israel que um ataque ao Irão, agora, não seria conveniente para os interesses norte-americanos…»
(quando for - de interesse para os EUA -, avisarão os israelitas e ordenarão o ataque, ou fá-lo-ão eles, sem intermediários?)

terça-feira, agosto 12, 2008

50 anos!

Capa a capa, as opiniões têm sido boas. Ainda bem!
Agora, vamos lá a ver se não se diz mal dele pelas costas.
Embora, como é sabido, quem vê capas não veja corações e pelas costas todos os gatos são pardos (não é bem assim, pois não?).
E o importante é a massa, perdão, é o miolo, bolas... é o que está nas 318 páginas!
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(acabadinhos de chegar... ainda quentes do forno)

Materialismo histórico - 17

Na comunidade primitiva não havia classes, não havia Estados. Os seres humanos espalhavam-se pela Terra, formando grupos locais, mais ou menos isolados, clãs ou tribos. O espaço, ou melhor, os espaços eram aqueles que podiam percorrer as pernas dos que se aventuravam em busca de novos meios de subsistência para a comunidade. Para além da colheita, aqui, “armados” do que transformavam, da natureza, em prolongamentos do corpo.
No tempo, sempre colhendo, mas começando a pôr a natureza ao seu serviço, ao serviço das relações parentais, em que se materializava a divisão natural (por sexo e idade) do trabalho.
O ramo afilado que perfura, que se aguça, a lança que surge, a pedra que se junta ao ramo, que é afiada, o machado que aparece, o fogo que salta. A possibilidade de arrastar o que ali se “caçou”, ou além se “pescou”, para o local da comunidade onde se colhe o que aqui há, e tem ciclos, e se vai esgotando quando não renovado.
O ser humano aprendendo, apreendendo. E conquistando. Também conquistando espaço. Em que encontra outros, em que confronta outros de outras comunidades. Com quem luta. Pela mesmo presa, pelo mesmo alimento (e pela pele que pode preservar do frio), e que, depois, arrasta para onde possa satisfazer necessidades da comunidade de que é, a que pertence.
Assim se melhorando, continuamente, a forma do ser humano se servir da natureza, mas sem que a força produtiva essencial deixe de ser o corpo humano, a força do trabalho apenas com rudimentares (embora em progresso) instrumentos de trabalho e objectos de trabalho.
O machado de pedra afiada com que se abate e desmancha a carcaça de um animal é um instrumento de trabalho, a carcaça é um objecto de trabalho, que se pode tornar instrumento, tal o osso descarnado que se usa como mais um “braço prolongado” que arranca raízes, que chega a frutos, que defende de agressões e agride, que agride e defende de agressões.
Dispor de um corpo completo, em vez de apenas do que completa o próprio corpo começa a ser uma transformação essencial no modo de produção. Não matar aquele com que se lutou e venceu, mas pô-lo – de corpo inteiro – ao seu serviço, eis uma passagem na História, um ponto de rotura, em que novas relações de produção são possíveis (e exigidas!) pelo desenvolvimento das forças produtivas.
É o começo da divisão dos seres humanos não em comunidades, em que comunitariamente se vive, mas em classes, em que começa a haver “exploração do homem pelo homem”. Uns seres humanos proprietários de outros seres humanos, servindo-se dos corpos destes para satisfazerem as suas necessidades (e também as daqueles de que são donos para que, amanhã, os continuem a servir), assim se configurando novas relações sociais de produção, um modo de produção, uma formação social.

segunda-feira, agosto 11, 2008

A propósito (outro)...

... de um telefonema recebido esta manhã

O PRIMEIRO LIVRO

Quando levantou o telefone, mal ouviu o ansiado já chegou!, saltou porta fora, gritando à atónita secretária não demoro nada.
O carro arrancou numa chiadeira e não teve acidentes no curto trajecto porque deus põe a mãozinha não apenas por debaixo do menino e do borracho.
Na Rua do Mundo, deixou o carro onde calhou e subiu a quatro-e-quatro os degraus do nº67.
Ao manusear o livro, ao cheirar a tinta ainda fresca, ao ler o seu nome pela primeira vez numa capa, sentiu grande emoção.
Maior, só quando, meses depois, ajudou a nascer o primeiro filho.

(em "cem palavras", e com referência a 1967)

A propósito...

Este BARTÁK!

domingo, agosto 10, 2008

A propósito...


(Miroslav BARTÁK, To je muj prípad, Praga, 1989)

Palavra que já me aconteceu. Não em Pequim... mas no Pavilhão do Pinheiro!

Voltando ao nada que (não) se passa no Expresso

Fechado o computador, ainda não aberto o computador, há aquele intervalo antes de adormecer e após (?) acordar em que se fazem "balanços", e se lê com o intuito de pôr rápidas leituras em dia (e noite!).
Depois, quando venho aqui retomar a faina blogueira trago algumas ideias. Ou "novidades", ou coisas para corrigir ou para acrescentar.
Trazia, sobre o post deixado ontem, algo para dizer e verifiquei, com agrado embora sentindo-me antecipado, que dois outros companheiros destas andanças já se tinham referido ao que vinha acrescentar.
Não importa. Pelo contrário.
Na lista de ontem ao nada que (não) se teria passado no Expresso faltava-me, imperdoavelmente, o sublinhado de, naquele jornal que, masoquisticamente, continuo a ler, a referência, uminha que fosse, ao Primeiro de Janeiro e à situação dos jornalista deste jornal, "camaradas" daqueles que fazem o Expresso. Não se passa nada! O cantigueiro-samuel refere-se muito bem (e à sua excelente maneira) a essas faltas... de memória e registo.
Sobre as mortes de Soljenitsin em que abunda o Expresso, tinha-me faltado uma e não lido outra. Faltava-me juntar a da página 9 do caderno actual, que tem duas "pérolas": a da "dimensão grandiosa e documentadíssima dos factos" e a de eu descortinar alguma incoerência no decerto "documentadíssimo" receio que o nobelado, em 1970, teve em ir a Estocolmo receber o prémio para não arriscar não o deixarem regressar, e o facto de ter vivido no exílio desde 1974; quanto à que não tinha lido - pois reservo artigos longos para esse intervalo entre fechar e abrir o computador - a página maciçamente preenchida com a "opinião" de Miguel Sousa Tavares, com a sua habitual desmesura e inconstância, deu um "sinal do tempo" em que o autor estaria ao iniciar o seu texto com uma catilinária sobre os tempos e o país em que vivemos... por «a morte de Soljenitsin não ter ocupado mais que um curto obituário, preenchido com banalidades, mesmo nos jornais ditos de "referência"», o que o tempodascerejas, muito acertada e documentadamente, demonstra ser falso, sublinhando também a ausência, na opinião de MST, da referência a "banalidades" como o apoio caloroso de AS aos ditadores Franco e Pinochet.
E chega de Expresso. Para esta semana...

sábado, agosto 09, 2008

Não se passa nada (ou quase nada)!

Não se passou nada a 6 de Agosto? Em Hiroshima, em 1945?
Não!... para o Expresso e outros que tais.
Não se passou nada a 9 de Agosto? Em Nagasaki, em 1945?
Não!... para o Expresso e outros que tais
Não morreu Armindo Rodrigues e Ruy Belo, um a 8 de Agosto de há 15 anos, outro a 6 de Agosto de há 30 anos?
Não !... para o Expresso e outros tais o único morto, o que exclui todos os outros referendáveis, foi o “nobelíssimo”, o “intelectual de uma espécie em vias de extinção” (!!!) Alexander Soljenitsin (morreu nas páginas 4, 5, 37 e 39).
O sr. Presidente da República não providenciou para que voos não o viessem perturbar – a ele e a sua esposa –, no “seu espaço aéreo”, durante as férias?
Não!... para o Expresso, apenas há que relatar eventuais arrufos e a dimensão dos mútuos sorrisos na “cooperação institucional”: 2-páginas-2 mais os trocos.
Ah! se não fosse o assalto ao banco, e a sua espectacularidade (há "dias de cão"), a inauguração dos Jogos Olímpicos (que desilusão… afinal não se passou nada em Pequim), quantas páginas em branco!

sexta-feira, agosto 08, 2008

Atalho para...


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No a talhe de foice, do avante! de 7 de Agosto, Anabela Fino começa:

«Dados do Instituto de Segurança Social (ISS) revelam que o número de famílias a receber Rendimento Social de Inserção (RSI) cresceu 8,2 por cento, passando de 112 mil agregados em Dezembro de 2007 para 121 mil em Junho último.» (...)

E, mais adiante, continua:

«Porque na verdade é disso que se trata: miséria pura e dura de um crescente número de portugueses (mais 22.837), tipificados pelo presidente pelo ISS como "pessoas desprovidas de qualificações profissionais, sociais e pessoais", a quem o Governo com o dinheiro do Estado, faz a esmola de esconder para debaixo do tapete do Rendimento Social de Inserção para mão estragar a sala de visitas, mas sem mudar uma vírgula na política de exclusão social que efectivamente pratica. (...)»

... mas o melhor é ler o a talhe de foice todo ( e o jornal todo!)

quarta-feira, agosto 06, 2008

63 anos depois, 1 ano depois

Do arquivo do blog (com ligeiras alterações):

Quinta-feira, Agosto 09, 2007

6 e 9 de Agosto de 1945

A Maria, de O Cheiro da Ilha, no dia 6 de Agosto lembrou-nos a "Rosa de Hiroshima" para nos lembrar Hiroshima. Fez bem. Agradeci-lhe e saudei-a. Retomo, hoje, a lembrança.

Hoje, e sei porquê, aqui voltei.
Hoje, e sei porquê,
de novo ouvi os Secos e Molhados,
e de novo ouvi o Ney Matogrosso cantar Vinicius de Moraes.
Hoje, e sei porquê!
Hoje, porque não chegava Hiroshima,
Hoje, 9 de Agosto,
porque ao horror de Hiroshima se quis juntar o horror Nagasaki.
Hoje, e sei porquê,
porque é hoje - também - que é preciso dizer "oh não se esqueçam"!

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexactas
Pensem na mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioactiva
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atómica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada

As máscaras do imperialismo

Em 1972, publicava-se, na Prelo Editora, na colecção documentos, um volume com o título A China e as raizes da "sinofilia" ocidental, colectânea de textos com a explicitada intenção de, citando Togliatti, de "... realizar um grande esforço para explicar quais foram as condições históricas, políticas de partidos e pessoais que contribuiram para criar a divergência e conflitos actuais" (O memorial de Ialta, 1964). Lembro que logo houve quem se tivesse "indignado" e publicado um livro sobre a "sinofobia" que nos moveria... assim alimentando a sinofilia. Tempos!

Hoje, quero publicar "isto":

Porque será?

O que é que faz da China-dos-jogos-olímpicos diferente
e tão merecedora de atenção tão atenta, veneranda, e obrigada,
e faz pulular tantos zelosos, intransigentes,
indefectíveis defensores dos direitos humanos
(seja de milhões de milhões de anónimos,
seja de uns quantos monges bonzos
seja, ainda e até à hora da nossa morte,
de um cidadão fotografado
postado em frente a um tanque na Praça Tianamen)?

Será por não ter um Guantanamo,
por não ficar nos arredores de Bagdad,
por não ter um murito como aquele que Israel levantou,
será por não se situar nos Balcãs,
ali enclavada para se desenclavar
e vir a ser mais um país livre, livre, livre,
cheio de liberdade de mercado;
será por não ser um chinês que está na fotografia
em que um qualquer dispara uma bala que se vê entrar
na cabeça de um vietnamita da História (e sentimos como se na nossa entrasse);
será por se ter de se fazer aquela sofisticada montagem
(mais uma...)
onde um juiz de partida de uma corrida de 100 metros
se prepara para disparar sobre um chinês
em posição de começar a corrida que não fará
(curioso: não sentimos esse tiro!…
porque não entrou na nossa cabeça,
porque se sabe que tudo é montagem, que tudo é falso,
que tudo é mentira!)?

E por tudo o tanto tentado
e pelos atentados consumados,
... será?

Será o quê?
Porquê a China?
Onde está a diferença?

Não será por ser um país, o mais populoso do mundo,
e o que mais miserável era,
e que, há décadas tem no poder um Partido
(que se diz, e afirma e assina, e parece que quer ser)
Comunista?

E como estes Jogos Olímpicos me lembram uns outros,
em tempos de sinofilia, de 1980, em Moscovo,
então capital de uma União Soviética,
onde não havia os/estes mesmos direitos humanos…
… como há agora por lá,
os direitos a umas dezenas serem escandalosamente milionários,
e outros, aos milhões, escandalosamente explorados,
sem educação para todos,
sem saúde para todos,
sem outros direitos…
… que não sejam... os “humanos”!,
estes,
os que não entram nas fábricas, nas empresas,
nos grupos financeiros, nas Bolsas,
os que não são direitos dos trabalhadores, dos povos.

Ah! a miséria do capitalismo!, ah!, as máscaras do imperialismo!

terça-feira, agosto 05, 2008

Materialismo histórico - 16

Num dos livros (com a “bagatela” de 458 páginas!) em que se pode apoiar esta enorme caminhada em pequenos passos, encontra-se este trecho:
“A análise da prática e, antes de mais, da actividade dos homens no domínio da produção material, iria permitir ligar a ideia da existência objectiva do mundo material à faculdade activa do pensamento humano. A compreensão correcta da prática humana constitui o ponto de partida tanto da teoria do conhecimento científico como de toda a história do conhecimento.”

A comunidade primitiva, que corresponde à pré-história da Humanidade e aos primeiros tempos da história escrita, e que durou centenas de milhares de anos, assentava num modo de produção comunitário com propriedade colectiva dos meios de produção-instrumentos de trabalho, só muito lentamente deixando estes de ser simples prolongamentos do corpo humano, com as forças produtivas quase exclusivamente limitadas ao corpo humano-trabalho.
As relações de produção eram comunitárias, e o trabalho realizava-se em cooperação simples com divisão natural, por sexo e por idade.
De uma produção comunitária resultava uma repartição dos produtos com a finalidade de permitir a satisfação das necessidades de toda a comunidade. Em regra, não havia excedentes da produção.
As relações familiares, de parentesco, ligadas à reprodução natural da comunidade, quando não exclusivas tinham a maior importância.
Era o costume, a tradição que regulava a vida em comum e um papel proeminente era representado pelos “mais velhos”, os mais experientes, os que "sabiam mais" porque mais tempo tinham vivido.
O facto das relações de parentesco, paternais, e sobretudo, maternais, serem decisivas, não obviava a que o modo de produção fosse decisivo, assentes essas relações de parentesco na de divisão natural do trabalho e promovendo o desenvolvimento, lento mas constante, das forças produtivas, pela retenção e acumular das experiências.

sábado, agosto 02, 2008

ser ou não ser (de Fátima) não é a questão!