segunda-feira, novembro 30, 2009

O Livro segundo

Engels previa, no seu prefácio – e o José Barata-Moura sublinha em apresentações da tradução que fez –, que “o volume segundo (de O Capital) vai suscitar grande desilusão, por ser tão puramente científico e não conter muito de agitatório”.
Em parte, corroboro porquanto os Tomos IV e V do Livro segundo são menos apelativos à agitação quanto o seriam os três tomos do Livro primeiro. São de grande densidade na análise dos processos de circulação do capital, das suas metamorfoses e reprodução, com exemplificações e ilustrações – sem o recurso ao Excel... – por vezes exaustivas... e que deixam o leitor/estudioso exausto.
Mas só em parte. Porque, por vezes, dá para parar e sorrir, com a fina ironia que Marx usa, pela qualidade da sua escrita.
Por exemplo, num trecho que reproduzo e em que inclui notas que julgo pertinentes (de passagem):
«De passagem. O senhor capitalista, tal como a sua imprensa, está frequentemente descontente com a maneira como a força de trabalho* despende o seu dinheiro, e com as mercadorias II** em que ela realiza o mesmo***. Nesta oportunidade, ele filosofa, tagarela de cultura e filantropiza (...).
«Longas horas de trabalho parecem ser o segredo do comportamento racional e saudável que há-de elevar a situação do operário pelo melhoramento da sua capacidade espiritual e moral e fazer dele um consumidor racional.»
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* - não a força de trabalho mas o seu “proprietário”, o trabalhador que vendeu a força de trabalho.
** - sector de produção dos meios de consumo.
***- que ele, o trabalhador, compra com o dinheiro da venda da sua mercadoria, a força de trabalho.

Tomo V do Livro segundo de O Capital

O lançamento do Tomo V do Livro segundo de O Capital, nas edições avante!, foi um acontecimento. Ou, por outra, parece que foi porque até é justa a dúvida se se terá realizado, dado o escassíssimo impacto mediático.
É claro que quem escreve é suspeito (oh!, se é…). Até porque teve parte activa no evento, mas – que querem? – parece-lhe que não só o lançamento em si desta obra, a primeira em português que vai tão longe na edição completa da obra capital de Karl Marx, como a intervenção do ex-reitor da Universidade Clássica de Lisboa e a presença e a intervenção do secretário-geral do Partido Comunista Português, num Salão Nobre da Reitoria a “deitar por obra”, justificavam outro tratamento. Que, naturalmente, não teve. Confirmando em que sociedade e com que informação vivemos.
Já agora, conto uma anedota. Estando a realizar-se, noutra sala da Reitoria, uma reunião da Ordem dos Técnicos de Contas, uma jornalista para ali destacada, ao saber que havia uma sessão de lançamento de um livro no primeiro andar, teve a curiosidade, que só lhe fica bem!, de ir saber do que se tratava, apesar de ser ... dos comunistas, e dirigiu-se ao Salão Nobre. Talvez estimulada pelo ambiente que sentiu, pelo acontecimento que “aquilo” era evidentemente, perguntou … se podia falar com o autor do livro.

Viva a alegria!

"Assunto" de um mail recebido de um amigo do Uruguai: Viva a alegria!

A Frente Ampla ganhou!

Com esta foto:

Atenção aos micheletis!

A desfaçatez nas Honduras

Havia um presidente eleito que deu a conhecer estar a preparar uma consulta popular sobre umas alterações institucionais que, ao que parece, desagradariam a uns indivíduos e interesses. Fácil: tira-se de lá o presidente eleito, arranja-se um presidente à força das armas, provisório e de facto, depois enjorcam-se uma eleições novas "à maneira"... e já está.
Da notícia:

«Quem também já reconheceu a vitória foi Roberto Micheletti. O presidente de facto das Honduras garantiu que irá entregar o poder "sem condições" ao vencedor das eleições.
Numa declaração escrita emitida pela Casa Presidencial, Michelleti afirma que "a equipa do governo de transição concluirá a sua tarefa, entregando o poder ao governante que a maioria dos cidadãos elegeu". »

Concluída a tarefa (!!!), fica-se pronto para... novas tarefas. E deixa-se o exemplo de um procedimento.

domingo, novembro 29, 2009

Leitura (que devia ser) obrigatória - A caça às bruxas

Em ocravodeabril, Fernando Samuel publicou uma série com o título genérico de A caça às bruxas que deveria ser de leitura obrigatória para quem por aí se permite falar de História, nossa e recente, a partir da informação que lhe instilaram e instilam. O final da guerra 1939-45 e o lustro e década que se lhe seguiram têm momentos e episódios verdadeiramente impressionantes que são escondidos ou escamoteados enquanto outros deformados ou empolados de forma tenebrosa... e esclarecedora. Este trabalho de Fernando Samuel é notável e só a preguiça ou a desonestidade intelectuais o poderão ignorar.
Ver:
1.«A comissão de actividades anti-americanas»
2.«Os Dez de Hollywood»
3.«A lista negra»
4.«Há lodo em Kazan»
5.«A dignidade de Dashiell Hammet»
6.«A lista dos vermelhos. O casal Rosenberg»

"O economista" e "a moral da economia política"

«(...) Tudo o que “o economista” te rouba de vida e de humanidade, ele te compensa em dinheiro e em riqueza, e tudo o que tu não podes, o teu dinheiro poderá. Com ele, podes comer, beber, ir ao bailado, ao teatro; com ele, podes conhecer a arte, a erudição, as curiosidades históricas, o poder político; com ele, podes viajar. Ele pode comprar tudo isso. Ele é o verdadeiro poder. Ele pode arranjar-te tudo isso.
Todas as paixões e toda a actividade são engolidas na sede da posse. Concede-se ao operário apenas o que ele precisa para que possa viver, e ele só pode querer viver para possuir.
Às questões:
será que obedeço às leis económicas quando consigo o dinheiro à custa do abandono, da oferta do meu corpo à concupiscência do outro (em França, os operários das fábricas chamam à prostituição das suas mulheres e das suas filhas a hora de trabalho suplementar, o que é literalmente exacto)?,
ou então: quando vendo o meu amigo como escravo a marroquinos (e a venda directa de homens sob a forma de comércio de jovens tem lugar em todos os países civilizados)?,
para essas questões. o “economista” tem uma resposta pronta.
O "economista" declara: se assim fizeres, tu não ages contra com as minhas leis. Claro que deves tomar em atenção o que diz uma minha “prima”, a senhora moral, e um outra minha “prima”, a senhora religião; no entanto, essas minhas “primas”, a moral e a religião, não têm nada a objectar-te do ponto de vista económico. (...)»
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Extracto, em tradução livre, de "manuscritos de 1844" de K. Marx

sábado, novembro 28, 2009

O que é que isto do Dubai vai dar?

De repente, quando tudo estava em "retoma", menos o emprego, claro... mas este é uma minudência face à evolução trimestral dos pibes e aos problemas das "grandes finanças" em geral e dos lucros da banca em particular, um enorme sobressalto vindo do Dubai. Quando por cá, nos distraim(os) com outras "cenas", toca de ter ir aos "aparelhos de busca" e ver onde fica essa coisa do Dubai que, ao que parece, está a fazer tremelicar a sustentação da convalescença da ainda mal curada "crise". Felizmente que se meteu o fim-de-semana, e com um Sporting-Benfica!
Agora quem acompanha "estas coisas", põe-se questões.
Como a de ser ou não esta "crise no Dubai", que nos vai - talvez - aparecer na segunda-feira, e no mundo todo, uma espécie de ante-estreia, ou um aviso muito sério para o que pode resultar de estarmos no peak do petróleo (ou estar a chegar lá) pois Dubai representa meia dúzia de magnatas à custa do "ouro negro" que lhes saltou debaixo dos pés e lhes possibilitou negócios das arábias.

E que é isso do "peak", que é mais que, traduzido "à letra" um pico?

Peak Oil será o momento em que a produção de petróleo a nível mundial atingirá o seu máximo. Também se lhe chama Pico de Hubbert, do nome do geólogo dos EUA que primeiro estudou, em termos científicos, a curva de produção dos combustíveis fósseis (petróleo, carvão gás natural). Vamos a ver o que isto do Dubai vai dar.
E não se pense que estou a brincar...
Isto é muito sério!

Mais sobre "ambiente"

Em





,
com o título Delírio fatal, no avante de 26.11:
«(...)
Ele são decapitações políticas, assassinatos políticos, assassínios de carácter, homicídios de carácter.
Ele é o Governo a nomear os candidatos derrotados às câmaras (casos de Gondomar, Espinho, Viseu e Alpiarça) como governadores civis dos respectivos distritos.
Ele é, sobretudo, o inenarrável romance das "escutas" do primeiro-ministro que não eram ao primeiro-ministro; do procurador-geral que divulgava as escutas para "acalmar isto" mas não divulga; do corropio das certidões entre a Procuradoria-Gerla da República (PGR) e o Supremo Tribunal de Justiça (STJ); do manda destruir mas não destrói, poque afinal parece que não se pode, as ditas certidões das ditas escutas; do manda arquivar as ditas cuja mas sem direito a consulta, por causa - palavras do PGR - da "natureza dos elementos"; do afinal não se pode consultar o que arquivado já estaria mas que afinal já não está porque estará agora de novo "em poder do senhor presidente" do STJ; do diz que diz que disse mas não disse e tudo é (ou pode vir a ser mentira...
(...)»

"Ambiente", marketing, relações públicas

A vida política está marcadas indelevelmente pela criação do "ambiente".
Na impossibilidade de se impedir, pela proibição e censura, a circulação da informação, para o que contribui decisivamente a evolução dos "meios" - comunicação escrita, rádio, televisão, telemóveis, também "isto" das "nets" e "blogs" -, eles são utilizados manipuladamente pelo(s) poder(es).
Nas campanhas eleitorais é o "marketing", são as sondagens, é o espectáculo. No exercício do poder - real ou aparente ao serviço do poder real - são as "imagens" da situação, veiculadas com impacto mediático, verdadeiramente profissionalizado e sem preocupações com critérios tendo um pingo de ética.
Neste momento, confronto - a nível de interpretação pessoal - duas expressões desta deriva:
  • A dramatização da situação recebida dos anteriores detentores do "poder". Não que ela não seja má, ou até péssima... mas dramatiza-se a "herança". Depois de se ter feito campanha contra a "política anterior" catalogada (e justamente) de caótica, depois de se ter tido ganho de causa, vem a utilização abusiva da "surpresa"... perante o caos, transformado em quase alibi, mesmo antes das medidas prévia e eleitoralmente anunciadas para se ter conhecimento rigoroso da situação.
  • A vitimização por não se dispor de maioria absoluta. É a criação e o empolamento de situações que permitam veicular - sempre a veiculação das imagens a ser prevalecente - a ideia de que "assim não se pode governar" como se governar não fosse, também!, a capacidade de ter de ter os outros em conta, a imprescindível negociação com respeito pelos outros, minoritários que sejam, por não se poder fazer "tábua raza" das suas posições quando se dispõe de maioria absoluta.
Preocupante!

quarta-feira, novembro 25, 2009

Cá por coisas que só alguém entenderá



Estrela da tarde
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Era a tarde mais longa de todas as tardes
que me acontecia
eu esperava por ti, tu não vinhas
tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca,
tardando-lhe o beijo, mordia
quando à boca da noite surgiste
na tarde tal rosa tardia
quando nós nos olhamos tardamos no beijo
que a boca pedia
e na tarde ficámos unidos ardendo na luz
que morria
em nós dois nessa tarde em que tanto
tardaste o sol amanhecia
era tarde de mais para haver outra noite
para haver outro dia.

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza.

Foi a mais bela de todas as noites
Que me aconteceram
Dos nocturnos silencios que à noite
De aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois
Corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa
De fogo fizeram.
Foram noites e noites que numa só noite
Nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites
Que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles
Que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto
Se amarem, vivendo morreram.

Eu não sei, meu amor, se o que digo
É ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo
E acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste
Dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida
De mágoa e de espanto.
Meu amor, nunca é tarde nem cedo
Para quem se quer tanto.

Esclareçamo-nos:

Este blog, anónimo sec.xxi, não é um espaço do Partido Comunista Português.
É o espaço de um militante do PCP, que pratica o centralismo democrático, e que tem o marxismo-leninismo como estrutura mental e de aproximação à realidade que vive e em que convive, isto é, em que vive com os outros.
Como tal, sendo o que sou - e com orgulho o afirmo -, não me assumo porta-voz de nada, nem tenho a tarefa de, oficial ou oficiosamente, justificar o que quer que seja. Muito menos, sublinho-o!, contribuirei para o que considere serem aproveitamentos de factos para atacar o Partido e o que defendemos, os que do Partido somos. Há quem esteja encarregado de o fazer, e bem se esforce no cumprimento da missão! Não os ajudarei.
Trarei, aqui, o que me parecer que merece informação, não responderei a provoções com a intenção de me fazerem, ainda que involutariamente, engrossar corais de anti-comunismo militante.
Para além disso... há tempo e espaço para tudo.

terça-feira, novembro 24, 2009

Deu-me assim uma irreprimível vontade...

Há quantos anos?

Há quantos anos debita Vitor Constância o mesmo discurso? Há quantas décadas se repete, sabedor e supervisor?
Se já o tivessem ouvido - e seguido... sobretudo o exemplo pessoal de contenção e abstinência - não estariam os salários médios dos trabalhadores nas alturas exorbitantes em que se vê, não estaria o salário mínimo nessa pouca vergonha dos sei lá quantas vezes quinhentos euros, os nossos custos do "factor trabalho" estariam ao nível dos "europeus" e não tão acima, não seria o regabofe da gentinha que nunca está satisfeita e dá cabo da competitividade externa.
Se já o tivessem ouvido - e seguido o seu exemplo pessoal - não estaria a economia como está, estaria tudo controlado, bem supervisionado, o povo feliz e o PS no governo.
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Ouçam, por favor, o Exmo. Senhor Professor Doutor Vitor Constância... que eu já não posso mais ouvi-lo!

segunda-feira, novembro 23, 2009

Comité Central do PCP

Reunião do Comité Central do PCP
Domingo, 22 Novembro 2009
Jerónimo de Sousa, na apresentação das principais conclusões da reunião do Comité Central, alertou para o facto de o Governo se estar a preparar para transferir para os trabalhadores e camadas mais desfavorecidas os custos da crise e manifestou preocupação com o avolumar incontrolado dos casos e práticas de corrupção na sociedade portuguesa e no Estado. O Secretário-Geral do PCP anunciou também a realização de uma grande Campanha Nacional de contacto e esclarecimento dos trabalhadores e da população, na defesa do emprego, do trabalho com direitos e no combate à precariedade.

A tentar descodificar "alegres mensagens"

Vamos lá tentar descodificar "mensagens alegres", ou "alegres mensagens":

  • Há uma dita esquerda que governa à direita. Acha ele que "coitada... tem de ser!".
  • Ele, embora triste, dá-lhe apoio. Isto é, dá, alegremente, apoio à dita esquerda mas não à política - ou políticas - de direita.
  • Há uma esquerda - ele gosta de dizer esquerdas - que se opõe/m à política - ou políticas - de direita da dita esquerda.
  • Ele conclui, tristemente, que o mal está em a(s) esquerda(s) não dialogarem, alegremente, com a dita esquerda.
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Estará confuso... mas foi o melhor que se conseguiu arranjar.

domingo, novembro 22, 2009

Aqui não se fala de...

Estou quase tentado a colocar bem à vista da entrada deste canto, a exemplo de ”casas sérias” que conheci em tempos da minha juventude, e em que se dizia o que não podia ser discutido:
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Aqui não se fala de Mário Soares, Vitor Constâncio, Sócrates, Luis Figo, Sónia Sanfona, nem de Oliveira e Costa, Dias Loureiro, Armando Vara, Preto e mais uns tantos.
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Outros o têm feito e muito bem.
Passo!... ou vou tentar passar, mesmo tendo jogo.

sábado, novembro 21, 2009

Divulgue-se? Divulgo (com sublinhados)!

Aos órgãos de informação:

O PCP defende carácter público do BPN

1 - O anúncio da decisão do Conselho de Ministros de ontem de reprivatização do BPN, depois do Estado ter investido mais de 3000 milhões de euros na recuperação do Banco, confirma o que o PCP tinha razão quando na altura da nacionalização alertou para a possibilidade do Governo e o PS estarem a tomar a decisão de nacionalizar a prazo, apenas pelos actos ilícitos praticados pelos anteriores responsáveis do Banco.
Perante uma situação difícil, o Governo do PS decidiu intervir no BPN, tal como aconteceu no BPP, em qualquer dos casos de forma precipitada e não salvaguardando o interesse público: no caso do BPN sem proceder à nacionalização, como se impunha, de todos os bens do grupo SLN. Ou seja nacionalizou os prejuízos e manteve nos privados um conjunto de actividades e património valiosíssimo.

2 - O anúncio da decisão de reprivatizar do BPN, apenas uma semana depois de ser conhecido que os lucros dos cinco maiores bancos com actividade em Portugal, no final do terceiro trimestre, atingiram 5 milhões de euros por dia, confirma que a decisão de nacionalizar, foi apenas para limpar os prejuízos do Banco, estabilizar a sua actividade para em seguida o devolver ao capital financeiro ávido de mais este instrumento para continuar o processo de acumulação capitalista.

3 - As sucessivas intervenções que a Caixa Geral de Depósitos tem sido chamada a fazer em nome do Estado Português, como aconteceu no BPN, mostram, independentemente do acerto das intervenções, a importância da Banca Pública como meio de intervenção do Estado, particularmente em momentos de crise como aquele que vivemos e designadamente de um Estado com uma economia débil que não dispõe de política cambial, nem monetária.
Neste sentido, o PCP defende a revogação da decisão do Conselho de Ministros e a manutenção do Banco na esfera pública em condições a determinar e de acordo com o interesse nacional.

4 - Com o objectivo de trazer a discussão deste problema para a Assembleia da República, onde foi tomada a decisão de nacionalizar o Banco, o Grupo Parlamentar do PCP requereu a presença do Ministro das Finanças com carácter de urgência.

20.11.2009
O Gabinete de Imprensa do PCP

quarta-feira, novembro 18, 2009

DESEMPREGO. Uma canção que diz (quase) tudo.

Para surpreender a senhora ministra.

Talvez...

(muito grato a um comentador!)

O DESEMPREGO. Um gráfico e um quadro

Para completar - e ilustrar - o anterior "post", junta-se um gráfico, em que se pode ver a subida "oficial" do desemprego e como o desemprego feminino já ultrapassou a barreira (psicológica) dos dois dígitos, e como ela vai sendo ultrapassada nas "regiões" do Algarve e Lisboa, relativamente ao 2º trimestre de 2009, juntamente com Norte e Alentejo relativamente ao trimestre homólogo, o 2º de 2008, ficando apenas o Centro e as Regiões Autónomas abaixo desse valor.
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O "post" era para ter sido colocado ontem, antes de "encerrar o expediente". Mas o computador e a internet, caprichosos como são, entenderam que deveriam terminar o dia de trabalho a horas mais decentes que as minhas habituais. Recusou-se a meter as imagens! Hoje, em horário dito laboral, já entrou - normalmente - em funções. Aqui fica este complemento de informação. Preocupante.

terça-feira, novembro 17, 2009

O DESEMPREGO. Porquê?

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Do INE:
«A taxa de desemprego foi de 9,8% no 3º trimestre de 2009

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- 3.º Trimestre de 2009
17 de Novembro de 2009

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Resumo
A taxa de desemprego estimada para o 3º trimestre de 2009 foi de 9,8%. Este valor é superior ao observado no período homólogo de 2008 em 2,1 pontos percentuais (p.p.) e ao observado no trimestre anterior em 0,7 p.p.. A população desempregada foi estimada em 547,7 mil indivíduos, verificando-se um acréscimo de 26,3%, face ao trimestre homólogo, e de 7,9% em relação ao trimestre anterior. O número de empregados diminuiu 3,4%, quando comparado com o mesmo trimestre de 2008, e 1,2%, relativamente ao trimestre anterior.

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Esta notícia (da maior importância, até pelo aspecto psicológico dos dois dígitos, de que se está à distância de 0,2 p.p) já foi hoje tratada na comunicação social - tanto quanto a «face oculta» o permitiu... -, com alguns comentadores... a comentar!
Por acaso, hoje mesmo, estava a sublinhar uma passagem do Tomo V (Livro segundo) de O Capital:
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«(há que) admitir que a parte do capital-dinheiro recém-formado transformável em capital variável encontra sempre [previamente] a força de trabalho em que se há-de transformar.» (pág. 534)
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e fui buscar, por me parecer relacionado, um anterior sublinhado, resultado de uma procura de apoio às leituras em que estou :
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«A diminuição do capital variável (que compra força de trabalho) relativamente ao capital constante (que compra mercadorias-meios de produção), que se verifica paralelamente ao desenvolvimento das forças produtivas, estimula o crescimento da população operária e, ao mesmo tempo, cria constantemente uma sobrepopulação artificial.» (do cap. XV do Livro terceiro, ainda por traduzir nas edições avante!)

Notas da noite para o dia

Não resisto a trazer sublinhados das leituras antes de adormecer (sempre tarde):

1. De O Livro dos Guerrilheiros, do José Luandino Vieira, embora mais larga (a)notação fique para o som-da-tinta:

"Respeito meus mais-velhos: as lições da infância têm de estar sempre bem sabidas, agora e na hora da nossa morte."

E, logo no começo do capítulo seguinte, a história de outro guerrilheiro:

"Se a morte do homem que, cansado de humilhação, envereda pelo caminho certo, pode acelerar a mudança de uma justiça velha e injusta para uma injustiça nova mas justa, aqui, neste livro e devida vénia, tenho de falar vida e morte e fama do camarada Kibiaka, herói da nossa região."

2. De O render dos ideais, de José Manuel Jara, num artigo publicado no Diário de Lisboa de 28 de Março de 1990:

"Os marxistas-leninistas praticam a teoria de que a prática é a soberana prova da verdade (...) Pôr termo ao monopartidarismo dirigista, acabar com a fusão e confusão do aparelho político-partidário com o Estado (...)"

segunda-feira, novembro 16, 2009

Comportamentos...

Mais um dia... E comecei-o com a navegação pela internet. Uma notícia no sapo sobre Berlusconi:


Justiça/Itália
Sílvio Berlusconi 'entre a espada e a parede'? (SAPO)

Sílvio Berlusconi está de volta à barra do tribunal: vai ser retomado hoje o julgamento do Primeiro-Ministro italiano. “Il Cavaliere” vai responder em tribunal pelo crime de fraude fiscal, que pode ser punidos com uma pena de prisão de ano e meio a seis anos.

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Esta notícia levou-me a lembrar-me do último Expresso, e a lembrar-me de, nesse exemplar (?), em que não falta matéria sobre comportamentos, ter "arquivado", com algum espanto e indignação, uma outra notícia. Que, dada a oportunidade... "desarquivo":

Se há quem justifique cuidados pelo seu comportamento (não digo só na cimeira ibero-americana mas também na cimeira da NATO, que por cá igualmente será acolhida) não será Chavez, e se há alguém que não está com autoridade moral para pedir boa compostura a outros é, decerto e infelizmente, o 1º ministro português José Sócrates.

Será que esta gente não se enxerga? E, sublinho, neste caso não falo do 1º ministro português - que, de qualquer modo, deveria desmentir esta "notícia" e título "expresso" -, mas de quem seja põe coisas destas na primeira página de um semanário... de referência.

domingo, novembro 15, 2009

Também é demais!

1. No dia 2 de Novembro (há duas semanas), conferência de imprensa (com muito pouca imprensa...) do Grupo Parlamentar do PCP, pelo deputado António Filipe:
PCP propõe criminalização do enriquecimento ilícito
O PCP tem vindo desde há muito a expressar a sua preocupação com o fenómeno da corrupção e a apresentar iniciativas legislativas e parlamentares visando o seu combatee anunciou hoje a entrega de um Projecto de Lei, que visa a criminalização do enriquecimento ilícito.
O PCP, tem vindo desde há muito a expressar a sua preocupação com o fenómeno da corrupção e a apresentar iniciativas legislativas e parlamentares visando o seu combate.
No início da XI Legislatura, o fenómeno da corrupção continua infelizmente na ordem do dia. As notícias sucedem-se sobre suspeitas de corrupção envolvendo personalidades bem conhecidas da vida empresarial e política e os processos arrastam-se sem conclusão, criando na opinião pública a convicção da impunidade do chamado “crime de colarinho branco”. Por outro lado, existe a convicção de que os meios existentes para a investigação deste tipo de criminalidade não são os mais adequados e que a Assembleia da República não tem feito o que poderia e deveria para reforçar os meios legais de combate à corrupção e à criminalidade económica e financeira.
Assim, o Grupo Parlamentar do PCP anunciou hoje a entrega de um Projecto de Lei, que visa a criminalização do enriquecimento ilícito. O PCP propõe que os cidadãos abrangidos pela obrigação de declaração de rendimentos e património prevista na Lei, que por si ou por interposta pessoa, estejam na posse de património e rendimentos anormalmente superiores aos indicados nas declarações anteriormente prestadas e não justifiquem, concretamente, como e quando vieram à sua posse ou não demonstrem satisfatoriamente a sua origem lícita, são punidos com pena de prisão até três anos e multa até 360 dias.
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2. Hoje, 15 de Novembro, na síntese das notícias - Sapo-Lusa:

"Corrupção: BE vai propor à AR figura do "crime de enriquecimento ilícito", mas sem inversão do ónus da prova. (15 de Novembro de 2009, 16:58)"

Sem comentários

sábado, novembro 14, 2009

O estado da nação

No metro -na ida
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Ares tristes. cores cinzentas. tez macilentas.
Corpos cansados. caras fechadas. rugas e cicatrizes.
Ninguém lê. toda a gente pensa (em quê?).
Este é o estado da nação. onde a cidade do cidadão?
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No metro - na volta à Rodoviária
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A mesma gente. o mesmo ar. a mesma cor. a mesma tez.
Alguns, aqui, gente repelente
(porque repeliram de si a vida. ou a vida os repeliu para a não-vida).
De repente, numa estação, um grupo. em turbilhão.
A animação. colorida.
O riso. as gargalhadas.
Cachecóis com as cores nacionais.
O verde. o vermelho. do verde ao rubro.
O futebol. contra a Bósnia. marchar. marchar.
Hoje. heróis do mar. nação valente.
Este é o estado da nação. esta a cidade para o cidadão?

Hoje... e vou a caminho

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Conselho Português para a Paz
e a Cooperação

XXI Assembleia da Paz

Casa do Alentejo - 14.30

sexta-feira, novembro 13, 2009

Entre vista - 3

Entre vista
a Todo o Mundo & Ninguém,
realizada em nenhures,
num dia destes, a qualquer hora

3ª parte
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TM&N – Mas trata-se de efemérides... fale-me de Berlim, da tal RDA…
Cá Eu – De efemérides? Preferia falar do 7 de Novembro, da Revolução Soviética… Fica para outra altura… Sobre Berlim, só lhe posso dizer que, como parte da RDA, em Berlim-Leste, foi dos sítios em que mais passeei, em que melhor me senti...
TM&N – Não era isso que sentiam os berlinenses…
Cá Eu – Decerto não todos, e decerto não muitos e muitos a quem chegava os cantos de sereias que vinham em ondas avassaladoras por cima das fronteiras e muros, daquele pedaço de cidade ali incrustrado no meio da cidade e do Estado. E a todo o lado oriental da Europa e do mundo... Ondas amplificadas por alguns que, por lá, no interior, se “passavam” para cá, e ajudadas por outros que se esqueceram do que deveriam ter aprendido e que, agora – se vivos fossem alguns desses – muito torceriam as respectivas orelhas como parecem fazer os que sobreviveram e parte significativa dos descendentes. Mas, olhe…, eu respondi-lhe como me sentia quando lá ia…
TM&N – Falava com as pessoas, em Berlim?
Cá Eu – Tanto quanto me permitia o meu desconhecimento da língua… Já agora conto-lhe uma das estórias que vivi (verdadeira, hem!), não em Berlim mas que em Berlim poderia ter sido, e que foi das que mais me impressionou na minha vida. Já depois de várias quedas, no Parlamento Europeu ai há uns 15 anos, estava num intervalo de uma reunião a apanhar umas résteas de sol no castelo de Budapeste, nos altos da cidade, quando fui abordado por homem já maduro (isto é, velho como eu hoje sou… não tenho é netos!), um senhor, com excelente aspecto, dirigiu-se-me na língua dele. Depois de várias tentativas, lá nos encontrámos no francês… e, envergonhadamente, pediu-me esmola. Perante o meu espanto, explicou-me “sabe?... é que quero levar o meu neto ali ao museu que eu conheço muito bem de antigamente, do tempo do socialismo, e, agora, veja lá!..., tem de ser pago e eu não tenho dinheiro para lá entrar para mostrar ao miudo... ajude-me, por favor.”
TM&N - …
Cá Eu – Nunca esqueci este episódio. E, agora, com estas sondagens, voltou… mais vivo!
TM&N – Mas se isso era assim (não é que esteja a duvidar das estórias que me conta…), além das pessoas fugirem de lá, porque que é você (estes jornalistas e o emprego do… você!) não foi viver para lá?
Cá Eu – É gira a pergunta, embora não surpreenda. Olhe, por um lado, eu sempre estive entre os privilegiados do lado de cá, mesmo quando preso, torturado, condenado a muitas coisas. Razão pessoal! Nunca estive desempregado, tinha a vida que queria, lutava contra o que achava mal. Depois, razão de outro tipo, nasci aqui e aqui é que quis e quero viver, com os meus mais próximos. Que são a minha pátria. Tantas vezes parecendo madrasta, mas sempre mãe. É aqui que quero ajudar a mudar o mundo.
TM&N – E seria para melhor?
Eu Cá – Eu acho, pelo que li, vivi e comparo, que será bem melhor. E virá a ser!, porque o mundo tem melhorado sempre para melhor para os humanos, mesmo quando se passa por momentos – períodos do tempo histórico que é feito de séculos e milénios – que não são fáceis e em que parece que a roda está a desandar. Logo andará no caminho certo...

Vamos lá ver se percebo

Vamos lá ver se percebo!
Se alguém, dado haver indícios seguros de estar a praticar crimes, está a ser escutado pela PJ (ou lá por quem for encarregado de combater o crime) e me telefonar, eu também sou escutado. Certo?
Passei, por isso, a ser o escutado da escuta? Claro que não.
Mas passarei a poder sê-lo se, dessa escuta por via colateral, resultarem indícios de que também estarei a prtaicar actos menos lícitos (isto é que é finura de linguagem...). Certo?

Vamos lá ver se percebo!
Isto, claro, a ter ser feito no quadro das leis e dos procedimentos que vigoram. Mas terão eles, as leis e os procedimentos, vigor suficiente?

_____________________________________

Nos meus tempos (óh! que tempos!, há que tempos!, dizia-se: não percebeste?... mete explicador.)

Entre vista - 2

Entre vista
a Todo o Mundo & Ninguém,
realizada em nenhures,
num dia destes, a qualquer hora
(parte 2)

_____________________________________________

TM&N – Escandalizado não será o termo, mas lá que é estranho é…
Cá Eu – Será estranho dada a informação que a todo o mundo e a ninguém é instilada de forma sistemática e massacrante. Tem, por acaso, conhecimento dos resultados de uma recentíssima sondagem feita por um instituto de opinião dos Estados Unidos (www.pewglobal.org), vinte anos passados, e de que apenas há ecos em surdina?...
TM&N – Não, não temos… mas, afinal…, quem entrevista quem? Fale-me, por favor das efemérides, dessa tal RDA… foi lá quando ela existia?
Cá Eu – Tem razão… quando começo a conversar destas coisas, disparo…
Fui, sim senhor, fui a essa “tal RDA”, a Berlim, a Desden, antes e depois do 25 de Abril…
TM&N – … visitas oficiais, enquadrado em delegações, recebido para só lhe mostrarem o que era para mostrar…
Cá Eu – Engana-se. À RDA fui mais que uma vez, nunca como militante ou dirigente do PCP, fui (como a outros países “do Leste”, como à Bélgica, a Áustria, à Islândia), mais que uma vez, integrado no movimento pela Paz, pela coexistência pacífica, pela segurança e cooperação europeias, essas coisas terríveis que o chamado “mundo socialista” acolhia e estimulava, juntamente com católicos, de outras confissões religiosas, socialistas… se há que colocar etiquetas às pessoas que, então, defendiam o mesmo, ou seja, a Paz, partindo de posições ideológicas diferentes.
TM&N – E gostou do que via?
Cá Eu – De um modo geral, sim. E olhe que não levava antolhos nem óculos fumados. Sobretudo me agradavam os esforços que via ou pressentia para que o mundo viesse a ser outro, em paz, mais solidário, ao contrário do que encontrava cá pelos nossos lados.
TM&N – Mas… e a liberdade? E as igrejas fechadas? E as proibições? Isso não viu, claro…
Cá Eu – Isso não vi… claro! Por acaso, uma vez, em Budapeste, tivemos uma reunião – e não foi clandestina, foi acompanhado por católicos, também defensores da Paz, do desarmamento, e etc. e tal - com um alto dignitário da Igreja Católica, assim acima de bispo (não sei muito dessas hierarquias...), e o cardeal ou lá o que era mostrou-nos o “livro de assentos” dos actos religiosos, e disse-nos uma coisa que não esquecerei (sabe como a memória é selectiva, e esta escrevia…), “a verdade é que, aqui, a Igreja e o culto não são atacados se não se meterem na vida política, aqui não somos privilegiados ou protegidos… mas os locais de culto são-no, e o Estado cuida deles como património, alguns como monumentos nacionais… disso não nos podemos queixar…”
TM&N – E as pessoas, a gente da rua, os que fugiam para o Ocidente, os que, nesta efeméride, corriam todos os riscos para atravessar o muro à procura da liberdade?
Cá Eu – Que quer que lhe diga? Não tinham desemprego, tinham educação e saúde como direitos, tinham transportes públicos a preço da chuva - o mesmo bilhete a preço irrisório em Moscovo e em Odessa, isto comprovei eu! –, tinham cultura para todos e não nivelada por baixo, preparava-se um futuro diferente em condições muito difíceis, em muitos casos mal, muitas vezes cometendo-se erros ou que, hoje se avaliam – e muitos já então – como erros…

TM&N - ... espere aí, espere aí... tenho de mudar de cassette...

Cá Eu - Fazfavor... isso não é piada, pois não?...

.

(segue no próximo e último número... e com outra cassette)

quinta-feira, novembro 12, 2009

Entre vista - 1

Entre vista Cá de Mim
a Todo o Mundo & Ninguém,
realizada em nenhures,
num dia destes, numa hora qualquer
______________________________________________
TM&N – Obrigado pela sua disponibilidade… Podemos falar sobre efemérides?
Cá Eu – Sobre o que quiser… mas começo por lhe dizer que fiz a promessa de durante 20 anos não falar sobre o muro de Berlim…
TM&N – … mas era por aí que íamos começar…
Cá Eu – … o que não quer dizer que não fale sobre a RDA, Berlim, os países socialistas, essas coisas…
TM&N – Ah!, bom... Então podemos começar... o que é isso da RDA?
Cá Eu – A RDA era um Estado chamado República Democrática Alemã, criado no âmbito das Nações Unidas, na sequência da derrota da Alemanha nazi e do desmantelamento do Estado nazi alemão, tendo vindo a criar-se dois Estados, a República Federal da Alemanha, RFA ou Alemanha Ocidental, e essa tal RDA, a República Democrática da Alemanha, ou Alemanha Oriental.
TM&N – Ah!, bom… Então, e Berlim?
Cá Eu – Berlim, de onde vêm aquelas bolas gostosas, era a capital da antiga Alemanha, a sede do Reich, estava (e está) no lado oriental, no meio da RDA. No entanto, teve um estatuto especial, e que deveria ser provisório, com um sector de ocupação ocidental – anglo, estadounidense, francês – e outro soviético.
TM&N – Ah!, sim?... depois?
Cá Eu – Bem, além de terem morrido as vacas e ficado os bois…. uma vez que o provisório não havia meio de o deixar de ser, os soviéticos entregaram formalmente o seu sector à RDA, passando a fazer parte integrante do Estado, ficando ali o sector de ocupação tripartida ocidental como um, digamos, corpo estranho incrustrado no meio de um outro Estado…
TM&N – Não sabia… É interessante… Nunca ninguém me tinha dito… E o muro?
Cá Eu – O muro aparece depois…
TM&N – … a dividir a cidade em duas…
Cá Eu – Não! À volta do sector anglo, estadounidense, francês da cidade, ali no meio da Estado RDA… mas sobre o muro já falei demais… só daqui a 20 anos.
TM&N – Mas não me diga que estava de acordo...
Cá Eu – … não digo nada, não presto declarações sem a presença do meu advogado. Mas, imaginemos uma fronteira, com ou sem muro (há por aí tantos…), escandalizo se disser que preferia o modo como se vivia na RDA ao modo como se vivia na RFA, incluindo o bocadinho lá no meio da RDA?
TM&N – Não me diga!
Cá Eu – Vê? Escandalizei-vos, a vocês tão bem informados, isto é, de(sin)formados… Pois digo! E digo-vos porquê.

(segue num próximo número)

La Lámpara Marina - El Mar y Los jazmines

Pablo Neruda
IV


El Mar Y Los Jazmines


De tu mano pequeña en otra hora
salieron criaturas
desgranadas
en el asombro de la geografia.

Así volvió Camoens
a dejarte una rama de jazmines
que siguió floreciendo.

La inteligencia ardió como una viña
de transparentes uvas
en tu raza.

Guerra Junqueiro entre las olas
dejó caer su trueno
de libertad bravía
que transportó el océano en su canto,
y otros multiplicaron
tu esplendor de rosales y racimos
como si de tu territorio estrecho
salieran grandes manos
derramando semillas
para toda la tierra.

Sin embargo,
el tiempo te ha enterrado.

El polvo clerical
acumulado en Coimbra
cayó en tu rostro
de naranja oceánica
y cubrió el esplendor de tu cintura.

quarta-feira, novembro 11, 2009

11 de Novembro

Dia de S. Martinho (É pelo São Martinho que um homem descobre como em-velho-sou) .
Dia da Independência de Angola, em 1975 (unilateral, depois de Guiné-Bissau, Moçambique, S. Tomé e Princípe, Cabo Verde... uma história para contar!)

De José Luandino Vieira: «Cantarei 0 herói, o que sempre exemplificou seu povo, vida e morte e luta, o dos cinco combatentes. Mas quero depois esquecer tudo, não vou de reinventar a verdade. Tem documentos, papéis passados e guardados, recebidos nas mãos de um jornalista, um mulato oxigenado no sotaque português, na estrada que de Benguela sobe na Serra de Xicuma, naqueles dias ímpios de 75, quando a nossa pátria, acantonada num quintal, era só de bandeira e hino.»

La Lámpara marina - los presidios

La Lámpara marina

Pablo Neruda



III

Los Presídios

Pero,
portugués de la calle,
entre nosotros,
nadie nos escucha,
sabes
dónde
está Álvaro Cunhal?

Reconoces la ausencia
del valiente Militão?

Muchacha portuguesa,
pasas como bailando
por las calles
rosadas de Lisboa,
pero,
sabes dónde cayó Bento Gonçalves,
el portugués más puro,
el honor de tu mar e de tu arena?

Sabes
que existe
una isla,
la isla de la Sal,
y Tarrafal* en ella
vierte sombra?

Sí, lo sabes, muchacha,
muchacho, sí, lo sabes.

En silencio
la palabra
anda con lentitud pero recorre
no sólo el Portugal, sino la tierra.

Sí, sabemos,
en remotos países,
que hace treinta años
una lápida
espesa como tumba o como túnica
de clerical murciélago,
ahoga, Portugal, tu triste trino,
salpica tu dulzura
con gotas de martirio
y mantiene sus cúpulas de sombra.
______________________________
* - Este Tarrafal, o Tarrafal do campo de concentração, era na ilha de Santiago (SR)

Há que mudar de política. Não de pátria!

No meio de outras tarefas, tenho deixado atrasado o acompanhar da conjuntura. Estou embrenhado no estudo funcionamento da economia capitalista, ando metido em "pingues-pongues" locais de que não gosto nem quero.., mas tem de ser! (há quem ache que não, que não teria de ser...), e passaram uns dias (poucos) sem a leitura que actualiza o estado do Estado em que estamos, para além de rápidas olhadelas. E se houve coisas que vieram a lume.. para além da espuma (cada vez mais suja!) dos dias!
As previsões de Bruxelas chegaram na semana que passou. e são mais que preocupantes. Sobretudo em relação ao futuro, se tudo continuar na mesma. E há carecas com os cabelos em pé. A página de Nicolau Santos no Expresso é... dantesca, como ele titula o que vem aí.
Há duas breves notas que quero deixar, apesar do atraso e de ser necessário bem mais que breves notas.

1. Repudio o eco que, neste quadro, se faz ao apelo para que se verifique "grande moderação salarial" (em que abundam, por excesso de protagonismo, Vitor Constâncio e Silva Lopes) e, concomitantemente, à continuidade do menosprezo (melhor se dirá desprezo) pelo mercado interno, pelas PME, pela actividade produtiva, pela vida das gentes, em suma, e a insistência no mercado externo, na capacidade concorrencial baseada na vantagem comparativa dos baixos custo do "factor trabalho" (acabo de ler, na página 498 do tomo V de O Capital: “(...) o comércio externo podia remediar (…) mas o comércio externo (…) traslada apenas as contradições para [uma] esfera mais extensa, abre-lhes um círculo de jogo maior.”

2. Já me vi acusado de catastrofista, de estar sempre a ver o lado negro ds coisas, de estar permanentemenete "no contra", de não querer colaborar - quando não me canso de afirmar a maior disponibilidade... desde que respeitado o que penso. Não me revejo minimamente nessas acusações, apesar da permanente auto-crítica, e choca-me ver transcritos poemas como o de Jorge de Sena, a ilustrar uma página de economia em que se faz um diagnóstico mais que reservado e se vai buscar receituário velho e revelho do FMI. Somos e temos a pátria que formos capazes de merecer .

terça-feira, novembro 10, 2009

La Lámpara marina - La Cítara Olvidada

La Lámpara marina

Pablo Neruda
II

La Cítara Olvidada

Oh Portugal hermoso
cesta de fruta y flores,
emerges
en la orilla plateada del océano,
en la espuma de Europa,
con la cítara de oro
que te dejó Camoens,
cantando con dulzura,
esparciendo en las bocas del Atlántico
tu tempestuoso olor de vinerías,
de azahares marinos,
tu luminosa luna entrecortada
por nubes y tormentas.

Hoje, 10 de Novembro...

... nasceu, em 1913, Álvaro Cunhal.

... é o dia do 30º aniversário da Juventude Comunista Portuguesa
(fonte: minha agenda da JCP)

Ontem, 9 de Novembro...

... foi Dia Contra o Racismo (diz a minha agenda, da JCP)

La Lámpara Marina - El Puerto Color de cielo

Apenas tinha a intenção de deixar aquela parte V do poema de Pablo Neruda, La Lámpara Marina. Porque me apeteceu...
E, agora, porque me apetece, vou deixar o resto, mensagem a mensagem. Porque me apetece... e pela receptividade que teve. Apesar de estar acessível nos "aparelhos de busca", e ilustrado com desenhos de Álvaro Cunhal.

La Lámpara Marina
Pablo Neruda
I
El Puerto Color de cielo

Cuando tú desembarcas en Lisboa,
cielo celeste y rosa rosa,
estuco blanco y oro,
pétalos de ladrillo,
las casas,
las puertas,
los techos,
las ventanas,
salpicadas del oro limonero,
del azul ultramar de los navíos.

Cuando tú desembarcas
no conoces,
no sabes que detrás de las ventanas
escuchan,
rondan
carceleros de luto,
retóricos, correctos,
arreando presos a las islas,
condenando al silencio,
pululando
como escuadras de sombras
bajo ventanas verdes,
entre montes azules,
la policía
bajo las otoñales cornucopias
buscando portugueses,
rascando el suelo,
destinando los hombres a la sombra.

segunda-feira, novembro 09, 2009

Isto é abusar do gentio

Se num país com regime etiquetado de comunista, se levanta um muro, não importa saber porquê, que antecedentes houve: é um crime, há que o derrubar... e a culpa é do comunismo. Depois há que aproveitar a efeméride para festejar a queda do muro, perdão do dito comunismo, até porque teima em não cair e até parece que tem toda a razão no que estudou do capitalismo,
Se num outro país qualquer, isto é, não comunista, se levantam muros, eles lá terão as suas razões e, se houver que anatematizar o levantamento dos muros, lamenta-se, toleram-se e assacam-se as culpas aos turcos (ou aos gregos, ou aos cipriotas), aos israelitas (ou aos palestinianos que os obrigaram a isso), aos mexicanos que queriam entrar à “má fila” nos Estados Unidos (a estes, nunca!), aos flavelados do Brasil (e flagelados), aos irlandeses (ora dos católicos, ora dos protestantes, consoante), aos marroquinos (ou aos saharouis), aos africanos (são mais que muitos... os muros, porque africanos vão rareando), aos sunitas, aos talibãs (os muros à volta dos edifícios em Cabul), aos coreanos (mais aos do sul que o terão construido que aos do norte, veja-se lá… porque se tivesse sido ao contrário não faltaria!), nunca a culpa é do… sistema.
Ora vão para o raio que os parta!

Estou farto de muros, e de um em especial. Vou ficar 20 anos sem falar de muros, tal a dose.

Assembleia da Paz

XXI ASSEMBLEIA DA PAZ
CASA DO ALENTEJO - LISBOA

14 DE NOVEMBRO DE 2009

“Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar”

Nada é impossível de mudar,
BERTOLD BRECHT

História e histórias...

Num dia de acordar maldispostos, os dirigentes de um País chamado República Democrática Alemã teriam resolvido levantar um muro a dividir uma cidade em duas.
Ao que se apregoa aos quatro ventos das histórias que se contam, fizeram-no porque, sendo todos muito maus, comunistas para tudo dizer, sob a mais que terrível influência (influência? domínio!) da União Soviética, não suportavam que os habitantes da cidade que controlavam ferreamente (mas mal, ao que se constata) estivessem a fugir para o outro lado da cidade, gerida com saber e arte por uma administração tripartida, os três “anjos do bem” – Estados Unidos, França e Inglaterra –, onde tinha montado uma vasta e poderosissima rede de “informação” e aliciamento a transmitir para “leste” para convencer os “infelizes” que aquilo era horrível e que do lado “ocidental” é que era bom. Com jeans, meias de vidro, pensos higiénicos e essas coisas todas, e muitas outras que escasseavam do “outro lado”, onde se estaria demasiado preocupado e ocupado em conseguir emprego, educação, saúde, cultura para todos, e a tentar – umas vezes canhestramente, outras mal… com vícios “ocidentais” – encontrar formas de alcançar esses objectivos.
Então, esses façanhudos dirigentes teriam resolvido levantar o tal muro. Em 1961. Mas dessa construção, onde e porquê não se fala. Apenas se fala, e de que maneira, do seu derrube!
Algumas perguntas viriam a propósito, mas ninguém as faz porque as histórias contadas não convidas a que sequer surjam nas mentes mais curiosas.
• Os dois Estados tinham resultado de quê e porquê?
• Não nasceram dos escombros de uma guerra em que, destruído o Estado seu fautor, foi ele dividido pelos “aliados” vencedores para que os novos Estados se reconstruíssem, em Paz, sob administrações e tutelas diferentes?
• Não foi um dos “aliados” do “ocidente” que, já com a vitória certa, e depois de destruírem o que puderam mais para “leste” europeu, no extremo leste asiático experimentaram umas bombitas atómicas, talvez o maior crime da Humanidade?
• Não houve, logo em 1949, o aparecimento de uma organização chamada OTAN, com mal-escondidos propósitos belicistas?
• Não foi só 5 anos depois que os “países de leste” responderam, não com uma organização mas com um pacto defensivo chamado de Varsóvia?
• A cidade de Berlim, antiga capital do Estado destruído e extinto, onde se localizava?
• Estava no novo Estado em construção (RFA) sob “tutela” franco-anglo-estadounidense, ou no meio do novo Estado em construção (RDA) sob “domínio” soviético?
• Não foi acordado que, dada a importância da anterior capital, ela ficaria dividida, transitoriamente, em dois sectores, um de “gestão” anglo-estadounidense-francês, e outro de “gestão” soviética, ainda que já território da RDA?
• Não foram permanentemente violados, do lado “ocidental”, os compromissos tomados relativamente à transitoriedade da situação, enquanto os "soviéticos" promoveram a integração do sector "oriental" da cidade na "Alemanha Oriental" (então RDA), a que, geográgicamente, Berlim pertencia e pertence?
Amenize-se o questionário com uma imagem: Beja, antiga capital e cidade emblemática do Baixo-Alentejo, partida em dois sectores, um de “gestão” tripartida a partir de Aveiro, Faro e Funchal, com relações particulares com o Alto Alentejo, um outro sector parte do Baixo Alentejo, embora com estatuto de apoio a partir da península de Setúbal.
Suponhamos, agora, que, a partir do “sector” aveirense-farense-funchalense, se começava a fazer propaganda insistente (e raro verdadeira) das maravilhas dos ovos moles, do quente mar algarvio e seus/suas visitantes, das ponchas e espetadas, desfazendo no ensopado de borrego e deturpando totalmente o assassinato de Catarina e a história da reforma agrária… “venham para este lado que aqui é o paraíso, aí é o inferno!”. Os bejenses e o Baixo-Alentejo e a península de Setúbal não iam fazer nada?
.
Por aqui me fico. Por agora.
Quer isto dizer que a construção de um muro foi boa solução? Vê-se que não! Como em tantos outros lados – são tantos!, querem a lista de onde eles estão? –, acho que não o seja.
Mas é preciso conhecer a História e não aceitar as histórias que nos contam.
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O universal é o local menos os muros


Miguel Torga



Hoje, às 07.16, na TSF

Sondagem revela descontentamento na Alemanha do Leste
Hoje às 07:16

"No dia em que se comemoram os 20 anos sobre a queda do Muro de Berlim, uma sondagem conclui que os alemães de Leste consideram que a reunificação não foi consumada e que a esmagadora maioria sentia-se bem na antiga Alemanha Democrática."
.
(Ele há cada sondagem!)
.
#O estudo indica que 50 por cento dos cidadãos da antiga Alemanha Democrática lamentam diferenças reais do nível de vida, lembrando que no Leste o desemprego é maior, os salários são mais baixos e o PIB é de apenas de um terço do registado no lado ocidental do país."
"Doze por cento dos inquiridos recordam com saudade os tempos da RDA e outros tantos defendem mesmo que o muro devia ser reconstruído."

"Somente um quinto dos alemães de Leste considera que a reunificação vai no bom sentido e muitos outros dizem que os irmãos do ocidente os tratam com arrogância."
.
(Mas, no meio de tanta euforia artificial, contrariada por sondagens como esta - para esquecer! -, não há quem, em vez de falar da queda do muro, lembre porquê e como ele foi construido, numa cidade ocupada por "aliados" que não cumpriam compromissos e continuavam a guerra, embora servindo-a fria?)

domingo, novembro 08, 2009

O Capital - pausa para respirar... ou respigar

"O capitalista - e ainda mais o seu tradutor teórico, o economista político -, porém, só dificilmente pode desistir da imaginação de que o dinheiro pago ao operário continua a ser dinheiro do capitalista."
(pág. 477, Tomo V, edições avante!, tradução de José Barata Moura)
.
E até parece fácil quando se entra no âmago do funcionamento do capitalismo, tal como Marx o dissecou (falar em autópsia foi, é e ainda é muito prematuro).
O capitalista troca capital-dinheiro por capital-mercadoria (força de trabalho), o trabalhador recebe dinheiro, que deixa de ser capital variável ao ser trocado por horas de utilização da força de trabalho, e é essa mercadoria-dinheiro, e não o capital variável que o capitalista já trocou pela mercadoria (força de trabalho), que o trabalhador vai trocar pelas mercadorias que lhe vão satisfazer necessidades.
Assim, o trabalhador passa de vendedor (de força de trabalho) a comprador (de mercadorias que produziu e/ou distribuiu). Comprador, com o seu dinheiro, produto da sua venda. Dinheiro que, desta (e nesta) forma, devolve ao capitalista, proprietário das mercadorias por o ser dos meios de produção e de distribuição. Dinheiro que, depois, o capitalista pode metamorfosear, enquanto capital sob essa forma (D), em capital sob a forma de mercadoria (M), constante se para trocar por meios de produção (M), variável se para trocar por força de trabalho (FT), também mercadoria.

Com dedicatória!

A um visitante que por aqui gosta de encontrar poesia:


(...)
La Lámpara Marina

Portugal,
vuelve al mar, a tus navíos,
Portugal, vuelve al hombre, al marinero,
vuelve a la tierra tuya, a tu fragancia,
a tu razón libre en el viento,
de nuevo
a la luz matutina
del clavel y la espuma.

Muéstranos tu tesoro,
tus hombres, tus mujeres.
No escondas más tu rostro
de embarcación valiente
puesta en las avanzadas de Océano.

Portugal, navegante,
descubridor de islas,
inventor de pimientas,
descubre el nuevo hombre,
las islas asombradas,
descubre el archipélago en el tiempo.

La súbita
aparición
del pan
sobre la mesa,
la aurora,
tú, descúbrela,
descubridor de auroras.

Cómo es esto?

Cómo puedes negarte
al ciclo de la luz tú que mostraste
caminos a los ciegos?

Tú, dulce y férreo y viejo,
angosto y ancho padre
del horizonte, cómo
puedes cerrar la puerta
a los nuevos racimos
y al viento con estrellas del Oriente?


Proa de Europa, busca
en la corriente
las olas ancestrales,
la marítima barba
de Camoens.

Rompe
las telaranãs
que cubren tu fragrante arboladura,
y entonces
a nosotros los hijos de tus hijos,

aquellos para quienes
descubriste la arena
hasta entonces oscura
de la geografía deslumbrante,
muéstranos que tú puedes
atravesar de nuevo
el nuevo mar oscuro
y descubrir al hombre que ha nacido
en las islas más grandes de la tierra.

Navega, Portugal, la hora
llégó, levanta
tu estatura de proa
y entre las islas y los hombres vuelve
a ser camino.

En esta edad agrega
tu luz, vuelve a ser lámpara:
aprenderás de nuevo a ser estrella.


(parte V de um poema de Pablo Neruda)

Revolução de Outubro

Para contrariar o que "é natural" no presente em que estamos... leia-se aqui.
Com toda a naturalidade, porque queremos o futuro!
E que seja outro o presente.

sábado, novembro 07, 2009

Frases à toa (nem todas tontas, ou de tontos)

Tiradas dos destaques - opinião, do Expresso de hoje:
.
"No fundo, a corrupção é a outra face do socialismo e da social-democracia."
- Henrique Raposo
(e não é "gralha"!)
.
"O que vem aí. Os cenários para 2010 e 2011 deixam-nos os cabelos em pé. Dívida pública e défice com valores brutais."
- Nicolau Santos
(e NS não é careca... nem está com receio de desemprego)
.
"O exemplo de Vara peca por tardio. O apego ao tacho não reforça a presunção de inocência."
- Fernando Madrinha
(mas não foi muito elogiado pelo exemplo que deu de dignidade?!)

Reflexões lentas e curtas - 7 - O XIII Congresso - a lição que mais retive - b. Uma das causas. Partido/Poder

1. Há partidos que são do Poder e partidos que o não são?
2. Não é o PCP um partido do poder?
.....a. Este PCP (O Partido com paredes de vidro)… e não outro
3. O Poder aparente e o real Poder
4. A governabilidade como Poder aparente ao serviço do Poder real
5. Ser Poder no Poder Local não conota como poder?
6. Partido e Poder – lutar contra a promiscuidade
.....a. Os maus exemplos
..........i. Dos outros – hoje, aqui: PS no Poder Central/PSD no Local
..........ii. Dos "nossos" – o mau exemplo dos últimos anos da URSS
7. O XIII Congresso (Extraordinário) 1990 – a lição que mais retive
.....a. A coragem e a lucidez

.....b. Uma das causas – Partido/Poder.

.
Este é o último episódio desta série. Tendo ela sido programada, como o mostra o sumário acima, não o foi ao ponto de pensar que iria cair nesta altura, mais: neste dia 7 de Novembro. Que pontaria!
No congresso (extraordinário) de 1990, em que estive presente, um pouco em estado de choque mas muito atento e lúcido, retive a referência a uma das causas de degenerescência da situação no País pátria do socialismo como tendo sido a confusão, a partir de certa altura, entre Partido e Estado.
Sendo as causas do descalabro que estávamos a viver de origem externa e de origem interna, sendo as primeiras as da luta de classes no plano planetário, e as segundas as do modo como se concretizava, internamente, a construção de uma sociedade socialista a caminho do comunismo, entre estas avultava a de se ter amalgamado Partido e Poder. O Partido fora deixando de ser a vanguarda de uma classe no Poder, capaz de tomar consciência da evolução da sociedade e de a procurar reflectir mobilizando e organizando, de ser a ligação ao Povo e seu devir, para se confundir na prática da governação e da competição internacional, tarefa do Estado.
O Partido não é a sociedade, o Estado é a sociedade/nação politicamente organizada. O papel do Partido não pode ser o de se substituir ao Estado. Se o faz, mal vão as coisas, ou irão…
Retive essa ideia-causa. Marcou-me. Decerto mal a exprimo. Mas irei melhorando… Até pelos exemplos com que por aqui – e hoje – convivo, embora numa organização da sociedade em que tais vícios estão nos seus genes, enquanto no socialismo eram doença, talvez por contágio e imitação como se podem caracterizar as últimas décadas do “socialismo real” na Europa, em que Partido terá “esquecido” as suas tarefas de organização e consciencialização, assoberbado pelas que eram do Estado, sobre as quais, distanciado, deveria exercer vigilância revolucionária, para que o Estado não perdesse a sua natureza (e expressão) de classe.
.
Exemplificando num outro plano, em Estado com outra classe no Poder, hoje o governo Sócrates apresenta, como programa do governo, o programa do PS, tal como o apresentou enquanto programa de campanha eleitoral; o executivo eleito para a Câmara de Ourém mostra querer que o PS seja o Poder (local) como o foi o PSD, tentando ignorar que a sociedade vai muito para além do partido que ganhou eleições, e mostrando só admitir absorver o que considera “franjas”, integrando-as na sua “gestão dos negócios públicos” e nas suas reflexões estratégicas, negando-lhes autonomia e independência numa sociedade complexa e compósita*.
Assim, aqui regresso, sem de aqui ter saído.

_________________________________________

* - dicionário: adj. 2 gén. diz-se de uma ordem arqutectónica em que entram elementos das ordens jónia e coríntia.

7 de Novembro de 1917

Aqui lembrado.

Como no ano passado.

Como há dois anos.

Como há três anos.

Como sempre. Desde há 92 anos.

Como no futuro. Para o futuro!

sexta-feira, novembro 06, 2009

O verniz técnico que tapa a unha suja da exploração

Entre os vários "blogs" em que vou (a)postando, este é o de charneira. Por isso, algumas coisas que noutros saem, porque a eles serão adequados, talvez faltem aqui. Dada a sua importância relativa (para mim, claro...).
Como este, sobre afirmações rádio e televisivas, em que meus colegas de profissão têm abundado, numa perspectiva que, com toda a frontalidade, tem o meu completo desacordo.
Vitor Constâncio e Silva Lopes, nessa "qualidade", têm aparecido como "pontas de lança" de verniz técnico a tapar a unha suja que Van Zellers & Cia. não se cansam de mostrar na tentativa de justificar um "modelo" económico desvalorizador do mercado interno, voltado para as exportações e, por isso, justificando o ataque aos salários (e aos trabalhadores que dele vivem) prosseguindo a estratégia baseada na vantagem comparativa dos custos do trabalho com roupagens linguísticas de produtividade e competitividade.
Assim sendo, refiro o "post" do sempre acutilante samuel-cantigueiro, que se pode ler aqui, e transcrevo parte do "post" que coloquei - e por razões locais - em PorOurem, com o título "Ah é? A bem da economia portuguesa os trabalhadores não devem aumentar os salários? :
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(...) à pergunta do título, segue-se uma outra: e os bancos e os grupos transnacionais que por cá andam ou passam - de passagem - devem aumentar os lucros... a bem da economia portuguesa?... como aliás vêm fazendo sempre... para mal da economia dos portugueses!
O colega e conterrâneo Silva Lopes é pessoa que, ao longo da vida, me tem merecido toda a simpatia, mas está a descarrilar. Na minha opinião, como é óbvio.
Para não entrar em tipo de campanhas que rejeito, poupei-o a transcrever, recentemente, comentários que a seu respeito me chegaram, sobre a sua escolha para administrador de uma empresa pública (ou para-pública), aos 77 anos, com decerto chorudo salário para somar às suas diversas e avultadas reformas, mas - agora! - pergunto se não é provocatório dizer o que diz quando desfruta dos réditos mensais que lhe entram em casa todos os meses?
Quererá ele viver aí um anito com o salário mínimo... para benefício da economia portuguesa, por via da exportação das energias renováveis que lhe pagam um saláriozito mais para arredondar o orçamento?
Haja decoro!

Pinça mentes

Pinça mente "devolvido" (e ligeiramente alterado) de docordel.blospot.com.:
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A Paz é necessária não para. É necessária não para que haja mais escolas, mais hospitais, melhor educação, melhor saúde. E mais e melhor muitas outras coisas que são necessidades em si.
A Paz é necessária. Ponto final. Como necessidade
em si. Porque, sem ela, a Humanidade corre perigo. De sobrevivência.
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anónimo do século xxi

quinta-feira, novembro 05, 2009

Programa do governo?

Peço desculpa!
O próprio 1º ministro, o propriamente dito, o disse: este é o programa eleitoral do PS. O que não é - não pode ser - a mesma coisa.
Ele não percebe a diferença!
Muita gente também não.
Olhem... paciência. Há quem não desista de continuar a tentar explicar.
Com paciência... revolucionária.
Por exemplo, aqui.

Atenção aos sinais!

Excerto de texto de Javier Blas (em Londres) e James Lamont em (Nova Delhi), publicado no Finantial Times, actualizado a 4 de Novembro de 2009. O que a China e a India estão a fazer é a libertar as suas reservas das contingências monetárias das "economias ocidentais" e a valorizá-las em ouro, por via de compras maciças. Atenção aos sinais!


Compra de ouro da Índia faz o preço do ouro atingir record

Os preços do ouro continuaram a subir na 4ª-feira, atingindo os mais altos níveis de sempre que acompanharam a compra de 200 toneladas do precioso metal pelo Banco Central da Índia, trocando dólares por barras de ouro, depois do ministro das finanças do país, ter considerado que as economias dos EUA e da Europa tinham entrado “em colapso”.

A decisão da Índia de trocar 6,7 milhares de milhões de dólares por ouro, o que equivale a 8% da produção mundial mineira anual, deu o mais forte sinal de que os países da Ásia estão a afastar-se da moeda dos EUA.

Esta compra, através do FMI, empurrou os preços do ouro para um record de 1,090.90 dólares por onça”troy”, subindo 2.6% num dia, já que os “traders” apostaram que outros bancos centrais também se tornariam compradores.

O ministro das finanças da Índia, Pranab Mukherjee, disse que a aquisição reflectia o poder de uma economia que terá a 5ª maior reserva mundial: “Temos dinheiro para comprar ouro. Temos bastantes reservas em divisas”.

Ele contrapôs a força indiana à fraqueza no resto do mundo: “A Europa entrou em colapso, assim como os EUA”.

“Este é uma transacção de referência”, disse Jonathan Spall, um director na Barclays Capital e especialista em ouro. “Os bancos centrais são instituições conservadoras e a iniciativa da Índia é um sinal para outros bancos centrais e para fundos de riqueza nacionais que estão a considerar comprar de ouro”.

A aquisição de Nova Deli deu-se meses depois da China (de longe o 1º mundial em reservas) ter revelado que quase duplicou as suas reservas em ouro nos últimos seis anos.

“Traders” e executivos “mineiros” advertem que os fundos nacionais da China, Arábia Saudita e Médio Oriente se candidatam a tomar posse do resto do ouro que o FMI planeia vender.

Afeganistão

Na rotineira navegação matinal, passo pelo sapo e vejo os titulos e as "grandes". Como quem consulta o "boletim meteorológico". Hoje, esta:
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Afeganistão: ONU vai evacuar todo o seu pessoal não essencial
05 de Novembro de 2009, 06:33

Cabul, 05 Nov (Lusa) - A ONU vai evacuar temporariamente do Afeganistão a quase totalidade dos seus 600 funcionários "não essenciais", após o ataque sangrento dos talibãs na semana passada contra uma das suas casas de hóspedes, anunciou hoje um porta-voz da organização.

"Cerca de 600 empregados funcionários não afegãos vão mudar temporariamente", declarou Dan McNorton, porta-voz da ONU em Cabul.

"As únicas pessoas que vão permanecer são consideradas pessoal essencial", acrescentou.
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Que comentar? Nada. Apenas registar. Por agora.

quarta-feira, novembro 04, 2009

O mundo e os seus cantos

Num canto do mundo, o Afeganistão, noutro canto do mundo, as Honduras. E, noutros cantos do mundo, mais desencantos e ilusões-desilusões. E lutas, pois então.
Nós, de canto para canto, de desencanto para desencanto, de ilusão para desilusão (os que se iludem), a navegar na blogosfera. A conhecer, a interpretar. Não chega! Intervir é preciso. Tanto (e mais!) quanto navegar.

O tratado de Lisboa

O anúncio é a notícia do dia.
Confesso que me custa a entender algumas reacções. Há nelas uma irracionalidade, um desconhecimento, uma cabeça metida na areia, uma repetição do que disse quem tem que dizer "aquilo" que se repete, um pactuar com a total ausência de ética, que chegam a assustar.
Sim!, porque esta ratificação, nestas condições, com o desrespeito pelas regras, com o fim a justificar os meios, com os artifícios, os conluios, as maquilhagens, as batotas - ainda que com uma camada de verniz de legalidade colocada "à pressa" e "à medida" - para que fosse adoptada a reprovada "constituição europeia", todo este processo foi uma vergonha... até porque quis fazer de conta que era muito democrático.
E não ponho em causa a boa fé de alguns que saúdam o que consideram um passo positivo, uma "Europa mais forte" a sair da "tutela dos Estados Unidos" (mas Obama, agora, não dá garantias?...), e sublinho, para que não haja dúvidas ou confusões: não me estou a dirigir a alguém que, directa ou indirectamente, já se tenha manifestado, materializando essas reacções para que tento encontrar explicações válidas, baseadas num raciocínio, num conhecimento. numa ética. Ainda que contrários aos meus. Ao menos... umas reservasitas quanto aos métodos e procedimentos, e quanto às ilusões criadas.

terça-feira, novembro 03, 2009

Corrupção - no dicionário e em leituras paralelas e convergentes a O CAPITAL

Andam os tempos, e os escritos, e os ditos, grávidos de corrupção. Por isso, convém ter da palavra-conceito o significado e a etimologia. Não só a etimologia no seu sentido estrito de origem e formação das palavras, também no seu sentido político de natureza e finalidade do “governo das nações”.
Segundo o dicionário da Texto Editora, Corrupção (do Lat. Corruptione) (é) s.f., acto ou efeito de corromper; podridão; decomposição; putrefacção; (fig.) devassidão; adulteração; suborno; prevaricação.
Nas leituras em que ando, muito por culpa/causa da próxima apresentação do Tomo V do Livro Segundo de O Capital, encontrei, num texto de Conceição Tavares-Beluzzo*, a seguinte passagem «A função “corruptora” do capital a juros**, vislumbrada por Marx em sua imagem do Moloch e concretizada no processo de fazer dinheiro a partir do dinheiro, prescindindo de qualquer mediação do capital produtivo***, é também ressalvada por Hobson**** ».
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Assim, talvez se perceba melhor. A "tormenta" e de quem a responsabilidade...
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* - em Os antecedentes da tormenta. Origens da crise global, Editora UNESP, Brasil, 2009. Este texto, da autoria de Luiz Beluzzo-Maria da Conceição Tavares, foi originalmente publicado em 1980, na Revista "Temas de Ciências Humanas" e agora incluído no livro que me foi referido por Aloísio Barroso, o que muito agradeço.
** - Na edição portuguesa de O Capital, no ainda não publicado Livro Terceiro – o processo total da produção capitalista, a quinta secção, do Tomo VII, terá, em princípio, o título Cisão do lucro em juro e ganho do empresário. O capital que rende juro, pelo que este “capital a juros” corresponde ao capital que rende juro.
*** - D – D’.
**** - Hobson, J.A., The Evolution of Modern Capitalism, Allen and Unwin, Londres, 1965.