terça-feira, junho 30, 2015

Quantos somos/como estamos - 5

Entrados nesta fase de aproveitamento do estudo, estamos já monetarizados, com as estatísticas das remessas dos emigrantes e a referência à importância, na economia nacional (e também, evidentemente, no perfil da nossa demografia), da população imigrante.
Mas, neste aspecto, a caracterização - ainda que sumária - é ainda mais esclarecedora... e socialmente negativa.

Diminuiram quase 30% os beneficiários de RSI.
Havia abusos ou beneficiários indevidos? Decerto que sim, mas o número desses foi, certamente, inferior ao número dos que, com a evolução da economia - como se verá -, passaram a ser infelizes potenciais beneficiários.




















O rendimento médio disponível das famílias baixou, entre 2010 e 2014, cerca de 10%!






















O indice de Gini, que é indicador que mede a desigualdade na distribuição de rendimentos (coisas das economias e das estatisticas...) agravou-se ligeiramente, e não só ligeiramente como se comprovará de outras maneiras.

contlnua

O massacre mediático anti-democrático


segunda-feira, junho 29, 2015

Um caso exemplar de desinformação e manipulação de uma coisa chamada "opinião pública"

Logo logo a acompanhar o pequeno-almoço desta segunda-feira desta semana em que vem aí uma inundação de "casos exemplares", de todos os lados, em todas as línguas:

"Queremos que os contribuintes dos outros países continuem a financiar o nosso modo e nível de vida? Esta é a pergunta a que os gregos gostavam de responder. Só que em política a mesma pergunta não se faz duas vezes. E já foi a esta pergunta que os gregos responderam quando elegeram o Syriza. Eles deram a maioria a um partido que lhes garantiu que ia mandar no dinheiro dos outros. E isso não é possível", Helena Matos, no 'Observador', embora não seja totalmente correto que os gregos tenham dado a maioria ao Syriza, apenas cerca de 36%, o que permite que as sondagens indiquem a derrota do Governo no próximo referendo. 

in Expresso curto 
(obrigadinho mas não tomo café...
faz-me subir a tensão)

Primeiro, começa-se por aproveitar a subliminar palavra contribuinte, imposta lenta e insidiosamente (cidadão > utente > cliente > contribuinte); segundo, não foi aquela a pergunta a que os gregos responderam (foi quem queriam que os representasse na situação dificil, grave, em que estavam, fruto do conluio de anteriores executivos com uma troika externa); terceiro, ninguém garantiu a ninguém que ia "mandar no dinheiro dos outros"... que é fórmula aberrante e que se repudia, até porque apaga a palavra negociação (bem ou mal conduzida, com boa ou má fé. é outra questão); ... e chega para esta amostra! 

domingo, junho 28, 2015

Quantos somos/como estamos - 4

Atrasei-me na publicação desta série, deste nº 4. O que pouca importância terá, a não ser que haja qualquer "maduro" (além de mim...) que estivesse a acompanhar a série e sentido a sua falta. 
Esta série, como registo e arquivo a partir de um estudo interessante e útil, ganha alguma intemporalidade, até porque estes "posts" que a comporão servirão para imprimir e ficar como elementos de apoio. Para quê? Para que toda a inFormação com que se possa vir a contribuir seja escorada em elementos e dados com um mínimo/máximo de credibilidade por de outros virem e por terem algum rigor, sempre condicionado pelas fontes e pelas fontes a que as fontes recorreram ou se basearam.
Começou-se pela taxa de desemprego (desempregados inscritos), logo se passou aos desempregados de longa duração e à população desempregada à procura de novo emprego ou à procura de primeiro emprego. Na breve caracterização (quantitativa e bem deficiente ou por defeito) logo ressalta a evolução das prestações de subsídio de desemprego (uma das conquistas da revolução, com enorme significado pelo período envolvente e centrípeto particularmente difícil em que ocorreu - "crise económica", fim de um "surto emigratório", retorno das colónias, desmobilização militar -, e pela sua universalidade), que depois da subida inevitável pelo acréscimo de desempregados foi um dos pontos de ataque social, passando as prestações a 261 mil em 2011 para 246 mil em 2014.
Mas volte-se ao trilho...  que este é comentário de passagem ao número anterior, e aproveitem-se estes três gráficos do estudo publicado nas informações "expressas":











Encadeemo-los na série que se pretende levar a (bom) fim. 
Assim, é estulto tratar da situação (e evolução) demográfica de  um espaço, de um País, de uma Nação, sem ter em consideração os movimentos migratórios.
Aliás, como espaço, País, Nação, plantado nesta ponta da Europa, Portugal é terra de emigrantes, com reflexos na vida económica. Lembrem-se os anos 60 do século passado em que as remessas dos emigrantes foram "balão de oxigénio" numa economia débil (e fascista...) a suportar uma guerra colonial (mas não tergiversemos nestas apenas notas de comentário).
Nos últimos anos, o surto emigratório atingiu níveis que lembram esses anos (sobretudo a quem os viveu, claro) em que os emigrantes também chegavam (ou ultrapassavam) a centena de milhares.   
No entanto, essa lembrança não se completa com a do "benefício" (sem descontar os "custos", isto é, brutos... socialmente) das remessas, que não cresceram proporcionalmente - 37,5% para o número de emigrantes, 24% para as remessas.
No outro lado das migrações, a imigração caiu significativamente, com a população estrangeira residente a diminuir 30 mil (8%), 
sendo mais trabalhadores (tal como os emigrantes) que a economia não emprega e números que ajudam a escamotear a evolução de uma economia em queda livre, em que apenas a crescente "economia paralela" (e de subsistência) se aguenta, ainda que perseguida por um fisco predador.


continua

E agora? O que vem aí é que vai ser... depois do massacre económico, o massacre nas campanhas p'rós votos


Para este domingo

Mais um domingo a começar com o Sílvio e o seu (que já é tão meu/nosso) unicórnio azul ...


(Mi unicornio azul ayer se me perdió,...)

Mas ele voltará!
Embora nunca sob a forma de um logotipo (que nem azul é). 


Voltará! 
Não sob a forma de retrato de um mundo de enganos. Não, 
Não pensem que venhamos a confundir errar e ter de corrigir com deixar de sonhar.

sábado, junho 27, 2015

A Grécia... ou será que?

A 22 de Abril e a 8 de Maio cumpri a convocatória/convite para apresentar o livro Da resistência antifascista à nacionalização da banca, de Anselmo Dias, em Lisboa (no STEC) e em Almada (na Sala Pablo Neruda do Forum Municipal Romeu Correia), como o foi noutros espaços e por outros apresentadores (na Universidade Popular do Porto, por Avelino Gonçalves).
Não tendo escrito nenhum texto para introduzir o debate, tomei umas notas e fiz um esboço de esquema que acompanharia o folhear do livro e a citação de algumas passagens assinaladas e sublinhadas.
Das notas, retiro o que me pareceu útil para arrumação relevando três momentos-marcos ou períodos do que foi um processo, e sua extrapolação para o presente:
  • ·        1969-75 – resistência à nacionalizações
  • ·        1990-95 – desnacionalização-UEM-BCE
  • ·        2009-… – “crise” e colapso EuroGrupo

Referir, sublinhando, o papel do trabalho de consciencialização e mobilização de massas, em paralelo com a luta institucional, estruturas e organizações sindicais. Dentro de um sindicalismo “domesticado”, e potencialmente a derivar para “bom vendedor” de força de trabalho, lutando por um sindicalismo de classe. Ilustrar com o processo concreto  das nacionalizações, tal como o livro testemunha.
Anotar as acções convergentes no aproveitamento da legislação marcelista em outras áreas profissionais. As arbitragens nos caixeiros e nos metalúrgicos. Contar casos e situações  vividas.
Falar do “divisionismo sindical” que desde sempre se manifestou, foi estimulado e aproveitado, com recurso ao que o livro conta do “caso João Aguiar".
Sublinhar o papel decisivo dos delegados sindicais nas acções de nacionalização e nos dias sequentes.
Por último, enfatizar a necessidade de debater – hoje! – a nacionalização da banca… nas novas condições e nunca esquecendo as lições da experiência vivida
Abrir debate.

O debate foi animado, particularmente interessante como testemunhos, e dele guardei –como novas notas – muita “matéria” e duas frases-imagens – ”foi às pinguinhas ou a conta-gotas” e “às vezes parece estar-se à espera de um comboio numa paragem de autocarros” –, que aproveitei para abrir, dentro do mesmo esquema, a apresentação de Almada, que teve idêntica participação (cerca de 40 presentes em cada), com  destaque para bancários reformados e saudosos de experiências e tempos vividos.
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Porque recupero estas notas? Entre outras razões, porque “la Grèce me blesse” e penso na próxima semana (e na anterior) de corrida aos bancos… sem haver a força do controle dos trabalhadores da banca que caracterizou Portugal em Março de 1975. 
Ou será que?!...

  

Horrores e TERRORISMOs...

No final de um dia (já começo de outro) em que fomos massacrados por noticias de horrores, há que não esquecer o que "se faz esquecido"!

 - Edição Nº2169  -  25-6-2015
O cúmplice de Dylann Roof


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Antes de Dylann Roof, de 21 anos, começar o massacre, sentou-se, durante quase uma hora, com o grupo de estudos bíblicos da Igreja episcopal Emanuel, o principal local de culto da comunidade afro-americana de Charleston, Carolina do Sul. Fundada há 199 anos por Denmark Vesey, o organizador do (que por pouco não foi o) maior levantamento armado de escravos da História dos EUA, não foi um alvo aleatório.
Incendiada por grupos racistas e proibida durante a guerra civil, foi na Igreja Emanuel que se refugiaram, na década de sessenta, os grevistas dos hospitais de Charleston. Mais tarde na década de oitenta e noventa, foi também esta Igreja que acolheu os estivadores em luta e sindicatos dos operários da indústria automóvel. E foi também por todas estas razões que Dylann Roof a escolheu para pôr em marcha o seu plano de «fazer estalar uma guerra racial».
Mas não prossigamos sem um ponto prévio de ordem à mesa: foram assassinadas nove pessoas, numa igreja, por razões políticas, levando a cabo, com frieza e precisão, um plano arquitectado durante meses e quase ninguém chama a isto terrorismo. Não há concentrações de líderes nas ruas de Charleston nem capas de jornais onde se leia a parangona «Eu sou Emanuel». Não se levantam paladinos da liberdade, do estilo de vida ocidental, nem (neste caso) do cristianismo. Para a comunicação social dominante, o «terrorismo» tem uma singular exclusividade de autor que não autoriza, por exemplo, a extrema-direita, o fascismo ou o racismo. Para esses casos, recorremos então à patologização da violência: diz-se «era maluco!» e encolhe-se os ombros. Mas afinal, por que razão Djokar Tsarnaev, que, alegadamente matou duas pessoas na maratona de Boston é terrorista, mas Dylan Roof, que matou nove negros, não? A resposta é porque a burguesia dos EUA não se sente aterrorizada quando são os negros a morrer em atentados.
Racismo e sindicatos
Não sobram dúvidas sobre a ideologia de Roof. Está plasmada num manifesto e espelhada em várias fotografias em que o assassino exibe simbologia fascista e bandeiras da África do Sul do apartheid, da Rodésia e da Confederação. E é verdade que após 400 anos de escravatura a cultura do racismo está bem viva na Carolina do Sul, que emblematicamente preserva a bandeira da Confederação nos edifícios governamentais. Mas o que verdadeiramente explica o massacre é a política económica da Carolina do Sul.
Durante anos, este Estado sulista foi identificado como um modelo económico a seguir: a política de benefícios fiscais, baixos salários e tolerância zero com sindicatos atraiu as fábricas da BMW, da Hoechst, da Michelin, da Bosch e da Adidas. Foi para as mãos negras dos operários de Charleston que a Boeing mudou a produção estado-unidense do 737, em 2013, como retaliação contra a tentativa dos trabalhadores de Washington constituírem um sindicato. Para o grande capital, o racismo cumpriu, sobretudo, um objectivo económico: manter uma franja dos operários submissa, assustada e indefesa para desvalorizar o trabalho e criar clivagens artificiais entre trabalhadores.
Nos estados do Sul, este desígnio económico produziu uma cultura de normalização da violência e uma tradição de desrespeito contra a comunidade afro-americana. Dylann Roof não agiu sozinho, mas na tradição racista da brutalidade policial, da perseguição dos sindicatos, da discriminação nos locais de trabalho, da segregação e da escravatura. O massacre de Charleston não é, pois, um acto isolado de um doente mental, mas sim o espasmo medonho da cultura terrorista do capital. Ou, por outras palavras, o racismo é sempre terrorismo e o cúmplice reincidente é, uma vez mais, o capitalismo.
 António Santos 

sexta-feira, junho 26, 2015

Reflexões lentas - BRICS, BAII, RMB, Rota da Seda e outras rotas

Se BRICS (Brasil, Rússia, India, China e África do Sul), e coisas como essa, estimulam uma "leitura" da História, e da história que nos é contemporânea, preocupam algumas outras "leituras" ou "literaturas", que julgavam, ou queriam convencer, que a História chegara ao fim. 
Neste mundo em ebulição, que alguns estertores tornam por demais perigoso, há umas "cabecinhas" - umas que se querem lúcidas, outras semi-lúcidas, do tipo "mudanças, sim... mas na continuidade do que não pode mudar" - que não se metem na areia, e observam o que se passa à sua volta.
A criação do Banco Asiático de Investimento, o papel da moeda renminbi na actual e próxima situação monetária mundial, a concretização do megaprojecto da Rota da Seda (lembrando a Teoria geopolítica da Heartland, dos primeiros anos do século XX) são (ou podem ser) manifestações de um vulcão em laboração que transforma em espuma (mediática... mas espumazita) tudo o que tanto nos (pre)ocupa. 
Este artigo (de um professor de economia dos EUA, Barry Eichengeen, e publicado no último Expresso) é um bom reflexo e uma reflexão que, apesar de não escamotear a semi-lucidez do autor, pode ajudar a dimensionar-nos, europeus (desta efémera U.E. e não só), quer espacial quer temporalmente, e a provocar as nossas próprias reflexões    

(clicando sobre pode ler-se melhor)


Porque hoje é sábado e continua... a Grécia

Porque hoje é sábado e o último do mês de Junho... hoje é que é o dia decisivo de tantos e tantos dias decisivos (claro...).
Ontem, na televisão, "deu" o filme Zorba, o Grego. De 1964! Que memória, que recordações. E que oportunidade (ou, também, que oportunismo...),


A alegria de viver (de estar vivo!). Contra tudo (contra todos e contra si próprio).

Que vergonha sinto...

A "isto" chama-se marralhar (no sentido pejorativo... porque tem outros, simpáticos), ou encanar a perna à rã, até se conseguir o objectivo final: castigar o  povo gregos por ter dito (bem ou mal) BASTA. 

Mas outros povos o dirão!


Zona euro acena 

com 16 mil milhões à Grécia 

e alargamento do resgate

Alargamento do actual programa de ajuda até Novembro é uma das propostas preparadas para o Eurogrupo, que permitiria a Atenas pagar ao FMI.
Zona euro acena com 16 mil milhões à Grécia e alargamento do resgate
Uma das propostas dos credores europeus da Grécia que estará este sábado em cima da mesa dos ministros das Finanças da zona euro pode passara pela extensão, até Novembro, do actual programa de resgate a Atenas, acompanhado da libertação de 16,3 mil milhões de euros para que o país possa reembolsar os credores nos próximos meses. 
Uma nota das instituições, preparada para o Eurogrupo e citada pela Reuters, aponta que este valor seria alcançado através de 10.900 milhões de euros que actualmente existem para recapitalizar a banca grega, 1.800 remanescentes do fundo de resgate e 3.600 milhões de euros oriundos das mais-valias realizadas pelo BCE em 2014 e 2015 com a carteira de obrigações soberanas da Grécia.
Complementado pelo excedente primário orçamental grego, este valor seria suficiente, de acordo com o documento, para satisfazer o pagamento de 14,3 mil milhões de euros que o país terá de saldar até ao outono, explica a agência.
O valor seria dispensado em quatro tranches que dependeriam do cumprimento de reformas por parte de Atenas.
A primeira delas, de 1.800 milhões de euros, garantiria o pagamento mais imediato: 1.600 milhões de euros ao FMI, até ao fim do mês. Antes, o programa de reformas da Grécia e o acordo com os credores terá de ter luz verde do parlamento grego e tem de haver autorização para a alocação dos lucros do BCE a este fim.
A segunda tranche seria disponibilizada em meados de Julho - 4 mil milhões - depois das primeiras reformas cumpridas. No início de Agosto seriam entregues mais 4,7 mil milhões e 1,5 mil milhões em Outubro.
Também em Outubro, espera o plano do Eurogrupo, o FMI poderá contribuir com 3.500 milhões de euros, caso a Grécia tenha já aprovado todas as reformas e a zona euro assegure financiamento ao país para os 12 meses seguintes, e ainda sob condição de que o Fundo veja a dívida helénica como sustentável.

quinta-feira, junho 25, 2015

A frase do dia (ou dos séculos...)


"O capitalismo tem os séculos contados!"

A. J. Avelãs Nunes

Roberto Chichorro - Moçambique e(m) Portugal no dia 25 de Junho

O amigo Roberto Chichorro "encomendou-me" um texto para o catálogo da exposição a inaugurar nas festas da cidade de Ourém, em que se lembrasse o 25 de Junho, e da lembrança se fizesse o motivo da exposição, da vinda da embaixadora de Moçambique a Ourém (e de amigos seus), do convívio em que o Roberto é sempre fautor e pródigo. O texto saíu assim e, para quem dispara tanto escrito, sentir que acertou uma ou ou outra vez não será vaidade ou imodéstia e seria falsa modéstia não o mostrar. Por isso, aqui o publico.
 Sérgio Ribeiro
   
25 de Junho

O homem olha-se nos traços e nas cores tão do Roberto, e vê para além do cachimbo por que ele trocou o pedaço de broa da foto que lhe terá sugerido o retrato.
Lembra 25 de Junho de há 40 anos, como lhe foi pedido para um curto texto.
Lembra o plenário no salão enorme do Palácio de Genebra, na sessão de encerramento da 60ª Conferência da Organização Internacional do Trabalho, das Nações Unidas, que começara a 5 de Junho e lhe enchera aqueles dias de trabalho e luta .
25 de Junho de 1975, no 40º ano  da vida do homem, recordado 40 anos depois, para este 25 Junho de 2015. O meio – o fiel? – da vida já vivida.
Em Genebra, enquanto se arrumavam papeis, se tomavam notas para relatórios (e se havia que relatar!… com a entrada da OLP para a OIT e a saída teatral da sala das delegações dos Estados Unidos e de Israel ameaçando cumprir as ameaças com que tinham chantageado a votação em que Portugal novo e em construção participara), enquanto se faziam despedidas, a notícia, solene e do alto da tribuna, da independência de Moçambique. Naquele dia, por aquelas horas.
Entre a delegação portuguesa alguns se abraçaram, emocionados, como a muitos quilómetros se abraçaram, emocionados, Samora Machel e Vasco Gonçalves. Os homens, aqueles homens e aquelas mulheres, viviam todos os sonhos, todas as esperanças do mundo. Do mundo nas suas mãos abertas e nos seus abraços emocionados. Também em Genebra.
40 anos passaram. 40 anos que não foram os anos sonhados mas que não mataram as esperanças.
Hoje, 40 anos passados, talvez não em Genebra, não só em Maputo e Lisboa mas também em Ourém, portugueses e moçambicanos abraçam-se e vivem as cores e os traços que nos unem e a que Roberto Chichorro deu toda a enorme qualidade de artista das duas pátrias.
Talvez este texto devesse ser preenchido de frases e opiniões sobre o artista, a sua arte, o que a sua arte nos traz. Talvez. Mas o que a sua arte nos traz vivemo-la em cada quadro, em cada traço, em cada cor, em cada forma, de mulheres e homens, de bichos e coisas, de natureza viva, cheia de luz, de África, da sua infância, da sua vida, que Roberto nos oferece em arte, e que o homem, este homem, tem o privilégio de ver nascer, crescer, tornar-se fruto e futuro, nos vizinhos encontros, nas conversas, na fraterna com-vivência.  
  

FMI "à Lagarde...re"

Olhem só a cara dela!

quarta-feira, junho 24, 2015

Há 5 anos e picos, no blog ficções do cordel

quarta-feira, 12 de maio de 2010


Où que me portent mes voyages la Grèce me blesse


Quantas vezes ouvi esta tão bela Melina Mercouri, e, quantas vezes..., sussurrando, troquei a Grécia por Portugal?
Será um fado?

Convite endossado

A tragédia dos refugiados que atravessam o Mediterrâneo para fugir à guerra, às perseguições, à devastação e à miséria, tem captado as atenções do Mundo e suscitado a solidariedade internacional.
Mas é preciso não esquecer que, por cada refugiado que procura atravessar o Mediterrâneo para tentar encontrar na Europa a sua sobrevivência, há muitos outros, no Médio Oriente – nomeadamente na Palestina – e no Norte de África que não têm, sequer, para onde escapar.
É importante encontrar uma solução humanitária para estas situações. Mas é necessário, sobretudo, que haja a coragem política de enfrentar as suas causas.
É sobre toda esta tragédia histórica que a Associação Abril propõe uma reflexão e um debate, na próxima segunda-feira, 29 de Junho, às 18.30, na Sociedade Portuguesa de Autores, com a presença de Cristina Santinho, investigadora na área dos refugiados e a trabalhar com o Conselho Português para os Refugiados e Raúl Ramires, membro da Direcção Nacional do MPPM, conhecedor profundo da problemática do Médio-Oriente.

MPPM - MOVIMENTO PELOS DIREITOS DO POVO PALESTINO E PELA PAZ NO MÉDIO ORIENTE
Presidente da Assembleia Geral: Carlos Araújo Sequeira | Presidente da Direcção Nacional: Maria do Céu Guerra
Vice-Presidentes: Carlos Almeida, Carlos Carvalho, Frei Bento Domingues | Secretário para as Relações Internacionais: Silas Cerqueira | Presidente do Conselho Fiscal : Frederico da Gama Carvalho
Rua Silva Carvalho, 184 – 1º Dtº | 1250-258 Lisboa | Portugal | Tel. 213 889 076
O MPPM é uma Organização Não Governamental acreditada pelo Comité das Nações Unidas para o Exercício dos Direitos Inalienáveis do Povo Palestino (Deliberação de 17 de Setembro de 2009)

Angústia para o pequeno-almoço

Lê-se no Expresso curto (por Luisa Meireles e depois de muitas outras coisas sumárias ou do sumário, com a permanência grega... "où que me portent mes voyages la Grèce me blesse M.Mercouri/Dassin"):

"(...) Hoje também é dia de reunião de ministros da Defesa da NATO. A agenda é aquele jargão habitual que dá para tudo ("Como a organização se está a adaptar a um novo e mais desafiante ambiente de segurança"), mas que basicamente quer dizer Rússia - sabia que os Estados Unidos planeiam instalar armamento pesado nos países fronteiriços? Pois leia esta  conferência de imprensa e informe-se  aqui  (Público) e  aqui (El Pais) onde o grafismo ajuda a explicar. Ou mesmo  aqui, no original (New York Times). Linhas vermelhas estão de novo a ser traçadas no velho continente. A guerra fria era o quê, ao certo? E nós, portugueses, que pensamos disto? (...)"

E o "grafismo (que) ajuda a explicar" de El Pais é este:





















que pode ser completado por este outro parecido gráfico, tirado de A grande transição, de Wim Dierckxsens, com "fonte" em International Institute for Strategie, Suécia:























(...)

"... e nós, portugueses, que pensamos disto?"
 PENSAMOS?...
QUE SABEMOS DISTO?!

terça-feira, junho 23, 2015

Quantos somos/como estamos - 3

Na informação com que a Impresa-Expresso nos "brinda" profusamente (o semanário de origem e raíz, o expresso curto ao/para o despertar, o expresso diário ao "pôr-do-sol") aparecem, por vezes, coisas de grande interesse. Como um estudo (no começo deste mês) sobre a evolução e situação nossas nestes últimos anos, com gráficos convidativos à reprodução e a breves comentários, talvez sobretudo na sequência desta série sobre quantos somos/como estamos a propósito da actualização demográfica facultada pelo INE.
E se se fala ou escreve sobre demografia logo nos apela à situação do desemprego, pobremente traduzida (e especulativamente aproveitada) na taxa de desemprego. 
Ainda hoje, no expresso curto desta manhã, se pode ler o que serve de comentário oportuno: 
«Não é o número de desempregados que é baixo, é o número de inscritos no IEFP – e é o valor do subsídio. Manchete do DN, do JN e do Público: o número de pessoas com subsídio de desemprego é o mais baixo desde 2009
O subsídio chega agora a menos 140 mil desempregados e o valor do subsídio também está a cair: em maio, cada desempregado recebeu, em média, 448 euros, devido à quebra nos salários e aos limites introduzidos à prestação.»
O que já no estudo de 4 de Junho (com texto de Christiana Martins e Raquel Albuquerque, infografia de Carlos Esteves e bem escolhidas fotografias de vários), com referência aos 4 anos de Passos Coelho como 1º ministro, prefeitos (?!)  no dia seguinte, se ilustrava nem carecendo de legenda. 
 


continua...

segunda-feira, junho 22, 2015

O DIA G - filme a estrear... todos os dias

Em todos os écrans,
todos os dias,
a todas as horas,
em sessões contínuas












Ficha técnica:

realizador - GR7
intérpretes - la Garde
                 - le Grecq
produções - euroGrupo/GR7
banda sonora - Gainsbourg




Stop TTIP !


(mais um!) "dia decisivo para a crise grega"... mas quem ainda não percebeu que a crise não é grega e que o que está em jogo não são uns milhõezitos de euros e uns décimos de percentagem do PIB ?!

domingo, junho 21, 2015

Imperialismo e conspiração

 - Edição Nº2168  -  18-6-2015

Conspirações

Não se trata de 'teoria da conspiração', mas de conspiração confirmada e documentada. O grupo norte-americano Judicial Watch publicou em Maio documentos oficiais dos ministérios dos Estrangeiros e Defesa dos EUA, obtidos após processo judicial. O jornalista Seumas Milne (Guardian, 3.6.15) refere «um relatório secreto dos serviços de informações dos EUA, escrito em Agosto de 2012, que estranhamente prevê – e na prática saúda – a possibilidade dum 'principado Salafita' no Leste da Síria e dum Estado Islâmico controlado pela al-Qaeda na Síria e Iraque. Em flagrante contraste com as alegações ocidentais de então, o documento da Defense Intelligence Agency identifica a al-Qaeda no Iraque (que se viria a tornar no ISIS) e os seus correligionários Salafitas como 'as principais forças que dinamizam a insurreição na Síria' e declara que 'os países ocidentais, os estados do Golfo e a Turquia' apoiam os esforços da oposição para controlar o Leste da Síria». Diz o relatório: «a possibilidade de estabelecimento dum principado Salafita declarado ou não» é «precisamente aquilo que as potências que apoiam a oposição desejam, de forma a isolar o regime sírio».
A confissão de que o súbito aparecimento e surpreendentes êxitos do 'Estado Islâmico' são «precisamente aquilo que as potências que apoiam a oposição [síria] desejam» não surpreendePelo contrário, ajuda a explicar muita coisa. O ISIS serve de pretexto para o regresso de tropas dos EUA ao Iraque (NYTimes, 11.6.15). 'Justifica' bombardeamentos e acções de tropas especiais dos EUA em território sírio (NYTimes 16.5.15), à revelia do seu governo. A confissão ajuda a explicar também a recente notícia da agência iraniana FARS de que aviões dos EUA, a pretexto de atacarem forças do ISIL, bombardearam sim um batalhão do exército iraquiano «matando 6 soldados e ferindo outros 8» (6.6.15). Explica ainda os repetidos apoios confessos de Israel aos extremistas islâmicos sírios, como no site ynetnews.com (versão Internet em inglês do jornal mais lido de Israel, o Yedioth Ahronoth), que titula: «Vídeo raro mostra soldados das IDF [forças armadas de Israel] a salvar a vida a rebelde sírio nos Montes Golã», e adianta: «muitos dos feridos sírios recém-chegados a Israel em busca de cuidados médicos pertencem a grupos islâmicos extremistas» (12.5.15). A Bloomberg noticiou (4.6.15) que «desde o início de 2014, representantes de Israel e da Arábia Saudita realizaram cinco encontros secretos para discutir um inimigo comum, o Irão. Na 5ª-feira, os dois países saíram do armário para anunciar esta diplomacia encoberta no Council of Foreign Relations, em Washington». O anúncio oficial do noivado israelo-saudita, apadrinhado por um dos principais think tanks da política externa dos EUA, contou com a presença do general saudita Eshki, conselheiro do ex-embaixador nos EUA príncipe Bandar bin Sultan, mais conhecido por 'Bandar Bush' pelas suas ligações a essa 'família real' dos EUA. Eshki defendeu uma «mudança de regime no Irão» e «um Curdistão independente, a ser constituido por território hoje pertencente ao Iraque, Turquia e Irão». Pelo lado sionista, esteve Dore Gold, ex-embaixador de Israel na ONU, que em 2003 escreveu o livro «'O Reino do Ódio', sobre o papel da Arábia Saudita no financiamento do terrorismo e extremismo islâmico». O ódio transformou-se em amor porque, explica Gold, o livro foi escrito «no auge da segunda Intifada, quando a Arábia Saudita financiava e angariava fundos para o assassinato de israelitas» e hoje «é sobretudo o Irão que trabalha com os grupos palestinos que continuam ligados ao terrorismo». Leia-se: à resistência.

A aliança EUA-Israel-Arábia Saudita une os principais padrinhos do terrorismo e da guerra no plano regional e mundial, todos mestres na mentira e na dissimulação sem princípios. E torna mais do que legítima a pergunta: o que se passou realmente em Nova Iorque, no dia 11 de Setembro de 2001?



Jorge Cadima

Os marmanjos estão a mentir descaradamente na nossa fronha

















Opinião 
(vinda de quem vem, que se subscreve e sublinha)
Demasiado lampeiros 
para serem sérios
20/06/2015 - Público
Então como é? O país está mal ou não está? Está. Então deixem-se de salamaleques politicamente correctos.
A língua portuguesa está cheia de palavras certíssimas para designar quase todas as cambiantes do comportamento humano. Escritores como Vieira, Bernardes, Camilo, Eça e Aquilino, levaram-na tão longe, que em português tudo se pode dizer, todas as infinitas flutuações das pessoas encontram uma ágil palavra para as designar.
Agora que a nossa bela língua está a ser atacada por todos os lados, na sua ortografia, na sua complexidade vocabular, na sua riqueza expressiva, é sempre bom encontrar um refúgio nos falares antigos, ou naqueles que pouco a pouco estão a ser esquecidos por falta de uso. A semana passada falei de “tresvaliar”, palavra de Sá de Miranda, e esta semana Fernando Alves na TSF fez uma crónica sobre “surdir”, palavra usada por Camilo (sempre ele) e Eça, tudo palavras esquecidas.
O que se passa hoje é como se, invisivelmente, se estivesse a realizar uma das funções essenciais que Orwell atribuía ao Big Brother, que era tirar todos os anos algumas palavras de circulação, porque sabia que é mais fácil controlar pessoas cujo vocabulário é restrito e que, por isso, tem dificuldades em expressar-se com clareza e riqueza e, em consequência, dominam menos o mundo em que vivem. O incremento de formas de expressão quase guturais como os SMS e o Twitter, apenas dá expressão a um problema mais de fundo que é desertificação do vocabulário, fruto de pouca leitura, e de um universo mediático muito pobre e estereotipado. Salva-nos o senhor Vice-Primeiro Ministro Portas que anda para aí a dizer que as “exportações estão a bombar”, convencido que ninguém o acha ridículo no seu afã propagandístico. Viva o Big Brother!
Tudo isto vem a propósito da palavra que mais me veio à cabeça – bem sei que uma cabeça muito deformada pelo “ressabiamento” por este governo não me ter dado um cargo qualquer – quando ouvi o debate parlamentar com o Primeiro-ministro na sexta-feira passada. Como ele está lampeiro com a verdade! Lampeiro é a palavra do dia.
Lampeiros com a verdade, neste governo e no anterior, há muitos. Sócrates é sempre o primeiro exemplo, mas Maria Luís Albuquerque partilha com ele a mesma desenvoltura na inverdade, como se diz na Terra dos Eufemismos. E agora Passos deu um curso completo dentro da nova tese de que tudo que se diz que ele disse é um mito urbano. Não existiu. Antes, no tempo do outro, era a ”narrativa”, agora é o “mito urbano”.
Aconselhar os portugueses a emigrar? Nunca, jamais em tempo algum. Bom, talvez tenha dito aos professores, mas os professores não são portugueses inteiros. Bom, talvez tenha dito algo de parecido, mas uma coisa é ser parecido, outra é ser igual. Igual era se eu dissesse “emigrai e multiplicai-vos” e eu não disse isso. Nem ninguém no “meu governo”. Alexandre Mestre era membro do Governo? Parece que sim, secretário de Estado do Desporto e disse: "Se estamos no desemprego, temos de sair da zona de conforto e ir para além das nossas fronteiras". Como “sair da sua zona de conforto” é uma das frases preferidas do Primeiro-ministro, e a “zona de conforto” é uma coisa maléfica e preguiçosa, vão-se embora depressa. E Relvas, o seu alter-ego e importante dirigente partidário do PSD de 2015, então ministro, não esteve com meias medidas: “é extraordinariamente positivo” “encontrar [oportunidades] fora do seu país” e ainda por cima, “pode fortalecer a sua formação”. Resumindo e concluindo: “Procurar e desafiar a ambição é sempre extraordinariamente importante". Parece um coro grego de lampeiros.
Continuemos. A crise não atingiu os mais pobres porque “os portugueses com rendimentos mais baixos não foram objecto de cortes”, disse, lampeiro, Passos Coelho. Estou a ouvir bem? Sim, estou. Contestado pela mentirosa afirmação, ele continua a explicar que os cortes no RSI foram apenas cortes na “condição de acesso ao RSI” e um combate à fraude. A saúde? Está de vento em popa, e quem o contraria é o “socialista” que dirige um “observatório” qualquer. Sobre os cortes nos subsídios de desemprego e no complemento solidário de idosos, nem uma palavra, mas são certamente justas medidas para levarem os desempregados e os velhos a saírem da sua “zona de conforto”. Impostos? O IVA não foi aumentado em Portugal, disse Passos Coelho com firmeza. Bom, houve alterações no cabaz de produtos e serviços, mas o IVA, essa coisa conceptual e abstracta, permaneceu sem mudança, foi apenas uma parte. Então a restauração anda toda ao engano, o IVA não aumentou? E na luz, foi um erro da EDP e dos chineses? Lampeiro.
Depois há a Grécia. “Não queremos a Grécia fora do euro” significa, por esta ordem, “queremos derrubar o governo do Syriza”, “queremos o Syriza humilhado a morder o pó das suas promessas eleitorais”, “queremos os gregos a sofrerem mais porque votaram errado e têm que ter consequências”, “queremos a Grécia fora do euro”. O que é que disse pela voz do Presidente? Na Europa “não há excepções”. Há, e muitas. A França por exemplo, que violou o Pacto de Estabilidade. A Alemanha que fez o mesmo. 23 dos 27 países violaram as regras. Consequências? Nenhumas: foi-lhes dado mais tempo para controlar as suas finanças públicas. Mas ninguém tenha dúvidas: nunca nos passou pela cabeça empurrar a Grécia para fora do euro, até porque na Europa “não há excepções”. Lampeiros é o que eles são. Lampeiros
Este tipo de campanha eleitoral é insuportável, e suspeito que vamos ver a coligação a “bombar” este tipo de invenções sem descanso até à boca das urnas. O PS ainda não percebeu em que filme é que está metido. Continuem com falinhas mansas, a fazer vénias para a Europa ver, a chamar “tontos” ao Syriza, a pedir quase por favor um atestado de respeitabilidade aos amigos do governo, a andar a ver fábricas “inovadoras”, feiras de ovelhas e de fumeiro, a pedir certificados de bom comportamento a Marcelo e Marques Mendes, a fazer cartazes sem conteúdo – não tem melhor em que gastar dinheiro? – e vão longe.
Será que não percebem o que se está a passar? Enquanto ninguém disser na cara do senhor Primeiro-ministro ou do homem “irrevogável” dos sete chapéus, ou das outras personagens menores, esta tão simples coisa: “o senhor está a mentir”, e aguentar-se à bronca, a oposição não vai a lado nenhum. Por uma razão muito simples, é que ele está mesmo a mentir e quem não se sente não é filho de boa gente. Mas para isso é preciso mandar pela borda fora os consultores de imagem e de marketing, os assessores, os conselheiros, a corte pomposa dos fiéis e deixar entrar uma lufada de ar fresco de indignação.
Então como é? O país está mal ou não está? Está. Então deixem-se de rituais estandardizados da política de salão e conferência de imprensa, deixem-se de salamaleques politicamente correctos, mostrem que não querem pactuar com o mal que dizem existir e experimentem esse franc parler que tanta falta faz à política portuguesa.
Mas, para isso é preciso aquilo que falta no PS (e não só), que é uma genuína indignação com o que se está a passar. Falta a zanga, a fúria de ver Portugal como está e como pode continuar a estar. Falta a indignação que não é de falsete nem de circunstância, mas que vem do fundo e que, essa sim, arrasta multidões e dá representação aos milhões de portugueses que não se sentem representados no sistema político. Eles são apáticos ou estão apáticos? Não é bem verdade, mas se o fosse, como poderia ser de outra maneira se eles olham para os salões onde se move a política da oposição, e vêm gente acomodada com o que se passa, com medo de parecer “radical”, a debitar frases de circunstância, e que não aprenderam nada e não mudaram nada, nem estão incomodados por dentro, como é que se espera que alguém se mobilize com as sombras das sombras das sombras?

Enquanto isto não for varrido pelo bom vento fresco do mar alto, os lampeiros vão sempre ganhar. As sondagens não me admiram, a dureza e o mal são sempre mais eficazes do que o bem e muito mais eficazes do que os moles e os bonzinhos.