sábado, dezembro 31, 2016

No balanço de 2016 para nos atirarmos a 2017

Agradeço a todos que me desejaram (e aos anónimos assumidos) um Bom Ano.
Seleccionado do acontecido e dito, para fechar 2016 escolhi :




Carlos Carvalhas 
no XX Congresso do PCP










... pelo ganhar das consciências
... pela luta empenhada das massas

quinta-feira, dezembro 29, 2016

Sob o disfarce de jornalismo de élite

Este é o texto que me saiu na rifa dos mails, em mais um Expresso curto:

(...)

Não valerá gastar muita cera mas, no contexto, é sintomático! Da intenção de amesquinhar, do estilo "gracioso" a  fazer de irónico.
Jerónimo não terá sido actor em nenhuma representação, não foi o 801º figurante. Terá sido o visitante respeitador e respeitado de uma iniciativa popular que merecia ser visitada.
Assim se faz política disfarçada de jornalismo de élite, ao serviço dos patrões.

Textos & Contextos - Palavras maltratadas-2




Escrevia, ontem, que hoje escreveria tratando do outro texto, no contexto dos horários de trabalhodo tempo de férias e de um novo feriado (o da 3ª feira de carnaval). Eram essas as palavras e frases de se servia João Vieira Pereira para se "inspirar" nd apresentação do seu Expresso curto na manhã daquele dia.
E, como ontem dizia, vinha eu comentar numa postura crítica diferente da relativamente ao texto de António Guerreiro. Por serem diferentes (claro...), por o texto de AG me fazer sentir um desejo de debater, de discutir seriamente, enquanto que o de JVP me fazia nascer a vontade de bater (salvo seja...) pelo facto de me irritar o tom com que aborda questões muito sérias, à maneira irónica e superior que caracteriza quem (com honrosas excepções) está de serviço aos expressos, curtos, abatanados ou de chávena cheia.

Que é isso de interrogar acintosamente o leitorzinho se em 2017 vamos trabalhar menos se não a insinuada e jocosa (mas bem clara) forma de começar logo por afirmar que  já trabalhamos de menos (e mal) pois, a não ser assim, não teríamos a produtividade baixa que temos? Mas... nós?, quem? Obviamente, os trabalhadores!
Com evidente oportunismo mediático, esse curto expresso veio cavar na (ou tentar escavacar a) seara de quem, nesse mesmo dia, procurava que melhor se regulamentasse a utilização da força de trabalho e se definissem horários de trabalho, períodos de férias e se recuperasse um feriado tradicional. Em benefício dos trabalhadores... que, segundo implícito em JVP, tão privilegiados têm sido e tão mal agradecidos parecem pela benesse de terem quem lhes dê emprego.
Ora há aqui uma diferença de perspectiva essencial (além do estilo e sobranceria).
Poderia alongar-me por veredas teóricas mas, para aqui, na falta de fotografia ou de traço de ilustração, procuro a imagem dos exemplos práticos:

  • se, há décadas, um produto se produzia, e distribuía, com a utilização do  tempo de uso de força de trabalho (individual e colectiva) de 48 horas semanais
  • e se, hoje, esse mesmo produto (ou equivalente) se poderá produzir, e distribuir, com utilização do  tempo de uso de força de trabalho (individual e colectiva) vivo de 35 horas semanais, beneficiando de invenções e aplicações dos que vão trabalhando na investigação e aplicações
  • que fazer com as libertas 13 horas semanais, de não-uso de força de trabalho como mercadoria (isto sem entrar em contas com mudanças nos tempos de deslocação para e de local de seu emprego)?
  • Quantas serão as horas de tempo de vida livres a aproveitar pelos trabalhadores (para as quais o prolongamento da esperança de vida teria vindo contribuir)?

O facto é que a questão nunca se põe assim, ou seja, dada a correlação de forças sociais coloca-se em pino: quanto aumentou o número de desempregados e de subsidiados por coisas como o TSU, magnanimamente financiadas pelos empregadores? 
Mas, no fundo, a questão é esta: o progresso, só possível pelo trabalho, dá aos humanos tempo livre ou fabrica desempregados e mais sujeitos à dependência de alguns escassos que desse progresso se apropriam? 

Será que em 2017 teremos de trabalhar o mesmo tempo para ganhar um pouquinho mais, enquanto cresce o número de milionários à custa dos trabalho de todos?

quarta-feira, dezembro 28, 2016

Textos & Contextos - Palavras maltratadas-1

As palavras maltratadas são, hoje, as mesmas dos textos de ontem: tempo e trabalho.
São-no, a meu juízo, de maneira diferente. 
Num caso (o do texto opinião de António Guerreiro-"Trabalho, tempo, dinheiro"), por se lhes ter juntado, em cohabitação, uma outra palavra que, por maltratada ser, invade o significado das duas que tanto prezo e que fazem parte de uma meia dúzia de conceitos que me moldam como ser que humano quer ser (e contribuir para que todos os seres humanos possam vir a ser humanos no seu tempo).
Não que dinheiro seja perverso e intrusivo em si mesmo. O dinheiro é uma das grandes descobertas da Humanidade, e se houve economista que se atreveu a colocá-lo, curiosamente, entre as coisas que, tal como o guarda-chuva só nos apercebemos da sua existência e utilidade quando dele precisamos e não o temos... porque chove ou os bolsos estão vazios (ou cheios de cotão e não de tostão) não chega.
A necessidade das coisas não as define, não diz o que são, até pode desconhecer aquilo que foi a sua origem e é a sua natureza, esconder para o que foram criadas pelo trabalho, e para o trabalho... Dizer que nos falta dinheiro, ou que jeito nos daria ter mais algum, ou que não se sabe o que se faria se a lotaria ou o euromilhões nos inundasse de dinheiro, ou que não basta a alguns o imenso dinheiro que têm, tão insaciáveis e capazes de tudo para multiplicar o que já em muito lhes sobra, são ditos e frases (e uma infinidade delas se poderiam acrescentar) que, traduzindo realidades, nos afastam do verdadeiro significado da palavra, ou no que ela se tornou com o rolar do tempo.
Ora dinheiro é aquilo em que se foi transformando o meio de troca que permite que quem produz pão e precisa de sapatos não tenha de procurar um sapateiro que precise de pão para entre si trocarem. Por várias etapas se foi passando. E ignorando essa génese que não perdeu razão de ser... O dinheiro troca produtos diferentes de trabalhos diferentes em espaços e tempos diferentes, relaciona seres humanos na procura de satisfação das suas necessidades. 
Este processo histórico (no sentido de procedimentos humanos) percorreu e percorre séculos de séculos, e - no contexto mediatizado de hoje, 28.12! - seria oportuno (ou oportunista) dizer umas graças e fazer baixa política ao aproveitar coisas ditas irresponsavelmente sobre feiras de gado, que é onde os proprietários de gado iam - e vão - trocar o seu gado por dinheiro que lhes permita trocar por coisas de que necessitam... para si e para a manutenção e criação de mais gado seu. Mas adiante...
O que queria ainda deixar dito (ou escrito) é que a introdução do dinheiro para, formando um terceto, compor uma mesa de pé de galo, desvirtua as palavras trabalho e tempo, tornando-as de definição condicionada por um tipo de relações sociais que assenta na contemporânea utilização do dinheiro. Relações sociais que, negando formalmente a escravatura e libertando o ser humano da ligação e servidão à terra e natureza, criaram uma mercadoria força de trabalho como se fosse mera peça de uma engrenagem, mercadoria igual a qualquer outra. E não o é!, porque essa força é a que cria valor (de troca e uso), e tudo se estrutura (e desestrutura) ao haver troca desigual no acto de usar essa mercadoria em tempo superior ao que ela necessitou para o que criou para a troca, através dos tempos.
Dir-me-ão que esta base de reflexão está ultrapassada, que é obsoleta. Talvez... mas, com base nela, percebe-se o que se está a passar, enquanto que sem ela verifica-se que ninguém se entende, mesmo quando anda lá perto com reflexões sobre trabalho e tempo.
Caminha-se para um beco sem saída. 
Ou com a saída da superação do tipo de relações humanas comandadas pela busca de acumulação de um dinheiro fictício, desmaterializado. Ou a destruição de tudo... para o que o ser humano, com trabalho e tempo, foi também criando condições.

Amanhã, tratarei do outro texto 
no contexto dos horários de trabalho, 
do tempo de férias e dos feriados
     

terça-feira, dezembro 27, 2016

Textos & Contextos - Tempo, Trabalho

Tenho por hábito ler "qualquer coisita" (um artigo atrasado, as páginas de um livro) antes de apagar a luz e de fechar os olhos.
Ontem, calhou ser uma "opinião" do jornalista António Guerreiro, no Público de 23 de Dezembro. Estava de reserva porque são opiniões que prezo, porque o tema colocado em título "Trabalho, tempo, dinheiro" é desafiador de mim.



De manhã, tenho por hábito começar por ler o que me possa actualizar enquanto pequeno almoço. Não há dúvida que o homem é um animal de hábitos (... o homem e a mulher, respinga a companheira... e, retroco eu, o gato que nos acompanha...). 
O facto, talvez relevante, é que, na prática desse hábito nesta manhã, tropecei num Expresso curto, servido pelo Director-Adjunto João Vieira Pereira, em que ele nos pergunta (?), exclamativo (!), "E não é que em 2017 vamos trabalhar menos?", g(l)osando tema que, depois, voltei a encontrar em outras fontes.
Dois comentários adrede:
1. A opinião de António Guerreiro me convoca-me a debate que iria muito para além deste espaço, e aqui apenas deixo a (minha) opinião de que a de AG sofre a abusiva intrusão do dinheiro, intrusão que em tudo desvirtua conceitos básicos, conceitos que sem ele nasceram e bem viveriam. 
Foi pelo trabalho (como eu o entendo) que o ser humano se foi libertando da condição animal para ganhar condição humana (e sujeições derivadas); é o tempo que vive o humano, e como o vive, que o define como ser humano. Ora, no seu percurso, o humano arranjou um meio para servir de intermediário nas suas humanas relações, o dinheiro, e este veio - e está progressivamente a - deshumanizá-lo ao transformar em mercadoria-coisa a força de trabalho, coisa essa que é o tempo de uso da capacidade de transformar e de criar que o humano tem em si. Citaria Marx (e Engels), e um dos seus erros, depois corrigido. Mas,no entanto, citações ainda menos serão para este espaço, apenas me parecendo que a referência de AG a Proust serve para ilustrar como o dinheiro é perverso ao insinuar-se no tempo como sendo este gasto (na sua acepção de custo monetário) quando deveria ser, sempre, na de tempo perdido, se como de uso de mercadoria for.
2. Mas tempo perdido é o tempo não usado, dispendido, não vivido como livre, como opção humana, individualmente, e também, e sobretudo, vivido colectivamente como animal social que somos. Por isso, o "Expresso curto" de JVP, no estilo irónico-sobranceiro que caracteriza tantos dos "seus", provoca-me rejeição ao tratar um tema muito sério de forma jocosa, apenas revelando desrespeito pelos trabalhadores, trabalhadores que parecem incapazes de verem senão como peças de uma engrenagem (escreveu Soeiro Pereira Gomes...), como outros de que outros usariam tempo de força de trabalho, mercadoria ao menor preço possível pelo maior tempo que se retiraria, perdido, do seu tempo livre.    

segunda-feira, dezembro 26, 2016

É assim mesmo!

Do JornalEconómico:


Israel isolada na ONU (sem o veto e com a abstenção dos EUA)

MPPM - MOVIMENTO PELOS DIREITOS DO POVO PALESTINO E PELA PAZ NO MÉDIO ORIENTE

COMUNICADO 18/2016
MPPM SAÚDA RESOLUÇÃO DO CONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU QUE CONDENA OS COLONATOS DE ISRAEL

O Conselho de Segurança da ONU aprovou no dia 23 de Dezembro passado uma resolução relativa aos colonatos israelitas no território palestino ocupado.
Votaram a favor quatro membros permanentes (China, França, Reino Unidos, Rússia) e todos os actuais 10 membros não permanentes (Angola, Egipto, Espanha, Japão, Malásia, Nova Zelândia, Senegal, Ucrânia, Uruguai e Venezuela). Os Estados Unidos não utilizaram o direito o direito de veto, optando pela abstenção.
O MPPM congratula-se com este acontecimento de primeira importância, que deve ser saudado por todos quantos apoiam o povo palestino na sua longa e corajosa luta por uma solução que conduza à criação do seu Estado independente dentro das fronteiras de 1967 e com capital em Jerusalém Oriental.
Com efeito, são inequívocos a este respeito os pontos principais da resolução, em que o Conselho de Segurança:
— reafirma a inadmissibilidade da aquisição de terra pela força;
— reafirma a obrigação de Israel, enquanto potência ocupante, de «respeitar escrupulosamente as suas obrigações e responsabilidades legais ao abrigo da Quarta Convenção de Genebra relativa à Protecção de Pessoas Civis em Tempo de Guerra», e recorda a «opinião consultiva proferida em 9 de Julho de 2004 pelo Tribunal Internacional de Justiça»;
— condena «todas as medidas visando alterar a composição demográfica, o carácter e o estatuto do Território Palestino ocupado desde 1967, incluindo Jerusalém Oriental, incluindo, entre outros, a construção e expansão de colonatos, a transferência de colonos israelitas, a confiscação de terra, a demolição de casas e o desalojamento de civis palestinos, em violação do direito humanitário internacional e das resoluções relevantes»;
— expressa «grave preocupação por as continuadas actividades de colonização israelitas estarem a por em gravemente em risco a viabilidade da solução de dois Estados baseada nas linhas de 1967»;
— recorda a obrigação de Israel «congelar … toda a actividade de colonização, incluindo o “crescimento natural”, e desmantelar todos os postos avançados erigidos desde Março de 2001»;
— «reafirma que a criação por Israel de colonatos no território palestino ocupado desde 1967, incluindo Jerusalém Oriental, não tem validade legal e constitui uma violação flagrante do direito internacional e um importante obstáculo à realização da solução de dois Estados»;
— «reitera a sua exigência de que Israel cesse imediata e completamente todas as actividades de colonização no território palestino ocupado, incluindo Jerusalém Oriental»;
— «salienta que a cessação de todas as actividades de colonização israelitas é essencial para salvar a solução de dois Estados, e apela a medidas afirmativas a serem tomadas imediatamente para inverter as tendências negativas no terreno que estão a pôr em perigo a solução de dois Estados»;
— «sublinha que não reconhecerá quaisquer alterações às linhas de 4 de Junho de 1967, incluindo no que diz respeito a Jerusalém, que não sejam as acordadas pelas partes através de negociações»;
— «exorta todos os Estados a distinguirem, nas suas relações relevantes, entre o território do Estado de Israel e os territórios ocupados desde 1967».
É preciso recordar que, de acordo com números fornecidos pela ONU, pelo menos 570.000 colonos israelitas vivem em cerca de 130 colonatos e 100 postos avançados na Margem Ocidental ocupada, e que, sob a direcção do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, entre 2009 e 2015, o governo de Israel promoveu a construção de 11.000 novas casas nos colonatos.
Esta resolução assume ainda maior importância se se tiver em conta que o Knesset (Parlamento de Israel) está actualmente a discutir uma proposta de lei, da autoria do governo, visando legalizar retroactivamente os postos avançados «ilegais» à luz do próprio direito israelita — mas que, com flagrante hipocrisia, só se mantêm graças ao apoio e protecção do Estado de Israel. Determinados sectores políticos israelitas, incluindo representados no governo (de que são exemplo os ministros da Educação, Naftali Bennet, e da Justiça, Ayelet Shaked, do partido Lar Judaico), não escondem que encaram a aprovação dessa lei como um passo para a anexação da Margem Ocidental ou pelo menos da sua Área C. A presente resolução do Conselho de Segurança vem reafirmar com vigor a ilegalidade de tais desígnios.
É também de salientar a atitude dos Estados Unidos ao possibilitarem a aprovação da resolução, já que desde a tomada de posse da administração Obama esta é a primeira vez que os EUA não utilizam o veto para impedir a aprovação de uma resolução condenando o Estado de Israel. Recorde-se, a este propósito, que, em Fevereiro de 2011, os EUA vetaram uma resolução justamente sobre a questão dos colonatos e que foi durante a administração Obama, que agora termina, que a actividade de colonização atingiu o seu apogeu. Ainda recentemente Israel foi contemplado pelo seu aliado americano com o maior pacote de ajuda militar alguma vez dado a qualquer país, no valor de 38 mil milhões de dólares.
A presente resolução do Conselho de Segurança não poderá ser revertida e, como se disse, o seu significado é de enorme relevo. A declaração do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, de que não a respeitará, assim como o anúncio de medidas de retaliação contra a Nova Zelândia e o Senegal, proponentes da proposta aprovada, dão a medida da derrota política do Governo de Israel e confirmam a sua atitude de confronto e desafio com o direito e a legalidade internacional. A reacção do presidente eleito dos EUA, de que «depois de 20 de Janeiro as coisas vão ser diferentes», assim como a nomeação recente por Donald Trump para embaixador em Israel de David Friedman, personalidade alinhada com os sectores extremistas do movimento dos colonos e adversário aberto da solução de dois Estados, suscitam fundadas preocupações sobre a evolução ulterior da política dos EUA em relação à questão palestina e, em geral, à situação no Médio Oriente.
Será necessário que prossigam os esforços, as iniciativas e as medidas para impor o respeito da legalidade internacional no que diz respeito à questão palestina.
O MPPM exorta o novo secretário-geral da ONU, António Guterres, a empenhar nesse sentido os seus melhores esforços.
O MPPM exorta o governo português a ter em boa conta a presente resolução nas suas relações com o Estado de Israel, nomeadamente quanto ao repúdio dos colonatos e à recusa das relações económicas com estes, e no apoio por todos os meios ao seu alcance a uma solução para a questão palestina conforme com o direito internacional.
O MPPM reafirma a sua solidariedade com o povo palestino e o seu empenho em continuar a lutar:
— pelo fim da ocupação israelita, o desmantelamento dos colonatos, do «Muro de Separação» e de todos os instrumentos de usurpação de terra palestiniana;
— pela libertação dos presos políticos palestinianos das prisões israelitas;
— pelo fim do bloqueio à Faixa de Gaza;
— pela criação do Estado da Palestina, com as fronteiras de 1967 e capital em Jerusalém Oriental e o respeito do direito ao regresso dos refugiados palestinianos.
Lisboa, 25 de Dezembro de 2016
A Direcção Nacional do MPPM

MPPM - MOVIMENTO PELOS DIREITOS DO POVO PALESTINO E PELA PAZ NO MÉDIO ORIENTE
Presidente da Assembleia Geral: Carlos Araújo Sequeira | Presidente da Direcção Nacional: Maria do Céu Guerra
Vice-Presidentes: Adel Sidarus, Carlos Almeida, Frei Bento Domingues
Presidente do Conselho Fiscal : Frederico Gama Carvalho
Rua Silva Carvalho, 184 – 1º Dtº | 1250-258 Lisboa | Portugal | Tel. 213 889 076

O MPPM é uma Organização Não Governamental acreditada pelo Comité das Nações Unidas para o Exercício dos Direitos Inalienáveis do Povo Palestino 
(Deliberação de 17 de Setembro de 2009)





domingo, dezembro 25, 2016

Para este domingo - 3 notas para uma memória com 55 anos

1 - 

A Morte Saiu À Rua

José Afonso

  

A morte saiu à rua num dia assim 
Naquele lugar sem nome pra qualquer fim
Uma gota rubra sobre a calçada cai 
E um rio de sangue dum peito aberto sai

O vento que dá nas canas do canavial
E a foice duma ceifeira de Portugal
E o som da bigorna como um clarim do céu
Vão dizendo em toda a parte
 o pintor morreu

Teu sangue, Pintor, reclama outra morte igual
Só olho por olho e dente por dente vale
À lei assassina à morte que te matou
Teu corpo pertence à terra que te abraçou

Aqui te afirmamos dente por dente assim
Que um dia rirá melhor quem rirá por fim
Na curva da estrada há covas feitas no chão
E em todas florirão rosas duma nação






2 -
Todos os anos, desde 1961, este tempo dito de Natal traz consigo uma das  memórias mais vivas, mais fundas, da minha já longa vida, A morte saiu à rua em 19 de Dezembro, naquele lugar com o nome de Rua da Creche (hoje Rua José Dias Coelho), e assassinos  mataram o camarada que eu esperava uma centena de metros antes da esquina em que estava à hora combinada. Depois de dias de ansiedade, no desconhecimento do que acontecera, de busca quase desesperada, soube que o camarada se chamava José António Dias Coelho, que era escultor e que fora "assassinado a tiro em Alcântara, em circunstâncias que continuam por esclarecer e o funeral efectua-se na terça feira, a hora a determinar, do Instituto de Medicina Legal para cemitério a designar" (num jornal de 24 de Dezembro). 
Na terça feira seguinte à de 19 de Dezembro, quando a morte saíra à rua, a 26 de Dezembro de 1961 o corpo de José Dias Coelho desceu à terra que o abraçou.

3 -
A 25 de Abril de 1974, treze anos depois, floriram rosas de uma nação, depois de tantas covas feitas no chão. Seria o tempo de fazer justiça, com o "olho por olho", o "dente por dente" apenas como metáforas. Alguma justiça se fez, muita ficou por fazer. Aos assassinos de Dias Coelho até o louvor do próprio violento aparelho repressivo pelo "feito" (louvor de 27 de Dezembro de 1961!) serviu de atenuante no inacreditável julgamento e sentença do 2º Tribunal Militar, em 1976. 
Transcreve-se, da minuta do recurso à tal sentença, feito pelo advogado Fernando. Luso Soares, entre uma galeria de breves depoimentos, o de quem é hoje, 40 anos depois (e 55 anos depois do assassinato) Presidente da República:
"De um advogado, jornalista e político, Marcelo Rebelo de Sousa, no «Diário de Notícias de 6 de Janeiro de 1977: «Não pode deixar de causar preocupação, em termos políticos gerais, que um regime democrático, ao julgar os agentes de um aparelho repressivo, não seja capaz de julgar, de forma exemplar, o próprio aparelho»

adenda (à maneira de assinatura) -
Dedicatória de Fernando Luso Soares no seu livro O Caso Dias Coelho


Para o Camarada e Amigo Sérgio Ribeiro, no 2º dia da "Festa do Avante", com as saudações comunistas muito sinceras, em particular porque referidas, quanto a este opúsculo, à sua "presença" (oculta) neste drama, Lx, 10/9/1977  ass.

sexta-feira, dezembro 23, 2016

É urgente informar toda a gente!

É urgente informar toda a gente. É vital que toda a gente se informe sobre o mundo e o tempo que vive. Sobre o que aturde as “nossas vidinhas” (não é, Ana Margarida Carvalho?), sobre o que está no germe do que faz perigar a Humanidade. Toda.

Alepo é, diriam bem-falantes…, paradigmático. O avante! de ontem sobre Alepo é exemplar! Porque informa e comenta com base na informação. A crónica de Jorge Cadima
é, como sempre, fundamentada e pedagógica (“… Nada disto é novo. Em 1957…”, “… A histeria é grande, porque a derrota do imperialismo em Alepo é pesada…”); os comentários de João Frazão e Ângelo Alves são certeiros e actuais. 
À dimensão de um blog, aproveito o comentário do Ângelo mas, pela vossa e nossa saúde..., informem-SE que isto é/está muito sério e TUDO depende de nós!
 O terrorismo e a guerra
A instabilidade internacional atingiu níveis quase impensáveis há alguns anos. As suas causas radicam, como sempre afirmámos, numa deriva violenta, reaccionária, agressiva e militarista das classes dominantes e dos governos das grandes potências imperialistas. A sucessão vertiginosa de acontecimentos não nos deve, nem pode, turvar a visão global e de fundo. É na crise do capitalismo, na sua natureza de classe e contradições, e na reacção do imperialismo a essa crise, que estão as fundas causas dos recentes acontecimentos.
Os três ataques de segunda feira não aconteceram por acaso. Ocorrem num momento extremamente importante para os desenvolvimentos da guerra imperialista na Síria, em que se confirma as verdades sobre quem está, e sempre esteve, por detrás daquela guerra de agressão; num momento em que a «coligação» dos EUA, NATO, Turquia e petro-ditaduras do Golfo Pérsico não só sofre uma pesada derrota, como começa a registar importantíssimas fissuras.
O que os três ataques, cada um com um objectivo concreto, demonstram, é que a guerra na Síria, e em geral no Médio Oriente, está longe de estar terminada. O assassinato do embaixador russo visou limitar complexas negociações entre Turquia, Irão e Federação Russa relativas a soluções diplomáticas para a guerra na Síria. O ataque em Berlim visou reavivar o sentimento de medo e terror na Europa, que justifique mais guerra e mais medidas securitárias, como aliás Hollande já veio afirmar. Pode ser aliás o clique, e o lastro psicológico, por detrás de uma ainda maior e mais directa escalada de guerra imperialista na Síria e Iraque. O ataque de Zurique, num centro de oração islâmico, tem como objectivo manter a tensão religiosa com que se tenta envolver o conflito no Médio Oriente.
Os três convergem num mesmo propósito. Não permitir que a vitória do legítimo governo sírio em Alepo atinja dois objectivos: 1 – Desmascarar quem são de facto os terroristas (circulam as notícias de dezenas de agentes de forças especiais ligados à NATO e às petro-monarquias cercados ou mesmo já capturados em Alepo) 2 – Abrir campo a compromissos negociais que envolvam um dos responsáveis da guerra: a Turquia. Para impedir estes dois objectivos vale tudo. Como sempre, o terrorismo serve os interesses da reacção e do imperialismo.
Ângelo Alves

Isto não é para assustar
      = :-)              
 é só para avisar
a partir de opiniões avisadas


... ir às causas e aos causadores...




Não é só no SMN que a luta continua...


Reposição de freguesias chumbada no Parlamento

Reposição de freguesias 

chumbada no Parlamento


O Parlamento chumbou hoje os projectos de lei apresentados pelo PCP e BE sobre a reposição de freguesias e aprovou o projecto de resolução do PS que apenas defende uma «reavaliação» depois das próximas eleições autárquicas.
(de abrilabril)




... CONTÍNUA

em todas as frentes

quarta-feira, dezembro 21, 2016

Brinde de Parabéns e (já agora...) votos de Bom Natal e Feliz Ano Novo

Por muito que custe a contá-los (por tantos serem... e tanto pesarem) é bom "fazer anos"! Porque são "prova de vida", pelas prendas recebidas, pelas saudações amigas (há lá melhores prendas?!), pelo carinho e amizade com que nos sentimos envolvidos.
No almoço de família, o "mais pequeno" dos filhos brincou com a prenda que me ofereceu (a garrafa) e com a prenda oferecida pelo "irmão mais velho e alto" (a gravata-emblemática), enquanto os netos se entretinham a desenhar folhas sobre folhas para o "avô Sérgio" (que estão guardadas... para o espólio). 
Agradeço a todos (e tantos foram!) que me mandaram mensagens e com todos partilho estes votos e brindes:

















GMR - 21,12,2016

domingo, dezembro 18, 2016

No dia seguinte à lembrança dos 110 anos de Fernando Lopes-Graça











no 1º de Maio de 1978...
como sabe bem recordar!
(e é duro...)



em Ourém, em 1974





sábado, dezembro 17, 2016

Alepo, Asma Assad e a "informação" que nos formata

páginas de um (quase-)diário:

17.12.2016

Queria escrever sobre mim e outras coisas, mas sinto-me tão escandalizado que, momentaneamente, estou incapaz de fazer outras coisas que não seja… desabafar.

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Por escrito, sucintamente.

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Aqui… que é onde estou.

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Acompanhando (ou querendo acompanhar, cidadamente) tudo, interessei-me pela Síria e, agora, Alepo.

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Entre outras fontes de informação, consulto tudo o que o Expresso, esse ícone da informação bem burguesmente informada (!), edita.

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Vi, de raspão, algumas referências insinuantes e insidiosas, à “Asma de Assad” (Expresso diário, de 15.12.2016 – Três presos políticos portugueses na Venezuela. Football Leaks, num caso ainda mais singular. As matrioscas de Temer e a Asma de Assad).

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Com a reincidência de hoje, passei do raspão ao tropeço na referência, e cito:
“(sobre a Síria pode ler ainda o Arquivo Expresso que publicámos esta quinta-feira, um artigo da Margarida Mota publicado originalmente na Revista no qual a autora nos apresentava quem é e que vida (faustosa) tem a primeira-dama, Asma Assad)”
(em As escolhas do editor, de 17.12.2016)

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E do tropeção fui até à leitura de que “…vida (faustosa) tem a primeira-dama, Asma Assad” (meu sublinhado), hoje, de que, ao mesmo tempo, se dá o quadro mais catastrófico do que se estará a viver em Alepo.

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Pois o re-citado artigo da colaboradora do Expresso é de 24 de Março de 2012!

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Fiquei escandalizado.

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Dir-me-ão que casos destes não faltam, e eu sei que não… mas fiquei impressionado/escandalizado com a subtileza, a insidiosa insinuação, a filha-de-putice que já não deveria escandalizar.

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Fiquei… e respiro fundo o ar lavado que me vem do quintal, aliviado por me ter indignado e desabafado.

Fernando Lopes-Graça - 17 de Dezembro

A leitura de um excelente trabalho publicado há 2 dias neste jornal (onde haveria de ser?!) estimulou-me a reproduzi-lo:


- Edição Nº2246  -  15-12-2016



Músico e militante em comunhão com o povo a que pertencia
Nos 110 anos de Fernando Lopes-Graça
«Acordai, homens que dormis a embalar a dor dos silêncios vis, vinde no clamor das almas viris arrancar a flor que dorme na raiz», foi o que o poeta escreveu. E acertadamente o fez naquele século XX em que, mais do que em qualquer outro tempo, se decidiu que a velha sentença de que «sempre houve ricos e pobres» não tinha de ter futuro.









Disse-o com a veemência e o encanto de que só a Arte é capaz quando o artista percebe que «arrancar a flor» é matéria do porvir, e no gesto se empenha misturando-se com os demais. Não depende a justeza daquelas palavras do caminho que pudessem seguir – o de serem guia ou, apenas, inquietação – porque justas eram-no já por si só. Tratava-se, isso sim, de as tornar essenciais, como Lopes-Graça sabia que o seriam se lhes juntasse a sua música. «Acordai» é o hino que sabemos ser, concebido para munir de bela determinação a classe que tão duramente se entrega à antiga luta. Um canto heroico entre muitos outros cantos, um título apenas do catálogo volumoso que é a obra de Fernando Lopes-Graça.
Fernando Lopes-Graça nasceu em Tomar, em 17 de Dezembro de 1906, onde duas sociedades filarmónicas ensaiavam já, para além dos respetivos reportórios, as diferenças de visão monárquica e republicana – de um lado a Nabantina do outro a Gualdim Pais. O encontro com a música aconteceria, porém, noutro lado. Por altura dos seus onze anos o pai do jovem Fernando tomaria de trespasse o hotel da terra, onde morava já um velho piano pelo qual o rapaz se encantou. De tal modo que um dos hóspedes, o Tenente Aboim, oficial do Estado-Maior, sugeriu que o moço passasse a ter aulas de piano com a Dona Maria Imaculada, filha do General, que lhe daria as tais lições no próprio Quartel-General, à Várzea Grande.
Comentaria mais tarde Lopes-Graça ter entrado na música «pelas mãos da tropa, e não pelas da Igreja ou da Nobreza, como nos belos tempos em que o músico era ungido do Senhor ou de Sais». E se da entrada de Fernando Lopes-Graça na música foi a sua Tomar testemunha, foi também ali que, pela voz da telefonia, conheceu «O Mar», de Debussy, numa interpretação de Arturo Toscanini, momento que há-de ter sido importante, ou não o teria retirado da memória para no-lo contar.
Sabe-se que os fotogramas nasceram mudos e mudos por cá vão permanecendo, como é do conhecimento geral, congelado que fica o tempo nos contornos que a luz ali fixou. Nada de mais – ninguém exigiria a Nadal ou ao nosso Relvas que fizesse falar os seus «bonecos», tanto se gosta deles assim como são. Já a sucessão de imagens a que chamamos cinema sempre lidou mal com o silêncio, pelo que a sua exibição nos tempos do cinema mudo recorria, regra geral, ao labor de um pianista. Fernando Lopes-Graça tinha catorze anos quando se iniciou no ofício de pianista do Cine-Teatro de Tomar, pintando os dramas de Hollywood e outros que por lá tenham passado com as cores da música de Debussy e da literatura musical russa, recriada por um jovem pianista da terra que assim experimentava os seus caminhos. 
Música e consciência social 
A inscrição da linha de tempo da vida de Lopes-Graça não faria particular sentido nas páginas do jornal do seu Partido, a não ser para dizer da coincidência dos seus dias com os da luta militante, primeiro contra o fascismo e logo pela democracia de que foi fundador e combatente até poder ser. Importa, por isso, seguir-lhe os passos para que se perceba que Lopes-Graça os guiou pela determinação de querer fazer parte do tempo – social, político, cultural – que habitou. A partir de 1923 será aluno do Conservatório Nacional cujo curso de Composição concluirá em 1931. Serão seus mestres Adriano Meira (Curso Superior de Piano), Tomás Borba (Composição), Luís de Freitas Branco (Ciências Musicais) e Vianna da Motta cuja Classe de Virtuosidade vai frequentar em 1927. Frequentará depois (1928) o Curso de Ciências Históricas e Filosóficas, primeiro em Lisboa no Convento de Jesus, depois em Coimbra.
Lopes-Graça tem dezanove anos em 28 de Maio de 1926, o dia do golpe de Estado que abrirá caminho ao regime fascista em Portugal. O País irá ser vítima do projeto reacionário de uma burguesia retrógrada, inimiga feroz de todo o assomo de liberdade – e, desde logo, da liberdade de criação – de todo o esboço de dignidade. Consciente de si, o jovem estudante Lopes-Graça é cativado pelos ideais de justiça da ainda recente Revolução de Outubro. Os anos que se seguirão serão de um empenho cívico que viria a ser reprimido com a prisão (por duas vezes na década de 1930, acusado de disseminar «propaganda subversiva e organização da Frente Popular»), o desterro e a proibição de exercer o ofício de professor. Identificado pelo regime como seu inimigo principal – justificadamente, assinale-se – é impedido, em 1931, de ocupar o lugar de professor no Conservatório Nacional, por si conquistado em concurso público.
Em 1936 Lopes-Graça é encerrado em Caxias e, logo a seguir (1937) forçado ao exílio. Fixa-se em Paris, onde retoma a actividade política – ora ao serviço do Governo da Frente Popular nas Maisons de la Culture, ora colaborando em iniciativas do Partido Comunista Francês – e a actividade académica, estudando Composição e Orquestração com Charles Koechlin. Os estudos, a leitura, a vivência em Paris, a convivência com escritores e artistas da sua geração proporcionaram-lhe a sólida cultura humanística que fará do Músico figura ímpar do seu tempo e construtor indispensável do nosso tempo, em que o crescente conhecimento da sua extensa obra musical, ensaística e literária é, cada vez mais, um contributo essencial na construção da Democracia Avançada que o Partido de Lopes-Graça propõe hoje ao povo português.
No regresso a Portugal, em 1939, retoma os seus labores de cronista e crítico musical, musicólogo e professor, organizador e dinamizador cultural. Convidado no ano seguinte a dirigir os Serviços de Música da Emissora Nacional, será impedido de exercer funções por se ter recusado a assinar a declaração, exigida a todos os funcionários públicos, de «repúdio activo do comunismo e de todas as ideias subversivas».
Nos anos 40 consolida-se o seu percurso de compositor – iniciado em 1927 com a escrita das «Variações sobre um tema popular português», para piano – com a obtenção do primeiro prémio de composição patrocinado pelo Círculo de Cultura Musical (em 1940 e em 1942.). No plano da escrita colabora na Seara Nova e no Diabo, participando, com Bento de Jesus Caraça, na organização da Biblioteca Cosmos, publicando os títulos Introdução à Musica Moderna e Bases Teóricas da Musica. 
Uma Arte socialmente empenhada 
Uma fotografia da época fixa-o num dos famosos «passeios do Tejo», a forma encontrada pelos comunistas para, no início dos anos 40, realizar encontros e reuniões de intelectuais, a salvo da vigilância policial. Os passeios eram organizados por Alves Redol, Soeiro Pereira Gomes e António Dias Lourenço, e reunião destacados nomes da cultura e da resistência antifascista, como Álvaro Cunhal, Manuel da Fonseca, Mário Dionísio, Sidónio Muralha, Alexandre Cabral, Carlos de Oliveira, Carlos Pato ou Fernando Piteira Santos, para além dos organizadores, eles próprios nomes cimeiros do neo-realismo português. É também desse tempo o quadro de Abel Manta em que o compositor contracena com Francisco Pulido Valente, António Sérgio, Aquilino Ribeiro, Câmara Reis, entre outros.
Nos anos 1940-41 Lopes-Graça está muito próximo do movimento de reorganização do PCP, fazendo-se publicar em revistas nas quais escrevem quadros mais destacados do Partido, participando em iniciativas culturais de comprometimento dos intelectuais portugueses com a defesa de uma arte socialmente empenhada e politicamente enquadrada.
Em 1945 adere ao MUD, formando o Coro do Coro do Grupo Dramático Lisbonense à frente do qual participa em iniciativas do Movimento. Datam desta altura as primeiras Canções Heróicas, peças essenciais de todos os palcos da História recente de Portugal, desde os da resistência ao fascismo aos da reivindicação de um Portugal emancipado e de progresso, capazes de mobilizar para a vivência da Arte aqueles, amadores, a quem a Política do Espírito salazarista atira para os braços da manipulação. Nesse sentido prossegue o trabalho de recriação dos cantos populares portugueses, afirmando o caráter nacional da sua obra, interessada pelo «contacto assíduo do compositor com as fontes da música rústica». Em Lopes-Graça a música nacional é a recusa do pitoresco com que as classes dominantes retrataram o povo português, algures entre o boçal e o pateta. Trata-se, para o compositor, de fazer uso das ferramentas de escrita musical da tradição clássica europeia para a construção de um discurso nacional, ciente de que «qualquer cultura musical, antes de ser um corpo de obras e de ideias perfeitamente definido e mais ou menos consciencializado na pessoa dos seus génios representativos, existe potencialmente e infuso nas manifestações espontâneas da sua música popular».
Num programa da televisão portuguesa dedicado a Michel Giacometti – companheiro e camarada essencial na obra de Lopes-Graça – afirmava uma alentejana de Peroguarda que o etnólogo que por ali parava para levar os cantos do povo, levando-os, deixava-o sempre mais rico. O mesmo, ou semelhante viria a dizer Lopes-Graça: «que retirei eu do roubo das canções? Eu vo-lo confesso. Revelaram-me elas melhor a alma do povo português, ensinaram-me a conhecê-lo mais intimamente, ajudaram-me a procurar uma mais funda identificação com ele e eu considero isto um benefício muito importante para um artista, para um músico, que deseja e se esforça por que a sua arte, mais do que uma aventura ou uma confissão pessoal, seja um meio de comunicação, melhor, um meio de comunhão com o povo a que pertence.» 
Opção natural 
A Arte de Lopes-Graça soube ser mais do que um meio de comunhão do Compositor com o tal povo da sua pertença – foi (é) um lugar de encontro da sua música com as palavras de muitos artistas na construção de objectos totais de comunicação. Na obra de Lopes-Graça juntam-se Camões, António Nobre, Torga, Armindo Rodrigues, José Gomes Ferreira, Casais Monteiro, Cesariny, Raul Brandão, Gil Vicente, Cochofel, Bocage e os muito mais que foram precisos para a construção de uma pátria musical que inclui ainda Lorca e Machado.
Em 1948 Lopes-Graça torna-se militante do Partido Comunista Português, a opção natural quem conhecia já a perseguição política, a prisão, o desterro e o exílio; o gesto natural de quem vinha lutando com as mesmas armas de resistência com que lutavam os comunistas, partilhando os mesmos cárceres, as mesmas praças, as mesmas vontades, a determinação. Adere ao Partido num momento crucial da luta antifascista, por cá, e da ofensiva anticomunista no plano internacional, de que o maccartismo é dramático exemplo. Na sua pátria o tempo é de corajosa e desafiadora iniciativa cultural, no âmbito musical mas também nos da literatura, da revelação do património popular, das artes plásticas; um tempo de reforço do Partido, que regista a adesão de jovens intelectuais, muitos deles oriundos do MUD, que viriam a assumir responsabilidades na estrutura clandestina e nos órgãos de direção partidária. A tarefa no plano internacional era a da consolidação da paz num contexto em que se agudiza, de novo, o natural conflito de classe, agora entre os velhos estados capitalistas e os recém-criados estados socialistas. Lopes-Graça participa nesse grande movimento internacional progressista, deslocando-se à Polónia para estar presente no 1.º Congresso dos Intelectuais para a Paz, e a Praga para tomar parte no 2.º Congresso dos Compositores e Musicólogos Progressistas. 
Apresse-se a linha do tempo o suficiente para situar Lopes-Graça em 25 de Abril de 1974, as Heróicas a tomar as ruas de Lisboa na voz de quem as sabia de cor, logo depois tingindo de «vozes ao alto» o primeiro 1.º de Maio. Trazendo-as de novo Jornadas e Cantos Moços para o cantar coletivo em 25 de Maio de 1975, na celebração da Revolução no Coliseu, juntando as vozes dos milhares de desafinados às afinadas vozes do Coro da Academia de Amadores de Música, corpo musical de todas as lutas nascido em 1945 para ser companheiro da vida toda de Fernando Lopes-Graça. Coro militante, da têmpera do seu maestro, mobilizador das ruas, fábricas, campos, escritórios, escolas, o seu canto levantado em nome de uma democracia simultaneamente política, económica, social e cultural, interventor principal em comícios e festas do PCP, Unidades Colectivas de Produção da Reforma Agrária, coletividades e salas de espetáculos. 
Da última vez que o visitámos, trabalhava na sua última obra, a Música Festiva Op.153 n.º 23, Nos 80 anos do grande camarada e amigo Álvaro Cunhal. Depois de nos abrir a porta sentou-se no banco do piano e debruçou-se sobre a folha, gatafunhando-a. Pediu um cigarro, que partiu ao meio, como dizem que sempre fazia, e falou sobre o Michel (Giacometti). Estavam ali as lutas de Portugal inteiro, no meio dos protagonistas do nosso passado recente – o Partido, a música do povo e o militante. Bem dizia o velho Vladimir Ilitch que «o Comunismo é a juventude do mundo», o lugar para onde se dirigem os que, de Heróica nas vozes, assim se anunciam: «vimos do cabo do mundo, vimos do fundo da vida: que somos o próprio mundo, e somos a própria vida.»
·         Manuel Pinto da Rocha
(Texto construído a partir de excertos de trabalhos de
Mário Vieira de Carvalho, António Borges Coelho, Álvaro Cunhal e Filipe Diniz)


Mas não só!
Estimulou-me igualmente (a partir, também de uma recente conversa sobre a Prelo Editora) a ir buscar este "post" editado em 2008, no blog Som da Tinta, numa série dedicada àquela editora, sobre um livro que assinalava os 60 anos de Lopes-Graça, como músico e como escritor:








































E não só!
Mas não quero ser exaustivo
(nem poderia, claro!)
e hoje, neste dia de aniversário,
fica por aqui...