quinta-feira, setembro 30, 2010

Tinha de ser

Do Jornal de NOTÍCIAS:

CGTP aprova greve geral para 24 de Novembro
19h39m
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O Conselho Nacional da CGTP aprovou hoje, quinta-feira, por unanimidade a realização de uma greve geral a 24 de Novembro.

Fonte sindical citada pela Agência Lusa afirmou que, depois de uma intensa discussão, a data de 24 de Novembro acabou por ser aprovada por unanimidade.

A moção para a greve geral vai ser levada à discussão amanhã, sexta-feira a uma assembleia de dirigentes e activistas sindicais, embora o Conselho Nacional tenha poder deliberativo.

O Conselho Nacional aprovou, também por unanimidade, uma resolução em que é exigido o cumprimento do acordo tripartido que prevê que o Salário Minímo Nacional seja fixado nos 500 euros em Janeiro de 2011.

O debate de hoje na AR... depois de ontem

Ouvi parte do debate. Do debate de hoje depois do anúncio das medidas de ontem. Transcrevo perguntas de Jerónimo de Sousa:
E retenho, porque retive, a curiosa analogia, feita por um 1º ministro socialista (embora só à europeia... o que, traduzido em estado-unidense, quereria dizer, como o próprio esclareceu, liberal-democrata!), entre o desejo de queda e subsituição do capitalismo e a construção de muros, em resposta à deputada do Partido Ecologista os Verdes. A que muros se referiria?, é que não houve só um, e há outros que se mantém de pé sem que o incomodem.

Atenção! IVA a 23%

Ainda não vi em lado nenhum que o aumento do IVA vai ser de 2 pontos percentuais como aconteceu há três meses com um ponto percentual para os très escalões...
Apenas vi que a "taxa normal" passa de 21% para 23%, o que, sendo muito gravoso, mais ainda o será se passarem as taxas de 6% para 8% e de 13% para 15%. Com este governo, e a sua falta de rigor há que esperar tudo...
Atirar com 21% para 23% e nós protestarmos não só por isso mas também por aquilo que eles ainda não fizeram, neste esticar de corda, para ver o que dá, é possível e não espanta.
Por mim, mantenho-me estudando, e denunciando!, a anunciada passagem de 21% para 23%!

Última hora

Última hora
(tirado de Económico com Lusa):
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(se clicar sobre as fotos, poderá ler melhor)

Revendo coisas ditas muito recentemente

Este blog não é um local de estudo. Mas também o é (como tudo). Mas é uma espécie de arquivo.
Hoje, sentei-me aqui e antes de começar com coisas novas, e a trabalhar noutras coisas, resolvi passar os olhos por mensagens anteriores sobre IVA, como, aliás, já ontem começara a fazer, cansada e rapidamente, no regresso da manifestação (que excedeu o que esperava, e foi um sinal muito importante!).
Pois as "visitas ao IVA" foram uma relativa surpresa.
Neste dois anos, o IVA visitou-nos mais vezes que eu me lembrava, pois não recordava mensagens que aqui deixei, primeiro aquando da descida de um ponto percentual, em 2008 (demagógica e para-eleições), depois com a subida, em recuperação relativamente à descida anterior, de pontos pencentuais a partir de Julho deste ano (!) como "medida para combater o défice" e comandada do exterior.
Como então disse, o IVA é um imposto indirecto, "cego", que atige todos independentemente dos seus rendimentos, penalizando mais os que têm níveis de consumo mais baixos. Ainda fica por saber o que quer dizer a enigmática frase da sua estruturação (que é necessária, mas não se pode prever que seja no bom sentido, e mais parece uma ameaça que os técnicos se encarregarão de concretizar) e que, decerto, atingirá a distribuição por escalões de taxação. E ainda nada se sabe ao certo (eu ainda não sei, nesta brumosa manhã) sobre os actuais 6% e 13%.
Por agora, porque com certeza que a isto-IVA terei de voltar, apenas o sublinhado da incoerência e instabilidade de uma política "nacional" ao sabor (rançoso...) das imposições do exterior, com um partido da oposição (não "o partido da oposição"... e também porque não é de oposição à política!) a fazer o papel do palhaço pobre (porque não está no poder) neste circo par(a)lamentar.
E, também sublinho, quando falo dos partidos desta política (PS, PSD e CDS) refiro-me aos seus dirigentes, aos que botam faladura em nome deles, porque me sinto solidário com muitos dos seus apoiantes (e eleitores) que somam, às condições objectivas que todos os trabalhadores e população estão a penar, perplexidade e desorientação perante aquilo que quereriam apoiar como posições dos "seus" partidos, e de que, tantas vezes, se fazem defensores na base de uma inevitabilidade que eles poderiam ajudar a negar.
Como algumas cabeças devem andar... em parafuso!

quarta-feira, setembro 29, 2010

29 de Setembro de 2010

Quarta-feira, 29 de Setembro de 2010



«O PCP considera que o reforço de sanções designadamente no âmbito do PEC e dos mecanismos para a sua aplicação, configuram uma autêntica cruzada contra a soberania dos povos e os Estados-Membros da União Europeia com economias mais frágeis e com situações económicas e sociais que decorrem do impacto catastrófico das políticas neoliberais.»



«Dezenas de milhares de trabalhadores, do sector público e privado, marcaram presença nas ruas de Lisboa e do Porto, na manifestação convocada pela CGTP-IN, reafirmando as suas justas razões de protesto - contra as injustiças e desigualdades, por emprego com direitos e salários dignos, exigindo um rumo diferente na política nacional.»
(regressados de aqui!)

E agora... já chega?

(foto aqui publicada em 20 de Maio!,
com o presidente do Eurogrupo num "gesto carinhoso"
para com o ministro das finanças português)
Ou ainda é preciso mais?

E nós?

Haja um!

Descubra as diferenças!... em relação aos outros jornais.

Bom dia!







Eu marco encontro para a de Lisboa (o Porto fica mais longe, mas daqui vai um abraço para tantos amigos e camaradas), do Marquês do Pombal para a Assembleia da República.

"Retoma" e desemprego

De sapo-notícias:
Crise internacional
Director do FMI teme retoma económica sem emprego (TSF)
O director-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) admitiu, esta terça-feira, que a retoma da economia mundial poderá não ser suficiente para reduzir o desemprego.
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E que preocupados que eles estão! O director do FMI é o que ri mais, é o da direita

terça-feira, setembro 28, 2010

Instantâneos do quotidiano

Hoje, à hora do almoço.
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trimmm, trimmm... atendo:
- É o senhor Sérgio?
- O próprio.
- Eu sou "Fulano de tal" e venho, em nome da "Empresa X", oferecer-lhe um pacote para que o senhor acabe com a sua assinatura de ... que ...
- 'Pere aí! Eu até gosto de assinaturas e não gramo pacotes... Passe bem. Com licença."
pim... ba!
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E fui almoçar. Incomodado. Também com remorsos. Estúpidos... mas o pobre do moço, que nem era uma brasileira-daquelas-que-até-irritam-coitadas, se calhar é um arquitecto ou um jovem biólogo ou coisa assim que não arranjou emprego como caixa numa grande superfície... Mas que culpa é que eu tenho?

As eleições na Venezuela

Esperamos ter disponibilidade para ter outras iformações mais actuais e mais locais.
Mas, entretanto, leiam-se as muito oportunas e petinentes mensagens de obloguedocastelo aqui e aqui

Heróis do mar, nobre povo...

A nossa vocação marítima...
Enquanto alguns passam a vida (os anos de luta) a clamar contra o falso dilema Atlântico ou Europa (até porque são dialécticos...), e valorizam o que é desprezado, a nossa evidente "vantagem comparativa"; outros, os que apenas defendem os seus interesses (ou os de alheios que deles fazem seus servidores), alternam períodos de patrioteira empáfia de descoberta de caminhos marítimos com períodos tudo para a Europa e em força, abatendo barcos, fechando estaleiros, desaproveitando condições únicas no mundo das comunicações e transportes marítimos, entregando gestão dos recursos da maior ZEE a competência exclusiva de uma Comissão Europeia.
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No final de terem metido tanta água, estão na fase de gritar que a salvação está no mar... senão afogamo-nos.
Seria ridículo se não fosse muito sério e não tivesse a ver com o viver dos portugueses!

Manifestação da CGTP-in amanhã, 29 de Setembro

Faço nossas as palavras (que) são armas de Cid Simões:


Quarta-feira dia 29, dia em que decorre um encontro dos ministros das Finanças europeus, são esperados em Bruxelas 100 mil sindicalistas europeus.

Em Portugal a CGTP já anunciou que está a preparar greves sectoriais e concentrações em Lisboa e Porto.

Também na Letónia, Lituânia, República Checa, Chipre, Sérvia, Roménia, Polónia e Irlanda os trabalhadores fazem sentir a sua revolta contra as medidas de austeridade de que são vitimas.

Em Espanha, as duas maiores centrais sindicais convocaram uma greve geral.

"Não podem ser apenas os trabalhadores a pagar a crise, enquanto aqueles que a provocaram estão de novo a enriquecer".
Na UE há 23 milhões de desempregados e milhões de pessoas em situação precária.

Só há um caminho:

A LUTA!

O ponto (e as pontas) da situação – na noite de 27-09-2010

Trata-se de um verdadeiro massacre!
A poderosa, a tremenda máquina de manipulação da informação definiu dois ou três temas – não mais – e não titubeiam. É verdadeiramente o afunilamento das questões.
Contra a democracia, contra a política. O capital financeiro manobra todo o jogo.
Aumentar os impostos explícita ou implicitamente; diminuir as despesas, no que respeita à massa salarial e às despesas sociais.
Aceitam-se as pressões que do exterior nos obrigam a ouvir, como se fossem conselhos do bom senso de que careceríamos; penaliza-se, como se fosse consensual, o consumo privado, defendendo-se cegamente a exportação, e pode perguntar-se de quê se não se estimula o aproveitamento dos recursos e a produção.
O ambiente criado é verdadeiramente insuportável. A forma como se fez a promoção das “receitas” velhas e revelhas da OCDE como se fossem novidades, descobertas, foi espectacular, ao nível circense com aquela maneira ridícula de falar português (?) do porta-voz da organização recebido como "guru".
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Recusemos este colete de forças!
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Peguemos no nó da questão. Porque as finanças prevalecem até à saturação.
Como o sublinha, em título, um estudo de Eugénio Rosa, a banca financia-se a 1% junto do Banco Central Europeu, e cobra ao Governo (e aos portugueses) taxa de juro 6 vezes superior; ao mesmo tempo, os juros da dívida pública acabam de superar pela primeira vez, os 6,4%, por “ordens” da finança transnacional como forma de pressão política contra a soberania portuguesa, colimando neste momento político.
Estas pressões têm de ser denunciadas e recusadas.
Enquanto se juntam a estas pressões, as notícias sobre os aumentos dos preços de bens essenciais como inevitáveis, assim fragilizando a resistência colectiva, convidando ao "salve-se quem puder", ao "cada um para si", o nosso dever é reforçar essa resistência, mobilizando e esclarecendo.
Mas não só atacando os efeitos, e pouco aprofundando as causas. Essa resistência, mobilizada e mobilizadora, esclarecida e esclarecedora, tem de ter fundamento ideológico, base teórica. O justo protesto é inevitável face às condições objectivas que se vivem e se prevêem, mas é indispensável a tomada de consciência. Para o que é exigido estudo, reflexão, muito trabalho.
Continuar Marx!
A comprovação de leis que resultam da análise do funcionamento do capitalismo, para que Marx contribuiu decisivamente, e as novas condições objectivas levaram ao recurso à financeirização desmesurada, ao demencial empolamento do circuito monetário e creditício, ao capital-dinheiro fictício, simbólico, à procura de passar de D a D’, de dinheiro a mais dinheiro sem passar pela esfera produtiva.

segunda-feira, setembro 27, 2010

Poemas cucos (e outras coisas cucas) - 26

Para "cucar" Camões é preciso atrevimento. E coragem.
Como para servir Jacob por causa de Lia, como para abrir uma livraria como espaço de cultura. Só com alguns (muitos) grãos de loucura numa terra que eu cá sei.


Aproveitando


Luiz de Camões


Sete anos de comerciante aqui eu servi
a vender livros, via para cultura, tarefa bela;
mas não servi ao comércio, servi a ela,
que ela só por prémio pretendi.

Os dias, na esperança de um só dia,
passaram, contentando-me em promovê-la;
mas o negócio e o preconceito, à cautela,
em lugar de dar apoios só me dava arrelia.

Vi-me pobre comerciante cheio de enganos,
e que me era negada a boa intenção,
como se a não tivera merecida.

Começaria a servir outros sete anos,
dizendo: — e mais serviria, se não fora
para tão longo esforço tão maior a dívida!

Leituras de fim de fim-de-semana - 3º de 3 comentários

Na coluna da direita, Nicolau Santos, com o título O Presidente aponta o mar, vem dar ênfase, em termos elogioso-encomiásticos, a nova paixão de Cavaco Silva, o MAR, e releva a importância deste para o futuro do País. (Re)cita o que Cavaco Silva citou em recente Congresso dos Portos e Transportes Marítimos que foi "um indiscutível sucesso em termos de assistência, quer por todas as associações patronais terem apoiado o evento"!
Assim, sem sublinhar que Portugal é o País da União Europeia com maior ZEE (Zona Económica Exclusiva), (re)lembrou que "nos sectores marítimos tradicionais (transportes, portos e construção naval), Portugal gera um valor que é mais de três vezes inferir ao gerado pela Bélgica, que tem apenas 98 km de costa. Geramos igualmente três vezes menos emprego que a Bélgica. A Espanha gera sete vezes mais valor que nós. E a Dinamarca produz seis vezes mais valor e três vezes mais empregos nos sectoes marítimos que Portugal." E por aí fora, sempre no que respeita a portos e transportes marítimos, não se falando de pesca que, se me não engano é um sector tradicional ligado ao mar...
Curiosa ou estranhamente, não houve maneira de, ao fazer-se o confronto entre os custos de frete e despesas de despacho, isto é, eficiência, que nos é muito desfavorável, culpabilizar os trabalhadores.
Por outro lado, não se pode aceitar que o actual Presidente da República fale desta situação de não aproveitamento do que não me canso de chamar a nossa "vantagem comparativa" mais evidente, sem antes fazer um mea culpa (já não digo auto-crítica...) relativamente à política que protagonizou como primeiro ministro e que está na origem e agravamento do que hoje estigmatiza e tanta preocupação lhe parece causar. Como não se percebe como esta serôdia paixão é compatível com a indiferença manifestada perante o artigo da Constituição Europeia (e depois Tratado de Lisboa) que atribui competência exclusiva sobre os recursos biológicos do mar à Comissão Europeia.
Continuadamente, houve um partido - o PCP - a denunciar as consequências que hoje se lamentam, sem pudor, pelos responsáveis das causas! Sempre para orelhas moucas... como se fossem palavras loucas.

Leituras de fim de fim-de-semana - 2º de 3 comentários

No artigo do meio, o central - O Governo, o PSD e o país -, Nicolau Santos pormenoriza o que teriam discutidos, em números, Sócrates e Passos Coelho na sua conversa-a-dois (ou nas suas... se tangaram mais do que uma vez), sem testemunhas nem gravador.
Tantos porcento para mim, tantos porcento para ti (6,9% ou 7,3% de défice orçamental) milhões a mais, milhões a menos em relação ao que antes tinham acertado, o grave foi a descoincidência das versões tornadas pública e que levaram a ofensas mútuas (pisadelas...) que, numa tasca da esquina, teriam acabado na esquadra do bairro.
Mais uma vez o im portante é a conclusão: "Mas esperemos que ainda seja possível um acordo ou que se encontre uma solução alternativa na Assembleia da República. de outro modo, vamos penar todos mais do que o necessário - e que já não será pouco."
Há encontram, com certeza! O que está em causa, para o governo (com maiúscula), para "partido da oposição (em maiúsculas) não é o interesse do País (em minúsculas), não é o interesse (dos) nacional(is), mas o modo como partilhar a responsabilidade pública do que já acordaram fazer, segundo o que o FMI impõe, no quadro da estratégia do capitalismo financeiro, como é que essas medidas se reflectem nas respectivas clientelas eleitorais.
O comentário pode ainda tomar a forma de perguntas simples e directas, não dirigidas a N.S. mas a cada um de nós:
  • "Esperemos"... quem?
  • "Solução alternativa na Assembleia da República"... e fora da AR, não conta?
  • "Todos penar mais"... todos?, há quem não esteja a penar nada, bem pelo contrário!

Leituras de fim de fim-de-semana - 1º de 3 comentários

É-(me) sempre útil ler a página Cem por Cento, de Nicolau Santos, no Expresso.
O homem está muito informado, como é sua obrigação profissional, resume bem e mescla o que informa com opiniões que reflectem um determinado ambiente que é bom conhecer.
Pego no primeiro título, na coluna da esquerda, "O Estado Social à lupa". Com um olímpico distanciamento da situação das pessoas, N.S. confronta o estado social dos portugueses no quadro dos indicadores económicos europeus, e conclui:
"Conclusão: somos um país pobre com um apoio aos desempregados de rico. E como é óbvio, isto não é sustentável."

A lupa está claramente desfocada!
Neste mesmo fim-de-semana um outro jornal, o Diário de Notícias, informa em parangonas que mais de um terço dos desempregados - 208 mil! - não recebe subsídio e que, só em Agosto, 12 mil desempregados perderam o acesso a esse apoio. "De ricos"!Poderia dizer-se, em contrapartida, que, num País com uns tantos cada vez mais ricos, os nossos pobres vão crescendo e estão entre os mais pobres e desapoiados.

O que não é suportável!


domingo, setembro 26, 2010

Agora são precisos 19 "queijos limianos"!

Estava a "levantar a mesa" do almoço e - zás - prendem-se-me os olhos à embalagem do queijo que ia arrumar.
Não tinha reparado... e achei que era perseguição! Pelo que saltei para o "scanner" e para esta "gracinha".
Todos juntos genuinamente (quais?, o PS e o PSD?, ou também o CDS?, e porque não o BE?)
50% (mais um)?
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Ainda há pouco, em mensagem que por aí ficou, referia o "queijo limiano", referência política-parlamentar que ficou da legislatura (encurtada) de 1999-2002, em que o PS, com 115 deputados,precisou de um deputado eleito pelo CDS para conseguir fazer passar os orçamentos de 2001 e 2002, tendo-me ficado sempre a dúvida se não se encontraria outra forma de continuar a mesma política se esse deputado do sobredito queijo não se tivesse disposto ao "sacrifício" de se juntar aos 115 do PS, com largas (re)compensações para a autarquia de que era presidente.
Agora, para o OE para 2011... talvez a abstenção de 19, venham eles de onde vierem!, para que se cumpram os "serviços mínimos": 97 a favor, 19 abstenções, 114 contra, e passou! Porque outra situação nem passa pela cabeça do senhor PdaR...

O imbróglio de uma democracia parlamentar

Na democracia (burguesa) em que vivemos, importante e dura conquista do povo português apesar de todas as suas por vezes ridículas situações, vive-se um momento de imbróglio. Imbróglio que toma, aqui e ali, configurações de farsa burlesca, nalguns episódios interpretados por colectivos (particularmente, o PS e o PSD), noutras facécias com protagonistas individuais (nomeadamente, e por ordem hierárquica, Cavaco, Sócrates, Passos Coelho).
Farsa burlesca de bonecreiros manipulados pelo capital financeiro e em que o “ser (ou estar no) poder” obnubila e leva a palavras e a actos que, sem essa cegueira, até os próprios envergonharia… no pressuposto que alguma vergonha lhes sobre.
Detenhamo-nos num simples exemplo deste ping-pong “és um mentiroso/só falo contigo perante testemunhas" (gravador não serve?).
Diz o segundo que quer ser primeiro, embora não saiba bem quando: “o que tu queres sei eu… é que eu fique com o odioso das medidas que vamos ter de tomar porque a isso nos obrigam os patrões, mas és tu, como primeiro, que tens de as aguentar… e não venhas com essa de que se não for eu não o podes fazer porque não é só comigo que tens a possibilidade de partilhar a responsabilidade... também o podes fazer com aqueles com quem chegaste a acordo para o candidato a Presidente da República…”
Errado! O segundo precipitou-se nos seus passos (de Coelho) e só mostrou que lhe dói o cotovelo. Os 97 deputados socialistas (salvo seja) mais os 16 bloquistas (de esquerda) somam 113, o que não chega aos 115 que são metade de 230. E, nisto, a aritmética é infalível. Ainda precisaria, o PS, de dois “queijos limianos o que é o dobro de um, e um já seria difícil... ou de três porque só com dois seria empate técnico!
Isto tudo é confrangedor.
Mas – atenção! – é apenas uma vertente da nossa democracia. Há uma outra vertente. E ela é a participativa, a da intervenção democrática dos trabalhadores, das populações organizados para além das instituições formalmente representativas no nosso quadro constitucional.
A vertente da democracia que se expressará – e tem de o fazer com toda a força da democracia conquistada – no dia 29 de Setembro.
Se as pressões do capital financeiro transnacional sobre os seus títeres com adereços de poder político são tão fortes, a pressão dos portugueses que estão a sofrer a situação por eles criada também tem de o ser, e eles sabem – oh! se sabem... – que esses adereços não são seus, estão-lhes emprestados pelas populações, pelos trabalhadores.

sábado, setembro 25, 2010

Reflexão lenta, curta... e sempre urgente - 60

A imagem subliminar que se inculca é a de que tudo acontece por culpa "do outro", de uma poderosa e inflexível entidade abstracta, imaterial, a que se vão dando nomes adequados ao momento da campanha, e em que prevalece o mercado (ou os mercados). Completada pela ideia de que, se não se obedece a esse fantasmagórico "papão", será o desastre, o caos, ou então, para que não venha o desastre, o caos, haverá quem venha de fora "pôr ordem na casa", fazendo o que os incompetentes dos nativos se mostram incapazes de fazer, e nem nestas situações-limite se conseguem entender.
Estaríamos - Portugal que somos - num beco, a exemplo de outros momentos da nossa História próxima, quando se escreveram cartas ao FMI e ele veio cá distribuir uns açoites, pôr sindicatos e trabalhadores em sentido a partir do ambiente criado, e carregando mais nos que não têm qualquer responsabilidade na situação criada.
Por isso, ainda estamos a tempo, dizem-nos. Ainda teriamos a saída de fazer o que o tal FMI viria cá fazer. Mas, para o fazer, tem de haver quem fique com o odioso... porque vivemos em "democracia", há que não perder eleitorado e o espectáculo do "jogo do empurra" é absolutamente miserável. O governo a atirar com a responsabilidade para a "oposição" (que é apenas a que, institucionalmente, lhe pode servir), esta oposição a exigir que o governo assuma os compromissos de executivo para que teria criado condições. Com atitudes e linguagem ao nível da peixeirada, com as devidas desculpas para as senhoras que "ganham a vida" a vender peixe!
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E há alternativa! Não estamos num beco sem saída! Antes de mais, antes de tudo, voltar a dar prioridade ao aproveitamento dos recursos, à produção, ao trabalho!

Rio, choro ou só me envergonho?

(o cantigueiro já tratou - e bem! - deste "episódio"... mas não resisto a trazer umas "versões" minhas):

1. Fizeram uma pergunta ao primeiro-ministro português sobre a crescente tensão entre os Estados Unidos e o Irão. Resposta (?) deste: "Portugal e os Estados Unidos têm a mesma política internacional : o respeito pelo direito internacional. Penso que este é um desafio que coloca a todas as lideranças do mundo". É de lider!
2. Os dois devem estar a contar ao "amaricano" aquele episódio dos dedinhos em hastes, na Assembleia da República, que o colocou no desemprego de ministro com imediata colocação naquela Universidade. E os dois portugas riram-se "à (festa) brava"!
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Eu, palavra que sinto vergonha. Sou incuravelmente português...

Alexandria 11 – CAMINHO ANDADO, TANTOS POR CAMINHAR

Se teológicas foram pouco as conversas, sobre política e economia foram menos ainda.
Aproveito para marcar a diferença entre fazer turismo e viajar e visitar. É verdade que esta viagem, talvez mais que qualquer outra, tinha um cunho intelectual, todas as referências motivadoras eram, de certo modo, elitistas porque culturais daquela cultura livresca. O que é escrito sem qualquer sentido depreciativo ou de superioridade "em pino" (a tecnicamente chamada queda facial invertida…).
No entanto, escorregando-me o pé para a chinela, procuro sempre o contacto e o sentir dos viveres mais simples. Ainda que muito valorize as referências e reflexões e as visitas de outro tipo. Diria, como diz quem reduz as coisas a expressões simples, que “sou um político”. Procuro sempre, mesmo quando inadvertidamente, levar a conversa para essas áreas do viver quotidiano e como ele se organiza. Mas, olhado como turista, e não como cidadão viajante/visitante, raro tenho interlocutores. Aliás,desconfio que se não fosse assim também não melhoraria grande coisa...
Salário mínimo, regras laborais, organização sindical, estrutura política? Nada. Ou muito pouco de respostas, e as poucas com algum adivinhado mal-estar. Mesmo depois de um certo à vontade e mútua confiança.
Bem, o mais que consegui “arrancar” foi a ideia de que a sucessão (eleitoral!) de Mubarak pai por Mubarak filho não era bem vista, que incomodava. E alguma (ou muita) reserva quanto a Mubarak, o protagonista da política egípcia há 30 anos.
O facto é que, no avião, consegui – finalmente! – um jornal egípcio em inglês, The Egyptian Gazette, e li coisas interessantes que talvez estejam escritas noutros jornais com outros carecteres. Um artigo de “especialistas” prevê (em título) que “novo parlamento (a eleger, talvez…, em Novembro) não servirá os interesses do povo” porque se manterá a maioria do NPD (Partido Democrático Nacional), e não se tornará mais democrático, e os 88 lugares que eram ocupados pelos “Irmãos Muçulmanos” serão distribuídos por outros partidos sem nada alterar.
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Cairo protesta:
Activistas políticos egípcios protestam

no Cairo, terça-feira,
contra os rumores de que Gamal,
filho do Presidente Mubarak,
lhe sucederia.

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No entanto, o que mais procurava não eram estas informações mas as do sentimento da escassíssima amostra com que contactei, e da pouca que observei. E aí o obstáculo da língua foi enorme, juntamente com o que me faz crer que o inquérito posto no jornal sobre opinião relativamente à posição a tomar pela “oposição egípcia” - i) participar nas eleições; ii) boicotá-las, iii) não me interessa – terá grande maioria com a 3ª resposta.
Este é o problema que mais me (pre)ocupa: o esclarecimento, a tomada de consciência, a posição das populações/massas perante a organização social/económica/política em que vivem. Muito mais em Portugal, evidentemente, mas também no Egipto… ali a multiplicar por 8 como número… mais as ponderáveis ponderações qualitativas.
De qualquer modo, ainda encontrei coisas a que achei piada:
"Então você quer beber água,
quer tomar duche
e ainda quer regar a sua terra?
Que ridículo desperdício de água!"

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Pois é! Falta falar dos gatos. E se todas as cidades têm gatos (e se não havia antes de "ela" chegar, "ela" descobre-os), e o Egipto é o país em que o gato é sagrado, Alexandria é a cidade dos gatos. Mas deixo-lhe esse encargo, ou melhor: para quê falar do que vai ser falado?

sexta-feira, setembro 24, 2010

Entre ameaças e chantagens...

... todas falsas e para "enganar o pagode"!
Era preciso - era indispensável! - um PEC; era preciso - era indispensável! - um PEC2; são precisas - são indispensáveis! - "medidas adicionais" (ainda mais?). Sim!, porque, dizem "eles", há que que remediar "isto" que "eles" criaram, e há que tranquilizar os mercados, o BCE, a UE, as agências de rating, o HCBS, o FMI, e outros fdp.
O PS e o PSD lá se vão entendendo, entre ameaças e chantagens para "iludir a malta" e arranjinhos por debaixo da mesa.
Só tenho uma palavra (aliás, duas... fora as muito mais que estão a pedir!):

aldrabões
pantomineiros


A resposta:
«... Arménio Carlos fez questão de afirmar "para nós está claro que é melhor não haver Orçamento para 2011, do que ter um que siga o caminho que vemos traçado"...»

Conversas em que se aprende (como em todas!)

Foi a Lésya que, hoje de manhã, ao chegar, me falou das manifestações em França e dos tumultos na Grécia.
A Lésya é uma senhora ucraniana que nos ajuda, três manhãs por semana, a manter "a mansão" habitável. Gosta de conversar comigo. Começou por ser um pouco complicado porque os sinais espalhados pela casa colidiam com o que julgava eu (e ela...) que era anti-comunismo. Mas lá fomos conversando, ficando a dificuldade para o seu diminuto domínio do português.
Vim descobrindo (eu!) que o que ela é é anti-russa, como em Pinhel se é anti-Atouguia, ou em Galiza, ou na Catalunha, ou no País Basco, anti-Andaluzia.
E lá nos vamos entendendo, politicamente, apesar da sua religiosidade. Que, no entanto, não apaga uma cultura política de fundo que tem a ver com uma outra formação cultural (e democrática!), ou restos dela. Revelando todas as virtualidades de ter crescido ainda numa sociedade diferentemente organizada.
Hoje, vinha indignada com todas as mentiras (dos políticos, Sarkosy e outros), com a política anti-social (as reformas, os salários, sempre o ataque aos que trabalham... e isso), com a desilusão com os actuais dirigentes ucranianos que a chegaram a iludir.
De permeio, lá disse uma ou duas coisitas, a tentar fazer-me entender...
Mas ela, embalada, mostrava a sua indignação pelo recuo social, pela repressão, sobretudo pela mentira de que se apercebe, ao mesmo tempo que valorizava a tranquilidade que sente em Portugal, apesar das suas/dela dificuldades crescentes.
Lá ripostei, falei dos nossos "brandos costumes", mas sublinhei, e com toda a força, a luta em que estamos, o 29 de Setembro, a violência que foi a do fascismo. E terminei, dizendo-lhe "é o capitalismo, Lésya!", nas suas variadas maneiras mas uma só forma de exploração, a dos trabalhadores.
Já não reagiu como aqui há uns meses, e deixou-me trabalhar...
E ela também foi trabalhar... que é para isso que lhe pagamos (como Marx falava do exemplo do alfaiate não explorado nem explorador), e não para discutir política comigo!

Nós é que te agradecemos,


compañera
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Alícia Alonso!

Duas notícias em destaque

1. A que colhi, como quem colhe uma flor, no cravo de Abril, do convite de Alícia Alonso a Obama... desde que acompanhado pelos 5 de Miami. Ler aqui !
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2. O rodapé, no noticiário televisivo, de 2,9 milhões de franceses nas ruas em manifestação contra as leis anti-sociais. Para muitos de nós, o que se passa em França continua a ser uma referência importante!

Alexandria 10 – OS CAMINHOS DA(s) FÉ(s)

Não sei se tinha reparado nisto quando, há mais de vinte anos, viera ao Egipto. Ou, se o tinha, esquecera-o. Agora, logo à chegada, ainda no aeroporto, intrigou-me aquela mancha na testa de muitos homens. E perguntei, pensando que a razão era étnica.
Não, e a minha ignorância talvez não devesse existir, ao que me parece. Aquela mancha é, como se calhar toda a gente sabe…, uma “nódoa negra” resultado da fricção da testa no tapete em que se fazem as muitas orações do dia.
Passei a ver, naquele sinal, uma indicação do grau de fervor religioso de quem o mostra. Falei, vagamente…, deste assunto com o guia que nos mostrou 8 horas de Cairo, almoçou connosco uma excelente refeição, partilhada também com o motorista, um simpatiquíssimo e bonacheirão Mohamed, com quem fizemos a viagem até Alexandria.
O jovem disse-nos da sua fé – que ainda não deu para mancha na testa… –, e teceu algumas considerações curiosas sobre religião. É crente, faz as suas orações, e diz que não quer cá intermediários para as relações com o seu deus (logo existe…). “Vocês é que se confessam e pedem perdão dos vossos pecados a quem terá pecado mais que vocês… eu não, é tudo directo com quem não peca, só Ele me pode perdoar.” (a maiuscula é dele e respeito-a...). Não estava mal visto, respondi-lhe eu, mas esclareci-o que não tinha esse problema, que para mim nem deus, nem padre, um pouco como os do “ni dieu, ni maître”. Mas só um pouco.
E ficaram por aí as nossas conversas teológicas.
Respira-se religiosidade por aquelas bandas. Mesquitas em grande quantidade, algumas igrejas (uma de S. Sérgio, ora tomem!, que resistiu aos romanos que perseguiam os católicos), umas sinagogas. Mas os tapetes e a reza na rua, as setas para Meca nos hotéis, sobretudo o apelo à oração, enchendo de um som ondulante e quase anestesiante as ruas, criam um certo ambiente.
Que se pode testemunhar da janela do hotel (na que chamo a "horação"... que muitas são durante o dia):

Como já escrevi, nas fotos de Sadat – no museu da Biblioteca, por exemplo –, ele tem o sinal bem visível, quase ostensivo. O que não encontrei em Nasser ou em Mubarak. Daqui, não se tirem quaisquer ilações. Já não diria o mesmo do facto de Sadat ter sido vice-presidente de Nasser, que substituiu em 1970, e ter sido substituído por Mubarak, que era seu vice-presidente em 1981. Mas isto já são coisas da área da política…
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Ficam para a última destas notas-impressões de viagem enquanto viajo.

quinta-feira, setembro 23, 2010

Responsabilidade, bom senso, pragmatismo

Foram diferentes estes dias de férias... Acho-os estranhos. Ou acho-me estranho.
Estou frente à televisão, ouço o telejornal e a Grande Entrevista. Como é que me foi possível viver estes dias sem "isto"? Como é que me vai ser possível viver com "isto"?
Que sentido têm as palavras face ao dramatismo, à pomposidade, à - numa palavra, perdão em três... - falta de seriedade no seu uso?
Responsabilidade, bom senso, pragmatismo.
"O governo é responsável", "os mercados", "o primeiro partido da oposição", "quem viabilizou o PEC", "as medidas adicionais", "o FMI", "o crescimento económico no dobro do que estava previsto", "bom senso", "o consenso", "o Balsemão", "o Mário Soares", "o Presidente da República nas escolas a falar (que discursos!...) de igualdade de oportunidades e do interior e do poder autárquico".
As conversinhas em privado de que cada um conta a sua versãozinha, fazendo-se de ofendido pela versãozinha do outro. Ficamos é a saber - todos! - que se fartam de conversar, de "combinar coisas" lá entre eles, enquanto, cá para fora, parecem muito zangados e ofendidos.
"Isto" é insuportável... Está muito pior que há uma semana. É influência da proximidade orçamental e do "espectáculo" à volta. O motorista do táxi que me trouxe do terminal rodoviário de Fátima até ao Zambujal perguntou-me se o país se aguenta ou se vai fechar.
Bolas! Que raio de "jet lag"!
A falta que isto me fazia! E se me perguntarem o que foi de melhor dos dias de férias,

29 de Setembro

Já cá estou. Mobilizado. E se não estivesse... vinha!
É que isto ao vivo, com o cheiro da tinta e o brilho da cor, é outra coisa.
De qualquer modo, ainda tenho umas notas para umas duas últimas "alexandrinadas", uma sobre religião e outra sobre política.
Dentro deste quadr(ad)o... Porque noutros, outras coisas haverá para mostrar e para dizer (espero eu).

Alexandria 9 – CAMINHOS TEIMOSOS E já DE REGRESSO






Era o último dia-manhã de Alexandria. Decidimo-nos por uma visita à coluna de Pompeia, o “souk” dos têxteis… e a “acertar umas contas suspensas”.
“A coluna” é um local turístico, dá para fazer fotos e ver as marcas do tempo. O bairro popular em que insere – ou que a inseriu – é a Alexandria de hoje. Chegar lá e voltar foi quase uma aventura com vários intervenientes. Das estórias que ficam para outros contares.
Para este contar, e já que contámos de restaurantes, nomes de ruas e números de portas, conte-se que, teimosos que somos, voltámos àquela rua (Sharia Mohamed Azmi), continuámos para a direita, para diante do nº 12 que ficava à frente do nº 15 e, se não encontrámos o nº 52, encontrámos o tal restaurante, GAD de seu nome. E aí almoçámos a última refeição alexandrina, mesmo em frente do Banco Nacional do Egipto, rodeados de bancos por todos os lados. E com mais estórias para quando calhar…
Depois foi a despedida da “nossa” praça, e do café Délices, e apanhar a boleia de quem nos foi buscar para nos trazer ao Cairo, em mais de três horas de auto-estrada pelo meio do deserto e o esperado engarrafamento à entrada da cidade-monstro.
E se Napoleão disse “do cimo destas Pirâmides, mais de quarenta séculos de História me contemplam” (se não foi assim, foi mais ou menos…), podemos dizer que, da carrinha, contemplámos mais um pôr-do-sol por detrás de pirâmides com mais de quarenta séculos de História (mais coisa menos coisa...) e que 20 milhões de cairotas vêem todos os dias e convivem com elas (com as Pirâmides… e com os séculos de História) com a indiferença das vizinhanças e as dificuldades de um quotidiano que não deve ser nada fácil.

Fizemos escala de uma noite mal dormida num hotel, também, nesta noite, hotel e corredor do nosso quarto para jovens desportistas indisciplinados e barulhentos e, depois das salas de todas as esperas que são as dos aeroportos, aqui vamos de regresso a Lisboa.

E... depois... onde for. Onde tem de ser.

Como pode um fulano desligar-se?

Tenho andado por longe. Uma semana de férias. Há quem, amigamente, estranhe tanta mensagem e sobre tanto tema. É defeito meu… e trouxe um “notebook” (?), e têm-me posto net à disposição, e durmo pouco.
Por outro lado, mesmo em férias, mantenho um empenhado distanciamento, ou um distanciado empenhamento. Aliás, o tempo não está para folgas ou tréguas.


Depois, chegam-me, pelo sapo (e outros “bichos”) as preocupações do Cavaco, sei do dueto Sócrates-Helena-não-sei-quê-ministra-do-trabalho, do escândalo do Banco do Vaticano (e de quantos que não se sabendo, do Vaticano são ou dele dependem), informo-me em todas as mensagens que aqui, na blogosfera, encontro de alguns amigos “do peito” e de outros que nem tanto… e é de meu (mau?!) feitio reagir.
Mas poderia até nem abrir o computadorzinho, nem olhar para uma página impressa em caracteres legíveis… e lá para os confins da Corniche de Alexandria, mesmo mesmo na ponta, topo um ATM do banco HSBC, o banco que – entre outros parceiros do capitalismo financeiro impante mas balofo – decide sobre a divida pública portuguesa. Fotografei e, ao lado, apanho uma camioneta de limpeza da Veolia, a empresa a que pago a água que consumo no Zambujal (e mais nem sei muito bem o quê).
O encontros com a Veolia vieram a repetir-se por várias ruas da enorme cidade. Uma vez, com uma saudação caloroda de um operário cantoneiro egípcio para os camaradas que, pelo resto do mundo (incluindo Ourém), são assalariados deste grupo transnacional.
Como pode um fulano desligar-se?

quarta-feira, setembro 22, 2010

Alexandria 8 – DESCAMINHOS: EIS uma ALEXANDRIA!

Eu tinha ficado a escrever (se me permitissem, passava a vida a escrever…); ela fora, num intervalo, “comparar uns preços” (como ela gosta de “fazer umas compras”!… e ainda bem).
Voltou toda contente (e eu também… porque ela voltou e pela prenda comprada):
- “Não nos vai acontecer como de manhã e ao almoço! Já descobri a rua de um restaurante aqui indicado no Routard. É o GAD, e o número é o 52. Vamos lá?”
- “Embora…”
______________________________
- “A rua é esta que atravessa…”
- “Para a direita ou para a esquerda?”
- “Aqui a placa está para a direita… mas deve ser para os dois lados…”
- “Pois… comecemos pela direita… vamos lá a ver se encontramos um número…”
Andámos uns metros.
- “Olha ali, naquele passeio, um 15 numa porta…”
- “Finalmente… quer dizer que, como é par, é deste lado… será para diante ou para trás, antes do cruzamento?”
- “Temos de encontrar outro número…”
- “Olha aqui, dte lado, um 12…”
- “Porreiro…
- “Deve ser para trás… porque aquele do outro passeio era o 15…”
- “Pode ser… andemos para trás, subamos até ao 52... vá,
atravessemos a rua para o outro lado, para a esquerda.”
Assim fizemos. O que não foi nada fácil, como só saberá quem já atravessou ruas na Alexandria e em Ho Chi Min Ville.
E lá caminhámos à procura de um outro número de porta que nos orientasse. A torto e a direito. Isto é, à esquerda e à direita. Ou, então, sem números, encontrar o restaurante GAD.
Nada. Nem números de porta(s) nem restaurante(s).
De repente, depois de muito andar:
- “Olha aqui!... o 14!”
- “Não pode ser…”
- “Mas é!”
- “Ora bolas… já fizemos o quarteirão todo, e se ele é comprido… o 14?!”
- “Não percebo…”
- “Nem eu… vamos mas é à
Taverna, que é onde fomos no primeiro dia e não foi nada mau…”
- “’Tá bem. É uma chatice. Gostei da comida da
Taverna, gosto do nome… não serve é bebidas alcoólicas…”
Virámos na rua à esquerda.
Eu, ia resmungando. Consolado por ela…
- “É chato, é… mas o tal GAD se calhar também não servia álcool…"
(,,,)
- “Espera aí, espera aí, olha para ali, para o passeio do lado de lá. Não é GAD aquela loja?, ou estou a ver mal?”
- “É. E é uma sapataria. Sem número, claro. E já estamos bem longe, noutra rua, quase a chegar à
Taverna…”
_______________________________
Eis Alexandria!

Alexandria 7 – CAMINHOS E TROPEÇOS, DE PERDIDOS E ACHADOS

Da visita à Biblioteca e, particularmente, ao Museu Sadat, trouxe muitas reflexões. Uma frase de uma escultura-portal na impressionante sala de leitura, do conhecimento à sabedoria.
O Museu Sadat são duas pequenas salas de memorial de uma intervenção individual determinante, e de um período histórico, entre 1952 e 1981, que já vivi na minha pessoal procura do conhecimento.
Nesse período, o papel do Egipto nas relações internacionais foi muito importante, a partir de Nasser (e, ao correr das teclas, apareceu-me uma analogia histórica – talvez um disparate… mesmo com a “água benta” das diferentes circunstâncias históricas que as décadas provocam – com a Venezuela e Hugo Chavez). No pequeno Museu Sadat releva-se a vida de um homem que fica na História como dedicado à Paz (Campo David), a sua prisão como “um dos lugares em que o homem se encontra” (assim o disse, e publicou um livro com o título Em busca da identidade). Embora nem todos os encontros sejam bons e, no caso de Sadat, houve alguns desencontros…
É difícil, em duas linhas, falar desta figura tão controversa e influente, assassinada aos 63 anos, embora me apeteça destacar um sinal. Dos três homens após Farouk, Nasser (1952-70) (porque não o Museu Nasser?, porque foi assassinado?...), Sadat (1970-81) e Moubarak (1981- ), é o único em que se vê com toda a clareza uma mancha na testa, resultado de uma religião que faz os homens roçarem a cabeça no chão várias vezes por dia, deixando-lhes uma marca indelével… Mas de religião escreverei algumas coisas noutra croniqueta.
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Hoje, 3ª de manhã, perdemo-nos. Achámo-nos no meio da enorme cidade (são, com certeza, mais de 8 milhões… 8 milhões já eu contei!). Perdemo-nos (e achámo-nos) à procura de sítios, de nomes de ruas de números de portas. Nomes de ruas, ou quase nunca há visíveis e legíveis, ou mudaram, como parece que acontece com muita frequência; Fouad passou a Nasser, mas na toponímia afixada nem um nem outro nome aparecem. Números de porta só lá de muito de longe em longe… e se.
Em desespero de causa, pergunta-se (em inglês…) e, após muito esforço de parte a parte, parece que nos entendemos (até com toda a simpatia e desinibição, mesmo através de uma “burka”) mandam-nos andar mais uns quarteirões e “virar na segunda rua à esquerda”, que não nos leva a lado nenhum ou, pelo menos, ao lado que nós queriamos! Curioso: foi sempre na “segunda rua à esquerda” que nos mandaram virar!...
Chegou a haver alguma tensão entre nós. Mas, agora que escrevo… acho giro. Andámos pela Alexandria profunda, de antiquários, de quinquilharias, de bate-chapas (e já assistimos ao arranjo de clientela para essa “indústria”, aqui decerto muito próspera…),
de tapetes, de mantas, de tudo, de muita gente em cadeiras e mesas nos passeios a beber chá e a fumar “chicha”. Uma pena enorme de não ser capaz de conversar com alguns daqueles homens (e mulheres)!
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Regressámos ao hotel sãos e salvos.
Ah!, e afinal o trânsito na Corniche desiludiu-nos. Não manteve o nível de ontem, de 2ª feira. As 2ªs. feiras são o mesmo em todo o lado.

terça-feira, setembro 21, 2010

Preocupante!

Parece que o Presidente da República Cavaco Silva está preocupado com os resultados das políticas dos executivos dos últimos 25 anos, em que avultaram 10 anos do 1º ministro Cavaco Silva, muito particularmente no que respeita à política relativa ao mar.
Pelo que o actual Presidente Cavaco Silva prepara o calendário de promoção da candidatura de Cavaco Silva a Presidente da República, para nessa função procurar remediar - quanto possível... - os nefastos efeitos das política protagonizadas pelo 1º ministro Cavaco Silva durante 10 anos mais pelo Presidente da República Cavaco Silva durante 5 anos (em 25, 15, i.é., 3/5!).
Aliás, onde está escrito Cavaco Silva poder-se-iam pôr outros nomes, com as devidas alterações em números de anos. Ou, para que tudo fique menos personalizado (e para fazer o pleno: 5/5!), podem substituir-se nomes pessoais por PSD, PS e - quando o conseguiu - CDS-PP.

Leituras e (ex)citações

Como em todas as suas crónicas no avante!, Jorge Cadima junta a muita documentação actualizadíssima comentários pertinentes.
Na do último número (lido num avião e, como em todos os transportes públicos, provocando alguma visível… estranheza ligada ao enraizado preconceito), retiro umas frases por me parecerem de muito útil leitura (ou releitura):
«A comunicação social de massas não informa*. Esconde ou cria a “realidade” consoante os desejos dos seus patrões e os interesses de classe que representa. (…) Há 80 anos, no auge da outra grande crise mundial do capitalismo, a conversa era igual, embora os alvos fossem os judeus e a “conspiração judaico-bolchevique”. O racismo serviu de caldo de cultura para lançar a mais violenta e brutal resposta do capitalismo à sua crise – o nazi-fascismo e a guerra.» (Mentiras, racismo e crise)
_______________________
*- A comunicação social de massas por todo o mundo, em todos os alfabetos. Desde que sejam os mesmos os seus donos. O capitalismo financeiro! (Digo eu… e confirmo)

Alexandria 6 (anexo)

Ao longe, do outro lado da Corniche, a pequena mancha branca é a Biblioteca de Alexandria, qual nave espacial preparada para levantar voo. Como a idealizaram os arquitectos noruegueses.

Alexandria 6 – CAMINHOS ENTRE CIDADES DENTRO DA CIDADE

Em vez de entrar pela cidade, caminhar pelo seu litoral, pela sua marginal. Ao longo da longa Corniche.
Foi assim o dia de segunda-feira.
De manhã, virar à esquerda e andar pelo passeio do lado do mar. A olhar para para dentro, a apreciar as construções, alguns edifícios ainda imponentes, uma mesquita enorme, a olhar para o mar – para o "porto novo" -, uma larga baia em concha, mas atirando a vista para longe porque, por perto, há muito lixo, daquele que suja os olhos. Até aparecerem pedaços de praia, com gente de cá a aproveitá-los. Homens, rapazes, crianças com as jovens mamãs também a irem ao banho – mas todas vestidas... –, senhoras de mais idade sentadas debaixo de guarda-sóis, vestidas com toda a roupa que o corpo consente.

E, pelo caminho, gatos, muitos gatos, uns, mais felizardos, a receberem a sua ração de carapaus a que deram o nome, que uma outra senhora lhes distribui, decerto diariamente. Depois, um pequeno porto de pesca, já mais perto de onde era o farol e hoje é o forte e um espaço em recuperação. Para turistas.
Mas não nos queríamos perder por ali. Passámos para outras ruas. Do outro lado do istmo, ou da língua que separa os dois portos. Andámos pelas ruas perto do "porto velho", pelo meio de um dia normal, à saída das escolas, à hora de almoço. Sentindo todo o pulsar de uma antiga cidade. E a sua inexorável degradação. Talvez irrecuperável. E tudo tão rico de séculos e como seria tão de lamentar!

No meio do nosso passeio, uma surpresa muito desagradável. Se os miúdos – todos até aí – tinham sido exuberantes de alegria, brincando connosco, pedindo fotografias, duas crianças, talvez por um gesto nosso mal interpretado, assustaram-se, tiveram medo de nós-os-estranhos, choraram, fugiram e refugiaram-se junto de idosos que ali estavam. O incidente ficou por aí, mas escureceu a nossa boa disposição. Logo recuperada porque, mais adiante, outros miúdos nos abordaram, vivos e efusivos, e, sem o saberem, vieram ajudar-nos.
Voltados aos locais de frequência turística, de novo na Corniche, nesta cidade de tantos tempos e de tantas cidades, almoçámos no “rei do peixe”. Que merece o título.
À tarde, fomos para o lado direito da Corniche, voltando a caminhar umas boas quadras – bem menos que de manhã – para ir, de novo, à Biblioteca, ver melhor o que tínhamos visto, e visitar o chamado Museu Sadat. Para regressar, com os pés a pedirem descanso, para um belíssimo pôr de sol com jantar, num terraço de onde comprovámos a beleza dos lugares e a loucura do trânsito nos dois sentidos da Corniche, que envergonharia a 2ª circular em hora de ponta.
E tanto para contar!

segunda-feira, setembro 20, 2010

D. Sebastião Manuel Mourinho José

“Portugal?”… “ Mourino, Cristianu Rónalde!!!”... e o polegar de todas as idades a apontar para cima, e um largo sorriso de admiração e respeito… por nós, compatriotas de tal gente. Já passou o tempo de Figo. Todos os deuses têm o seu crepúsculo. Não escrevi os de pés de barro porque não (re)conheço deuses com outros calcantes.
Mas aqui, no Egipto, há um outro nome ainda mais nos fazem admirados e respeitados: Manuel José (e pronunciado sem margem para grafias que não esta). E tanta é a admiração e o respeito que parece que se quer alterar uma lei que impede naturalizações para ele poder vir a ser… egípcio. Honoris causa... dizem que ganhou tudo o que se podia ganhar!
.
Entretanto, consta que “o Presidente” está a pensar vir cá (ou onde o tal Manuel José estiver em mecenato-mercenariato) para o convidar para ser uma espécie de “primeiro-ministro” para ver se consegue resultados que vençam os desoladores indicadores pós-PEC e para que se aprove um orçamento de Estado consensual.
Sempre à procura de um D. Sebastião… em vez de se fazerem os trabalhos de casa.

Leituras necessárias

O materialismo histórico é uma leitura da História feita por duas vias que não serão carris paralelos mas que, sendo aparentemente paralelos (e, por isso, paralelos são), interagem, como se diz bem-falando.

As forças produtivas desenvolvem-se, incessantemente - o que não quer dizer linearmente -, pela relação do ser humano com a natureza de que é parte; essa acção do ser humano sobre a natureza materializa-se no contexto evolutivo de relações entre seres humanos, sociais.

As forças produtivas e as relações sociais de produção definem modos de produção específicos, que tudo condicionam nas formações sociais, mas só em última instância pois o modo de produção é condicionado pelas relações sociais, por tudo o mais num vai-vem em progressão dialéctica (não progressão aritmética ou geométrica...).

Por vezes, nas nossas humanas e históricas análises, valoriza-se mais o desenvolvimento das forças produtivas; por vezes, valorizam-se mais os estádios (que se sucedem) das relações sociais.

Só o equilíbrio é dialéctico, ou só a dialéctica é equilibrante.

O artigo de Rui Namorado Rosa no último O Militante é um excelente abanão em quem tenha a tendência (ou para ela esteja a ser conduzido) de esquecer ou desvalorizar a evolução das relações do ser humano com a natureza, o desenvolvimento das forças produtivas, o estado da existência e conservação dos recursos naturais ou adquiridos, por sobrevalorizada atenção para as relações sociais.

É um artigo de leitura necessária, indispensável.

Alexandria 5 – TODOS OS CAMINHOS VÃO LEVAR A ÍTACA

Alexandria. 8 milhões de habitantes.
“Um bairro do Cairo…”, dizia-nos, depreciativamente, o guia que nos trouxe até cá. Era um típico cairota. Que tem uma namorada no Porto (já teve uma em Viseu), pelo que diz que os do Cairo em relação a Alexandria são como os do Lisboa em relação aos do Porto (ou vice-versa), e mostra pelos alexandrinos uma alergia tão grande como a que torna ostensiva relativamente a Espanha, melhor, às espanholas. Era um puto com piada…
Depois da Biblioteca (e antes da Biblioteca), andámos pela enorme cidade. (Tudo é relativo, Ramy.) Alexandria é uma cidade enorme, com 8 milhões de habitantes e um movimento que se estende pelas 24 horas do dia. Isto dizem-nos… porque temos dormido as horas regulamentares e saudáveis e exigidas pelo cansaço. Porque muito temos calcorreado.
Do programa (da Justine) já uma boa parte foi cumprida. Já muito vimos. Ao vivo. Apesar de domingo, e de muitas lojas fechadas de manhã, gente, gente, gente. Escolas abertas e festas infantis por umas fotografias connosco. Não há dúvida que as minhas barbas brancas e o cabelo ainda mais branco da Justine fazem sucesso entre a miudagem, contrastada com a indiferença dos adultos. Algumas, aliás, nem sei como nos vêem lá debaixo daquelas vestimentas que tudo tapam e tanto nos impressionam. Mas as jovens dão outro sinal. E forte. Parecem muito desinibidas, na sua maioria, fumam como umas chaminés, têm uns olhos negros, grandes, pestanudos, bem maquilhados, que olham e não fogem aos olhares…
Duas notas: a visita à casa de Constantino Kavafis e a passagem pela “ruela das mulheres”.
A primeira nota para sublinhar a tranquilidade, a discrição, o ambiente em que viveu metade da sua vida um grande poeta greco-egípcio de Alexandria.

A segunda, para dar conta de um louco mergulho numa multidão a fazer compras numa estreita e comprida rua. De loucura! Tínhamos pensado que, por ser domingo seria mais calmo que o que nos diziam. Mas nunca poderá ser mais do que o que vimos e aquele banho em que estivemos metidos! Ou é sempre assim. ou foi por este domingo terem começado as aulas. Na verdade, o que mais se mercava eram artigos escolares, cadernos, lápis, borrachas… tirando tudo o resto.
-

Estivemos no interior e centro da cidade. Vamos, agora, para o mar, isto é, até Qeitbay e ali à (ou até à) volta. Depois se conta. Talvez…

domingo, setembro 19, 2010

Poemas cucos (e outras coisas cucas) - 25

Desta vez, o "cuco" viajou. Foi visitar o "ninho" deste que "cucou"...



Traduzido "à maneira"
de
Constantino Kavafis.

ÍTACA

Se partires um dia rumo a Ítaca,
faz votos para que o caminho seja longo
repleto de aventuras, repleto de saber.
Que nem lestrigões, nem ciclopes,
nem o colérico Poseidon te assustem!
No teu caminho jamais os encontrarás
se altivo for teu pensamento,
se subtil emoção tocar o teu corpo e o teu espírito.
Nem lestrigões, nem ciclopes,
nem o colérico Poseidon, hás de ver
se tu mesmo não os levares dentro da alma,
se tua alma não os puser dentro de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo.

Numerosas serão as manhãs de verão
nas quais com que prazer, com que alegria,
tu hás-de entrar pela primeira vez num porto
para correr as lojas dos fenícios
e belas coisas mercandejar.
Madrepérolas, corais, âmbares, ébanos
e perfumes sensuais de toda espécie,
quanto houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades peregrinas do Egipto irás
para aprender, para aprenderes dos que sabem.
Tem Ítaca todo o tempo na tua mente,
estás predestinado a lá chegar.

Mas não apresses nunca a viagem!
Melhor será se muitos anos levares de jornada
e fundeares na ilha já enfim velho.
Rico de quanto ganhaste no caminho
sem esperar pelas riquezas que Ítaca te venha a dar.
Uma bela viagem te levará a Ítaca,
se não for assim, não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre a ela dar-te.
Ítaca não te iludirá
se a achares pobre,
foste tu que te tornaste sábio,
um homem de experiência.
E, então, sabes!

Então, sabes o que significam Ítacas.


in (mais ou menos...) O Quarteto de Alexandria

Uma entrevista a um candidato

Li, com o maior interesse a entrevista a Francisco Lopes num diário. Interesse talvez acrescido pelos quilómetros a que, por uns dias, estou longe de Portugal. Diria empenhadamente distanciado.
É verdadeiramente revelador (e chega a incomodar!) o questionário, quase se podia dizer a tentativa de massacre, com o estendal de todos os preconceitos, falseamentos históricos, contas erradas, ideias feitas.
Nem digo que seja culpa do entrevistador. Ele apenas foi... intérprete de uma imagem de classe que se pretende colar a um candidato (ou tão-só militante) comunista, logo, de outra classe.
Mas digo... ainda bem que foram aquelas as perguntas. As respostas de Francisco Lopes são esclarecedoras (para quem quiser ser esclarecido, evidentemente!) do que é ser comunista e da qualidade de quem, nesyas eleições que se aproximam, se candidata. Para quem, de entre nós, tivesse dúvidas: temos candidato!

Obrigado, Cid Simões, pois pode ler-se em aspalavrassaoarmas a entrevista na íntegra.

Alexandria 4 – PRIMEIRA VISITA A UM "TEMPLO DE MUSAS"

Bom dia, Alexandria!, disse Justine ao acordar.
E, ao pequeno almoço, reviveu pedaços do Quarteto. É curioso: as minhas recordações são políticas – Assuan, Canal do Suez, Movimento dos Não-Alinhados – ; as dela são literárias, embora também com carga política, porque o Quarteto retrata um ambiente em que a política está muito presente. E onde não está?
.


A nossa visita de ontem à Biblioteca, logo à chegada, terá de ser repetida, embora nenhuma visita se repita. Então a um edifício como aquele! E se a história da Biblioteca dava para um romance… tendo o Quarteto sido escrito no intervalo em que, em Alexandria, não houve Biblioteca.
Na história da Biblioteca de Alexandria se comprova o que por aqui já chamei o helicoidal da História. Alexandre teria querido fazer da cidade de seu nome a capital intelectual do mundo antigo, aberta ao mar (ao Mar, ao Mediterrâneo) e às culturas. Daí, a primeira Biblioteca de Alexandria, num complexo museu (num “templo de musas”), com a ambição de juntar todos as obras escritas pelo homem!
Assim começou a ser, até à sua destruição – por incêndio vindo do mar – há mais de dois mil anos. E em 2002 foi inaugurada a nova Biblioteca de Alexandria. Uma obra que retomou a ambição e, por isso, de dimensão e arquitectura impressionantes. De arquitectos noruegueses. Integrada num complexo universitário.
E mais não digo. Não é este o lugar para contar. Para contar tudo isto (e bem, e com números) há outros lugares.
Aqui, só uma vista da maior sala de leitura do mundo.
E reflexões avulsas.

Na defesa do Serviço Nacional de Saúde


Informando-me (embora à distância...) e procurando divulgar informação, a declaração final de Jerónimo de Sousa numa iniciativa de defesa do serviço público de saúde.

Sobre Cuba


Para que não haja confusões sobre tomadas de posição... ler aqui

sábado, setembro 18, 2010

Alexandria 3 – PELA ESTRADA DO DESERTO

Pela estrada do deserto. Larga e nova e com as margens a serem privatizadamente ocupadas.
A caminho do (re)encontro com o Quarteto de Alexandria. Um adiamento de mais de 20 anos, sobretudo para quem hoje é mais conhecida, na blogosfera por Justine do Quarteto. A quem, há de 20 anos, foi tirada uma fotografia, no Cairo, ao lado do sinal rodoviário que indicava Alexandria – 220 kms. Com ar triste. Bem diferente do de hoje. Que aqui não registo, também em foto. Cá por coisas…
.
Por isso, também um reencontro com as memórias. Como todas as viagens. Nesta, além das memórias tão pessoais, as dos anos 50 anos e que, sendo colectivas, também minhas são. E que muito fortes são.
O caso do Canal do Suez, da sua nacionalização, fez História e se, na História o caso se esfuma ou apaga, na minha lembrança reaviva-se com toda a importância que, para mim, teve.
O então novo Egipto projectava uma grande barragem, a de Assuan, contava com financiamento internacional, do FMI e de países ligados ao Canal, como o Reino Unido e a França. Esse financiamento foi negado, e o Egipto de Nasser, em resposta, resolveu nacionalizar o Canal do Suez – em 1956 –, abrindo uma crise de enorme importância de que saiu vitorioso, com o apoio da União Soviética.
O facto (histórico) é que, em resultado dessa firme posição (e dos apoios), houve uma grande mudança nas relações internacionais, e Nasser ganhou prestígio e pêso, logo acrescido pela criação do Movimento dos Países Não-Alinhados, cuja responsabilidade (protagonizada) partilhou com Neru e Tito.
Assim se podem ilustrar os avanços e os recuos da História no seu caminho. E é significativo escrevê-lo no Egipto, em Alexandria. Onde já estamos. E onde já estivemos, para uma primeira visita, na Biblioteca. Que é qualquer coisa de impressionante.
E a Justine instalada no Hotel Cecil! Tão referido no Quarteto. Com um Bar Monty (onde se espera ver aparecer a Clea e o Baltazar). E a tentar esquecer que, ao nome de Cecil se junta, agora, Sofitel.
Ventos, avanços e recuos da História.

... alguém há-de escapar!

Entre os mortos (de Keynes)
e os falidos (de Attali)
por aqui, alguém há-de escapar
(e uns poucos muito bem...)
e todos se julgam alguém!
(ilusões não faltam, também)
.
«Romeiro, romeiro!, quem és tu?»
e Garret enganou-se ao transcrever;
o que Sousa Coutinho respondeu foi:
«Alguém!»
... e entre a morte de uns
e a falência de outros,
alguém há-de escapar!

Um dicionário e uma palavra – 4

A mercadoria como artigo de dicionário, ou “entrada”?… já lá vamos.
Antes, ainda, e por causa daquela discussão que referi em anterior mensagem, deixo ainda uma última citação de Pierre Vilar (e muitas mais faria, ou virei a fazer, noutros tempos e lugares). Diz ele: «Depois de Sweezy, Schumpeter, Joan Robinson, deixou de se discutir em Marx a sua qualidade de economista teórico (como o fez Keynes e o faz ainda P. Bigo); mas será igualmente errado procurar nele o economista puro (sublinhado no original), que da economia faz uma filosofia de existência. Definimo-lo como “o primeiro cientista que propôs à verificação experimental uma teoria da evolução das sociedades”.»
Estarei agora (mais) liberto para tratar do que motivou esta série de mensagens. Da mercadoria enquanto “entrada” no Dicionário de Jean Romeuf.
O certo é que confrontei, de novo, o facto verdadeiramente insólito de um dicionário de economia “sério”, com uma posição em que se lhe pode encontrar uma preocupação científica – até pelos colaboradores e a “abertura” –, não trazer a “entrada” mercadoria ao chegar à tradução para edição em português.
Ainda algumas notas prévias deixarei, por exemplo com referência a um projecto frustrado, como tantos outros e, como tantos outros, retomados mais adiante e de outras formas, que foi o do Pequeno Dicionário de Economia (PeqDicdEc),
editado pela Prelo, que tinha a intenção bem explícita «… talvez mais do que qualquer outro (…) ser simples, directo, o contrário do especulativo. E curiosamente (ou, talvez…, dialecticamente) aparece aliciante a oportunidade de, por forma complexa, apresentar o simples, de, por hipérbole, afirmar o directo, de, com especulações, se negar a intenção especulativa.»
Ser simples, directo… uma obsessão que, no entanto, não pode ceder um milímetro à facilidade, á ausência de rigor!
As palavras, o vocabulário! Dizia Emílio Bottigelli (citado na introdução do PeqDicdEc): «O problema da exactidão do vocabulário é um problema delicado. É certo que durante algum tempo subsistem em Marx termos que estão relacionados com conceitos antigos, mas cujo conteúdo é novo. Mas como é possível apartar o que representa sobrevivência, e se tornará caduco, daquilo que é sinal de um pensamento novo? Como é que se pode datar a transição de um pensamento científico?»
E... sobre mercadoria?
No PeqDicdEc, que era um dicionário atípico, com as palavras a “arrumarem-se” não por ordem alfabética mas por um critério (claro que muito discutível) de oportunidade, nesses anos de 1974 a 1978!, lá está, mas apenas no 4º volume porque, antes, pareceu importante (se alguma tinha ou teve) definir e reflectir sobre nação, economia política, teorias económicas, valor, exploração capitalista, classes sociais, classe operária, classes médias, sindicato, mais-valia, trabalho, estatística, “entradas” do 1º volume.
Era o meu blog de então…

sexta-feira, setembro 17, 2010

Alexandria 2 – PARAGEM A CAMINHO DE

Esta é uma viagem ao (re)encontro de um (de quatro) livro(s).
A paragem no Cairo é para escala, recordar e tomar balanço. Mas o Cairo impõe-se.
Já o conhecíamos – mal – e estamos a conhecê-lo – mal – de forma diferente. Hoje é sexta-feira, e de manhã, ao sair do hotel, aqui nas cercanias estava tudo fechado. É o dia para descanso semanal e para rezar. O guia explicou-nos, como quem fala da sua vida.
São perto de 20 milhões, os habitantes do Cairo. O dobro dos portugueses em Portugal! E para quem veio de uma pequena aldeia de centenas (e escola fechada), de um concelho de dezenas de milhar, 20 milhões, mesmo adormecidos, quase assusta. O que vimos ontem à noite é que assustou mesmo e, à medida que foi correndo o dia, fomos vendo a cidade a acordar, aqui e ali diferente como se a viagem cá dentro nos transportasse a várias cidades.
Há uma cidade cinzenta, degradada, empoeirada, há a “cidade dos mortos”, um extensíssimo cemitério com 200 mil vizinhos habitantes vivos, ou ainda sobreviventes, há a cidade dentro das mesquitas, onde se manifestam com grande aparato policial às portas para que de lá não saia a manifestação, há, do outro lado das pontes, uma cidade que parece europeia (burguesa)… observámos nós. Não estou, evidentemente, a fazer uma crónica de viagem, mas tão-só a trocar umas impressões convosco. É impressionante, melhor: é impressivo este sentimento de estar num outro mundo. Fiquei marcado por aquela informação de que este ano é o ano 6 mil e tal de um talvez primeiro calendário, eu que tão orgulhosamente refiro 8 séculos de (nossa) História.
E sentir-me-ia esmagado se me tivesse surpreendido a pensar nestes milénios de História em que tropeço, nesta ideia de antiguidade que nos toma aqui, em tudo o que aqui começou e por aqui passou. O guia falou-nos dos romanos, e dos gregos, e dos árabes, e dos mameluques, de Mohamed-Ali, e dos franceses, e dos ingleses, e dos chiitas, dos sunitas e dos fatimistas, e de mais estes e de mais aqueles, e depois disse que só em 1952 os egípcios começaram a governar o Egipto.
Os egípcios? Há "os egípcios"? E governam o seu País com nem sei quantos milénios antes de Cristo e mais os que vieram depois (e estamos nós – tão pequeninos – no 3º milénio recém-começado), governam este Egipto, hoje com mais de 80 milhões, e dependente do turismo e de “ajudas” financeiras externas?
Como o mundo é antigo e grande! E como há quem julgue – e actue – como se o mundo tivesse nascido quando ele foi parido e acabará quando ele for" desta para melhor" (e para que seja "melhor que esta", rezam, confessam-se e penitenciam-se dos pecados menores, e fazem caridadezinha para compensar os pecados maiores).
E sinto – estou a sentir coisas… – que há… os egípcios, como uma massa de gente que está ligada a toda a que antes de si aqui viveu. E o que viveu!

Um CONHECIDO humorista que nos fez “sair do sério”.

Ricardo Araújo Pereira é um profissional do humor. Achava-o um bom profissional, e achava-lhe graça. Já me fez rir muito...
Há tempos que só o via, de relance, a fazer publicidade. A ganhar tristemente a vida. E sabia que fazia crónicas para um semanário que não costumo ler.
De súbito, tenho notícias dele.
De repente, para mim, perdeu a graça toda. E dificilmente a recuperará porque colocou a sua qualidade profissional ao serviço de uma campanha baixa, suja, com PCUS e Brejnev como “bengalas” para atacar o PCP e um seu “desconhecido candidato”.
Se se tratasse de desculpar a “gracinha”, RAP teria ainda menos desculpa porque ele sabe que se tivesse continuado onde já parece que esteve, ainda seria desconhecido ou quase, independentemente da qualidade (potencial) que o poderia fazer (e fez) um profissional de sucesso na área do humor. Conhecido!
Tem su€esso e é conhecido. Pena é que não tenha guardado uns restos de seriedade.

As eleições para a Presidência da República - reflexão 5

Nenhum candidato que mobilize votos do eleitorado “de esquerda” é a mais!
Perguntar-se-á: mas isso não representa “afunilar” as eleições para Presidente da República numa luta por uma segunda volta?
Poderia ser – e secundariamente será – se não houvesse outros objectivos. E há!
Como sempre, o objectivo de transformar uma campanha eleitoral numa sucessão de actos que, aproveitando as eleições, sejam mobilizadores, esclarecedores, de tomada de consciência das massas.
Colocada a ressalva, retome-se a via dos números.
Neste momento, há 4 candidatos reclamando-se “de esquerda”, ou procurando mobilizar votos de eleitorado “de esquerda”. Um não o será explicitamente, na ambiguidade que caracteriza a sua candidatura, mas tem por detrás quem procurará fazer esse “trabalho” e, com a sua tão decantada "esperteza" de experimentado animal político – aliás, com recentes resultados que bem contrariam esse decantamento… mais parecendo desencantamento – ir ganhar eleitorado neutro (?) ou “de centro”.
Assim, vindo de 2006, ter-se-ia um potencial eleitorado que se transferiria para o candidato apoiado pelo PS e pelo BE e. em vez de 3 escolhas, passaria a ter… 3 escolhas, assim podendo fugir-lhe algum. Que é preciso reter... votando!, procurando que não parta para a abstenção ou para votos brancos ou nulos.
Bem como, ao nível de todos os candidatos, é preciso lutar contra a abstenção e contra os tais 100 mil que, nas urnas, teriam expressado o que quer que seja, votando branco ou nulo, o que fez faltar os 32 mil votos expressos que elegeram Cavaco Silva, dando uma imagem - que é a que existirá... de um vencedor à vontade nas eleições de 2006 e de candidato privilegiado - que não é real mas construída, e nada favorável para o lado subjectivo das lutas.