sábado, abril 30, 2022

No regresso, emocionado, de um excelente espectáculo 
AMARAMÁLIA 
pela Companhia Portuguesa´de Bailado Contemporâneo, 
no Teatro Municipal de Ourém
 

sexta-feira, abril 29, 2022

"LINHA VERMELHA"

  - Nº 2526 (2022/04/28)


Linha vermelha

Opinião

A nova estrela das graves ameaças à ordem do mundo ocidental é uma monarquia constitucional com uma assembleia legislativa, num arquipélago que foi um protetorado britânico até 1978 e com uma população que há dois anos não ia além dos 686 878.

Para quem não gosta de charadas, esclareça-se desde já que se trata das Ilhas Salomão, microscópico país da Oceania (uma área de 28 450 km2) situado no Sudoeste do oceano Pacífico, vizinho da Austrália, que por estes dias de Abril teve a ousadia de assinar um acordo em matéria de segurança com a China.

«Controverso», «polémico», «pode afectar a segurança de toda a região», está a provocar uma «onda de choque», foram algumas das expressões utilizadas na imprensa, Portugal incluído, para dar conta de que os sinos tocam a rebate nos centros de decisão do imperialismo norte-americano e afins.

Na sexta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros japonês, Yoshimasa Hayashi, dizia acreditar que a segurança da região da Ásia-Pacífico pode estar ameaçada, pelo que o Japão acompanha «com preocupação» o desenvolvimento da situação. No domingo, era a vez de o primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, alertar para o facto de que a eventual construção de uma base militar pela China nas Ilhas Salomão seria uma «linha vermelha» para vários países da região e também para os EUA.

Recorde-se, a propósito, que a Austrália é, juntamente com os EUA e o Reino Unido, um dos subscritores do AUKUS, a aliança político-militar que visa, entre outras coisas, dotar a Austrália de armas nucleares para fazer face à China, agora considerada como uma «ameaça sistémica» à hegemonia americana.

Mais directos ainda, os EUA enviaram uma delegação de alto nível às Salomão com uma mensagem clara, conforme um comunicado da presidência norte-americana: se o governo daquele país autorizar Pequim a «estabelecer uma presença militar, de facto», isso levantará «sérias preocupações» aos EUA, que «retaliarão em consequência».

O aviso – ameaça? – especifica que o direito de retaliar também se aplica no caso da fixação de qualquer «instalação militar» ou «capacidade de projecção de força» que permita uma implantação chinesa na região, e enfatiza que os EUA vão «acompanhar de perto os desenvolvimentos em consulta com os seus parceiros regionais».

Não vá alguém confundir Biden com Putin, a Casa Branca garante «respeitar o direito» das Ilhas Salomão de tomar as suas «decisões soberanas».

A avaliar pela ausência de comentários críticos, parece que toda a gente bem (in)formada considera legítimas as preocupações de Washington com este potencial perigo a... 11 895 km de distância. Qualquer semelhança com as alegações de Moscovo, com a NATO à porta, são, naturalmente, pura coincidência.

Anabela Fino


terça-feira, abril 26, 2022

Um momento (histórico, longo) de viragem-1


Por formação (ou deformação) académica/profissional, encontramos evidentes diferenças nas aproximações da actual (e gravíssima) crise que estamos a viver, diferenças que nos estão a concitar particular atenção.

Há, claramente, duas maneiras de encarar a situação no que respeita à economia política.

Por um lado – chame-se-lhe “ocidental”…–, parece que todos os comentaristas (ou comenta dores) que, querendo ou sendo convidados a tomar uma posição não-política (como se a houvesse), se assumem como “economistas (professores… e upa-upa), analisaram e analisam as medidas de sanções económicas decididas para penalizarem a iniciativa russa. A que eventualmente se referem de passagem, no tom consensual, claro e acusatório, de repúdio e de solidariedade para com o povo agredido, como se a operação militar da Rússia não tivesse tido antecedentes e escalada a provocá-la.

De qualquer modo, desde o começo, houve declarações, ou se vislumbraram prevenções quase assustadas, por parte dos “economistas” deste "lado", quanto aos efeitos e vítimas das sanções económicas. Sanções que, decerto, teriam sido decididas após consulta a abalizados “técnicos” da área da economia política.

Desde o início, se tornou claro, para os comenta-dores “economistas”, que essas sanções iriam repercutir-se seriamente nas economias europeias, ou na economia europeia (se acaso ela existisse como um todo, de uma formal União Europeia), que tinham criado dependências com o “outro lado”, com o alvo das sanções.

E houve quem até aventasse que as consequências negativas (de boomerang…) levariam a substituir essa dependência por uma outra, relativamente aos Estados Unidos, não menos assimétrica… mas entre parcelas da mesma soma, num acréscimo do indesejável (para quem?) unicentrismo. Não faltando uma ou outra voz – talvez por demasiado europeístas… – a insinuar que, para além da Rússia, as sanções tinham (também) como alvo a “Europa” e as suas veleidades independentistas ou de multi-lateralismo.

E as perspectivas não são nada favoráveis, com uma inflação a trope e a caminho do galope. Como seria de prever com as vítimas do costume, os cidadãos de rendimentos fixos ou nada elásticos – salários e pensões –  enquanto as minorias de rendimentos variáveis – particularmente, alguns lucros e especulações – encontrarão forma de engrossarem, se for caso disso devorando alguns menos precavidos.

Uma questão de classe.

Tudo com base numa configuração da actividade económica vinda do final da guerra de 1939-45, de acordos firmados em Bretton-Woods, com a criação de um FMI e um Banco Mundial, e toda a economia internacional a ser regulada por via de uma moeda então pletórica, expressão de uma economia nacional que (quase só) tirara vantagens do conflito, substituindo impérios por um pólo (a opor-se, com toda a força das armas e não só, ao “outro lado”, aos que mais tinham sofrido a guerra e a ela resistido).

As correlações de forças – nacionais e universal – determinavam a(s) ordem(ns) económica(s) internacional(is), que, com maior ou menor variação, se mantivera(m) mesmo para além da decisão verdadeiramente fulcral de transformar a moeda em que se sustentava o edifício bretton-woodiano, num papel verde, em que bem se advertia que era em deus que se devia confiar (e só nele), pois a base de 35US$=1 onça de ouro deixava de ser convertível, base… para o que quer que fosse, salvo para o poder(io) dos Estados Unidos.

Assim, a tudo resistiu Bretton-Woods, e até mesmo à outra super-potência, e sua ordem específica internacional, que não teve forma de escapar a esse ludíbrio de as relações económicas internacionais sempre mais estreitas terem por base uma moeda que se desmaterializava.

Encurtando razões (ou o que quer que seja), significativo é que em 1989, nas vésperas ou madrugada de grandes transformações na ordem económica internacional, assinava-se um Consenso de Washington, entre as instituições monetário-financeiras de Bretton-Woods, consenso assente nessa moeda que nem seria já bem uma moeda mas o tal papel verde in God we trust. Fidúcias...

Dominava o pensamento económico (e a acção económica) a síntese ou mescla monetarista, misturando neo-clássicos com escola de Chicago, estando como reserva da síntese (que apenas exclui… a crítica da economia política) o eventual recurso ao pensamento keyneseano para responder a mais complicadas correlações de forças sociais, nunca se pondo em causa a prevalência da economia (de mercado, evidentemente) sobre a política, sem sequer merecerem menção as vertentes social, cultural e ambiental.  

talvez continue...


domingo, abril 24, 2022

Será que ainda sei falar (ou ler) português?

 

Será que ainda sei falar (ou ler) português?

4 cometários antes das "últimas leituras" de hoje (porque haveria muito mais a ilustrar como se pega tudo que se diga pelo lado do preconceito, pelo avesso das intenções e do que é dito... ou não será que os ucranianos estão a ser transformados em ou mortos ou gloriosos, numa "guerra por procuração (ou por provocação de outros)?!): 

Título: Comunista António Filipe compara invasão à Ucrânia com anexação de Goa, Damão e Diu

 

O histórico militante do PCP António Filipe comparou a invasão da Rússia à Ucrânia com a anexação de Goa, Damão e Diu por parte da Índia.

Desta vez, António Filipe criticou a decisão de Emmanuel Macron enviar armas e mísseis antitanque para as forças ucranianas.

“Esta atitude faz quase lembrar a atitude de Salazar em relação à Índia, em que a Índia também era agressora e ele dizia que só há soldados portugueses, perante uma desproporção de forças manifestas, ou mortos ou gloriosos”, disse o político no programa Expresso da Meia-Noite, na SIC Notícias.

Quanto à questão de a Rússia se recusar a usar a palavra “invasão”, o comunista diz que isso é um mero fait divers.

“Quer que eu diga que houve uma invasão? Houve[DSR1] , atirou[DSR2]  António Filipe, que admitiu ainda condenar a guerra. “O PCP sempre condenou e sempre achou que isto não devia ter acontecido”[DSR3] , acrescentou, citado pelo Observador.

O que dizemos que outros não dizem[DSR4]  é que guerra começou em 2014 e que houve uma clara violação por parte da Ucrânia dos acordos de Minsk, que previam um estatuto de autonomia nas autoproclamadas republicas de Donbass nunca foi levado à prática”, disse ainda o ex-deputado.

 


 [DSR1 ]Isto foi a resposta de AF!

 [DSR2] atirou quer dizer respondu?

 [DSR3] Isto é reconhecido? Ou é tão só posto de pernas para o ar?

 [DSR4] E porque é que não dizem? Por ser verdade quanto estão a afogados em mentira e em desvirtuação para atacar o PCP?

sexta-feira, abril 22, 2022

... são os nossos borregos!

Tanto tempo sem aqui vir! Se alguém o terá notado - além de mim... -, apenas porque o virus que por aí andou não se quis despedir (se é que se despediu!) sem visitar esta casa, porque houve uns trabalhos extra... e daí o silêncio. Por vezes, dorido e soltando berros de irritação ou zanga... É que têm abusado da manipulação! E, como não estou para muitas conversas neste regresso, deixo, depois do sempre pedagógico Jorge Cadima , um poema-grito de Afonso Duarte (1884-1958), de que Lopes Graças fez uma extraordinária pequena canção coral.  


 - Nº 2525 (2022/04/21)

Mais guerra?

Opinião

É evidente a vontade dos EUA/UE em prolongar o mais possível a guerra na Ucrânia. Mas o belicismo está também patente no outro extremo do planeta: os EUA repetem na ilha Formosa (Taiwan) o guião da Ucrânia.

Contrariando as palavras de respeito pela integridade territorial da China, proferidas durante a video-cimeira entre os presidentes Xi e Biden em Março, a presidente da Câmara de Representantes e terceira figura na hierarquia do poder nos EUA, Nancy Pelosi, anunciou uma visita a Taiwan, entretanto adiada, alegadamente por COVID. Uma semana mais tarde, seis congressistas dos EUA «das comissões militar, dos serviços secretos, negócios estrangeiros, justiça e finança» (globaltimes.cn, GT, 15.4.22) visitaram a ilha chinesa, incluindo o falcão de todas as guerras Lindsey Graham. Já em Março, houve uma visita de altos funcionários militares e dos serviços secretos dos EUA.

Multiplicam-se as vendas de armas à ilha, que nem é oficialmente reconhecido como um país pelos próprios EUA: 750 milhões de dólares no ano passado (thedefensepost.com, 6.8.21); 100 milhões em Fevereiro (CNN, 8.2.22); 95 milhões em Abril (Al Jazeera, 6.4.22). Enquanto ardem as chamas da guerra na Ucrânia, seria lógico não instigar novos focos de conflito. Assim seria se o imperialismo em decadência não quisesse a guerra. Mas quer. E tal como empurrou a Rússia para a guerra da Ucrânia, está a tentar empurrar a China para uma guerra sobre Taiwan.

O jornal Global Times afirma que «a natureza enganadora e a duplicidade da política dos EUA face à China fica plenamente exposta» (GT, 9.4.22). O MNE chinês exigiu que Pelosi não apenas adie, mas cancele a visita (GT, 9.4.22). A resposta chinesa também tomou a forma de manobras militares, que o GT descreve (15.4.22) assim: «o Exército de Libertação do Povo está pronto para o combate e tomará todas as medidas necessárias para esmagar resolutamente quaisquer tentativas de ingerência por parte de forças externas e iniciativas secessionistas […] de forma a preservar a soberania nacional e integridade territorial». Entretanto, os EUA empenham-se também em desestabilizar o Paquistão e ameaçar a Índia, «culpados» de não terem alinhado com a estratégia de sanções e belicismo contra a Rússia (GT, 12.4.22).

O militarismo é sempre acompanhado pela mentira e autoritarismo. O Público, jornal do grande capital que defendeu todas as guerras do imperialismo incluindo a invasão do Iraque, indigna-se com quem levanta suspeitas sobre a propaganda de guerra. Suspeitas expressas pelo marine e ex-inspector de desarmamento dos EUA e ONU, Scott Ritter, que testemunhou directamente as mentiras do Iraque. Ritter afirma-se convencido que o massacre de Bucha foi uma provocação, em que «a Polícia Nacional Ucraniana assassinou civis ucranianos», atribuindo depois «a culpa aos russos» (consortiumnews.com, 13.4.22). Por argumentar essa posição, foi suspenso do Twitter.

Quem pensa que a censura se deve à Ucrânia lembre-se de Julian Assange. Preso no Reino Unido, muito antes da Ucrânia, por divulgar as mentiras e crimes das guerras imperialistas. A guerra e a mentira estão no ADN do sistema. Que hoje ameaça conduzir a Humanidade para a catástrofe.

 Jorge Cadima


A bacanal do mando continua,

Senhor da Cristandade!

E sobre a Cruz, uma criança nua

É a legitimidade


Senhor! Não somos nós que nos vendemos,

São os nossos borregos.

- Servos à corda, meu Senhor, bailemos!

Na Cruz há sangue e pregos!