sexta-feira, agosto 31, 2007

Afinal foi dito o que eu duvidei ter ouvido...

Quando ouvi, pasmei. E pasmei tanto que pensei ter ouvido mal. Era lá possível! Então o sr. secretário de Estado ia lá dizer uma coisa daquelas...
Mas, pouco tempo depois de eu chegar a casa, logo logo entrava uma familiar, que também tinha vindo a ouvir rádio durante a viagem, e também vinha pasmada. Para mais, essa familiar até é professora - e foi das que "ganharam" o título de titular - pelo que ouvira a conferência de imprensa ainda com mais atenção que eu.
Pois o sexa disse mesmo o que me custava a crer que pudesse ter sido dito por ele e ouvido por mim. Disse que está aberta uma investigação para se saber se não teria havido professores que tivessem informado os seus curriculos abaixo das pontuações a que tinham direito, com intenção de se prejudicarem. Porquê??? Por masoquismo??? Não!... "para descredibilizar o sistema"!!!
Se isto não é doença, não sei o que o será. Ele há cada um!
Ao que leva a incapacidade de assumir falhas... do sistema, e patológicas tendências persecutórias (de perseguido e perseguidor)!

quarta-feira, agosto 29, 2007

... tantas vezes antes de tempo...

Ficou a marinar esta expressão num comentário que aí está num outro "post".
"... tantas vezes antes de tempo..."!
E não será, sempre, antes de tempo quando ainda se está lúcido e tanta coisa há para fazer?
Uma vez, no enterro de um camarada muito mais jovem do que eu, caiu-me em cima a angústia de pensar o que eu não teria feito - o que eu não teria vivido, o que eu não teria sido! - se tivesse morrido com a idade daquele camarada. E mais, ainda!, senti a sua morte, e mais ainda sofri o que iria ser a sua ausência da nossa luta.
Foi cá uma pedrada!
Mas... como reagir? Pois abrindo os braços à vida, agarrá-la a mãos ambas... e continuar. Aproveitando a única oportunidade de se estar e ser... e de se ser feliz! Sou-o!

terça-feira, agosto 28, 2007

Ai... como isto está!

.........................“Apoiar a igualdade de “chances” significa
.........................equiparar os alunos dotados
.........................a angolanos requerentes de asilo”
.........................
(Ueli Maurer, presidente do principal partido
.........................suíço, Partido do Povo,
.........................in Expresso de sábado)

Que o mundo é feito de contrastes já por cá se sabia. Mas não era preciso exagerar tanto! Porque, assim, há os com trastes e há os sem trastes. E alguns há que são mesmo uns bons trastes.
Que a vida é feita de contradições deveria ser por todos sabido. Mas não valia a pena que as contradições estivessem tão em contradição com o humano ser.
E se o mundo é feito de contrastes e a vida de contradições, o homem é feito de hábitos (embora não façam o monge…), e, ao folhear o Expresso, que habitualmente leio ao fim de semana com prolongamento pela semana que entra, fiquei impressionado. Vejam lá, com esta idade e tudo o que vivi ainda me impressiono...
Ele foi, na página 15, «Isaltino (que) constrói bairro para “gente rica”», e eu a pensar na gente que vive no concelho de Oeiras e da Amadora, em verdadeiras “favelas”.
Ele foi, logo na página impar seguinte, na 17, os «cavalos (que) trazem “reis das Arábias” a Portugal», com os impressionantes (e insultuosos) números e cifrões (perdão, já não é $, é €) tudo aos milhões, menos os Porsches Cayenne Turbo alugados há semanas e que são só às dezenas, e os andares do Hotel Ritz (e parceiros) requisitados/reservados há meses e que são apenas às unidades, e eu a lembrar-me que, para o dia desse evento “hépico” (8 de Setembro) em Alcochete, estarei por ali perto, no meio de outra gente, de muita e variada outra gente, de outra festa (da Festa!), de outra vida para que a vida seja outra.
E viro as páginas à pressa – para delas me libertar, para afastar estes cálices de mim – mas ainda apanho com o «megaprojecto de “A nova Luanda”», que, ao ler em diagonal, me deixa confuso, triste, sei lá… e não consigo, eu que conheci Luanda em 1958, antes da guerra, e a conheci depois da guerra mas ainda guerra outra, com “carnavais da vitória”, ver o Mercado Roque Santeiro – a mais espantosa manifestação de sobrevivência e imaginação, ao nível de um povo que resiste, com tudo o que há de excelente e de péssimo no ser humano, e de onde vislumbrei(-me) com a deslumbrante baía de Luanda – “a dar lugar à construção de uma nova urbanização, que incluirá a edificação de uma gigantesca unidade hoteleira com capacidade para 700 quartos” e a imponentes “hipers” , “shoppings centers” e essas coisas.
Sei lá... Fico absorto. Diria, como o Cervantes disse, pelas bocas do D. Quixote e do Sancho Pança, que este mundo está mesmo torto, muito torto. E oscilo entre a vontade de desatar à espadeirada a todos os moinhos de vento e a desesperança tolstoiana, confinando-me – até me finar – a este cantinho do Zambujal.

A propósito (ou a despropósito), poderiam vir sheiks a cavalgar cheques, Isaltinos com gente rica atrás a a(ba)rrotar euros, empreendedores amarelos da China, pretos da África ou deslavados da Rússia pós-o-que-foi sempre à procura de Angólias e de Allgarves, toda essa chusma a querer também apropriar-se e ocupar este pedacinho desvalioso – porque nada lhes pode escapar… – e teriam uma resposta gritada aos berros, se preciso com apoio de caçadeira: não está à venda, nem a terra nem quem dela é dono!
E mandá-los-ia para a mãe deles, acossados por obscenidades que lhes largaria nas costas e nos rabos entre as pernas, com as quais, diga-se neste suponhamos, não quero ofender os olhos de quem me lê (se é que há…).

segunda-feira, agosto 27, 2007

postalinhos

Mas hoje, sim!
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Hoje, escrevo.
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E começo por dizer que se todos os mortos são nossos, o que aceito, isso pode levar a que nenhuns mortos nossos são.
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Todos os mortos são nossos, sim, porque nós somos todos os que vivos são e foram, porque cada ser humano que morreu e morre somos nós, também, que morremos nele, mesmo que a desconheçamos, que em nada essa morte nos afecte, mesmo que ela nos seja indiferente afectivamente.
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Mas, por isso, também nem todos os mortos são nossos.
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Diria até que, a não ser assim, cada morte (anónima ou não), todas as mortes, seriam sentidas por nós como uma perda, sofrê-las-iamos, e seria insuportável a vida.
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Por isso, nossos nossos, nossos numa outra dimensão, são aqueles mortos de que nós sentimos o seu desaparecimento físico como uma perda irreparável, por esse ser humano que desaparece ser único, insubstituível (para nós, ou para a humanidade tal como a queremos).
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Assim o sinto, e não pretendo, de modo nenhum, que alguém outro o sinta como eu.
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Até porque o homem perante a morte – a sua, mas não só – é… pessoal e intransmissível!
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Mas assim sinto (e penso), e tenho o direito de o dizer, de o afirmar, ao mesmo tempo que, não pretendendo que alguém outro como eu sinta (ou pense), ache estranho que outros que como eu pensam assim não sintam, ou traduzam o que sentem de forma tão discordante da minha.
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Longa a reflexão, as elucubrações?
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Talvez…
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Mas se este homem, que ontem (ou anteontem) morreu foi alguém que, na sua vida, em determinado momento se atrelou a uma carroça, aderiu a um grupo, afirmou partilhar uma ideologia, se colocou num lado da trincheira e… e logo que se apercebeu que a carroça não era dourada e o piso nada favorável lhe era para o caminho, que no grupo havia quem, apesar disso, não abandonava o trilho e até novos e novos reforçavam a equipagem, se negou a ideologia que, intelectual, não podia deixar de conhecer e ponderar e a que aderira, se passou, de armas e bagagens para o outro lado da fronteira, posso lamentar a morte e, até, se acaso os conhecesse, afirmar solidariedade com a sua família e os seus próximos... mas por aí me ficaria.
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Para mais, se, depois desse momento, em que só como oportunista se pode catalogar o seu comportamento, esse mesmo homem, sempre que oportuno e também quando inventava oportunidades, se servia dos meios à sua disposição para atacar o grupo em que estivera de passagem, a luta dos que episodicamente acompanhara, para servir de ponta de lança da insinuação, da calúnia, da mentira que intenta diminuir, desprezar, ridicularizar, destruir a ideia, o pensamento, a ideologia que chegara a abraçar por erro de cálculo, não me curvarei sobre a sua memória.
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E não o aceito como nosso morto.
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Falemos de cultura.
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Será ela neutra, como querem que o sejam as técnicas, a política, o Estado?
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Eu digo que não, que tem um sinete de classe.
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Que vale o argumento de que este homem era um homem de cultura?
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Que etiqueta é esta de “homem de cultura”?
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De que cultura?
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Usada para quê?
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Ao serviço de quê?
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E, por último, é bom perguntarmo-nos se o “prestígio” e a "notoriedade" e a "notabilidade" de quem morreu não eram devidos, também e muito, a ter sido tão persistentemente, tão sectariamente, anti-comunista.
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Quero eu dizer, com isto…, que quem não pensa como eu, quem não defende o que eu defendo, quem não luta como eu luto, não merece, nem mesmo depois de morto, a tolerância de ter pensado diferente de mim, ter defendido outras coisas, ter tido outros valores, ter lutado de outras maneiras, tolerância e respeito adicionados ao respeito que todos os mortos merecem.
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Alto aí!
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De maneira nenhuma.
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Tenho dentro de mim, no meu cemitério interior, mortos que pensavam diferente de mim, que lutavam noutras trincheiras, que se batiam de outra maneira.
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Tudo o que penso, e digo, sobre este morto sobre que ontem não falei e sobre que hoje escrevo, é sobre este morto.
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Que, podendo parecer que não, respeitei e respeito (e até admirei e admiro pelo que dele me chega de alunos e alunas seus, como professor), como ele, desconhecendo-me (naturalmente), nunca me respeitou, porque desrespeitou o que sou.
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Não por estar em desacordo com o que sou, mas por o estar sectariamente… ou de outra maneira ainda pior, por vindicta nem se sabe de quê.
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E, por o ter respeitado enquanto vivo, e por o respeitar na sua morte, não escrevi nada, ontem, do que me senti provocado (não pessoal, nem intencionalmente, claro!) a escrever, nestes dias da sua morte,
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No entanto, hoje, encerrando o episódio e desabafando, não sou capaz de calar o que o camarada Cid Simões, em comentário, sintetizou: hipocrisia, não.
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E, muito menos, aceitar sem reagir aquilo que, vindo de quem vem, que não é hipócrita, possa ser tomado por outros por hipocrisia.
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É um facto!, a notícia, a ideia, a proximidade, a presença da morte, perturba.
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Se quiserem - quem quiser - tomem estes postalinhos como prova disso.

domingo, agosto 26, 2007

A partir de amanhã... no "ficções do cordel"

Quase confesso, e só não confesso mesmo porque não estou absolutamente certo de ter sido, que o tal docordel.blogspot.pt foi inventado para vir a acolher a Parte II de "Uma história de amor e de (s) encontros"... se se viesse a concretizar. E vai. Está preparada, essa segunda parte, em vinte episódios tal como esta que agora terminou. Terá um título, ou subtítulo, "Contando um (re)encontro neste amor que se conta".
Gostaria muito de por lá ver quem, aqui, acompanhou este "folhetim". Que, ao fim de contas e dos contares, ainda não acabou. Longe disso...
Apareçam!

UMA HISTÓRIA DE AMOR ou DE (S) ENCONTROS - 20 e último episódio da I Parte

??!!
As perplexidades
e final (com moral para a história)

Lá de surpresas esteve cheio o dia! Tantas que juraram nunca mais procurarem surpreender‑se mutuamente.

Mas o amor é feito, também, de juras não cumpridas. E renova‑se nas surpresas que se oferecem os que se amam.

FIM
(provisório)







"Como? Perdão?... qual a pergunta?... Como é que eles reagiram à(s) surpresa(s)?"

Ah!... isso seria para uma segunda parte, daria para um segundo conto de amor, deste amor... se para aí estiver virado o contador e adivinhar visitantes/leitores.
De qualquer modo, fica grato pelo estímulo da pergunta pressentida.

Hoje, não!

Hoje, não escreverei sobre quem morreu hoje, e cuja morte foi notícia com nome, retrato, testemunhos, depoimentos. Hoje, não vou dizer o que tenho uma vontade enorme de dizer a quem, hoje, está a escrever sobre quem morreu hoje. Hoje, não!

"em memória" (primeiro editado em "ficções...")

Nestes dias, em que tanto li sobre alguém que morreu (e que respeito, agora que morreu, como em vida respeitei, porque quero, pelos vivos e pelos mortos, ter o respeito que o humano, qualquer humano, merece), impôs-se-me este papel amarelado que aqui reproduzo:

"em memória"

a todos os mortos anónimos

A todos os que morreram
..........sem que alguém o soubesse
..........salvo a polícia que os matou
..........salvo "a política" que os condenara

A todos os portugueses mortos
..........por Portugal/Povo
..........sem que os portugueses soubessem
....................do nome
....................do homem
....................da luta
....................do crime

Hoje,
com estes mortos promovidos a mortos nossos,
com a amargura de um desastre que lhes tirou a vida,
com o peso da injustiça da sua importância relativa


05.12.1980
(num dia em que houve um acidente, que me não recordo qual foi
... mas de que me ficou a memória dos seus mortos)
_______________________________________
Acrescento ainda a tempo (?!):
Curioso, fui investigar. E estou a dizer, sem me conter, "é espantoso!, é espantoso!"
É que esses mortos, promovidos a "mortos nossos", com o peso da injustiça da sua importância relativa (que o podia ser por negativa, por terem vivido e morrido anónimos, ou que o podia ser por empolada por terem vivido e morrido em excessiva notoriedade), foram... Sá Carneiro, Amaro da Costa e quem os acompanhava no dia 4 de Dezembro de 1980.
Ele há coisas...
Por isso, isto tudo vai para o anónimo. Não tem nada de ficção!

sábado, agosto 25, 2007

UMA HISTÓRIA DE AMOR ou DE (S) ENCONTROS - 19

Tudo a postos
para as 19 horas de Lisboa,
para as 20 horas de Bruxelas


Ao mesmo tempo que

ele, antes das 19 horas de Lisboa, 20 de Bruxelas, metia a chave à porta da casa de Lisboa para ficar à espera dela e lhe fazer a surpresa da flor – decerto muito antes das 20 de Lisboa, 21 de Bruxelas –… e do 21° jantar a dois no restaurante de todos os anos, não como comemoração rotineira mas como as estações do contentamento deles que se renovavam,

ela, já depois das 19 horas de Bruxelas, 18 de Lisboa, entrava num táxi, no aeroporto de Zaventem/Bruxelas, para que a levasse ao apartamento onde lhe iria fazer a surpresa de o receber – tinha de ser antes das 20 horas de Bruxelas, 19 de Lisboa... –, com a carteira de que ele tanto estava a precisar, além da água-de-colónia e da garrafa do tinto alentejano preferido, comprados no shopping aeroportuário.

EP...á!

EP...á!, de repente perguntei-me mas como é que me esqueci de colocar aqui a EP?


EP...á!, não é por nada, mas senti a falta desta coisa aqui.


EP...á!, e já a tenho comigo (e outros exemplares que fui distribuindo pela família, amizades e vizinhanças) há bastante tempo.


Mas, EP...á!, a EP fazia aqui falta. A E(ntrada) P(ermanente) tem aqui entrada... permanente.



EP...á!, eu cá sou assim. Paciência.

Hoje, fui à Atalaia!

Já cheira (e muito) a Festa!
E não há festa como esta!

sexta-feira, agosto 24, 2007

UMA HISTÓRIA DE AMOR ou DE (S) ENCONTROS - 18

A verdadeira partida,
que acabou por dar em falso

Ela recebeu o telefonema dele já com o casaco vestido e saco de fim-de-semana a tiracolo.

Que chegara bem, que fazia um tempo mesmo de Bruxelas!, dizia-lhe ele ao ouvido desatento Que já estava cheio de saudades.

Ela aproveitou para lhe lembrar que telefonaria para o apartamento às oito horas (“hora de Bruxelas!”, repetiu, precisa)... “quero fazer-te uma surpresa, embora tenha de ser só pelo telefone… mas tens de estar no apartamento àquela hora!”.

E ele, envolvido na sua conspiração, nem assim apanhou o fio da meada que ela deixara escapar.

Desligado o telefone, ela correu para o táxi que a levaria ao aeroporto.

Onde chegou cedo, com tempo para fazer umas compras no "free‑shop".

quinta-feira, agosto 23, 2007

UMA HISTÓRIA DE AMOR ou DE (S) ENCONTROS - 17

A falsa partida
ou a partida em falso

Ele sorriu… mas só quando chegou ao elevador…

E sorriu à ideia de como ela iria ficar furiosa quando ele não atendesse o telefone em Bruxelas.

Para mais, já não seria a tempo para, furiosa, poder ir a uma sessão de cinema da tarde!

Ele “sabia”, ainda, que a única "vingança" que ela tentaria seria a de procurar alguns amigos livres para irem jantar. Também já demasiado tarde.

De qualquer modo, mesmo que encontrasse alguém disponível para esse jantar, isso obrigá-la-ia – ele conhecia-a… – a ir a casa mudar de roupa. E, quando entrasse em casa, teria a surpresa de o encontrar, refastelado no sofá. Para irem, os dois!, ao habitual jantar de comemoração...

Assim começou, ele, um dia normal de trabalho em Lisboa, como os tinha por vezes, com almoço pelo meio, um dia daqueles sem nada que mereça ser contado.

No entanto, para o contar desta história, vale a pena acrescentar que ele fez dois telefonemas:
· um, para ela, a uma certa hora, e com o cuidado de lhe dizer que tinha chegado bem, como se tivesse mesmo chegado a Bruxelas e ao Parlamento.
· outro, para o restaurante do costume, reservando mesa.
Tudo ao cronómetro!

Apontamento

Que ninguém fique sem a salvação.
Pelo menos, que ninguém fique sem a minha salvação.
Venho pela rua fora e venho salvando, para a esquerda e para a direita:
olá,
viva,
boa tarde,
‘tás porreiro, pá?,
como está?,
tudo bem?,
a família?.
É como dá. É como calha.
Que a vida vos salve como eu vos saúdo/salvo (que, por cá, é esta a confusão dos verbos, que, dizem..., são o princípio de tudo).
Assim seja no reino dos zambujais.
Porque assim será no reino da festa do ávante!.
Ámen!

Bilhete postal

Do Zambujal ao Lagarinho
em 20 minutos e (quase) 4 rotundas

Tinha de estar cedo em Ourém para cumprir uma tarefa (de esperar…). Cedo para um reformado, acrescente-se; demasiado cedo para um reformado que se deita sempre muito tarde, re-acrescente-se.
Engolida a primeira parte do pequeno-almoço, saia apressado para o carro quando uma primeira tarefa me prendeu. Ao ver-me passar a correr (ou quase), o Mounti chamou-me. E não foi com meios miados. Foi imperativo. Onde é que eu ia, com aquela pressa toda e sem lhe prestar a mínima atenção?...
Lá meti os travões às duas pernas, fiz marcha-atrás, fui buscar a escova de alisar pêlos e fui ter com ele àquele canto onde o sol bate tímido na manhãzinha, em cima da almofada onde Sua Excelência se coloca a jeito para a escovadela matinal com que a dona o mimoseia. Ou, na falta da dita, que seja este dito dono. Assim a modos de quem não tem cão e caça com gato. Salvo seja…
Lá teve de ser. Pressionado pelo tempo, fiz duas passagens de escova pelo corpo estirado, oferecendo o queixo, jogando com as patas, brincando calmamente [falta a foto, mas não é só para isso que “ela” aqui faz falta, como (não) se vê]. Mas não podia ser muito tempo… O que originou uns trinados, meio de agradecimento meio de protesto.
De qualquer modo, ao chegar ao carro, senti-me bem ao pensar que não custa nada fazer outros felizes. Mesmo se, ou mesmo quando, o outro é um gato!
Deitei-me (queria, queria) ao caminho, acabando de acordar, e apanhei as obras para a rotunda de Pinhel. Ainda não as percebi muito bem e arrastam-se como se de Santa Engrácia fossem, e lá fiz as reflexões habituais sobre a rotundomania que o poder local trouxe a este País, adjuvado pelo Instituto das Estradas de Portugal, antes desta espectral (e socialista?) privatização. Que seja por obra e graça da Prevenção Rodoviária…
Não tive muito tempo para pensar noutras coisas porque, mesmo mesmo antes da rotunda da Corredoura (recuso-me a chamar-lhe do Intermarché, e eu sei porquê), sou atraído por uma rotunda barriga que, à beira da estrada, parecia fazer companhia a um carro que logo ali resolvera deixar de andar sobre as suas quatro rodas. Para mais, a rotunda barriga mais rotunda parecia porque estava encimada por um chapéuzinho ridículo, contida (?) numa berrante camiseta vermelha, e tinha por baixo uns calções brancos e umas perninhas fininhas que terminavam nuns sapatos ditos de ténis. Digno de ver.
Fiz a primeira rotunda propriamente dita (que, assim, já era a terceira), meti para a quarta (ou seja, a do Ribeirinho), e entrei na Avenida, que nem se precisa de dizer que é do D. Nuno porque é a única desta cidade, percorri-a toda e, ao fim dela, já a entrar na descida do Lagarinho, virei à esquerda e cheguei ao meu destino.
Aqui estou.
No horário, isto é, antes das nove.
Aqui estou. À espera. Cumprindo esta tarefa.

UMA HISTÓRIA DE AMOR ou DE (S) ENCONTROS - 16

Depois do agitado “repouso dos guerreiros”
(melhor se diria da guerreira e do guerreiro),
chegada do dia D,
do começo das “hostilidades”


Por aqueles percalços sem consequências se ficaram e adormeceram, sem mais conversas. Nem grandes, nem pequenas.

Os sonos não foram daqueles calmos, de uma só vezada. Foram sonos de corpos em expectativa, em vésperas.

Depois, vieram os acordares definitivos para o dia, para aquele dia, e foi a correria habitual das segundas‑feiras, transferida para aquela quarta‑feira.

Com a diferença de ela estar mais desperta do que era costume.

Tão mais desperta que, quando ele lhe deu o beijo de despedida, o "até logo" habitual, semanal, ela reagiu e, em vez da matinal entaramelada réplica, também habitual, também semanal, lembrou‑lhe que lhe telefonaria, para o apartamento, às 7 horas, 8 de Bruxelas.

Que se livrasse de não estar lá para a atender!

Assim: “... de não estar lá para a atender!”... !!!

quarta-feira, agosto 22, 2007

No "Presunto", ao almoço

Este é, verdadeiramente, o lugar do encontro de quem vem visitar uma das quintas dos antepassados com quem vem “à terra” matar saudades das sardinhas das quintas… feiras.
Uns, são uma família. 1,2,3, discretos na sua ostensiva fidalguia, falida e mal paga. Têm maneiras… O gesto lento, tranquilo, pausado, repousado, posado (de pose). Estão ali. Chegaram mais cedo e comem cozido à portuguesa.
Os outros, ah!, os outros…, os outros invadem (também são mais, são muitos mais). Passam a porta de entrada em formação avançada. Com comandante autoritário (e pouco garboso) à frente. Dando ordens alto e mau som. Marcando o passo pelos seus passos que vencem espaços como que a mostrarem como venceu na vida (à porrada, primeiro levando muita, agora retribuindo alguma).
Numa segunda avalanche, jovens e miudagem. Fazendo muito barulho. En français, claro.
A fechar o pelotão, andar arrastado, puxando gorduras excessivas, as que vieram de lá haut mas que nunca deixarão de ser de cá bas, por mais de madamas que se vistam e mercis que digam.
Os primeiros, não aparentam incomodar-se mesmo nada. Ignoram soberanamente o encontro. E o encontrão... Continuam a sua conversa como se continuassem a ser capazes de se ouvirem tão baixo falam.
Nem levantam os olhos. Só há pouco, quando tirei uma batata frita da travessa com a mão livre do livro que leio, olharam um tudo nada de viés para esta mesa. Nada de mais...

Coisas destas são para aqui e não são lá para as ficções!

Lenga-lenga para um desabafo
(para ler alto e teatralmente com os parenteses como àpartes - indicações de encenador...)


Em tempos que já lá vão
e que,
(por vezes...)
tenho a tentação
- maquiavélica… talvez malévola –
de querer ver voltar
(por um período curto, diga-se já)
para que os mais novos que eu
(que são quase todos com que convivo)
tivessem a consciência de como eram esses tempos,
e de como está a ser maltratado, desprezado,
o que para eles foi conquistado!
(E se foi dura a conquista!…)

… Em tempos que já lá vão
(– dizia eu… –)
o Excelentíssimo Senhor Ministro do Interior,
servente nomeado por Sua Excelência Excelentíssima,
o Presidente do Conselho de Ministros,
nomeava os Excelentíssimos locais,
e estes escolhiam outros que tais,
Excelências excelênciazinhas,
os vereadores veneradores
e os regedores-presidentes das Juntas de Freguesia.
E assim se vivia,
De nomeação em nomeação,
tudo a bem da nação,
sempre em pé
e sempre em paz,
… podre… mas pás catrapás!




Gritava-se: alerta!

Perguntava-se: quem manda?
Respondia-se: Alerta está! Salazar, Salazar, Salazar.
(Mas que azar… )
Só um – ele! – mandava no Governo Central
(como hoje com o Sócrates…)
Só um – o nomeado – mandava no governinho local
(como hoje com o Catarino
... é do cat’rino!)
O que vale é que nada é igual
– ou tal e qual… – ,
e que a diferença é abissal:

É que, então,
O cidadão tinha desculpa,
era uma ditadura,
a vida dura era,
a sua culpa (máxima culpa!...),
era a de se resignar
– e de se persignar –
não fosse o diabo (ou lá quem fosse) tecê-las
e lá vinham os sopapos e abanões a tempo
que (às vezes acontecia…)
atiravam um mano de um 4º andar abaixo,
ou os conservava em desumanas condições
em aljubes,
em arrecadações
caxientas,
penichentas,
bafientas…
e vá lá, vá lá
que, mal por mal,
antes ali que no Tarrafal




Mas hoje não!
Ai, não!, hoje não é assim.
Não é como era d’antes.
Se manda quem manda e como manda,
se faz quem faz o que faz,
é porque os cidadãos lá os puseram
nos sítios em que se manda,
nos lugares onde pouco se faz e muito se faz fazer,
o cidadão tem culpa
… não há desculpa (mínima desculpa…)
– ou talvez haja
… porque a informação é o que é
… porque as ilusões são o que são.

O certo,
ou o que certo não está,
é que parece igual
o que tão diferente é,
e mais diferente ainda deveria ser.
Já há quem se atreva a consentir
que o cidadão desabafe,
se queixe da vida (ou diga graçolas até…),
embora só em casa ou à esquina do café!
Mas o pior nem é isso,
o pior é estarem ao serviço,
ao serviço de quem de quem pode porque posses tem
(e de mão beijada à mão lhes foram parar)
e lixa como pode (ah!, pró que a língua ia derrapando...)

o parceiro que só trabalha e não tem dinheiro.




Isto tem de mudar tudo sem nada ter de mudar.
É preciso acordar a malta.
É o que falta!



(12.07.2007)

UMA HISTÓRIA DE AMOR ou DE (S) ENCONTROS - 15

E assim passou tempo,
dissimulando uma, disfarçando outro…
Foram cedo para casa, na terça‑feira. Com pressa de dormir porque o dia seguinte seria carregado de surpresas. As que tinham preparado e as que nem adivinhavam que iriam ter.
Procuraram não falar sobre o que pudesse trai‑los, até porque, como se costuma dizer, o diabo – e não só ela – tece-as, e há conspirações – e não só as dele – que são do silêncio.
Apesar disso, correram várias vezes o risco de se desmascararem. De qualquer dos lados das frágeis trincheiras. Só que estavam tão preocupados em se esconder que nem reparavam no que o outro, inadvertidamente, pudesse revelar.
Ele não teve razão para se arrepender, naquela aparentemente calma noite de véspera, de ter começado a contar a belíssima história de O. Henry sobre as prendas de dois amantes que se tinham desencontrado. Ele – o do conto – a vender o relógio de família, que era a sua maior "fortuna", para lhe comprar a tiara caríssima que merecesse os longos cabelos dela, de que tanto se orgulhava; ela – a do conto – a cortar o cabelo e a vendê‑lo para poder comprar a corrente a condizer com o relógio dele. Depois, a surpresa que tiveram os dois quando se encontraram. Ele, perplexo com o novo visual dela, a oferecer‑lhe uma tiara para um cabelo que fora cortado, ela a dar‑lhe uma correia para um relógio que mudara de pulso e de dono.
Nem com o tão revelador conto do O. Henry
ela desconfiou…
Ele suspirou de alívio quando viu que ela não pegara na história que não conseguira deixar de contar até ao fim.
Embora, por ela não o ter feito, ele tivesse sentido o aguilhão das suas permanentes desconfianças, a que não queria chamar ciúme. Estava distraída, e ele sentia isso quase sempre como uma agressão. "Em que é que ela estará a pensar?..."
Como ele
não notou a incontrolada ironia dela…
Ela, apesar de não querer conversar sobre amores, comemorações, prendas e surpresas, ainda se descaiu a ripostar que ele não pensasse que tinha o exclusivo das leituras inspiradoras e da inventiva ficcionista, "sim... porque não penses que és só tu que és capaz de inventar (ou de te lembrar de) contos de amor!... Ainda um dia destes vais ficar surpreendido...".

terça-feira, agosto 21, 2007

Aviso à navegação e aos navegadores

"Uma história de amor ou de (s) encontros" chega hoje ao 15º episódio. Está na recta final (da I parte!). E os leitores (raros mas bons) já começaram a antecipar o final. Talvez tenham uma surpresa... como os protagonistas- Pois se até o narrador se tem surpreendido, como é próprio das ficções!
Entretanto, a "gerência" tem estado a reflectir e a preparar decisões que vai concretizar. O anónimo séc.xxi está uma grande confusão. Aqui vai cabendo tudo que a "gerência" produz blogamente, com excepção da série "No cavalo de pau com Sancho Pança" (talvez a "obra maior") que mora no blog Som-da-Tinta, e que, de vez em quando, aqui vem espreitar e mostrar-se.
Pois foi aberto um blog para as ficções (de - ou do - cordel). Para esse blog vai ser mandado tudo o que sejam ficções, e crónicas, e tentativas de literatice, deste "gerente" (e talvez acolha as de outros).
Já está em funcionamento, a nível experimental. E, ainda nesta fase experimental, hoje vai ser lá colocado, em post, uma crónica que foi publicada no Diário de Lisboa em Junho de 1968 - quase 40 anos! -, descoberta entre os velhos papéis que estão sempre a imiscuir-se na vida do "gerente", e que teve então um razoável impacto, com leitura na rádio e tudo...
No entanto, a abertura oficial será para a parte II de "Uma história de amor ou de (s) encontros". Sim, porque isto não fica assim... Vai é mudar-se, de armas e bagagens, para docordel@blogspot.com.
Aqui ficará o resto. Que é tudo... o que vier à rede.
Saudações

segunda-feira, agosto 20, 2007

UMA HISTÓRIA DE AMOR ou DE (S) ENCONTROS - 14

A “tecedeira” e o “conspirador”,
no mesmo espaço,
em tempo de difícil cohabitação

Tudo a correr bem. Para mais, sem sentirem a pressão da partida na segunda‑feira de manhã, ou ainda de madrugada.

A segunda‑feira passou, cada um nos seus trabalhos, assim como a terça, embora, quando ficavam juntos, de vez em quando falassem, cautelosamente, do frustrado jantar comemorativo, que deveria ser na quarta‑feira que se aproximava.

Ela, à sua maneira, de vez em quando insistia num telefonema que lhe queria fazer, para o apartamento de Bruxelas, à hora em que deveriam estar a jantar.

Ele começou por levantar algumas objecções. Que lhe falaria ele, ainda do Parlamento, saía mais barato.

Mas ela que não, que, dada a diferença de hora, lhe telefonaria ainda do escritório, antes de sair, pelas 19 horas que seriam já 20 em Bruxelas, a não ser que ele tivesse outros planos para jantar com outros… ou com outra. E, rindo, acrescentava que, de qualquer modo, ele poderia fazê‑lo lá para as oito e meia, depois de se terem desejado mutuamente bom apetite e boa noite…

Ele não opôs grande resistência. Estava bem, estaria no apartamento às oito horas (de Bruxelas). Aliás, também tanto lhe fazia dizer que sim, sem muita luta, como dizer que não e continuar a argumentar. Só se fosse caso de aquilo vir a realizar‑se é que valeria, eventualmente, a pena… Agora assim...

domingo, agosto 19, 2007

UMA HISTÓRIA DE AMOR ou DE (S) ENCONTROS - 13

Ela, ao tear,
tecendo, tecendo
(melhor que Penélope)


Ela tornou pública, às chefias, a decisão de ficar a sexta‑feira no estrangeiro e não vir trabalhar, nem se importando que isso lhe fosse descontado nos dias de férias. É que, fazendo assim, beneficiava do fim-de-semana e, para a empresa, a vantagem ainda seria maior porque o bilhete do avião custava muito menos se ela só regressasse no domingo em vez da sexta.

Os responsáveis pela gestão só podiam achar muito judiciosa a decisão, e ela nem pensasse nisso de descontar o dia nas férias.

Por acaso, só por acaso, claro..., com a agência de viagens arranjou um voo para Bruxelas, partindo na quarta à tarde, chegada a Bruxelas a tempo de jantar, ida e volta de comboio a Roterdão na quinta-feira, regresso a Lisboa no domingo à noite.

Tudo a correr como projectado. Como entretecido, como quem faz malha.


Ele, viajando,
conspirando, conspirando
(melhor que aquele das intentonas)

Chegou o fim-de-semana antes do "dia D" (bis).
No habitual regresso de Bruxelas, lá veio ele com uma lembrança embrulhada “en cadeau”, para mostrar que estava sempre a lembrar‑se. E foi o encontro e as conversas a correrem como se nada de especial estivesse para acontecer ou a preparar‑se.

Um fim-de-semana igual a muitos outros. Acordar e levantar tarde – o que nem sempre coincidia –, cinema no sábado, às vezes teatro na matinée de domingo.

Um jantar agradável, calmo, pelo meio. Alguma televisão. Deitar só quando lhes chegava a vontade. Para o encontro dos corpos, para o amor que, ao fazer-se, os rejuvenescia, os reencontrava a cada um e aos dois, lhes lembrava como se amavam.

Contando‑se, depois, aquela graça, que ele insistia em repetir, de que um casal é jovem enquanto não tem alternativa: adormece sempre tarde! Ou porque se deita tarde, ou porque, deitando‑se cedo, acaba por adormecer tarde.

Um sábado bem aproveitado

Cumprindo uma programação de "festas veraneantes", o grupo excursionista do Zambujal deu um salto ao Porto (onde sabe sempre muito bem ir). Foi só um saltinho... Fomos visitar o senhor Salvador Dali, que está aboletado no Palãcio do Freixo, e ver a Casa da Música... que deveria ser mais para ouvir mas que tem que ver!
Poi um sábado bem aproveitado. Fica a sugestão. Não, nunca!, o conselho.








A Casa da Música
é (muito)fotogénica .
Tem aquele defeitozinho
de ter custado 7 vezes mais...
paciência (!?).
Mas não é só ela que é fotogénica.
O Dali estava ali,
... mas não se podia fotografar.
E valia a pena!
Fotografámo-nos.
E ao Palácio do Freixo.
Que também vale a pena.

Na sala (dos) VIP com Boavista

UMA HISTÓRIA DE AMOR ou DE (S) ENCONTROS - 12

Entrementes, em Lisboa
ela continuava no seu tecer…

Ela regalava-se com o sucesso da sua “teia”.

Os “chefes” já estavam à espera da sua resposta para a proposta (deles!) de ir à reunião de Roterdão, por causa de uma encomenda relacionada com aquele porto monstruoso.

E tinham acertado, entre chefias, que o que convinha mesmo - como vieram a propor-lhe sem saberem como tinham sido bem manipuladas… - era precisamente na quinta‑feira daquela semana que estava no centro das suas manobras e contra‑manobras.

Que gozo!

Ele,
nos meandros da sua “conspiração”

Ele, pelo seu lado, já avisara o Partido das decisões que tomara quanto a viagens. E pediu ao gabinete de Lisboa que lhe marcasse para aquela semana algumas entrevistas e reuniões que estavam pendentes, porque não valia a pena ir a Bruxelas uma vez que não haver razão de trabalho que justificasse a deslocação.

Teve alguma dificuldade em convencer os camaradas, por causa da “massa” das diferenças relativas às indemnizações de viagem que os deputados daquele partido entregavam como regra militante, mas o interesse das entrevistas e reuniões – e a sua convincente argumentação – prevaleceu.

sexta-feira, agosto 17, 2007

UMA HISTÓRIA DE AMOR ou DE (S) ENCONTROS - 11

Ele, em Bruxelas,
na semana antes de

As tarefas não lhe davam grandes folgas.

Mas viveu essa semana numa ansiedade que lhe roubava tempo de sono, substituído por preparativos (os tais pormenores a afinar…), e dúvidas, e interrogações.

Porquê aquela insegurança? Tinha do amor uma concepção de relação de entrega, de reciprocidade, de confiança mútua. E sabia, ah!, sabia..., que ela só estava naquele amor porque também assim o entendia e queria.

O narrador também sabe (por portas travessas) que a vida os ensinara, e que ela o “educara”, lhe dera uma exacta dimensão de amor. Ter de ser tudo mas, também, de não ter de ser absoluto, doentio, “dois num só” e esses extremos idealizados, apenas (e tanto!) eu e tu sem se apagarem no nós que queriam ser. Enquanto.

Canto o encanto enquanto, lhe respondera ele um dia.

Pois é… mas não era fácil. Às vezes, custava-lhe suportar que houvesse uma parte de ela que não se apagava no nós, que houvesse zonas da sua vida em que, sabia, ele não entrava (ah!, os jardins secretos…).

Por isso, algumas reacções, algumas dúvidas, a insegurança.

Ciúme? Talvez. Mas não. Ciúme, não. Porque isso seria desconfiança.

De qualquer modo, o que era preciso naquele momento era preparar muito bem a “surpresa”.

Lá estás tu...



no Ávante! de ontem

quinta-feira, agosto 16, 2007

UMA HISTÓRIA DE AMOR ou DE (S) ENCONTROS - 10

Ela,
em contrapartida (de ping-pong)

Em resposta à “aliciante” compensação de acordarem ao lado um do outro no dia em que deviam jantar, ela resmungara qualquer coisa como:

"… sabes como eu sou ao acordar, talvez até fosse bom que não me acordasses nesse dia que já está estragado... depois a gente vê...",

e contra‑atacara com a resignação (“também não podemos fazer o fim-de-semana?... paciência!”).

Ele, inseguro,
mas determinado

A essa estocada (ping-pong ou esgrima?) ele procurara não ligar, não tomar por desinteresse o que o vírus da desconfiança de pronto lhe viera segredar, perfidamente.

E recuperou(-se) na determinação de levar a estratégia por diante. Aguentar firme, até ao fim!

E assim se separaram nas suas separações após fim-de-semana, e ele partiu para os aeroportos como se fosse descer e subir estações de metro.

E, nas alturas – para lá e para cá – foi afinando pormenores

Parabéns, Dimitri




Um abraço para este grande amigo, que hoje faz 40 anos e que comecei a conhecer há tantos anos...

quarta-feira, agosto 15, 2007

UMA HISTÓRIA DE AMOR ou DE (S) ENCONTROS - 9

Ela, sempre em Lisboa,
entre casa e escritório

Em Lisboa, tudo se passava aparentemente mais lenta e subtilmente. Menos operação e acções de campanha.

Ela já insinuara aos decididores, ou aos que tal se julgavam, a proposta da reunião e da viagem que lhe convinha para o "tricot", ou para a teia que urdia.

Ficou à espera que "os chefes" lhe viessem pedir que fizesse o que ela teria de fazer para que o seu plano se realizasse.


Em trânsito (ele),
e os dois em Lisboa

Na viagem de regresso, depois na estadia em Lisboa, em casa, nos encontros e nas reuniões, em todos os momentos, com notas, horários e gráficos, em pedaços de papel logo depois destruídos, ele avançava com o plano estratégico.

Com escondido gozo, lá a ia avisando – "que chatice, mais uma..." – de coisas que congeminara no imaginativo labor conspirativo:
· do convite para colóquio na associação de emigrantes;
· que seria precisamente no fim-de-semana que se seguia ao que deveria ser o "dia deles", o do 20° aniversário;
· pelo que teriam de adiar a ideia do fim-de-semana que viria compensar a falta do jantar;
· no entanto, na semana fatídica não iria no voo de 2ª – "pobre compensação...", acrescentava com ar pesaroso;
· partiria no voo de 4ª, para, pelo menos, poderem acordar ao lado um do outro no dia em que deveriam jantar juntos “se não fosse o azar que se costuma dizer ser dos Távoras…”.

postalinhos

Antigamente, em tempos que já lá vão, eram os Estados que injectavam dinheiro para gerir, bem ou mal - mais mal que bem -, as economias nacionais.
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Hoje, são o BCE (banco central europeu) e o Banco Nacional do Japão que injectam dinheiro, como terapêutica para o dolar com problemas...
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... e inevitáveis consequências pandémicas para os trabalhadores precarizados.
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Mas só como efeitos colaterais.
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Alguém havia de querer mal às pessoas, coitadinhas...
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Há que fazer um caso da ausência governamental da assinalação dos 100 anos de Miguel Torga?
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Não se fosse só um caso.
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Haveria, apenas, que lamentar.
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Junta-se é ao resto.
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E é mais um signo sinal de insensibilidade, de menosprezo pela cultura, pelo social, pelo trabalho.
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Sempre, e apenas, ao serviço dos poderosos.
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Pelo único critério do dinheiro possuido, tido ou retido.
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Às vezes, o balido do bezerro de ouro é ensurdecedor.
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Q'ais Torgas?! Não se ouve nada...

ruas, gente, paisagens, arte






admirando Júlio Resende em tapeçaria (e o muro de pedra)

excertos



Cada país, por mais pequeno que seja, é inesgotável.
Pode ser este, o nosso.
Poderíamos já o ter percorrido todo…
… haveria sempre coisas (e gente) para ver e descobrir.
Ou para ver de novo e redescobrir…
… e fotografar.
<-- museu de tapeçaria de Portalegre







exposição de José Mouga em Castelo de Vide -->

UMA HISTÓRIA DE AMOR ou DE (S) ENCONTROS - 8

Ela, em Lisboa,
nos mesmos dias, mês, década, século

Enquanto acontecia o que em Estrasburgo aconteceu, ela, em Lisboa, congeminava.

No intervalo de duas reuniões e de três telefonemas multilingues, começara a tricotar um plano secreto, que melhor lhe chamaria contra-plano se adivinhasse o que em Estrasburgo originara aquele eureka.
Sorriu‑se quando lhe veio a ideia.

"Ele ia ver...oh!, se ia…".

Ele, Sua Excelência, o senhor deputado, que tinha a mania que dispunha de muita capacidade de manobra e argumentação… nem sequer fora capaz de conseguir adiar uma reunião em que, ao que dizia, não podia deixar de estar presente.

"Ele ia ver... ai ia, ia...".

Ele,
ainda em Estrasburgo

Em Estrasburgo, ele, o deputado, programava a sequência das operações, entre uma intervenção num debate, uma declaração de voto, uma reunião do grupo, uma gravação para a televisão.

Acção prévia: organizar os seus passos em articulação com uma informação e uma publicidade (só dirigidas a ela) sobre uma sucessão de acontecimentos fictícios... e credíveis.

Cautelas a tomar: sobretudo, aguentar os próximos “quinze dias” sem fugas de informação, sem "escorregadelas". Tinha de se controlar nos telefonemas e nas conversas "ao vivo" nos fins-de-semana. Nada fácil, nada fácil...

terça-feira, agosto 14, 2007

UMA HISTÓRIA DE AMOR ou DE (S) ENCONTROS - 7

Foi uma noite agitada

Passou a noite meio desperto, entre dúvidas e contradições.

De manhã, meteu‑se no duche como quem procura uma terapia que o desperte para um dia novo, lavado da insónia, limpo das teias de aranha com que as noites mal ou não dormidas enchem as cabeças.

Mais uma vez, como gostava de fazer, ele interpretava aquela subtileza linguística que valoriza o português face ao francês. É que, enquanto os franceses não fazem mais que "se laver les cheveux", os portugueses lavam é a cabeça. Às vezes com tanta força que até o fazem por dentro... Como ele o fez naquela manhã.

De repente, do meio da espuma espalhada pelo cabelo, barba e resto do corpo, saiu o eureka tantas vezes repetido desde que um grego - parece que filósofo - o gritou no banho de imersão em que flutuava sem saber porquê até esse tal eureka que o fez saltar da banheira.

Foi depois desse preciso, concreto e aportuguesado eureka, soltado do duche e não do banho de imersão, que começou a lenta e laboriosa montagem de um plano, peça por peça, como se fosse um assalto a um comboio-correio. Ou uma conspiração. Como, no “antigamente”, participara em algumas.

"Ela ia ver... ah!, ela ia ver...”

domingo, agosto 12, 2007

UMA HISTÓRIA DE AMOR ou DE (S) ENCONTROS - 6

Durante o dia,
que se prolongou pela noite

Durante o resto do dia, no turbilhão do trabalho - que muito era sempre, e ele ainda lhe somou aquelas "habilidades" -, distraiu a vontade de telefonar e, quando chegou a noite, quando finalmente falou para ela, não lhe disse nada da mudança. E ficou surpreendido e irritado.

Primeiro, por ela nada lhe ter perguntado. Depois, por ele próprio ter calado o que não lhe saía da cabeça.

Na cama do hotel de Estrasburgo, o sono não queria terminar aquele dia, como o cansaço habitualmente o apressava.

Até lhe viria a parecer que não teria mesmo chegado. Dormia, se dormia, pouco e mal. E, se não tinha razões para isso, foi‑as inventado.

Magoava-o, sobretudo, o desinteresse dela, o não lhe ter perguntado se ele conseguira alguma coisa com os esforços que lhe dissera ir fazer. Custava-lhe que ela não lhe tivesse perguntado se ele conseguira o que, afinal, conseguira mesmo.

Sentia irritação e amuo. Só atenuados, ou impedidos de crescer, por se lembrar vagamente que lhe teria dito, antes, no telefonema anunciador da “catástrofe”, que seria quase impossível vir a ter bons resultados nessas eventuais tentativas, que nem valia a pena esperar.

No entanto…

Miguel Torga

Em tempos que vivemos, sabia este poema de cor e, de vez em quando, gritava-o! Porque não queria chorar, porque não sabia cantar, porque recusava fugir.
Também hoje, neste tempo que vivemos, por vezes apetece cantar, apetece chorar, apetece gritar, apetece fugir. Mas, nesses tempos que vivemos como neste que estamos a viver, há que gritar, há que chorar, há que cantar. Há que lutar, seja cantando, ou chorando, ou gritando!

Dies irae

Apetece cantar, mas ninguém canta.
Apetece chorar, mas ninguém chora.
Um fantasma levanta
A mão do medo sobre a nossa hora.

Apetece gritar, mas ninguém grita.
Apetece fugir, mas ninguém foge.
Um fantasma limita
Todo o futuro a este dia de hoje.

Apetece morrer, mas ninguém morre.
Apetece matar, mas ninguém mata.
Um fantasma percorre
Os motins onde a alma se arrebata.

Oh! maldição do tempo em que vivemos,
Sepultura de grades cinzeladas,
Que deixam ver a vida que não temos
E as angústias paradas!

Miguel Torga

sábado, agosto 11, 2007

UMA HISTÓRIA DE AMOR ou DE (S) ENCONTROS - 5

Assim estavam as coisas

Ora, estando assim as coisas, na manhã do dia seguinte, em conversa com o presidente da dita comissão especializada, conversa que ele provocara para trocarem impressões sobre emendas a um relatório em votação naquele plenário de Estrasburgo, descortinou uma aberta inesperada numas reticências processuais.

Com argumentação algo capciosa, apoiou o “caro colega presidente” nessas reticências, e tomaram a decisão de cancelar a tal reunião de Bruxelas ("desde que os outros não tivessem objecções, obvuamente...") em que se iria discutir e votar o relatório que tanto o perturbava (por razões não trazidas à conversa, que não tinham nada de a ela virem, claro), incluindo‑a na ordem de trabalhos da reunião ordinária já antes calendarizada.

Foi ele mesmo que andou numa roda-viva, de deputado em deputado, arranjando tudo, e que foi ao secretariado anunciar e dar instruções para o cancelamento da reunião extraordinária. "O caro colega presidente que não se incomodasse..."

Tudo tratado, libertado daquele compromisso, quase eufórico, a sua primeira reacção foi a de ir telefonar para ela, dar‑lhe a boa nova.

Mas não quis precipitar‑se uma segunda vez, reconhecendo que a má notícia fora dada cedo demais, sem ter esperado sequer pelos eventuais resultados da sua própria capacidade de iniciativa e manobra.

Sobre o "estado da blogosfera"

Está-se quietinho no seu canto, fazendo as matinais incursões pelos "favoritos". Blogosfera-se em circuito fechado. Até que, numa dessas quotidianas passagens, se encontra um "aqui" que convida a ir "lá fora", a sair do circuito. E "ali", naquele primeiro "aqui" encontra-se outro "aqui" também convidativo. E assim sucessivamente.
Regressa-se, assustado, ao canto. O "estado da blogosfera", reflectindo o "estado da nação (e do mundo)", é assustador. Ainda mais ilustrativo que aqueles programas de rádio que dão a palavra ao ouvinte, como se isso fosse... a democracia.
Tanta gente cheia de saber coisa nenhuma a ter opiniões definitivas sobre tudo, apenas informada pelo afinado "aparelho ideológico" do capitalismo global usando os grandes meios, mal compensada informação (ainda) pelo que é a sua/nossa experiência de vid(inh)a.
Bem difícil é o caminho da tomada de consciência para a chegada ao "reino da liberdade".

UMA HISTÓRIA DE AMOR ou DE (S) ENCONTROS - 4

Ela,
em Lisboa

Ao telefone, emprestando boa voz à má fortuna, ela respondeu que também não tinha grande importância – "deixa lá…" –, jantariam dois dias depois, até se metia o fim-de-semana a seguir, e podiam pensar num programa mais interessante e repousante.

Ele,
em Estrasburgo

Com mais umas blasfémias, em que vários presidentes, funcionários do secretariado e deputados de outros partidos não foram muito bem tratados, ele fugiu a reagir à relativa irritação que lhe provocara a calma aceitação, por parte dela, de algo que o estava a perturbar e a estragar planos comuns.
Mas, nessa fuga a falar do que não queria, acrescentou que ainda faltavam duas semanas, com dois fins-de-semana em Lisboa, e uma ida a Bruxelas.

Os dois.
um em Lisboa, outro em Estrasburgo

“Logo se verá”, disseram os dois.

No entanto, antes de desligarem, ainda a ele lhe escapou um comentário muito rápido, a modos de resmungo, "parece que não tiveste grande desgosto... ainda bem!".
Ela fingiu não notar, sabendo que melhor seria não atirar achas para a fogueira da irritação daquele cavalheiro que tão bem conhecia.

sexta-feira, agosto 10, 2007

Conversas à soalheira

- Não percebi nada daquilo de Timor?
- Pois é… só metendo explicador!
- Ajuda-me…
- Vou tentar… com um suponhamos.
Então é assim, suponhamos que em 2009, a nível nacional, se repetiam os resultados para a Câmara de Lisboa:
  • 35% de mandatos para a lista do PS
  • 20% para uma lista “dissidente” do PSD
    18% para a lista do PSD
    10% para a lista da CDU
    9% para uma lista de cidadãos “independentes”
    5% para a lista do BE
    3% para a lista do PP
tendo ficado sem eleitos, isto é, sem mandatos, 6% dos votos distribuídos por várias outras listas…
- … em Lisboa não foi bem assim…
- Foi mais ou menos (se reparares 6 vereadores em 17 é 35% e não 29% como foi a percentagem de votos no PS). Aliás, isto é para arredondar, e tem a ver com o facto da distribuição dos mandatos, no caso das legislativas não só não coincide com a da votação mas é distorcida pela implantação distrital… De qualquer modo, isto é só um suponhamos.
- Continua, continua…
- Depois de consultas, negociações e outras manigâncias e manipulações com promessas de distribuição de ministérios e de outras prebendas, suponhamos que o PR, o inefável Cavaco Silva, tomava a decisão de encarregar da formação do governo o presidente do PSD, sabendo que este teria o apoio dos seus dissidentes (ou dissid’antes), dos cidadãos eleitos na lista dos “cidadãos” ("independentes" e chateados com o PS por não os terem metido nas suas listas, assim regressando alguns à “casa de partida” com uma secretaria de Estado ou mais) e do em vias de desmascaramento total BE, desta forma alcandorado ao desejado estatuto de oposição por dentro… de um ministério (ou mais).
- 'Tou a ver..
- Pois ‘tás… e pega na máquina de calcular: 20+18+9+5 igual a 52% de mandatos e 46+41+20+12 deputados igual a 119 em 230 deputados... isto é, maioria absoluta e ainda com os 3% e 7 deputados do PP de reserva.
- E assim o PS, com mais votos, clara maioria relativa e larga maioria relativa de deputados (81!, seguido de 46 do PSD a quem se atribuía a formação do executivo) ficava fora do governo da nação.
- Claro…
- Pois é… e os 20 deputados do PCP e mais os 3 dos Verdes eleitos na CDU, e representando 10% dos mandatos não contam?
- Ah! isso representaria outra enorme vantagem desta “solução democrática”: não ser preciso contar, para a solução institucional, nem com os comunistas nem com os "verdes", não obstante a sua real implantação na vida social portuguesa.
- Coisas da democracia ocidental…
-… burguesa, burguesa…
- Dizes bem…
- Pois é… até porque também é oriental… e não nos esqueçamos de Timor que era o começo da conversa.
- Tens razão… mas é fácil: é só mudar alguns nomes e designações. Experimenta: vê lá onde hás-de pôr Ramos Horta, Xanana Gusmão, Fretilin.
- Não há-de ser difícil…
- E acrescenta petróleo e Indonésia e Austrália... EUA não vale a pena acrescentar porque esses estão em todo o lado.
- ‘Tá feito.
- ‘Tamos mas é feitos!

(ajudado, ou inspirado…, pelo Imaginemos do Henrique Custódio no Avante! de ontem)

UMA HISTÓRIA DE AMOR ou DE (S) ENCONTROS - 3

Ele, em Estrasburgo,
nuns dias quaisquer
de um mês que não importa,
na primeira metade da década de 90 do século xx

Mas o que os homens fazem ou sonham, o Parlamento Europeu pode desfazer, e, na sessão plenária de Estrasburgo a que ele fora, como deputado no Parlamento Europeu, foi desfeito o que sonho era e projecto se ajustara à partida de Lisboa.

E desfeito foi porque, entretanto, lá num dos intervalos do plenário, se marcou para Bruxelas uma reunião de comissão, com discussão e votação importante para o seu trabalho, e precisamente para a manhã do dia seguinte à noite do desejado jantar.

Ele viu logo que não havia maneira (ou avião!) que lhe possibilitasse jantar em Lisboa e estar em Bruxelas antes do meio-dia. Logo naquela semana em que não tinha outras reuniões que exigissem a sua presença em Bruxelas e que, por isso, vinha mesmo a jeito para o “tal” jantar.

Correu a telefonar‑lhe a notícia, praguejou como fazia frequentemente nos últimos tempos, disse que ainda ia ver se conseguiria alterar as datas para poderem jantar juntos nesse dia querido.

Mas foi avisando que lhe parecia quase impossível, pois já não haveria qualquer reunião da comissão até à que se iria realizar em Bruxelas, naquela fatídica manhã. E acrescentou coisas sobre a “pontaria destes gajos”, gajos que ele nunca se cansava de etiquetar com palavras mais pesadas.

quinta-feira, agosto 09, 2007

6 e 9 de Agosto de 1945

A Maria, de O Cheiro da Ilha, no dia 6 de Agosto lembrou-nos a "Rosa de Hiroshima" para nos lembrar Hiroshima. Fez bem. Agradeci-lhe e saudei-a. Retomo, hoje, a lembrança.
Hoje, e sei porquê, aqui voltei
Hoje, e sei porquê, de novo ouvi os Secos e Molhados
e de novo ouvi o Ney Matogrosso cantar Vinicius de Moraes
Hoje, e sei porquê
Hoje, porque não chegava Hiroshima,
Hoje, 9 de Agosto,
porque ao horror de Hiroshima se quis juntar o horror Nagasaki
Hoje, e sei porquê,
porque é hoje - também - que é preciso dizer "oh não se esqueçam"!



Pensem nas crianças

Mudas telepáticas

Pensem nas meninas

Cegas inexactas

Pensem na mulheres

Rotas alteradas

Pensem nas feridas

Como rosas cálidas

Mas oh não se esqueçam

Da rosa da rosa

Da rosa de Hiroshima

A rosa hereditária

A rosa radioactiva

Estúpida e inválida

A rosa com cirrose

A anti-rosa atómica

Sem cor sem perfume

Sem rosa sem nada

postalinhos...

(fresquinhos... já de hoje):

No noticiário das 9: a Galp aumentou os seus lucros em x-por-cento (muitos!).

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(Ontem, e anteontem, e transanteontem, foram outras, dos seguros e da banca, que aumentaram – e muito – os seus/deles lucros).

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Ainda na rádio, e parece que apropósito…, ficámos a saber que o preço dos combustíveis deve aumentar.

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Tirei os olhos do computador e fiquei a pensar, perplexo…

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Ah! já sei… é a teoria dos vasos comunicantes… para que umas coisas aumentem, outras têm de diminuir.

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Era assim a teoria?

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Sei lá… é assim a realidade.

postalinhos...

(do caderno VII "os primeiros dias segundos", ontem):

Fui almoçar ao Borsalino.

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"Borsalinadas", claro, na toalha de papel…

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A diferença entre os homens!

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Como os homens são diferentes!

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Uns, falam alto, tão alto que todos à volta os ouvem…

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… até os que não os querem ouvir!

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Outros, falam baixo, tão baixo que nem os mais próximos os ouvem…

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… mesmo os que têm de os ouvir!

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Vivemos o tempo (histórico) da narcotização global.

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As questões fulcrais:

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1. Que mundo nos recebeu?

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2. Que mundo ficará para depois de nós?

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3. Que fizemos nós no intervalo?

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4. Para que contribuímos?

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5. Gozámos ao menos a nossa vid(inh)a?

UMA HISTÓRIA DE AMOR ou DE (S) ENCONTROS - 2

Parte 1
PRIMEIRO DESENCONTRO
POR AMOR DE DOIS


Intemporal
ou uma história do que é eterno enquanto existe

Não era igual. Não podia ser igual ao que tinha sido há 20 anos.

Mas continuava a ser amor.

Tinham, ao longo dos anos, criado o hábito de jantar num dia certo do ano no mesmo restaurante em que, há 20 anos, os juntara os primeiros convite e aceitação. Nunca falhara, apesar das idas e vindas, de dificuldades várias.

Não se tratava de comemoração, diziam, até porque houve anos em que alargaram o jantar a amigos porque dera jeito, sem que lhes tivessem comunicado alguma razão especial para aquele jantar, ou para que o jantar fosse só (ou particularmente) deles.

Mas, talvez porque 20 é um número redondo, naquele ano esperavam a data com alguma relativa ansiedade.

Talvez porque havia alguns problemas na vida de cada um que se reflectiam numa certa necessidade de se refugiarem na vida que deles era. Talvez porque novos trabalhos e outras tarefas mais os afastassem e fizessem sentir saudades do que continuava a ser.

Assim se disseram, e assim pensaram fazer.

Tendo falado disso com uma inabitual antecedência, naquela despedida que, como todas, semana a semana, já preparava o regresso.

quarta-feira, agosto 08, 2007

UMA HISTÓRIA DE AMOR ou DE (S) ENCONTROS

PRÓLOGO

Nada do que vai ser contado aconteceu.

Ou melhor (para que melhor se conte):
o que vai ser contado não aconteceu… mas podia ter acontecido!

Aliás, já está contado em várias formas e formatos. Mas apenas para “consumo interno”. Isto é, em círculo muito restrito. Entre os dois (quase) protagonistas.

Agora, vai sê-lo na versão folhetim-blog.

Novo, inovador? Não, decerto. Mas talvez sim…

Um episódio por dia (se não houver falhas…), durante 20 dias.

Com eventual prolongamento.

Duas informações

1.- No "blog" som-da-tinta continua a viagem no "cavalo de pau com Sancho Pancho". Atravessam-se, agora, as difíceis passagens dos encontros que, segundo Aquilino, Cervantes teria tido com o Santo Ofício, entre a 1ª e a 2ª parte do D. Quixote. São conversas muito interessantes, de que se retiram curtos (?!) excertos, a partir do que Cervantes escreveu, analisado à lupa por aquele Tribunal, e como estas conversas teriam condicionado, dado Cervantes ser homem de "cautelas e manhas", a 2ª parte de D. Quixote. Sei que não estou a fazer a viagem sozinho mas, ainda que o estivesse, bem compensado me sentia...

2.- A partir de hoje, do próximo "post", e durante 20 dias, vou publicar o (meu) primeiro folhetim-blog. Será a 1ª parte de UMA HISTÓRIA DE AMOR ou DE (S) ENCONTROS, que terá 2ª parte ou não. Depende.
É uma história que estava há longos anos (para aí uma década) na gaveta, e tem tido vários tratamentos formais. Vamos ver o que vai dar este...

terça-feira, agosto 07, 2007

Quem é que ganhou?...

- Então… como foi o jogo?

- Ahnn… não percebi lá grande coisa…

- Mas quem é que perdeu?

- Neste jogo os que perdem não jogam…

- ‘Tá bem… então, quem é que ganhou?

- Os que ganham sempre… aliás o jogo não acabou.

- Ah não!, porquê?

- Por avaria técnica… tudo muito esquisito...

- E agora?

- Agora, o jogo continua… isto é um verdadeiro casino!

- ... e sempre os mesmos a perderem sempre e sempre os mesmos a ganharem sempre.

- 'Pera aí... não foi o James Bond que disse nunca digas sempre?... ou foi o Jardim Gonçalves?... Se calhar foi o outro...

- Olha que não, olha que não... se calhar foi o Marx...

postalinhos...

As fotografias entraram-me pelos olhos dentro, li os títulos, passei adiante.

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No actual estado de cousas, não é tema que estime prioritário.

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Apesar da questão tornada central serem mais de 20 mil euros por mês (e quantos meses?)… isto são apenas trocos.

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Bem mais no cerne, no osso, estão os milionários lucros dos bancos, das seguradoras e etc. e tal, em confronto com o papel que se quer atribuir ao Estado e aos seus trabalhadores, aos directores-gerais e… aos outros, à ralé.

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Aliás, as fotografias não me foram agradáveis à vista – o homem não é fotogénico (do que não tem culpa nenhuma… nem o fotógrafo) – e não gosto de dedos espetados.

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E os títulos, se escolhidos para serem atractivos, repeliram-me.

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Tal como não gosto de dedos no ar em frente do nariz, aquelas coisas do estilo “o erro está…”, “a maior doença é…”, “os piores ganham demais” são demasiado afirmativas, pesporrentas, para meu gosto, repelem-me.

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Agridem-me.

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Entretanto, e talvez pelo último título citado e pela aparente consensualidade que rodeia as frequentes afirmações e aparições públicas do senhor, dei por mim a querer reagir.

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Não que sinta qualquer acicate (ou invejinha) por o trabalho do homem ser tão excelentemente remunerado (mais em 1 mês que em 4-anos-4 de salário mínimo, quase tanto em 1 ano como em 30-anos-30 de um salário de 1000 euros mensais!)

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Não que defenda qualquer forma de igualitarismo e de menosprezo pelos méritos de cada um.

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O que me faz reagir é que defendo, defendi e defenderei, uma organização da sociedade em que, havendo direitos – à vida, ao trabalho, à saúde, à educação – que são universais, isto é, de todos, tal como há o dever de cada um contribuir para a satisfação deles à medida das suas capacidades, a partir desses pressupostos os seres humanos devem ser compensados proporcionalmente ao seu contributo para o bem-estar colectivo.

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E, depois, quando o “reino da liberdade” puder substituir o “reino da necessidade” porque haverá abundância, cada um deverá ter acesso ao que lhe satisfaça as suas necessidades, entre elas, claro, a de trabalhar e de ser útil a todos.

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Não que defenda a aplicação mecânica de fórmulas que, pela sua simplicidade, se podem tornar simplistas, mas, no caso e com as ditas reservas, parece-me oportuno lembrá-las.

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Se não, a sociedade assemelhar-se-á a uma selva de individualismo e competitividade.

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Haverá quem goste… enquanto se sentir com força predadora.

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Por mim, opto pela solidariedade.

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Feitios…

segunda-feira, agosto 06, 2007

Eu queria responder ao Marquês...

... mas o Marquês, recolhido no albergue dos danados, não se deixa comentar. Aliás a minha resposta à pergunta seria uma pergunta: Qual Guadalupe Müller tem a ver com a máquina dos flippers (ou com os matraquilhos?), a Vanina, a Beatriz ou outra qualquer?.
Poupa-me, pá!

Leituras na madrugada

"Um sistema que se baseia na corrupção de figuras públicas não pode tratar bem figuras públicas que se recusam a ser corrompidas".
(Confissões de um mercenário económico - a face oculta do imperialismo americano, John Perkins, ed. GESTÃOplus, Cascais 2007)
... e tão mal as trata que, por vezes, as (consegue) assassinar... como o autor tão bem sabe e, confessando, o conta...

domingo, agosto 05, 2007

Informação

No blog Som-da-Tinta "postaram-se" mais dois pequenos (?) excertos de No cavalo de pau com Sancho Pança, os 45 e 46 da série, estes sobre justiça e juízes no caminho percorrido por Aquilino Ribeiro (e nós com ele por excelente companhia) para chegar à governação como forma de arbitrar equidade, como exemplificou Sancho Pança enquanto Governador da Baratária.

quinta-feira, agosto 02, 2007

Postalinhos...

Algumas notas (postalinhos) tomadas no "expresso" para Lisboa:

O BE tornou explícita uma ligação com o PS. Esta, na Câmara de Lisboa. Saúda-se a transparência. Não os transparentes… à força.

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Em Timor-Leste (Lorosai) também é tudo transparente, a começar onde acaba, no sr. Ramos Horta, e a acabar onde começa, no sr. Xanana Gusmão. É tudo muito simples.

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É tudo e todos e sempre contra a Fretilin.

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Porque será?

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Terá havido alguém, em grupo privado, restrito, e em comentário aparte, a usar expressões susceptíveis de serem consideradas ofensivas.

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Terá havido outro alguém – desse grupo privado e restrito – a ir delatar a um “superior hierárquico” o que disse esse primeiro, e o “superior”, do cimo do seu poder(zinho), terá punido.

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Não sei se estamos perante um caso de “liberdade de expressão”, ou de “direito de opinião”, ou de “censura”, ou dessas coisas assim.

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Parece-me que não.

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O que eu sei é que houve “bufaria”, o que eu sei é que, com base nela, houve um “superior hierárquico” que julgou e castigou.

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Face à celeuma que tal encadeado de factos desencadeou, “superiores hierárquicos” do “superior hierárquico” tentaram remediar a situação criada, a modos de quem põe remendos em ruim pano.

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E deu-se um significativo volte-face na abordagem mediática do incidente, ou sucessão de incidentes.

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Apagou-se o delator e o acto de delação, apagou-se o “superior hierárquico” e o acto de punir com base na delação.

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Ficaram, como únicas relevâncias, os protagonistas e os actos das extremidades: aquele que veio a ser punido e a sua evidente má-criação que está na origem da punição, aqueles que vieram remendar a situação sem a colocarem, obviamente, na posição anterior à delação e à punição.

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Para mim, importante é o que se quer apagado, a delação e a punição.

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O resto são diversões…