domingo, setembro 26, 2010

O imbróglio de uma democracia parlamentar

Na democracia (burguesa) em que vivemos, importante e dura conquista do povo português apesar de todas as suas por vezes ridículas situações, vive-se um momento de imbróglio. Imbróglio que toma, aqui e ali, configurações de farsa burlesca, nalguns episódios interpretados por colectivos (particularmente, o PS e o PSD), noutras facécias com protagonistas individuais (nomeadamente, e por ordem hierárquica, Cavaco, Sócrates, Passos Coelho).
Farsa burlesca de bonecreiros manipulados pelo capital financeiro e em que o “ser (ou estar no) poder” obnubila e leva a palavras e a actos que, sem essa cegueira, até os próprios envergonharia… no pressuposto que alguma vergonha lhes sobre.
Detenhamo-nos num simples exemplo deste ping-pong “és um mentiroso/só falo contigo perante testemunhas" (gravador não serve?).
Diz o segundo que quer ser primeiro, embora não saiba bem quando: “o que tu queres sei eu… é que eu fique com o odioso das medidas que vamos ter de tomar porque a isso nos obrigam os patrões, mas és tu, como primeiro, que tens de as aguentar… e não venhas com essa de que se não for eu não o podes fazer porque não é só comigo que tens a possibilidade de partilhar a responsabilidade... também o podes fazer com aqueles com quem chegaste a acordo para o candidato a Presidente da República…”
Errado! O segundo precipitou-se nos seus passos (de Coelho) e só mostrou que lhe dói o cotovelo. Os 97 deputados socialistas (salvo seja) mais os 16 bloquistas (de esquerda) somam 113, o que não chega aos 115 que são metade de 230. E, nisto, a aritmética é infalível. Ainda precisaria, o PS, de dois “queijos limianos o que é o dobro de um, e um já seria difícil... ou de três porque só com dois seria empate técnico!
Isto tudo é confrangedor.
Mas – atenção! – é apenas uma vertente da nossa democracia. Há uma outra vertente. E ela é a participativa, a da intervenção democrática dos trabalhadores, das populações organizados para além das instituições formalmente representativas no nosso quadro constitucional.
A vertente da democracia que se expressará – e tem de o fazer com toda a força da democracia conquistada – no dia 29 de Setembro.
Se as pressões do capital financeiro transnacional sobre os seus títeres com adereços de poder político são tão fortes, a pressão dos portugueses que estão a sofrer a situação por eles criada também tem de o ser, e eles sabem – oh! se sabem... – que esses adereços não são seus, estão-lhes emprestados pelas populações, pelos trabalhadores.

4 comentários:

José Rodrigues disse...

Muito bem explicadinho sim senhor.Agora é ganhar coragem, e gritar nas ruas de Lisboa e Porto, que os trabalhadores em luta, fazem/farão parte determinante do "arco do poder"...

Abraço

Maria disse...

É bora de afinar as gargantas, mais uma vez, para gritarmos bem alto o nosso descontentamento.
Mas estou curiosa para ver como vai o parlamento votar o orçamento... para ver de onde aparecem os queijos (ou choriços, sei lá...)

Beijo.

Graciete Rietsch disse...

Acho importantíssima a manifestação e lá estarei. Só que vejo muito conformismo em pessoas que, em princípio, deviam ter outra visão da situação política que se vive, o que é triste.

Um abraço.

Antuã disse...

A coisa vai passar com mais ou menos espectáculo para os incautos.