sexta-feira, setembro 17, 2010

Alexandria 2 – PARAGEM A CAMINHO DE

Esta é uma viagem ao (re)encontro de um (de quatro) livro(s).
A paragem no Cairo é para escala, recordar e tomar balanço. Mas o Cairo impõe-se.
Já o conhecíamos – mal – e estamos a conhecê-lo – mal – de forma diferente. Hoje é sexta-feira, e de manhã, ao sair do hotel, aqui nas cercanias estava tudo fechado. É o dia para descanso semanal e para rezar. O guia explicou-nos, como quem fala da sua vida.
São perto de 20 milhões, os habitantes do Cairo. O dobro dos portugueses em Portugal! E para quem veio de uma pequena aldeia de centenas (e escola fechada), de um concelho de dezenas de milhar, 20 milhões, mesmo adormecidos, quase assusta. O que vimos ontem à noite é que assustou mesmo e, à medida que foi correndo o dia, fomos vendo a cidade a acordar, aqui e ali diferente como se a viagem cá dentro nos transportasse a várias cidades.
Há uma cidade cinzenta, degradada, empoeirada, há a “cidade dos mortos”, um extensíssimo cemitério com 200 mil vizinhos habitantes vivos, ou ainda sobreviventes, há a cidade dentro das mesquitas, onde se manifestam com grande aparato policial às portas para que de lá não saia a manifestação, há, do outro lado das pontes, uma cidade que parece europeia (burguesa)… observámos nós. Não estou, evidentemente, a fazer uma crónica de viagem, mas tão-só a trocar umas impressões convosco. É impressionante, melhor: é impressivo este sentimento de estar num outro mundo. Fiquei marcado por aquela informação de que este ano é o ano 6 mil e tal de um talvez primeiro calendário, eu que tão orgulhosamente refiro 8 séculos de (nossa) História.
E sentir-me-ia esmagado se me tivesse surpreendido a pensar nestes milénios de História em que tropeço, nesta ideia de antiguidade que nos toma aqui, em tudo o que aqui começou e por aqui passou. O guia falou-nos dos romanos, e dos gregos, e dos árabes, e dos mameluques, de Mohamed-Ali, e dos franceses, e dos ingleses, e dos chiitas, dos sunitas e dos fatimistas, e de mais estes e de mais aqueles, e depois disse que só em 1952 os egípcios começaram a governar o Egipto.
Os egípcios? Há "os egípcios"? E governam o seu País com nem sei quantos milénios antes de Cristo e mais os que vieram depois (e estamos nós – tão pequeninos – no 3º milénio recém-começado), governam este Egipto, hoje com mais de 80 milhões, e dependente do turismo e de “ajudas” financeiras externas?
Como o mundo é antigo e grande! E como há quem julgue – e actue – como se o mundo tivesse nascido quando ele foi parido e acabará quando ele for" desta para melhor" (e para que seja "melhor que esta", rezam, confessam-se e penitenciam-se dos pecados menores, e fazem caridadezinha para compensar os pecados maiores).
E sinto – estou a sentir coisas… – que há… os egípcios, como uma massa de gente que está ligada a toda a que antes de si aqui viveu. E o que viveu!

3 comentários:

samuel disse...

Bela crónica!

E os "fatimistas"???! O guia adivinhou de onde és? :-)))

Abraço.

Anónimo disse...

Que maravilha! Até parece que também estou no Cairo.
Campaniça

Graciete Rietsch disse...

As minhas viagens são poucas e pequenas. Ainda nestas férias estive na costa ocidetal do Algarve de que gostei imenso. Não tem nada a ver com o sul do Algarve, com os resorts dos ricos, com as boites, com a loucura. É agreste e calmo, mas maravilhoso.
Como eu gostaria de descrever as minhas pequenas viagens como tu fazes tão bem, imprindo-lhe aquele cunho científico e político, sempre presente no que escreves.

Parabéns e um abraço.