sexta-feira, setembro 24, 2010

Alexandria 10 – OS CAMINHOS DA(s) FÉ(s)

Não sei se tinha reparado nisto quando, há mais de vinte anos, viera ao Egipto. Ou, se o tinha, esquecera-o. Agora, logo à chegada, ainda no aeroporto, intrigou-me aquela mancha na testa de muitos homens. E perguntei, pensando que a razão era étnica.
Não, e a minha ignorância talvez não devesse existir, ao que me parece. Aquela mancha é, como se calhar toda a gente sabe…, uma “nódoa negra” resultado da fricção da testa no tapete em que se fazem as muitas orações do dia.
Passei a ver, naquele sinal, uma indicação do grau de fervor religioso de quem o mostra. Falei, vagamente…, deste assunto com o guia que nos mostrou 8 horas de Cairo, almoçou connosco uma excelente refeição, partilhada também com o motorista, um simpatiquíssimo e bonacheirão Mohamed, com quem fizemos a viagem até Alexandria.
O jovem disse-nos da sua fé – que ainda não deu para mancha na testa… –, e teceu algumas considerações curiosas sobre religião. É crente, faz as suas orações, e diz que não quer cá intermediários para as relações com o seu deus (logo existe…). “Vocês é que se confessam e pedem perdão dos vossos pecados a quem terá pecado mais que vocês… eu não, é tudo directo com quem não peca, só Ele me pode perdoar.” (a maiuscula é dele e respeito-a...). Não estava mal visto, respondi-lhe eu, mas esclareci-o que não tinha esse problema, que para mim nem deus, nem padre, um pouco como os do “ni dieu, ni maître”. Mas só um pouco.
E ficaram por aí as nossas conversas teológicas.
Respira-se religiosidade por aquelas bandas. Mesquitas em grande quantidade, algumas igrejas (uma de S. Sérgio, ora tomem!, que resistiu aos romanos que perseguiam os católicos), umas sinagogas. Mas os tapetes e a reza na rua, as setas para Meca nos hotéis, sobretudo o apelo à oração, enchendo de um som ondulante e quase anestesiante as ruas, criam um certo ambiente.
Que se pode testemunhar da janela do hotel (na que chamo a "horação"... que muitas são durante o dia):

Como já escrevi, nas fotos de Sadat – no museu da Biblioteca, por exemplo –, ele tem o sinal bem visível, quase ostensivo. O que não encontrei em Nasser ou em Mubarak. Daqui, não se tirem quaisquer ilações. Já não diria o mesmo do facto de Sadat ter sido vice-presidente de Nasser, que substituiu em 1970, e ter sido substituído por Mubarak, que era seu vice-presidente em 1981. Mas isto já são coisas da área da política…
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Ficam para a última destas notas-impressões de viagem enquanto viajo.

2 comentários:

Fernando Samuel disse...

O que antes não tínhamos visto (mas estava lá) vimo-lo agora - e na próxima veremos o que agora não vimos (mas estava lá)...

Um abraço.

Graciete Rietsch disse...

Religião, as pessoas não passam sem ela. Até no Alentejo onde andei durante uns dias desta semana(norte), quase tudo de que o guias falaram era dedicacado a um santo qualquer entre eles o Nuno Álvares Pereira.
Fiquei um pouquinho desiludida, mas também se fizeram coisas importantes como, por exemplo, as termas de Nisa, as escolas de artesanato e outrs coisas que não cabe aqui relatar.

Um beijo.