sexta-feira, fevereiro 27, 2009

É duro!

Franqueza, franquezinha, estou a ficar cada vez mais alérgico à ignorância atrevida, a quem fala tonitruantemente do que não sabe, a quem esvazia as palavras de sentido e fala como se estivesse a dizer coisas aos outros, aos outros que os ouvem e aplaudem como se tivessem sido ditas coisas, nem digo coisas certas ou discutíveis… mas coisas.
Deve ser da idade, que nos vai tornando menos tolerantes…
De qualquer modo, e qualquer a idade, ter de ouvir, do alto de um mandato que nem de eleito é, que esta é a “primeira crise da globalização” é obra!, não sei o dia ao certo em que terá começado a tal da globalização mas desconhecer ou ter esquecido, entre outras, a “crise asiática” que explodiu nos últimos anos da década de 90 (em que, aliás, ainda parece estar afundado o Japão) é desplante; querer rasgar compêndios quando o que mais preciso é não esquecer manifestos, lembra fahrenheit quatrocentos e cinquenta e um, ou então é vingança de quem pouco leu na vida; avançar, pomposo, com a grandiloquente afirmação da “crise civilizacional” é permitir-se muito; repetir n vezes que estamos em “aldeia global” como se fosse uma descoberta recente e sua, incomoda-me, pronto[1]; e, ainda por cima, terminar com palavras de carinho e de estímulo que também me são endereçadas, faz-me cócegas, que é que querem?!

E, depois, ainda mal refeito, apanhar com o “orador principal”, pela ponte dos paradigmas paradigmáticos que os unem, que veio, ao que me pareceu, de “um outro mundo”, do mundo “deles”, do mundo dos banqueiros que serão o sustentáculo da economia (“deles”); que sublinhou a convergência de todas as cores políticas, esquecendo-se, claro, da vermelha, de que foge como o diabo da cruz (salvo seja); juntar aos vários nomes da crise a da ética; desprezar, como alternativa, a economia solidária (a que se atreveu a chamar economia da compaixão!); misturar a crise da procura com a queda da poupança, a manutenção do investimento, a praga do que se paga em salários e a produtividade estagnada, tudo numa salada indigerível; confessar – porque pode dizer tudo o que lhe apetecer pois não está na política activa (o que é isso?)! – que a grande preocupação dos bancos é a da liquidez – com a autoridade de banqueiro dixit –, e isto para micro, pequenos e médios empresários ouvirem, com o conselho conselheiral de mudarem de hábitos de vida, é mesmo mesmo de(s)masiado.
Estou “de ressaca”! Logo passa.
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[1] - se calhar é só a mim que li, entre outras coisas, Le "village-monde" et son château, de Philippe Paraire, de 1995, e que traduzi e prefaciei.

7 comentários:

olga disse...

Não sei quem foi a personagem que se atreveu a toldar comentários menos felizes sobre o assunto em questão, mas concerteza que a esta hora já tem as orelhas completamente a arder....hihi

Anónimo disse...

Mas, por onde é que tu andaste?

Não te esqueças que a ignorância é muito atrevida. Já dizia a minha avó, aquela minha avó que era sábia, como diz a minha mãe.

Campaniça

samuel disse...

Apreciei o "conjunto". Francamente, prefiro a tal da "economia da compaixão".
Economia solidária, não é para exibir nem agradecer, sente-se no calor dos braços dados...
Economia da compaixão é para, no mínimo, amarrotar e esfregar na tromba do inventor.

Abraço

...... disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
...... disse...

A atitude reflexiva parece cada vez mais cair em desuso...
- Para quê a filosofia? História? Meras perdas de tempo! O país precisa é de engenheiros... o país precisa do "saber fazer"....
Esquecem-se, porventura, que para saber fazer, também é necessário saber saber... e numa perspectiva de atribuição de sentido... saber ser..
Mas como ouvi alguém dizer "palavra-de-honra" já foi um eufemismo, hoje acho sabemos ser muito menos.
Prostrada na eventualidade certa da existência de corrupção alguém teve o bom senso de me alertar...
- Corrupção? Não! Isso já é uma forma natural de agir!
Seremos cada vez mais espartanos?

Justine disse...

E de ressaca continuarás, infelizmente, porque a ignorância continuará cada vez mais arrogante, até termos a força de a calarmos.

cristal disse...

Nem há mesmo nada mais atrevido que a ignorância. O problema é que ela tem vindo a ser cuidadosamente cultivada!!! Balhame deusssss!