… com umas eleições de
permeio.
A morte de Freitas do
Amaral, logo antes das legislativas de 6 de Outubro justificou um relevo
mediático a que poucos portugueses terão podido ficar indiferentes. Eu que o
diga, que até troquei um começo de madrugada nos trabalhos em que ando (sempre
atrasados…) pela visão de encenação televisiva de uma peça de teatro de Freitas
de Amaral – O Magnífico Reitor – apresentada
como “história ficcionada baseada na
crise académica de 1962”, que melhor se diria desvirtuada que ficcionada
mas adiante que não d’isso que quero tratar. Apenas assim começo para me
referir a outra morte de que ontem tive notícia e que muito me entristeceu. E
deixo, de Freitas de Amaral, o que tanto se insiste para que fique mais inculcado
a pretexto da sua morte, que foi “um dos
pais da nossa democracia”, como dizem os que estariam satisfeitos com ”esta” democracia em que vivemos.
Ontem, a notícia da morte de
Manuela Silva deu-me grande
tristeza. Por ser um ser humano que muito respeitava, pela flagrante diferença
de posições relativamente a outros finados e pelo lamentável decantar das referências
que caracterizam vidas.
Sendo minha colega, na velha
escola do ISCEF (com um par de anos de distância), sem coincidências
ideológicas de fundo (ela católica assumida e firmemente coerente, eu
materialista dialéctico em permanente formação e sempre procurada coerência)
encontrámo-os algumas vezes lutando por uma maior justiça social, em particular
num episódio do período pós-revolucionário em que a sua posição foi, a meu ver,
de uma extraordinária dignidade.
Secretária de Estado do
Planeamento do 1º Governo Constitucional, sendo eu Director-Geral do Emprego e
elemento de ligação com o projecto OIT/ONU da estratégia de emprego e necessidades básicas, tivemos sempre a melhor das colaborações e,
quando o seu homólogo Secretário de Estado do Emprego me demitiu por não-motivos
mas pretextos partidários, teve a coragem de me convidar para seu assessor para
que o Plano de Médio-prazo 1976-80 (emprego e necessidades básicas) fosse
levado a cabo. E foi! O Plano foi aprovado nesse governo e a seguir… metido
numa gaveta em vez de apresentado na Assembleia da República! Manuela Silva
demitiu-se.
Veio, depois, o 2º governo constitucional
(PS-CDS) e a estratégia FMI, pela mão desses “pais” dessa “outra” democracia
(bem pouco democrática)..
Como sentida homenagem (e como
relevo para nota biográfica nada valorizada), reproduzo a parte final do texto
introdutório de Manuela Silva (Considerações
gerais – A noção de necessidades básicas-quantificação - exquibilidade política
- restrições institucionais) ao livro Employment and basic needs in Portugal,
ILO, Genève, 1979 (editado em português pelo Instituto de Pesquisa Social
Damião de Góis, Jan.85):
2 comentários:
Os "democratas"de hoje nunca homenageariam quem defendia as nacionalizações,a reforma agrária e o controlo de gestão como factores positivos para o desenvolvimento do país.Bjo
Tanta história, tanto acontecimento, "tanto barulho para nada"...
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