domingo, julho 25, 2021

CUBA, SI! Vida e Pátria... dos cubanos

 do quase-diário:

 24.07.2021

É certo que não posso ler tudo… mas tenho pena.

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 Andava a ser desafiado por insistente campanha promocional de uma biografia de Cardoso Pires, campanha ditirâmbica do clã Impresa-Expresso (cujos excessos o António Guerreiro tão justamente anotou no seu livro de recitações do Ipsilon do Público.

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 Que mais efeito (ou outros) não tivesse tido, tal campanha promocional (e parece que o livro não é mau…) levou-me a ler a crónica do autor na Revista do Expresso, pela qual, semana após semana, vinha passando como cão por vinha vindimada (não se pode ler tudo…).

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 Até porque o tema e título (Cuba, pátria e vida) me atraiu, embora a corruptela da heróica sigla pária ou morte me seja repulsiva e denunciadora... mas o certo é que não resisti.

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 O tão propalado autor excedeu-se no cumprimento da tarefa de participar numa outra campanha, a do actual ataque a Cuba de Biden na peugada da de Trump (243 medidas a agravarem o bloqueio de 62 anos).

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 Nesse triste texto detive-me nesta “pérola”:

… contra a desastrosa gestão que o governo tem feito da pandemia nos últimos tempos, autorizando voos provenientes da Rússia que, além de turistas russos e os seus rublos, levaram para a ilha privada da família Castro e dos seus delfins a temida variante Delta, responsável pelo aumento de casos de covid 19. ORO

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 (note-se que o governo a que BVA se refere é o cubano…)

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 Superando o asco provocado pela inqualificável agressão que representa designar um Estado soberano como ilha privada da família Castro (será que não se põe freio no destrambelho?!), fui ver dados.

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 De ontem:


 Com uma população ligeiramente acima de Portugal (pouco mais de 11 milhões), o confronto com os nossos números é impressionante:

Portugal

Total de casos

 

     950 000

Recuperados

 

    880 000

Óbitos

 

17 284

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 Se este é o confronto com números de países com próxima população, o confronto com outros países da área (o Brasil, por exemplo) seria ainda mais impressionante… isto para não falar pelas brigadas solidários que Cuba distribuiu pelo mundo (por exemplo, Itália)

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Dúvidas sobre fidelidade dos dados?

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 Wikipédia:

“(…) De acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano, Cuba tem um elevado desenvolvimento humano e está classificada em oitavo lugar na América do Norte, e em 72º lugar mundialmente em 2019.[20] Também ocupa um lugar de destaque em algumas métricas de desempenho nacional, incluindo cuidados de saúde e educação.[21][22] É o único país do mundo a satisfazer as condições de desenvolvimento sustentável estabelecidas pela WWF.[23] De acordo com o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas, as políticas governamentais cubanas erradicaram em grande escala a fome e a pobreza.(…)”


WWF ?! Não, não é nenhum gabinete na Soeiro Pereira Gomes...
World Wide Fund for Nature

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 Bom… não posso ler tudo.

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 E tenho muito mais que fazer!

(...)


sábado, julho 24, 2021

CUBA, SI!

Biden “Deja vivir a Cuba”, claman más de 400 personalidades de EEUU y el mundo

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Más de 400 exjefes de Estado, políticos, intelectuales, científicos, clérigos, artistas, músicos, líderes y activistas de todo el mundo pidieron a Joe Biden, presidente de Estados Unidos, que levante de inmediato las sanciones contra Cuba.

En carta pública, los firmantes expresan “que no hay razón para mantener la política de la Guerra fría que requirió que Estados Unidos tratara a Cuba como un enemigo existencial en lugar de un vecino. En vez de mantener el camino establecido por Trump en sus esfuerzos por deshacer la apertura del presidente Obama a Cuba, les pedimos que avancen. Reanudar la apertura e iniciar el proceso de poner fin al embargo, poner fin a la grave escasez de alimentos y medicinas, debe ser la máxima prioridad”.

En su petición señalaron que recientemente, el 23 de junio, la mayoría de los Estados miembros de Naciones Unidas votaron a favor de pedir al Gobierno estadounidense la eliminación de esta política.

Igualmente, denunciaron que resulta inconcebible, especialmente durante la situación generada por la COVID-19, bloquear intencionalmente las remesas y el uso de las instituciones financieras globales por parte de Cuba, dado que el acceso a dólares es necesario para la importación de alimentos y medicinas.

“Estamos con el pueblo cubano, escribió usted el 12 de julio. Si ese es el caso, le pedimos que firme inmediatamente una orden ejecutiva y anule las 243 medidas coercitivas de Trump”, demandaron los firmantes de la misiva.

Entre los que realizaron esta petición se encuentran los expresidentes Luiz Inácio Lula da Silva y Rafael Correa; el premio nobel de la Paz Adolfo Pérez Esquivel; el destacado lingüista Noam Chomsky; artistas como Danny Glover, Susan Sarandon, Jane Fonda, Oliver Stone, al igual que Chico Buarque, Silvio Rodríguez, Israel Rojas y Eduardo (Choco) Roca Salazar; líderes religiosos como Frei Betto, Reinerio Arce, el reverendo Raúl Suárez, la reverenda Dora Arce Valentín y escritores de talla universal como Miguel Barnet y Nancy Morejón.

La carta fue publicada este viernes por The New York Times como una anuncio pagado.

Esta carta abierta es la primera de una iniciativa conjunta entre The People's Forum, CODEPINK y la Coalición ANSWER para cambiar la política inmoral y miope del embargo hacia Cuba, y para proporcionar medicamentos y suministros médicos muy necesarios al pueblo cubano.

Iluminan a Union Square en Nueva York con mensajes contra el bloqueo



sexta-feira, julho 23, 2021

Uma notícia que nos alerta

 

Estados Unidos anunciam novas sanções a Cuba. “É apenas o início”

Ernesto Mastrascusa / EPA

Sanções dos Estados Unidos a Cuba têm como objetivo castigar “os indivíduos responsáveis pela opressão da população cubana”. Ministro dos Negócios Estrangeiros cubano, numa reação, fala em medidas “sem fundamento e caluniosas” e pede que os EUA se sancionem a si próprios pelos “atos de repressão diários e pela brutalidade policial que custou 1.021 vidas em 2020”.

A administração Biden anunciou ontem a aplicação de novas sanções ao regime cubano, as quais têm como alvo o ministro da Defesa e uma unidade especial de forças pertencente ao ministério do Interior por, segundo as autoridades norte-americanas, estarem diretamente envolvidos na violação de direitos humanos durante os recentes protestos contra o regime.

Num comunicado, Joe Biden afirma que as sanções são “apenas o início” de um esforço que tem em vista sancionar “os indivíduos responsáveis pela opressão da população cubana”. A tomada de posição surge numa altura em que a administração democrata estava já a ser pressionada por ativistas, congressistas e cubano-americanos.

Tal como era expectável, desde que tomou posse, Joe Biden tem apostado em políticas que revertem as decisões tomadas por Donald Trump ao longo dos últimos quatro anos, como as restrições ao comércio e às viagens e a outro tipo de aproximação, numa antítese do que tinha sido feito com Obama.

Durante a passagem pela Casa Branca, o 44.º presidente dos EUA restabeleceu as relações diplomáticas com Havana, em 2015, e foi o primeiro chefe de Estado norte-americano a visitar a ilha (em 2016) desde que Calvin Coolidge o fez em 1959.

No entanto, os mais recentes desenvolvimentos políticos e sociais no território obrigaram Biden a apostar numa abordagem distinta, já que representa a inviabilização de qualquer política que possa ser interpretada como uma cedência ao governo de Miguel Díaz-Canel.

Numa reação às sanções anunciadas em Washington, Bruno Rodríguez, ministro dos Negócios Estrangeiros cubano, caracterizou-as como “sem fundamento e caluniosas”. Na opinião do oficial, os EUA deveriam aplicar sanções a si próprios pelos “atos de repressão diários e pela brutalidade policial que custou 1.021 vidas em 2020”.

As medidas foram tomadas no âmbito do Global Magnisky Act, aprovado pelo Congresso em 2012 com o objetivo de perseguir os “perpetradores de violações sérias de diretos humanos e de corrupção em todo o mundo”, lembra o The Washington Post.

Quando os protestos se iniciaram, vários comunicados foram emitidos pelas agências governamentais norte-americanas. No caso do departamento de Estado, Antony Blinken afirmou que “a partir de 11 de julho, dezenas de milhares de cubanos (…) tomaram as ruas para exigirem pacificamente o respeito das suas liberdades fundamentais e um futuro melhor”.

A resposta que encontraram, segundo Blinken, foi uma “repressão violenta dos protestos, com a detenção de milhares de pessoas simplesmente por exercerem o direito humano da liberdade e de reunião pacífica”.

A questão cubana é especialmente cara para Joe Biden, que em novembro de 2020 não conseguiu os votos da população cubano-americana nas eleições presidenciais — dado que surpreendeu os analistas políticos.

Agora, os congressistas democratas que enfrentam o escrutínio eleitoral em 2022 pressionam Biden a agir mais veemente na defesa do povo cubano, de forma a melhorar as suas chances de reeleição numas eleições que prometem ser críticas para o futuro da presidência de Biden e do próprio partido democrata a longo prazo.

ARM, ZAP //



... e nos envergonha

 como seres humanos!

domingo, julho 18, 2021

desCONFIDENCIAL

 - Nº 2485 (2021/07/15)

Confidencial

Opinião

Entre 720 milhões e 811 milhões de pessoas no mundo sofreram o flagelo da fome em 2020, revela o relatório anual da ONU relativo ao «Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo», divulgado esta semana em Roma. O documento considera que se está perante um «agravamento dramático» da fome a nível mundial, com quase um décimo da população do planeta a sofrer de subnutrição.

O agravamento da situação está relacionado com as consequências da COVID-19: «a pandemia continua a expor as fraquezas dos nossos sistemas alimentares, que ameaçam a vida e a subsistência de pessoas em todo o mundo», lê-se no documento, que revela ainda que mais de 2,3 mil milhões de pessoas (cerca de uma em cada três pessoas no mundo) não tiveram uma alimentação adequada em 2020, o que representa um aumento de quase 320 milhões de pessoas face a 2019. As principais vítimas são as crianças, e não apenas nos países pobres: na União Europeia ascendiam a 18 milhões, 22,5%, as que em 2019 enfrentavam a pobreza e a exclusão social.

Enquanto isso, no mesmo período, cresceu o número de milionários no mundo, mostra o Relatório Global de Fortunas divulgado pelo banco Credit Suisse. Este clube restrito acolhe agora cinco milhões de pessoas, ultrapassando pela primeira vez a fasquia de um por cento da população mundial. Portugal, onde um quinto da população é pobre e mais de 11% dos trabalhadores vive em situação de pobreza, também está representado no selecto grupo: 136 mil milionários, mais 19 mil do que em 2019.

Neste maravilhoso mundo capitalista, onde alegadamente os direitos humanos orientam a acção das democracias burguesas, que em seu nome não hesitam em impor sanções a terceiros, a justiça social e a igualdade de oportunidades com que tantos enchem a boca pouco têm a ver com a realidade. Que o digam os norte-americanos, tão ciosos das suas listas de maus da fita, que à denúncia da ProPublica, uma organização de jornalistas sem fins lucrativos que acedeu às declarações financeiras dos milionários nos EUA, viram a Casa Branca mais preocupada com a fuga de informação do que com a substância dos factos, os quais revelam, por exemplo, que Jeff Bezos, o homem mais rico do mundo, em 2007 e 2011 «não pagou um cêntimo em impostos federais». E sem cometer qualquer ilegalidade, note-se.

A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, logo veio lembrar que a «divulgação não autorizada de informações confidenciais do governo é ilegal», pelo que os responsáveis pelos serviços de impostos vão investigar a fuga de dados. Ou seja, a democrata administração de Biden, ao invés de se preocupar com a (in)justiça fiscal, persegue quem a desnuda. Percebe-se. O segredo, a par da hipocrisia é a alma do negócio.

Anabela Fino 

quinta-feira, julho 15, 2021

Ainda (e sempre!) CUBA, SIM!

  - Nº 2485 (2021/07/15)


Cuba defenderá a sua soberania 
face a intentos desestabilizadores

Internacional

O presidente Miguel Díaz-Canel reafirmou a determinação de Cuba de defender o seu direito à soberania e independência face aos intentos desestabilizadores promovidos a partir dos Estados Unidos da América.

O chefe do Estado de Cuba denunciou o incremento de uma campanha através das redes sociais, que pretende criar matrizes de opinião com o fim de desacreditar os esforços que faz a Revolução Cubana para garantir a saúde e a vida do povo. Numa conferência de imprensa, na segunda-feira, 12, Díaz-Canel referiu-se aos protestos realizados na véspera por grupos de pessoas em algumas cidades do país com os quais, disse, se pretende justificar a necessidade de uma «intervenção humanitária» estrangeira.

Disse que Cuba necessita de solidariedade, que jamais recusou, e da suspensão imediata das 243 medidas de reforço do bloqueio implementadas pelo ex-presidente Trump e mantidas pela administração de Joe Biden. Instou o presidente norte-americano a escutar o clamor mundial e a pôr fim ao bloqueio económico, comercial e financeiro imposto a Cuba desde há seis décadas.

Noutra intervenção, essa no domingo, 11, em Havana, para partilhar com o povo informações sobre as provocações orquestradas por elementos contra-revolucionários, organizados e financiados a partir dos EUA com propósitos desestabilizadores, o também primeiro secretário do Partido Comunista de Cuba considerou que «aos EUA tem perturbado muito, durante 60 anos, o exemplo da Revolução Cubana».

Evocou a complexa situação económica provocada pelo bloqueio, agravada pelo recrudescimento das medidas coercivas visando asfixiar a economia do país. Tais medidas restritivas cortaram as principais fontes de divisas – o turismo, as viagens de cubanos e americanos à ilha, as remessas dos emigrantes. Tudo isto acrescido do plano de desacreditação das brigadas médicas cubanas, já que através dessa colaboração o país obtém também o ingresso de divisas.

Esta situação, explicou, provocou falhas no abastecimento de alimentos, medicamentos, matérias-primas e consumíveis para poder desenvolver o processo económico e produtivo.

 

Defender a Revolução

No meio destas condições muito difíceis, chegou a pandemia de COVID-19, que afectou não só Cuba mas também os EUA e outros países economicamente mais poderosos. Estes, apesar das suas riquezas, «têm indicadores em relação ao enfrentamento da pandemia que mostram, em muitos casos, piores resultados que os de Cuba».

Foi com enormes dificuldades que Cuba enfrentou a pandemia, «partilhando entre todos o pouco que temos». E, mesmo assim, conseguindo criar cinco candidatos vacinais, um deles já reconhecido como vacina, «a primeira vacina da América Latina contra a COVID-19», evidenciou Díaz-Canel, lembrando que Cuba já está a vacinar a sua população, num processo que demora algum tempo.

No momento em que, tal como outros países, Cuba enfrenta um pico epidémico – de que sairá mais cedo do que tarde –, os que «sempre apoiaram o bloqueio, os que serviram como mercenários, lacaios do império yankee,«de maneira muito cobarde, subtil, oportunista, muito perversa» começam a aparecer com doutrinas de «intervenção humanitária», de «corredor humanitário», para promover a ideia de que o Governo cubano não é capaz de sair desta situação, como se estivessem interessados no bem-estar e na saúde do povo», e, manipulando as dificuldades, procuram organizar manifestações e distúrbios, denunciou o presidente.

Díaz-Canel enfatizou que «em Cuba as ruas são dos revolucionários» e que o Estado, o Governo revolucionário, guiado pelo Partido, têm toda a vontade política para discutir, para argumentar e para participar com o povo na solução dos problemas, mas «reconhecendo qual a verdadeira causa dos nossos problemas, sem nos deixarmos confundir».

Por isso, convocou todos os revolucionários do país, todos os comunistas, «a sair às ruas em qualquer lugar onde haja essas provocações, hoje, a partir de agora e em todos os dias». E reafirmou: «Os revolucionários e, na primeira linha, os comunistas, defendemos a Revolução acima de tudo. E, com essa convicção, estamos já nas ruas, não vamos permitir que ninguém manipule a situação, nem que ninguém possa defender um plano que não seja cubano, que não seja de bem-estar para os cubanos e que seja anexionista. Para isso convocamos os revolucionários, os comunistas de Cuba».


PCP apela à solidariedade
com a Revolução Cubana

O Partido Comunista Português expressou a sua solidariedade com Cuba, o Governo e o povo cubanos que, enfrentando uma situação exigente e complexa inseparável da intensificação da acção de ingerência e de agressão do imperialismo, se empenha de forma determinada no combate à epidemia, na defesa da sua soberania e independência e dos seus legítimos direitos, incluindo ao desenvolvimento.

Numa nota divulgada pelo seu Gabinete de Imprensa, no dia 12, o PCP valoriza os esforços e os avanços alcançados por Cuba no combate à epidemia no seu País e na solidariedade que prestou e presta a outros países e povos no âmbito da saúde pública, incluindo face à pandemia.

O PCP condena veementemente a política da actual administração norte-americana que não só insiste na continuidade do criminoso bloqueio económico, financeiro e comercial, com carácter extraterritorial, imposto há mais de 60 anos pelos EUA contra Cuba e o povo cubano, como mantém as medidas de cruel recrudescimento deste bloqueio implementadas pela Administração Trump, particularmente durante o período da pandemia, visando impedir o acesso a bens essenciais, como medicamentos e alimentos, assim como o desenvolvimento económico deste país caribenho.

O PCP denuncia a hipocrisia daqueles que, expressando uma enganadora preocupação com o povo cubano, ocultam deliberadamente a política de ingerência e de agressão dos EUA – incluindo a existência do bloqueio e os seus efeitos – que atenta violentamente contra a soberania e a independência de Cuba e os direitos do seu povo.

Denunciando e repudiando as acções de desestabilização e provocação que os EUA promovem, instrumentalizando cinicamente as nefastas consequências do bloqueio pelo qual são responsáveis, o PCP salienta o exemplo de coragem e dignidade de Cuba e do povo cubano e apela à solidariedade com a Revolução Cubana e à exigência do fim do bloqueio dos EUA contra Cuba, como foi reiterado pela Assembleia Geral das Nações Unidas no passado mês de Junho.

CUBA resiste! - Frei Beto

 CUBA RESISTE!

 Frei Betto*

Poucos ignoram minha solidariedade à Revolução Cubana. Há 40 anos visito com frequência a Ilha, em função de compromissos de trabalho e convites a eventos. Por longo período intermediei a retomada do diálogo entre bispos católicos e o governo de Cuba, conforme descrito em meus livros “Fidel e a religião” (Fontanar/Companhia das Letras) e “Paraíso perdido – viagens ao mundo socialista” (Rocco). Atualmente, contratado pela FAO, assessoro o governo cubano na implementação do Plano de Soberania Alimentar e Educação Nutricional. 

Conheço em detalhes o cotidiano cubano, inclusive as dificuldades enfrentadas pela população, os questionamentos à Revolução, as críticas de intelectuais e artistas do país. Visitei cárceres, conversei com opositores da Revolução, convivi com sacerdotes e leigos cubanos avessos ao socialismo. 

Quando dizem a mim, um brasileiro, que em Cuba não há democracia, desço da abstração das palavras à realidade. Quantas fotos ou notícias foram ou são vistos sobre cubanos na miséria, mendigos espalhados nas calçadas, crianças abandonadas nas ruas, famílias debaixo de viadutos? Algo semelhante à cracolândia, às milícias, às longas filas de enfermos aguardando anos para serem atendidos num hospital? 

Advirto os amigos: se você é rico no Brasil e for viver em Cuba conhecerá o inferno. Ficará impossibilitado de trocar de carro todo ano, comprar roupas de grife, viajar com frequência para férias no exterior. E, sobretudo, não poderá explorar o trabalho alheio, manter seus empregados na ignorância, “orgulhar-se” da Maria, sua cozinheira há 20 anos, e a quem você nega acesso à casa própria, à escolaridade e ao plano de saúde.

Se você é classe média, prepare-se para conhecer o purgatório. Embora Cuba já não seja uma sociedade estatizada, a burocracia perdura, há que ter paciência nas filas dos mercados, muitos produtos disponíveis neste mês podem não ser encontrados no próximo devido às inconstâncias das importações.

Se você, porém, é assalariado, pobre, sem-teto ou sem-terra, prepare-se para conhecer o paraíso. A Revolução assegurará seus três direitos humanos fundamentais: alimentação, saúde e educação, além de moradia e trabalho. Pode ser que você tenha muito apetite por não comer o que gosta, mas jamais terá fome. Sua família terá escolaridade e assistência de saúde, incluindo cirurgias complexas, totalmente gratuitas, como dever do Estado e direito do cidadão.

Nada é mais prostituído do que a linguagem. A celebrada democracia nascida na Grécia tem seus méritos, mas é bom lembrar que, na época, Atenas tinha 20 mil habitantes que viviam do trabalho de 400 mil escravos... O que responderia um desses milhares de servos se indagado sobre as virtudes da democracia?

Não desejo ao futuro de Cuba o presente do Brasil, da Guatemala, de Honduras e ou mesmo de Porto Rico, colônia estadunidense, à qual é negada independência. Nem desejo que Cuba invada os EUA e ocupe uma área litorânea da Califórnia, como ocorre com Guantánamo, transformada em centro de torturas e cárcere ilegal de supostos terroristas.

Democracia, no meu conceito, significa o “Pai nosso” – a autoridade legitimada pela vontade popular –, e o “pão nosso” – a partilha dos frutos da natureza e do trabalho humano. A rotatividade eleitoral não faz, nem assegura uma democracia. O Brasil e a Índia, tidas como democracias, são exemplos gritantes de miséria, pobreza, exclusão, opressão e sofrimento. 

Só quem conhece a realidade de Cuba anterior a 1959 sabe por que Fidel contou com tanto apoio popular para levar a Revolução à vitória. O país era conhecido pela alcunha de “prostíbulo do Caribe”. A máfia dominava os bancos e o turismo (há vários filmes sobre isso). O principal bairro de Havana, ainda hoje chamado de Vedado, tem esse nome porque, ali, os negros não podiam circular...

Os EUA nunca se conformaram por ter perdido Cuba sujeita às suas ambições. Por isso, logo após a vitória dos guerrilheiros de Sierra Maestra, tentaram invadir a Ilha com tropas mercenárias. Foram derrotados em abril de 1961. No ano seguinte, o presidente Kennedy decretou o bloqueio a Cuba, que perdura até hoje. 

Cuba é uma ilha com poucos recursos. É obrigada a importar mais de 60% dos produtos essenciais ao país. Com o arrocho do bloqueio promovido por Trump (243 novas medidas e, até agora, não removidas por Biden), e a pandemia, que zerou uma das principais fontes de recursos do país, o turismo, a situação interna se agravou. Os cubanos tiveram que apertar os cintos. Então, os insatisfeitos com a Revolução, que gravitam na órbita do “sonho americano”, promoveram os protestos do domingo, 11 de julho – com a “solidária” ajuda da CIA, cujo chefe acaba de fazer um giro pelo Continente, preocupado com o resultado das eleições no Peru e no Chile. 

Quem melhor pode explicar a atual conjuntura de Cuba é seu presidente, Diaz-Canel: “Começou a perseguição financeira, econômica, comercial e energética. Eles (a Casa Branca) querem que se provoque um surto social interno em Cuba para convocar “missões humanitárias” que se traduzem em invasões e interferências militares.”

“Temos sido honestos, temos sido transparentes, temos sido claros e, a cada momento, explicamos ao nosso povo as complexidades dos dias atuais. Lembro que há mais de um ano e meio, quando começou o segundo semestre de 2019, tivemos que explicar que estávamos em situação difícil. Os EUA começaram a intensificar uma série de medidas restritivas, endurecimento do bloqueio, perseguições financeiras contra o setor energético, com o objetivo de sufocar nossa economia.  Isso provocaria a desejada eclosão social massiva, para poder apelar à intervenção “humanitária”, que terminaria em intervenções militares”. 

“Essa situação continuou, depois vieram as 243 medidas (de Trump, para arrochar o bloqueio) que todos conhecemos e, finalmente, decidiu-se incluir Cuba na lista de países patrocinadores do terrorismo. Todas essas restrições levaram o país a cortar imediatamente várias fontes de receita em divisas, como o turismo, as viagens de cubano-americanos ao nosso país e as remessas de dinheiro.  Formou-se um plano para desacreditar as brigadas médicas cubanas e as colaborações solidárias de Cuba, que recebeu uma parte importante de divisas por essa colaboração.”

“Toda essa situação gerou uma situação de escassez no país, principalmente de alimentos, medicamentos, matérias-primas e insumos para podermos desenvolver nossos processos econômicos e produtivos que, ao mesmo tempo, contribuam para as exportações. Dois elementos importantes são eliminados: a capacidade de exportar e a capacidade de investir recursos.” 

“Também temos limitações de combustíveis e peças sobressalentes, e tudo isso tem causado um nível de insatisfação, somado a problemas acumulados que temos sido capazes de resolver e que vieram do Período Especial (1990-1995, quando desabou a União Soviética, com grave reflexo na economia cubana). Juntamente com uma feroz campanha mediática de descrédito, como parte da guerra não convencional, que tenta fraturar a unidade entre o partido, o Estado e o povo; e pretende qualificar o governo como insuficiente e incapaz de proporcionar bem-estar ao povo cubano.”

“O exemplo da Revolução Cubana incomodou muito os EUA durante 60 anos.  Eles aplicaram um bloqueio injusto, criminoso e cruel, agora intensificado na pandemia. Bloqueio e ações restritivas que nunca realizaram contra nenhum outro país, nem contra aqueles que consideram seus principais inimigos. Portanto, tem sido uma política perversa contra uma pequena ilha que apenas aspira a defender sua independência, sua soberania e construir a sua sociedade com autodeterminação,  segundo princípios que mais de 86% da população têm apoiado.”

“Em meio a essas condições, surge a pandemia, uma pandemia que afetou não apenas Cuba, mas o mundo inteiro, inclusive os Estados Unidos. Afetou países ricos, e é preciso dizer que diante dessa pandemia nem os Estados Unidos, nem esses países ricos tiveram toda a capacidade de enfrentar seus efeitos. Os pobres foram prejudicados, porque não existem políticas públicas dirigidas ao povo, e há indicadores em relação ao enfrentamento da pandemia com resultados piores que os de Cuba em muitos casos. As taxas de infecção e mortalidade por milhão de habitantes são notavelmente mais altas nos EUA que em Cuba (os EUA registraram 1.724 mortes por milhão, enquanto Cuba está em 47 mortes por milhão). Enquanto os EUA se entrincheiravam no nacionalismo vacinal, a Brigada Henry Reeve, de médicos cubanos, continuou seu trabalho entre os povos mais pobres do mundo (por isso, é claro, merece o Prêmio Nobel da Paz).”

“Sem a possibilidade de invadir Cuba com êxito, os EUA persistem com um bloqueio rígido. Após a queda da URSS, que proporcionou à ilha meios de contornar o bloqueio, os EUA tentaram aumentar seu controle sobre o país caribenho. De 1992 em diante, a Assembleia Geral da ONU votou esmagadoramente pelo fim desse bloqueio. O governo cubano informou que entre abril de 2019 e março de 2020 Cuba perdeu 5 bilhões de dólares em comércio potencial devido ao bloqueio; nas últimas quase seis décadas, perdeu o equivalente a 144 bilhões de dólares. Agora, o governo estadunidense aprofundou as sanções contra as companhias de navegação que trazem petróleo para a ilha.”

É essa fragilidade que abre um flanco para as manifestações de descontentamento, sem que o governo tenha colocado tanques e tropas nas ruas. A resiliência do povo cubano, nutrida por exemplos como Martí, Che Guevara e Fidel, tem se demonstrado invencível. E a ela devemos, todos nós, que lutamos por um mundo mais justo, prestar solidariedade.

*Frei Betto é escritor (freibetto.org). Assine e receba todos os artigos e livros do autor: mhgpal@gmail.com