segunda-feira, maio 30, 2022

Um dia no Texas

  - Nº 2530 (2022/05/26)


Um dia no Texas

Internacional

Um jovem, de dezoito anos apenas e cujo nome é irrelevante, entrou numa escola primária com duas metralhadoras e matou 20 crianças e um professor. Antes, tinha dado um tiro na avó. Depois, foi morto pela polícia. A guerra civil americana nunca terminou verdadeiramente.

Tradicionalmente, os EUA lidam com todos os seus problemas internos exportando-os. Isto tanto vale para a inflação (cujo descontrolo na outra margem do lago é muito anterior à guerra na Europa) como para a violência em geral e para os tiroteios em particular. Contagiar a concorrência — ou o inimigo — permite por vezes a diluição o problema, mas garante sempre a diminuição da vantagem do oponente.

O que aconteceu no Texas não foi um caso isolado. Só desde o início do ano, são já 28 os tiroteios em massa dentro de escolas nos EUA. Todas as semanas há um. No Texas, onde nem sequer existe qualquer registo das armas que se vendem e se compram, este é já o quarto.

Os tiroteios em massa têm causas profundas que vão, contudo, muito para além da facilidade com que se adquire uma arma: reflectem a violência enxertada na cultura de um povo por dois séculos de guerras imperiais; traduzem as profundas divisões e desigualdades entre brancos e negros; ricos e pobres; índios e colonos; urbanos e rurais; democratas e republicanos; confederados e nortenhos; religiosos e ateus; imigrantes recentes e imigrantes antigos.

Mas principalmente, a epidemia de tiroteios que persegue os EUA há tantas décadas é sintomática de uma sociedade doente, em fim de linha civilizacional. Não sobrem portanto dúvidas de que, incapazes de controlá-la, alguns governantes estado-unidenses não se importariam de vê-la contagiar o resto do mundo. A receita é, de resto, pública e pode confeccionar-se de variadíssimas formas: vendendo mais armas; acicatando o belicismo; promovendo a cultura da violência, do medo e do ódio; deixando caixas abertas cheias de metralhadoras no meio das avenidas; convencendo-nos sorrateiramente de que falar não serve de nada porque é aos tiros que se resolve tudo. É assim que se acorda um dia no Texas


António Santos




quarta-feira, maio 25, 2022

euro: 20 anos de circulação-passado, presente e futuro (intervenção)

 

da intervenção:

(…) esta iniciativa transporta-nos a mais do que a 20 anos atrás, a outro Maio – ao de 1998 –, à sessão do Parlamento Europeu, em que foi votada a criação do euro e do Banco Central Europeu pela única instituição da estrutura comunitária de representantes eleitos pelos povos.

Será o passado… um pouco anterior à data de pôr em circulação a nova moeda.

Em coerência com a nossa leitura da História, ao tomar posição sobre os factos, importa conhecer antecedentes, saber como se chegou a eles, o seu porquê e com que intenções.    

Com a criação da UEM, o capitalismo transnacional procurava superar, no âmbito da integração europeia, a crise presente e latente intrínseca ao sistema.

A decisão unilateral da inconvertibilidade do dólar (Nixon, 15.08.1971) desmantelava, de facto, o sistema financeiro internacional criado em Bretton-Woods em 1944, que perdia a sua base de sustentação material, o dólar convertível.

Depois da fracassada tentativa de uma moeda única a 6 Estados na CEE, a unidade de conta écu, com faixas de oscilação das taxas de cambio das moedas nacionais no espaço alargado a 12 Estados-membros, fora remendo, e não remédio, para alguma necessária estabilidade cambial no mercado interno, que entretanto se viria a criar. 

 O euro aparecia, também, como emenda regional, ou até eventual substituto ou complemento para a arrastada crise monetária.

Foi, no entanto, avanço num descaminho, e não se podia esperar que o euro, tal como criado, ajudasse a superar a crise monetária-financeira larvar. Não só o euro… também o BCE, enquanto instituição criada com seus objectivos e competências federalizantes, à margem de qualquer resquício de democraticidade.

Eram mecanismos – instrumento-moeda e instituição-banco – impostos sem controlo das soberanias nacionais ou de outras instituições comunitárias com vínculos (ainda que indirectos) aos povos dos Estados-membros. Mas, evidentemente, sob controlo directo e submissão ao capital financeiro transnacional…

Todo o poder à banca!

A criação da moeda única e do BCE foi um momento numa fase do sistema que procurava, pela especulação financeira, pela armadilha da dívida, sobreviver, contrariar o que resulta da sua própria dinâmica, com leis tendenciais que impedem a acumulação de capital material, fruto – e único alimento – de uma relação social que o define como sistema.

Teve o maior significado, como frente de luta, a intervenção do PCP em todo o processo, na campanha de esclarecimento do que estava em jogo (coarctada por todos os meios), no debate, na avaliação, de critérios e actos formais, para adopção. Um acompanhamento a par e passo, denunciando argumentos e intenções.

Se, na correlação de forças de então, se entendia a UEM como uma imposição de classe, como via de precária superação da crise financeira-bancária latente, e agravando contradições intrínsecas, quer a nossa participação, quer a votação, só podiam ser, também, uma resposta de classe,

O voto do PCP no Parlamento Europeu foi a expressão de uma posição sobre o modo como o projecto foi conduzido, ao serviço de que interesses.

A declaração de voto de 2 de Maio de 98 no PE, não foi um voto contra a estabilidade de preços, o equilíbrio orçamental, o controlo da dívida; foi, sim, um voto contra a futura utilização de instrumentos e instituições para impor estratégias que, como está na declaração, iriam prosseguir e agravar a concentração da riqueza, tornar estrutural o desemprego, agudizar assimetrias e desigualdades, criar maior e nova pobreza e exclusão sociais, diminuir as soberanias nacionais e acrescer défices democráticos. Agravariam, foi dito!, a crise financeira e provocariam explosões periódicas.

Foi sublinhado, também, que o voto prevenia o decorrente privilégio de zonas geográfico-monetárias e a partilha de influência entre grandes famílias partidárias, numa evidente polarização do poder, que viria a condicionar todas as políticas dos Estados-enquanto Estados-membros, e contribuiria para a dependência da outra moeda, o dólar, que se mantinha o instrumento monetário embora desmaterializado, elemento da submissão a uma unilateralidade alcunhada de globalização.

Foi essa, então, a posição do PCP, dos seus deputados no Parlamento Europeu, em defesa de um Portugal soberano. Nesse voto contra, foram acompanhados por mais 62 outros deputados, num total de 65 votos contra, ainda com mais 24 abstenções.

No presente, nestes vividos e aqui assinalados vinte anos de existência como moeda em circulação, confirma-se o que foi declarado a justificar o voto, sem alegria mas com a tranquilidade e a força que dá ter tido razão nas consequências previstas, porque previsíveis.

Bem diferente foi a posição de alguns que festejaram euforicamente o que chamaram (cito) “acontecimento singular”, que orgulhosamente colocava Portugal “na primeira fila dos países fundadores” (do euro); neste presente, agora alguns descobrem ou não conseguem negar – e até, por vezes, denunciam, escandalizados… – o que etiquetaram e anatematizaram como presságios de mau augúrio, que a realidade veio, afinal, confirmar. Com todos os gravíssimos danos sociais, humanitários, que se confrontam. Hoje!

Como necessariamente deriva do que se testemunha com o que se viveu, deve dar-se a maior importância ao passado e ao presente, para fundar e dar sentido à luta que continua no futuro. Um futuro para que se tem Partido

A revisita ao que passou pode dar argumentos e força para desmascarar o rumo que pretendem manter, de concentração e de centralização, a cada passo mais anti-democrático, coberto do verniz de mentira e do manto da demagogia perigosamente enganadores.

Os momentos que se vivem dão preocupantes sinais do aproveitamento da dimensão histórica (e os dedos e a voz soltam-se para dizerem histérica), da dimensão destes momentos para imporem a irracionalidade comprovada pelo passado e pelo presente.

A acabada de realizar Conferência sobre o Futuro da (dita) Europa (como se insiste até à exaustão a chamar à União Europeia), reflectiu prioridades de quem manda na U.E., na ausência de verdadeira informação, debate e participação.

Como se poderiam enumerar – o que faria transbordar o tempo desta intervenção e nem assim seria exaustiva –, não faltam exemplos dos objectivos e políticas federalistas, neoliberais, militaristas, de um processo de integração comunitária de Estados-membros soberanos, que vão sendo esvaziados do que compõe essas soberanias.

Cada vez mais à margem da participação dos povos, estes não são sujeitos mas sim objecto de uma propaganda manipuladora que substituí a informação. No entanto, tal não parece suficientemente eficaz, pois essa propaganda é acompanhada de diminuição, tendente à anulação, das circunstâncias em que as decisões exigem unanimidade dos Estados soberanos e necessitam de ratificação democrática, com intervenção directa dos povos.

Em tempos, muito se falou e debateu uma política europeia de segurança e cooperação-PESC, de algum modo se saudou a criação, em 75, da Organização de Segurança e Cooperação Europeias, que, por exemplo, teve intervenção activa nos acordos de Minsk de 2014.

Assim como as segurança e cooperação europeias se confundem e submetem numa organização criada como militarista e agressiva no âmbito do Atlântico Norte e se assume como universal, também a moeda única, que retirou soberania financeira-monetária, orçamental aos Estados, que destruiu economias nacionais num contexto de internacionalização, essa moeda, tal como criada, se apagou num sistema financeiro dominado por uma moeda que nem moeda é, mas um papel verde, que tem inscrita uma frase-aviso in God we trust.

A Europa – e nesta referência é mesmo a Europa – parece alheia, parece ignorar que noutras partes do mundo, nesta oportunidade ou por força das circunstâncias, se procuram soluções para as relações económicas internacionais do futuro, fora do domínio desse pseudo-instrumento que se baseia numa fidúcia que não merece nenhuma confiança (material) e apenas se sustenta pela força das armas, do complexo industrial-militar. Que é um grande perigo, um enorme perigo para a Humanidade.

Num mundo cada vez mais interdependente, recuperar a soberania nacional sobre um instrumento financeiro, fora do jogo de taxas de juro alienígenas, colocá-lo ao serviço de uma economia que promova o investimento, aproveite os recursos próprios no respeito pelo ambiente, incremente a produção, tenha por objectivo a melhoria das condições de trabalho e de vida dos trabalhadores e das populações, é também necessária, talvez indispensável, para a luta pela Paz

sábado, maio 21, 2022

euro: 20 anos-passado, presente e futuro

 


EM

|MOEDA ÚNICA

Euro: passado, presente e futuro

Os vinte anos de circulação do euro vão estar em debate dia 24, em Lisboa, com a participação de um conjunto de personalidades nacionais e estrangeiras, nomeadamente economistas e deputados europeus.

O PCP recusa a impossibilidade de o País poder decidir sobre o seu próprio destino
Créditos

O debate, que se realizará no ISCTE, em Lisboa, abordará os «20 anos de circulação do euro», em que Portugal, para além da moeda, perdeu importantes instrumentos de soberania, designadamente a independência do seu banco central e a capacidade de definir, por si próprio, as suas políticas monetária, financeira e cambial.

Nele participam vários economistas, nomeadamente Carlos Carvalhas, Eugénio Rosa, João Ferreira do Amaral, João Rodrigues, José Lourenço, Nuno Teles e Ricardo Cabral.

Na iniciativa, promovida pelo PCP com o apoio do Grupo Confederal da Esquerda no Parlamento Europeu (PE), intervirão também Sandra Pereira, deputada comunista no PE, Thomas Pringle, deputado independente no Parlamento Irlandês, e Denis Durand, ex-administrador do Banco da França.

Jerónimo de Sousa encerrará o encontro, onde participam ainda os comunistas João Ferreira e Vasco Cardoso, membros da Comissão Política, e Agostinho Lopes, responsável pela Comissão dos Assuntos Económicos do PCP.

quarta-feira, maio 11, 2022

É DE SUSTO|

Ler isto (no meio de muito igual, ou parecido, com a mesma intenção de NOS preparar para a guerra que vêem preparando) é quase aterrador. 

"... Pertencer à NATO seria um desenvolvimento histórico para os dois países nórdicos. A Suécia vem a evitar alianças militares há 200 anos e a Finlândia adotou a neutralidade depois de ter sido derrotada pela União Soviética na II Guerra Mundial."

"... a Finlândia adotou a neutralidade depois de ter sido derrotada pela União Soviética na II Guerra Mundial"... mas o que é isto, que História é esta?!

"Biden. O Presidente norte-americano assinou ontem uma proposta para agilizar ainda mais o envio de ajuda militar ao exército ucraniano decalcado de um outro documento que serviu para ajudar os Aliados a lutar contra os nazis na II Guerra Mundial. A lei chama-se Ukraine Democracy Defense Lend-Lease Act “mas a sua arquitetura é uma herança com 81 anos, quando algo semelhante foi aprovado por Franklin Roosevelt”. O diploma deixa os EUA “cada vez mais dentro da guerra”."

Quem é que está louco? 

Que força é esta... do complexo militar-industrial?  

terça-feira, maio 03, 2022

O "complexo militar-industrial"

 Um artigo no Público de hoje... para ler e divulgar:

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