sexta-feira, setembro 29, 2023

A ORDEM MUNDIAL

 - Nº 2600 (2023/09/28)


A ordem

Opinião

Já quase ninguém o nega: o mundo está a mudar e está a mudar depressa.

No discurso político e mediático dominante no chamado Ocidente alargado lamenta-se já o anunciado fim da ordem mundial surgida do pós-Guerra Fria (que alguém garantiu um dia ser o Fim da História) e prevê-se o advento de um mundo menos livre, democrático e pacíficoPorém, fora da bolha do pensamento único em que as grandes cadeias «informativas» nos pretendem confinar, a questão apresenta-se de modo bem menos simplista – e a abertura da 78.ª sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas revelou-o (isto, claro, se não nos limitarmos a ouvir os bidens, os zelenskys ou os borrels…).

Do Brasil veio a denúncia de um mundo tremendamente injusto: «Os 10 maiores bilionários possuem mais riqueza que os 40% mais pobres da humanidade.» Para Cuba, «ofende a condição humana que quase 800 milhões de pessoas passem fome num planeta que produz o suficiente para alimentar todos» e que na dita era do conhecimento mais de 760 milhões de seres humanos, dois terços dos quais mulheres, não saibam ler nem escrever. Moçambique relacionou insucesso no cumprimento dos objectivos de desenvolvimento com a «ausência de confiança e solidariedade entre quem tem muito e quem tem pouco ou quase nada».

As Honduras exigiram o fim da «prática de sanções, pirataria e confisco de bens de uma nação», como hoje sucede contra a Venezuela, para quem estas medidas coercivas ilegais constituem «um ataque deliberado contra o direito ao desenvolvimento». O Zimbabué, vítima destas medidas há já mais de duas décadas, relaciona-as com a tentativa de algumas potências de «subjugar a vontade soberana» dos povos.

A Namíbia insurgiu-se contra o «apartheid vacinal» e a Colômbia acusou os que «fazem negócio com os medicamentos e convertem as vacinas em mercadorias». Angola garantiu que por detrás de muitos dos conflitos armados que se travam em África há uma «mão invisível interessada em desestabilizar o continente», enquanto a África do Sul rejeita que sejam os povos africanos a suportar os custos do desenvolvimento das potências ocidentais: «este é um preço que os povos de África já não estão dispostos a pagar.»

«Porquê permanecer em silêncio acerca de todas as flagrantes violações do direito internacional cometidas por Israel», questionou a Palestina, enquanto a Bolívia propôs ousadia para «transformar os gastos da guerra e da morte em investimentos para a vida» Ruanda reclamou que seja dado «igual peso às necessidades e prioridades de todos».

São cada vez mais os que contestam os pilares em que assenta a ordem mundial imperialista: a injustiça, a dominação, a chantagem, a guerra. Algo de novo está a nascer. E essa é uma boa notícia.

 

Gustavo Carneiro 

1 comentário:

Maria João Brito de Sousa disse...

Contente por saber que o Anónimo sác. xxi continua entre nós e consciente de que algo de novo está a nascer, apesar de todos os riscos,
deixo o meu abraço!