Depois de ter lido (pela enésima vez) um poema de Brecht, resolvi traduzi-lo de libérrima maneira:
Deram-nos boletins de voto,
E, em troca, entregámos as nossas armas
(tudo!, até o que armas não era).
Eles fizeram-nos promessas,
e nós demos-lhe as nossas espingardas,
(a nossa confiança e as nossas poupanças).
E disseram-nos:
“os que quiserem
poderão ajudar-nos a partir de hoje,
nós só temos de tomar as decisões,
e vocês farão tudo o resto para nós”.
Então,
deixámo-nos enganar, como tantas vezes na História,
e comportamo-nos como é preciso,
sossegados,
respeitadores, veneradores e obrigados.
Dizem-nos:
"está tudo certo,
até a chuva…
se é para cima que ela quer cair”.
E não nos cansam de nos dizer,
em vários sons e tons,
que tudo está nos seus lugares devidos.
Se um mal menor nós aguentamos
e se dele nos cansamos,
logo nos será dada a prenda de um mal igual
ou de um mal tal-e-qual,
quando não de um mal maior.
Só na última década,
para não continuarmos a engolir o sapo Cavaco,
escolhemos o beato Guterres
e apanhámos com um durão Barroso
para não suportar um ferro Rodrigues.
Agora,
depois de termos aguentado um santana Lopes
no lugar que sampaiamente lhe foi concedido,
fomos nós a dá-lo a um pragmatófilo Sócrates,
e aí está ele de parceria com o mesmo Cavaco de esquecida e má memória,
cá regressado à custa de alegres Soares e de sisudos Louçã(s).
… e, no entanto, a chuva nunca deixou de cair,
de (es)correr para baixo,
a tombar lá de cima,
às vezes a cântaros, em doses colossais.
2 comentários:
Este poema tão esclarecedor, será lido em próximas campanhas.
Está tudo aqui, magnificamente escrito!
Parabéns!
GR
libérrima.
adequadíssima.
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