domingo, novembro 07, 2010

O País está falido? - 1

No regresso de qualquer iniciativa em que participe, faço sempre (sempre que é possível…) um balanço de como correu, uma… auto-crítica. Raro fico satisfeito comigo! Às vezes, quero tentar corrigir ou melhorar. Logo logo.
Anteontem, em Torres Novas, fui surpreendido – e não o deveria ter sido… mas não ouvira rádio, nem vira jornais em que o FMI lamentava a inevitável falência de Portugal! – pela preocupação de amigos e camaradas sobre o que é um país falir, sobre as consequências de tal emergência. Ao que lhes parecia inevitável. E de que, aliás, se está a fazer voz corrente: o país está falido!, estamos em bancarrota!. Na sexta-feira, corroborada pela voz autorizada, convincente, dessa entidade esotérica chamada FMI.
Então o economista que explique!
Gaguejei um bocado, confesso. E, agora, explico porquê.
É que um país não pode ir à falência, tal como eu concebo um país e uma falência. E isso disse – e mais coisas disse –, com a consciência de que não estava a ser convincente. Não tanto como o tal rival do FMI.
Aliás, recordo que, no meu regresso do Parlamento Europeu, ao retomar o contrato como docente em “Económicas”, me surpreendera o pendor para a consideração do Estado como um grande empresa capitalista, coisa que, dez anos antes, não tinha a força que então encontrei. O que me surpreendeu (esta incurável “qualidade” de me surpreender…). Devo dizer que essa circunstância (junta a outras tão ou mais importantes), contribuiu para sair do ISEG e vir mais cedo para o "exílio"… com actividade docente no Politécnico de Tomar até o Ministério mo impedir. É que não sou, nem nunca fui, do género “não podes vencê-los?, junta-te a eles!”, sou do tipo “não podes vencê-los aqui?, luta contra eles ali!”.
Fecho o parêntese-a-propósito-de, e volto ao País falido.
Primeiro, e sublinhando, um País não é uma empresa! No entanto, sem me juntar a eles..., faça-se uma analogia: uma empresa vai à falência quando o seu “activo” é inferior ao seu "passivo" mais "situação líquida", ou seja, quando os seus teres e haveres não chegam para pagar os seus deveres, os seus compromissos, Quando a soma dos valores do que tem em caixa ou nos bancos, dos seus imóveis (edifícios de fábrica, armazéns, escritórios), do que é imaterial (marcas, patentes), do que tem a receber de outros, é inferior ao que deve, ao que tem de pagar a outros.
A partir daqui, desta forçada analogia, Portugal estaria falido se o que existe nos cofres do Estado (ouro, divisas), o valor ou avaliação do seu espaço quer emerso quer submerso, da(s) sua(s) marca(s) – esta “moda” das marcas: Portugal, Fátima, Benfica, Porto ou Sporting, Cristiano ou Mourinho, Algarve com um dois “éles”... –, daquilo que lhe devem pelo que exportou ou emprestou, se este total fosse inferior ao que o país deve pelo que importou ou pediu emprestado. A ser assim, na tal analogia forçada, façam favor de somar ao activo, a população, o fundo histórico, que não há “marca” que possa traduzir e são imensuráveis.
Se nenhum País pode falir, alguns, como Portugal, menos o podem por tudo aquilo que não é empresarial, que não é contabilizável.

Portugal não é uma pequena (ou média) empresa no universo em que haveria países e instituições internacionais que seriam grandes empresas ou gigantescos grupos empresariais. Se os países fossem susceptíveis de falir, o mais falido seria os Estados Unidos (o seu património imensurável é tão pequenino!) e o mais rico, de muito longe, a China (o seu património imensurável é imenso!).
Tudo esta abordagem capitalista. contraditória até ao absurdo como é de sua natureza, tem os seus dias contados (ou anos, ou décadas, ou séculos... mas tem!).
Ainda não disse tudo (nunca o direi!). Logo voltarei ao tema, sobretudo às angustiantes questões quais as consequências de estar o “país falido?", como se sai disto?

6 comentários:

jrd disse...

Também acho que o país não está falido. Mas se estivesse, tratava-se de uma falência fraudulenta.

GR disse...

Como fraudulentas são, os encerramentos da maioria das Empresas.
Mas…isto é tão complicado! Só faço a pergunta que muitos querem saber, “como se sai disto?”

Bjs,

GR

Graciete Rietsch disse...

Portugal tem um imenso capital que está completamente abandonado. É o Povo Trabalhador. Mas para este sistema político dominado pelo Capitalimo e o Imperialismo, o povo está impedido de criar riqueza porque lhe tiram os instrumentos de trabalho(caso das pescas e produção agríola,p.e.),lhe impõem cotas de produção,o exploram, lhe roubam os rendimentos de trabalho, não investem.
E assim, mesmo tendo disponibilidades que lhe permitam ultrapassar a crise, será difícil sair dela pelo espezinhamento constante e já insuportável de quem o permitiria.

Um beijo.

Mário disse...

Camarada Sérgio,

Admito que não pesco nada de economia, mas, os estados unidos fabricam a sua divisa, aí não se fala de imensurável (no idioma local, entenda-se), atendendo às deslocalizações; na China está o imensurável americano, o capital humano deslocalizado, se bem entendi o teu texto. No actual modo de producção (e não é este que queremos) a correlação de forças pende para onde, quantos mais despedimentos e destruição do tecido productivo e nacional, empresas públicas, serão necessários para que assumamos que o que a China pretende é rentabilizar o fundo histórico português a seu favor - e sócrates de bolso aberto, só sócrates e a sua trupe -, utilizando Portugal como mais uma barata porta de entrada na europa?
O mais curioso é que nem infra-estructura, de qualquer tipo, temos para usufruir de contrapartidas que ponham Portugal a produzir. Por outra parte, a ciência e a tecnologia, o ensino superior, mas sobretudo a fraca exigência e investimento no ensino, como se tem visto, levaram grandes cortes, grandes cortes e sem qualquer tipo de estratégia que não seja atirar para ao privado a responsabilidade sobre a clivagem que os governos dos 35 útimos anos têm vindo a promover, e essa área, provavelmente onde mais martelo desde sempre, é para nós a única possibilidade real de futuro, começando por justificar esta opinião as mesmas dimensões do país enquanto inserido nesta cada dia mais vil europa. Sabemos que a soberania alimentar, industrial, etc. é tão importante para nós como a língua que falâmos, mas, depois necessitamos situar-nos num contexto global. Esta forma de o fazer, como mercadores de especiarias, sem investimento público, no público, para o povo, como se adivinha, sem futurologias, sem dúvida só trará mais concentração, mais dependência, menos soberania, e, fundamentalmente, menos vontade.

Sérgio Ribeiro disse...

jrd - se... estou de acordo.
GR - como se sai disto?... já lá vou, mas tu sabes e dás o exemplo: pela luta!
Graciete - Será difícil! Claro que sim. Mas sim, é possível! Quando? Isso é que é impossível de dizer. Nem Marx, com toda a sua capacidade (de trabalho, de estudo, de "arrumação" do que os antes deles tinham conseguido entender desarrumadamente, de tudo o que os que o seguiram ajudaram a desarrumar) o disse, nem mais ou menos. Com a humildade que nós devemos copiar.
Mário - as tuas reflexõessão muito úteis, embora algumas me pareçam "à procura do sentido das coisas". Olha que o caso da China é muito complexo e n~eo quis dizer o que me parece que interpretaste. Como vou continuar estas reflexões, deste-me uns sub-temas muito importantes.

Abreijos

Mário Pinto disse...

Camarada Sérgio,

Quando me referi à minha interpretação do teu texto, só contemplava o "imensurável", sei que não foi o que quiseste dizer se ampliar-mos o contexto. Afinal, não discuto em português há 20 anos.
Por outra parte, sim. Estou continuamente à procura do sentido de "quase" tudo.

Um abraço!