Conselho Português para a Paz e Cooperação
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A Paz, a segurança e cooperação europeias -
história e reflexão
A assinatura da Acta Final da Conferência de
Helsínquia, por 35 países (33 Estados europeus – Áustria, Bélgica,
Bulgária, Checoslováquia, Chipre, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França,
Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Islândia, Itália, Jugoslávia, Liechtenstein,
Luxemburgo, Malta, Mónaco, Noruega, Polónia, Portugal, Reino Unido, República
Democrática Alemã, República Federal da Alemanha,
Roménia, San Marino, Suécia, Suíça, Turquia, URSS e Vaticano – mais o Canadá e
os Estados Unidos) tem de se considerar um dos acontecimentos mais importantes
do após-guerra. Essa Conferência de Estados foi iniciada em 3 de Julho de 1973,
na capital finlandesa, e concluída a 1 de Agosto de 1975.
Só a referência com um mínimo de informação e comentário
aos seus antecedentes e enquadramento encheria espaço que não caberia nesta
publicação, pelo que apenas se deixa brevíssima nota à criação e consolidação
do sistema de Estados socialistas, às lutas anticoloniais de autodeterminação e
independência, às derrotas do imperialismo no Vietname, no Laos, no Camboja, à “crise
do petróleo”, à decisão unilateral da inconvertibilidade do dólar e, quase
em simultâneo, ao derrube do fascismo em Portugal e na Grécia.
Passadas a guerra da Coreia e a “crise da base
soviética em Cuba”, é a própria “guerra fria” que é posta em causa,
aliás na sequência da afirmação do decreto nº 1 do Estado soviético,
consagrando o conceito da coexistência pacífica nas relações internacionais.
Pelo que com justeza se pode dizer que o verdadeiro início da Acta de
Helsínquia está na “Declaração sobre a consolidação da paz e da segurança
na Europa”, saída do Comité Consultivo político dos países membros
de Pacto de Varsóvia, de Junho de 1966, declaração que requer a convocação
de uma conferência para debater questões da segurança europeia e do
desenvolvimento da cooperação na Europa. A esta iniciativa muitas outras se
seguiram no plano dos Estados, importando sublinhar a chamada questão do statu
quo como prévia, e não como cristalização ou ancilose mas como confirmação
da situação resultado da guerra, para se poder passar do velho ao novo,
merecendo destaque os avanços que foram possíveis nas relações entre as duas
Alemanhas e a situação do enclave Berlim Ocidental (acordo de Dezembro de
1971).
Paralelamente com as iniciativas e os acordos no plano
dos Estados foi sendo desencadeado um movimento de opinião pública de grande
amplitude em todos os países, em que a unidade entre comunistas, católicos
e socialistas (ou sociais-democratas) teve grande influência no reforço dos
movimentos pela paz, pela segurança e cooperação europeias, sendo um factor de
pressão muito relevante nas relações inter-Estados.
Apenas se destaca, como culminar de um processo e
passagem a uma fase superior de organização na luta pela Paz, a Assembleia
dos representantes da opinião pública para a segurança e a cooperação europeias
(“A Europa na mão dos povos”), em Bruxelas, de 2 a 5 de Junho de 1972.
Pela acção dos Estados e pela movimentação unitária das
massas, independentemente de posições ideológicas identificadoras, foi a
primeira vez que um número tão elevado de países uniu os seus esforços com a
finalidade de se comprometer com importante conjunto de princípios reguladores
das relações internacionais, da segurança colectiva e do desenvolvimento de
relações de cooperação. De entre esses princípios, salientam-se i) a
igualdade soberana dos Estados, ii) a não intervenção nas questões
internas, iv) a resolução pacífica dos diferendos, v) o respeito
pelos direitos humanos e liberdades fundamentais, vi) a igualdade de
direitos e a autodeterminação dos povos.
Da agenda da Conferência, entretanto preparada,
resultaram os seguintes conclusões fundamentais: i) a renúncia ao
emprego da força e da ameaça do seu uso como forma de resolução de questões em
litígio; ii) o reconhecimento das fronteiras estabelecidas na Europa a
seguir à “2ª Guerra Mundial”; iii) a dissolução simultânea do Pacto do
Atlântico Norte e do Pacto de Varsóvia ou, num primeiro momento, a dissolução
das respetivas organizações militares; iv) o fim da corrida aos
armamentos de todo o tipo; v) a criação de zonas desnuclearizadas em
várias regiões do mundo (incluindo a Europa); vi) o desarmamento nuclear
generalizado, com redução dos efectivos e do armamento concentrado em várias
regiões do mundo, designadamente na Europa Central; vii) a redução geral
das despesas militares, especialmente por parte das grandes potências; viii)
a adoção de medidas preventivas do risco de eclosão acidental ou da
provocação deliberada de incidentes militares e sua transformação em crises
localizadas ou mesmo em guerras internacionais; ix) o estabelecimento de
relações de cooperação; x) o desenvolvimento dos sistemas de transportes
e telecomunicações.
Desta forma, pode dizer-se (e ler-se) que a Conferência
de Helsínquia representou um ponto culminante da luta que os homens, os povos e
os estados que amam a paz têm vindo a desenvolver no segundo pós-guerra. Dela
resultou também a criação de uma organização a OSCE, de que muito se
poderia esperar mas que pouco terá para contar… dado o pouco ou nada que conta
para as decisões relativas à segurança e cooperação europeias!
Ainda acrescentaria um episódio e um comentário pessoais.
Em 1975, num programa de televisão, Manuel Alberto
Valente todos os meses fazia entrevistas a figuras (mais ou menos…) públicas
sobre o facto mais relevante nesse mês, escolhido pelo entrevistado. Coube-me
ser entrevistado em Julho de 1975. Sem hesitar, nesse verão tão quente (!),
escolhi a assinatura, por um Presidente da República de Portugal Democrático (o
General Costa Gomes) da Acta de Helsínquia.
O comentário que me assalta resulta da reflexão a que nos
obriga o que depois aconteceu, na segunda metade da década de 70 e na década de
80, e que nos coloca a questão da necessidade da Paz, que é intrínseca à
Humanidade, não poder ser indiferente ao estádio e evolução do que é o
verdadeiro motor da História, a luta de classes, nunca se podendo
confiar no inimigo de classe e nunca se podendo abdicar da permanente e vital
ligação dos estratos dirigentes com a própria classe em si mesma,
enquanto massas com diferentes níveis de consciência de classe.
1 comentário:
Pouco ou nada se cumpriram as resoluções da Conferência de Helsínquia.
Teremos que continuar a lutar pela Paz no Mundo incluindo, claro, Portugal que, neste momento, vê seriamente ameaçado o direito a uma vida digna para todos, condição fundamental para uma Paz Universal.
Um beijo.
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