Há muita ciclotimia na
idiossincrasia lusa. Passamos da melancolia mais derrotada à euforia mais
imparável com a vitória num europeu do futebol ou a eleição (a escolha
negociadíssima) de um compatriota para lugar cimeiro nas funções públicas
inter-nacionais. Passamos dos nabos que não metem uma (na baliza dos outros)
aos melhores da Europa porque o Eder acertou um chuto; passamos de coitadinhos
(queixosos por não nos ligarem peva) a senhores do mundo (porque Guterres se alcandorou
a secretário-geral na ONU. Assim saltamos das águas paradas, quiçá submissas,
esquecidos da nossa História, para as ondas alterosas do Universo onde só surfistas
se atrevem.
Nas ondas patrioteiras que nos
inundam de tempos em tempos é difícil surfar e mais ainda navegar, tranquila e
lucidamente. Vá lá dizer-se que foram arranjos tácticos de não perder que nos
deram, com a ajuda da Senhora de Fátima a Fernando Santos, uma vitoria
“milagrosa”; vá lá ter-se dito, no momento próprio e no local certo, que a ida
de Barroso para a Comissão Europeia em nada nos honrava antes era motivo para
fazer corar quem tivesse desperta a vergonha; vá lá hoje dizer-se que a eleição
de Guterres tem os seus quês e porquês, e foi resultado não de uma vitória
cristalina mas de arranjos opacos. E de antecedentes. Vá lá lembrar-se que Guterres
foi o primeiro-ministro português (1995-2002) da adesão ao euro, pela qual se
bateu com tanta fé(zada) que nem se poupou a tiradas bíblicas como a de, à
saída da cimeira de Madrid de Dezembro
de 95, dizer que, com a decisão tomada, ele (o euro) seria a pedra sobre que se iria edificar a Europa!
Quem observe e comente a
realidade, para lá e entre os pântanos paralisantes e as metafóricas ondas da Nazaré, terá horas difíceis, delicadas, sobretudo se pretender contribuir para a transformação da
sociedade e está convicto que tal transformação só é possível com as massas, estando
estas tão atreitas à incentivada ciclotimia.
Afirme-se, com tímida firmeza, que
o compatriota António Guterres será o adequado parceiro, nas Nações Unidas, do
Papa Francisco do Vaticano. Que houve fumo branco em Nova Iorque, que habemos papam na ONU. E reafirme-se que não há que esperar milagres.
As ilusões apenas fabricam desiludidos.
4 comentários:
Muito bem!E as ilusões,são um inimigo a combater,não é,camarada?Bjo
Pois é camarada é o tudo ou nada e tudo é sempre a ilusão do devir ..abraço
O rei vai nu, só que ninguém o diz...
Vai ser mais um pobre diabo...
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