segunda-feira, junho 04, 2018

A nova (?) Itália


“Eurocéticos” no poder em Itália
(a partir da tradução de um artigo de Manon Flausch em EURACTIV.fr)
O primeiro governo de aliança de um movimento anti-sistema e um partido de extrema-direita tomou posse em Roma, sendo 1º ministro Giuseppe Conte, que prometeu uma política anti-austeridade e de segurança.

Após quase três meses de negociações, e desenvolvimentos sem precedentes mesmo para um país fértil em crises políticas, o Movimento 5 estrelas (M5S) e a Liga (fascista) chegaram a um compromisso com o presidente Sergio Mattarella (que não é eleito por sufrágio directo), que exigiu garantias quanto à manutenção da Itália no euro.
O presidente tinha oposto o seu veto a uma primeira lista, com a recusa do nome proposto para ministro das finanças, por posições públicas a favor da saída do euro. Depois, aceitou uma nova lista, que empossou sexta-feira e procurará apoio parlamentar nesta semana.
Conte é advogado, professor de direito na Universidade de Florença e tem 53 anos. Já deverá representar a Itália na próxima cúpula do G7 no Canadá. Luigi Di Maio, líder do M5S, e Matteo Salvini, chefe da Liga, fazem parte do gabinete como vice-primeiros-ministros, o primeiro encarregado do Desenvolvimento Económico e do Trabalho. e o segundo do Interior.
O equilíbrio entre os aliados
O fulcral Ministério da Economia e Finanças será ocupado por Giovanni Tria, professor de economia política, próximo das posições da Liga em questões tributárias, mas favorável à manutenção da Itália no euro, embora com posições muito críticas; o inicialmente indicado para esta pasta, Paolo Savona, economista de 81 anos que vê o euro como "uma prisão alemã", será ministro dos Assuntos Europeus, acompanhado pelos “europeístas” Moavero Milanesi, que trabalhou 20 anos em Bruxelas e foi ministro dessa pasta com Mario Monti, e Enrico Letta, que será ministro das Relações Exteriores.
Em resumo, uma equipe de 18 ministros, que inclui apenas cinco mulheres e quase coloca em igualdade os dois aliados, ainda que a Liga tenha tido apenas 17% dos votos nas eleições de 4 de Março contra mais de 32% dos votos para o M5S.
Os mercados financeiros têm estado agitados nas últimas semanas, em particular com um "spread" crescente, a diferença entre as taxas de empréstimo de 10 anos da Alemanha e Itália. Os investidores consideram o programa dos dois aliados perigoso para as contas públicas italianas, mas muitos ainda mais receavam a possível alternativa de novas eleições nos próximos meses.
"Diferente abordagem cultural"
"Vamos trabalhar intensamente para alcançar os objectivos políticos que anunciamos no contrato de governo. Vamos trabalhar com determinação, para melhorar a qualidade de vida de todos os italianos", prometeu Conte depois de apresentar asua equipe.
Este "contrato de governo" negociado durante dez dias, vira resolutamente as costas à austeridade e aos ditactes de Bruxelas, e aposta numa política de crescimento económico para reduzir a enorme dívida pública italiana; promete uma redução da idade da reforma e drásticos cortes de impostos - cavalo de batalha da Liga - e o estabelecimento de uma "renda de cidadania" de 780 euros por mês - principal promessa do M5S.
Síntese de duas filosofias políticas, apresenta tanto a retórica da M5S sobre o meio ambiente, as novas tecnologias ou a moralização da vida pública como uma viragem na segurança, anti-imigrante e anti-islamita da Liga, aliada do Front Nacional Français nas questões europeias.
"Sem prometer um milagre, posso dizer que desejo que depois dos primeiros meses deste governo de mudança, tenhamos um país com um pouco menos de impostos e um pouco mais de segurança, um pouco mais de emprego e um pouco menos de clandestinos", disse Matteo Salvini aos seus partidários, confirmando o tom de sua campanha, e prometeu "uma abordagem cultural ligeiramente diferente", por exemplo, "uma boa tesourada" nos fundos para acolhimento de pedidos de asilo.

2 comentários:

Olinda disse...

A extrema direita europeia,neste caso,italiana a capitalizar o descontentamento da deriva neoliberalista da UE.Preocupante.Bjo

Sérgio Ribeiro disse...

Exactamente. Lembrando e alertando para outros tempos ainda deste tempo!