O diferente são especulações ou diversões
DECLARAÇÃO DE
JERÓNIMO DE SOUSA, SECRETÁRIO-GERAL
Sobre o encontro entre PCP e PS
9 Outubro 2019, Lisboa
Os resultados das eleições traduzem, ainda que com
alterações de expressão eleitoral entre as diversas forças políticas com
representação na Assembleia da República, um quadro parlamentar com uma relação
de forças semelhante ao de há quatro anos.
A esta actual arrumação de forças no plano
institucional corresponde, no entanto, uma conjuntura política distinta da de
2015.
Há quatro anos tratava-se de, perante a oposição do
então Presidente da República, criar as condições mínimas e bastantes para
interromper a política de agravamento da exploração e empobrecimento então em
curso, implicando isso a não indigitação do PSD, partido então mais votado mas
sem condições, como se provou, para formar governo.
Mesmo nessas circunstâncias a indigitação do PS para
formar governo poderia ter ocorrido nos termos constitucionais, em condições semelhantes
àquelas em que agora ocorreu.
A insistência do então PR na formação de um governo
PSD/CDS tornou necessário o caminho percorrido entre 7 de Outubro e 10 de
Novembro de forma a tornar possível a formação do Governo PS que agora cessa
funções.
Foi nesse quadro que as pressões e exigências do então
PR levaram o PS a insistir na necessidade de uma formalização de uma base
mínima de entendimento para ultrapassar as resistências presidenciais.
O quadro hoje não é esse.
Desde logo, como se constata, o processo de
indigitação para a formação de governo processou-se naturalmente.
Não há nenhum obstáculo à entrada em funções do
Governo nem nenhum problema de estabilidade colocado para lá do que a acção
política do governo tem de assegurar.
Assim foi ao longo de décadas com a larga maioria de
governos minoritários, como o que agora cessa funções.
A estabilidade de qualquer governo depende sempre da
correspondência entre a política que executa e as aspirações e anseios dos
trabalhadores e do povo. O mesmo acontecerá com o Governo que agora vier a ser
empossado, face ao Programa que apresentar e à política que executar.
O PCP tem o seu próprio Programa e projecto, a
política patriótica e de esquerda, que inscreve como objectivo e solução para
garantir o desenvolvimento económico, o progresso social e a soberania
nacional.
Tal como em 2015, o PS conhece o nosso Programa e
projecto, as nossas propostas para essa política patriótica e de esquerda e
sabe que a força que os portugueses nos deram servirá sempre para construir
soluções que concretizem essa política alternativa, tal como para combater
opções que a contrariem ou a coloquem mais longe de ser concretizada.
Nos últimos quatro anos, com a intervenção decisiva do
PCP, abriu-se um caminho de defesa, reposição e conquista de direitos que
alguns julgavam impossível.
Valorizamos tudo o que se alcançou, assumindo-o como
património para o qual contribuímos, mesmo nas circunstâncias em que
identificámos limitações e insuficiências face à necessidade de resposta plena
aos problemas estruturais do País, que exige uma política alternativa.
A política alternativa patriótica e de esquerda tem
como eixos essenciais a libertação do País da submissão ao Euro e às imposições
da União Europeia e a renegociação da dívida pública; a valorização do trabalho
e dos trabalhadores, dos direitos, salários, reformas e pensões; a defesa e
promoção da produção nacional e dos sectores produtivos; a garantia do controlo
público da banca e do conjunto dos sectores básicos e estratégicos da economia
e o apoio às micro, pequenas e médias empresas e ao sector cooperativo; a
garantia de uma administração e serviços públicos ao serviço do povo e do País;
uma política de justiça fiscal; a defesa do regime democrático e do cumprimento
da Constituição da República Portuguesa, com uma justiça acessível a todos e o
combate à corrupção.
2 comentários:
"... a valorização do trabalho e dos trabalhadores, dos direitos, salários, reformas e pensões"
Caro Sérgio
Como se valoriza o trabalho de cada um?
Avaliando o modo como cada um se esforça?
E, se como acontece no quotidiano, nem todos se esforçarem de modo igual?
Quais as consequências práticas dessas diferenças de esforço?
Um abraço
Caro Baranda
Não se confunda NUNCA igualdade social com igualitarismo asocial
A valorização do trabalho está na libertação do jugo da natureza sem destruir, na colocação ao serviço da satisfação das necessidades os recursos naturais e adquiridos.
Há uma formula do socialismo que diz a cada um segundo o seu esforço individual para o colectivo; e outra, do comunismo, de cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo as suas necessidades. Mas isto são inícios de conversa, nunca podem ser conversa acabada...
Quais as consequências práticas de vivermos em relações sociais em que uns seres humanos podem (porquê?) tomar posse dos resultados dos esforços dos outros e só retribuirem uma parte - o mais pequena que conseguiren - do que foram dos resultados desses esforços?
Um abraço
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