sexta-feira, janeiro 07, 2022

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 - Nº 2510 (2022/01/6)

Etiópia, «ajudas» e ingerências

Internacional

O governo norte-americano concretizou a ameaça e excluiu a Etiópia de um tratado comercial entre os Estados Unidos da América e países africanos.

Também o Mali e a Guiné sofreram o mesmo castigo, deixando de poder aceder aos «benefícios» da Lei de Crescimento e Oportunidades para África (AGOA, na sigla em inglês), que regula e «facilita» o comércio entre os EUA e parceiros africanos. Ao abrigo do convénio, em vigor até 2025, milhares de produtos africanos exportados para os EUA gozam de reduzidas taxas aduaneiras.

A administração Biden acusa os três países de «graves violações de direitos humanos reconhecidos internacionalmente».

O Mali e a Guiné foram há meses palcos de golpes de Estado militares e essa é a justificação para as sanções norte-americanas.

O golpe de força em Conakry será decerto perdoado e esquecido em breve, já que os golpistas são liderados por um coronel que mantém boas relações com Paris e Washington.

O caso maliano é mais «grave», na perspectiva norte-americana, uma vez que a junta militar instalada em Bamako ousou pôr em causa a «ajuda» ocidental e admitiu reforçar a sua cooperação militar histórica com a Rússia.

Curiosamente, um fiel aliado da França e dos EUA, o Chade – o quartel-general da Barkhane, a operação militar francesa de intervenção no Sahel, está instalado em N’Djamena –, onde o poder também foi tomado pelos generais, ficou de fora da lista dos países sancionados.

Em relação à Etiópia, Washington acusa o governo federal etíope de «aprofundar o conflito» no norte do país, referindo-se à guerra de agressão movida por secessionistas do Tigré.

Adis Abeba defende-se e apresenta provas do apoio actual dos EUA, da União Europeia e aliados à Frente de Libertação Popular do Tigré (TPLF, na sigla em inglês), considerada um grupo «terrorista». E contra-ataca com um artigo publicado há dias pela agência oficial de notícias etíope.

Lembra que desde há muito que os norte-americanos fornecem «ajuda» económica à Etiópia, atraídos pela importância e dimensão do país e pela sua situação geográfica, na região do estratégico Corno de África e do acesso ao Mar Vermelho. E explica que, a partir dos começos da década de 90 do século XX e ao longo dos 27 anos de governação de uma frente de organizações políticas liderada então pela TPLF, os EUA continuaram a utilizar a sua volumosa «ajuda económica» como instrumento para atingir os seus objectivos políticos e não para promover o desenvolvimento sustentável do país. Nesse período – insiste hoje Adis Abeba – os EUA não se preocuparam com as violações de direitos humanos e as atrocidades cometidas pela TPLF e usaram a «ajuda» económica para manter a Etiópia na sua esfera de interesses políticos e económicos.

Esta política imperialista norte-americana não é nem nova nem única. Ao contrário, é antiga e generalizada a prática global dos EUA visando dominar os países para os explorar e pilhar as suas riquezas. Mas, em África e em todo o mundo, os povos cada vez mais resistem e lutam pela sua independência e soberania. E vencerão.

Carlos Lopes Pereira
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1 comentário:

Olinda disse...

A leitura do Avante continua a ser imprescindível.Muito útil o teu trabalho de realce a determinados temas,que nele constam.Acredito que terá sempre o seu impacto informativo.Bjo