quarta-feira, março 08, 2006

8 de Março de 2006

Hoje, 8 de Março de 2006, nesta cidade de Ourém, algumas coisas se fizeram para lembrar que, hoje, 8 de Março de 2006, faz 149 anos que, em Nova Iorque, mulheres operárias lutaram por um horário de trabalho que não fosse tão desumano. Manifestaram-se, houve um incêndio, muita gente morreu. Sobretudo mulheres. Mas a data ficou na memória. E é preciso que não fique só a memória da data. É preciso que se saiba porquê esta é a data a que universalmente se dá o nome de Dia da Mulher.
Por isso, hoje, 8 de Março de 2006, nesta cidade de Ourém, em que há uma luta (silenciosa, surda) contra a imposição unilateral de um novo horário de trabalho a 9 mulheres, que lhes será muito prejudicial pelo modo como organizaram a sua vida a partir de horário que fazem há anos, hoje, a concelhia do PCP distribuiu um pequeno papel para acompanhar o material central que o partido dedicou a este dia e por todo o País se distribuiu.
Esse A5 oureense, dobrado fazendo 4 páginas, conta uma pequena história que escrevi três dias depois do 8 de Março de 2005. Foram poucos os papeis, foi diminuta a distribuição. Foi o que tivemos força para fazer.
E também aqui se deixa contada a pequena história.

Entretanto
um caso entre tantos

Chama-se N. Tem 52 anos. Com uma infância que foi, diz ela, normal. Cresceu – e estudou – num ambiente criador de uma cultura de trabalho, de responsabilidade, de solidariedade. Com a saúde e a educação
Um caso entre tantos


Chama-se N. Tem 52 anos. Com uma infância que foi, diz ela, normal. Cresceu – e estudou – num ambiente criador de uma cultura de trabalho, de responsabilidade, de solidariedade. Com a saúde e a educação como direitos, seus e de todos.
Aos 24 anos, em 1979, acabou os estudos formais ao completar uma licenciatura em engenharia têxtil. Começou, logo, a trabalhar na indústria. Durante 15 anos foi engenheira têxtil.
Até 1994, quando fez 39 anos. É que, entretanto, tinham chegado, ao seu País como a outros, a “liberdade”, a “democracia”, os jeans e a coca-cola. E o desemprego! Para N., e para milhões como ela.

Tudo mudou!
Tudo se desmantelou na sua vida. E não só na sua vida.
Diz N. que, hoje, depois dos 35 anos não há qualquer possibilidade de arranjar trabalho na sua terra.
Ela e o marido separaram-se. Os dois filhos procuram adaptar-se às novas maneiras de viver. Um deles, hoje com 24 anos, é diabético e dependente de insulina: recebe uma “ajuda” social de 20 euros por mês.

N. veio para Portugal há 6 meses. É búlgara.
Levei-a a uma aldeia bem do interior do País, para servir de companhia (e de enfermeira…) ao pai e à tia de uma minha amiga, ela com 93 anos e ele com 89 anos.

Lá a deixámos. Numa aldeia perdida na serra de Montemuro.
Sozinha. Só com um telemóvel mal amanhado, e com um conhecimento da língua portuguesa de apenas 6 meses.
Mostrando, sempre, uma calma (resignada?) estranheza.
E uma enorme saudade da Bulgária. E de outras vidas.

(Entretanto... o pai da minha amiga morreu e N. perdeu aquele trabalho; hoje, 8 de Março de 2006, não sei onde ela estará, neste Dia da Mulher.)

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