terça-feira, setembro 30, 2008
Sobre os 700 mil milhões de dólares que viriam em socorro do capitalismo
- No avante! de 5ª, escrevia Henrique Custódio, em a talhe de foice, que «(...)Para se ter a ideia da enormidade desta verba bastará dizer que é o triplo do PIB português (actualmente nos 232 mil milhões de dólares/ano) e supera os orçamentos anuais conjuntos dos ministérios norte-americanos (dos EUA) da Defesa, Educação e Saúde. É tempo de recordar que esta derrocada é da completa responsabilidade do famoso "mercado liberalizado" e o desastre capitalista que por aí progride demonstra, na crueza dos factos, que afinal não se "auto regula", como se tem andado a impingir (...)».
- Na Assembleia Municipal de Ourém, na 6ª feira, na declaração de política geral, disse «(...) Há grandes bancos estado-unidenses que se nacionalizam (e não por boas razões…), há seguradoras de dimensão transnacional que vão à falência, há injecções de dinheiro dos bancos centrais, como quem mete para a veia de drogados mais droga como se isso pudesse ajudar à recuperação do que está doente, muito doente. O capitalismo está em crise, em grave crise. Não que augure o descalabro, a hecatombe. Não! O sistema tem mais fôlegos que o gato mais resistente e há formas de o fazer sobreviver, e de preservar os interesses cada vez mais polarizados, mais concentrados, formas que, se assustam – e muito – se sabe também que há próceres que não recuarão perante o seu uso, mesmo que isso ponha em risco a Humanidade. (...)»
Materialismo histórico - 25
O fogo, a roda, o zero, o “atrelar ao peito”, a descoberta e a criação de novos materiais, a transformação de objectos de trabalho em instrumentos de trabalho, tudo converge num desenvolvimento acelerado das forças produtivas.
A terra aparece como a criadora de valor, isto é, com a capacidade e criar bens e produtos que, pelo uso, satisfazem necessidades e, depois, pela troca, são tornados acessíveis a essa satisfação, valor que não é senão “a mera gelatina do trabalho indiferenciado” (O Capital)[1]
Da escravatura passou-se ao feudalismo. Não como golpe de mágica, não como mudança em um momento e em todo o universo. Na dinâmica do processo histórico passou a ser predominante ou mais significativo o modo de produção e a formação social que se pode – e ao que penso acertadamente – definir como feudal.
Neste modo de produção e formação social, a base material assenta no trabalho sobre a terra, com os instrumentos que então, nesse momento (histórico, ou seja, séculos), apoiavam a força de trabalho. Nas relações sociais de produção as predominantes são as de quem possui a terra com quem a trabalha, entre os senhores (da terra, classe dominante) e os servos (camponeses ligados à gleba e obrigados a fornecer um sobretrabalho, desprovidos de meios de produção sobretudo de terra).
O servo da gleba, à diferença do escravo, não é uma mercadoria, está ligado à terra e só com ela pode ser vendido pelos senhores, enquanto tal direito (dos senhores de vender servos com a terra, dos servos de não serem vendidos como coisa à parte) estiver incluído nas relações de produção que se vão transformando, sem perderem a sua natureza de classe e no quadro da luta de classes.
Em esquema (que não pode ser redutor), o feudalismo engendrou, sob a autoridade superior de um monarca, duas categorias de privilegiados, o clero e a nobreza, e um “terceiro estado” agrupando estratos nascentes da burguesia, além do Povo, dos trabalhadores dos campos e das cidades directamente dependentes da monarquia, do clero e da nobreza.
segunda-feira, setembro 29, 2008
domingo, setembro 28, 2008
Pequena crónica dominical
Conhecedor dos “hábitos da casa”, preparara a declaração política com breve - mas de desejada contundência - nota sobre a situação de crise que se atravessa, com particular ênfase no ambiente de quase desespero que vivem famílias, e em que encontram pequenos e médios empresários, e que se procura adiar e se agrava com os "remédios". Procurando identificar as causas, num sistema que agrava contradições mas tem mais fôlegos que o gato mais resistente, E terminava assim: (…) tudo na “política” (Obama e MacKein, PSD e PS) me faz lembrar ping-pong e um poema de Zé Gomes Ferreira, como sempre cheio de pontaria e genialidade:
«Democracia é alternância»
repetiu de novo a embalar o tédio,
um senhor de sonho espesso.
Como se fosse possível! - ó glória! ó ânsia! –
construir um prédio,
mudando de vez em quando
os mesmos tijolos do avesso.
O modo como correu a sessão até aquele ponto tornaram a intervenção ainda mais pertinente (a meu ver), com os do PSD a atirarem-se ao poder central como gato a bofe e a tentarem passar para ele as culpas das suas dificuldades e incompetências, já em campanha para as autárquicas do próximo ano (para dentro e por fora), e os do PS a valorizarem tudo o que o poder central está fazendo, até descobrindo benefícios incontáveis cá pelo burgo, e já em plena campanha para as autárquicas do próximo ano (para dentro e por fora)-.
Logo a seguir ao que li, veio a intervenção do “leader” do grupo do PS que, lendo a sua intervenção, começou por dizer que havia duas maneiras de fazer política, a social-democrata e a neo-liberal. E disse (mais ou menos) que nos neo-liberais havia uns com vocação para ultra-liberais e outros para escorregar para sociais-democratas e que, entre os sociais-democratas, havia uns com tendência neo-liberal e uns outros ainda agarrados a concepções de intervenção estatal… mas estes em vias de extinção “face ao claudicar dessas políticas por todo o mundo”!
Não fui capaz de deixar de sorrir com toda a cara. No final de Setembro deste ano, quando por todo o mundo claudicam as políticas neo-liberais mescladas de social-democracia, ou as políticas social-democratas mescladas de neo-liberalismo, aquele “político” era peremptório nas suas análises e prospectivas. E candidatava-se à alternância! Isto é, a mudar os tijolos do avesso no poder local, enquanto, no poder central, os que aqui detém o poder se propõem mudar os tijolos para o outro avesso.
(esta crónica estaria talvez melhor no ficçõesdocordel ou, ainda, no porcá-porourém – onde se pode ler a minha declaração integral neste ponto da ordem de trabalhos da AM de 26 de Setembro -, mas fica aqui por ser essencialmente política)
sexta-feira, setembro 26, 2008
quinta-feira, setembro 25, 2008
"Com uma imensa alegria"!
- Há muitos muitos meses, o Congresso (o XVIIIº) foi marcado, pelo Comité Central, para o final de Novembro.
- Também em CC, foram decididas linhas gerais, calendário, e adoptado o lema Por Abril, pelo Socialismo – um Partido mais forte.
- Os organismos executivos, e grupos de trabalho entretanto formados, elaboraram, discutiram e adoptaram textos, e chegaram a propostas de Teses (projecto de resolução política).
- O projecto foi enviado a todos os membros do CC, para estudo e propostas de alteração para a reunião de 20 e 21 de Setembro.
- Apesar dos curtos prazos, chegaram 468 propostas de alteração e foram integradas 349.
- Durante o fim-de-semana, ao cabo de mais de 13 horas de trabalho, com intervenções de dezenas de membros, o CC chegou a um novo projecto de resolução política.
Este documento saiu hoje, publicado em separata, no avante!, para ser discutido em TODO o Partido.
- Esta fase é crucial, talvez a mais empolgante (e difícil) de todas, em que se procura que o projecto chegue a todos, por todos seja discutido, e de todos receba contributos.
- Com as alterações que forem adoptadas, chegar-se-á com o projecto de resolução política ao plenário do Congresso, onde os delegados ainda o poderão alterar e adoptarão.
Discurso sobre "materialismo histórico"
Não vou, evidentemente, esgotar-me de esclarecimento em esclarecimento até ao esclarecimento final…
Nesta viagem continuarei sem deixar de estar onde estou. E intervindo em cada gesto e minuto deste tempo.
Tenho dito e obrigado pela atenção.
quarta-feira, setembro 24, 2008
Adenda a materialismo histórico - 24
As questões da troca equivalente e da troca desigual desafiam para umas considerações de natureza linguística.
O que em português chamamos troca, em francês pode ser troc ou échange. Por exemplo, L’échange inégale, o original de Arghiri Emmanuel, que foi muito lido – e usado – no final dos anos 60/começo dos anos 70, foi editado em português com o título A troca desigual. E de que outra forma poderia ser?
Mas o facto é que são, em francês, conceitos diferentes que têm a mesma, e por isso perturbadora, designação em português.
No dicionário que me acompanha há décadas, e que por vezes parece ganhar actualidade, lá está, como “cabeça”, intróito aos respectivos artigos:
Echanges – (traduzo:) termo genérico para designar os movimentos das mercadorias, efectuando-se quer directamente quer por intermédio da moeda.
Troc – (traduzo:) forma de troca (échange) não monetária que consiste em trocar (échanger) directamente um objecto contra um outro.
A diferença (enorme!) está em que a troca-échange é genérica e a troca-troc é não-monetária e directa, objecto por objecto.
A partir da dúvida do comentário – fosse qual fosse a intenção do comentador –, fique claro que a troca a que me refiro neste passo (24) do “materialismo histórico” é a troca-troc, não-monetária e directamente de objecto contra objecto, com estes já a tomarem a forma conceptual de mercadoria.
terça-feira, setembro 23, 2008
Materialismo histórico - 24
Ora no episódio 20, ainda no esclavagismo, foi escrito que: “Ora, havendo excedentes, colhendo e produzindo os escravos mais do que seria necessário para que a sua sobrevivência fosse assegurada pelos proprietários (enquanto útil a estes), e possibilitando as novas forças produtivas que cada vez mais e maiores fossem sendo esses excedentes, a troca é a consequência de o trabalho de colheita e de produção ter deixado de colher e produzir para quem trabalha, para a satisfação das suas necessidades e dos seus proprietários (no modo de produção da escravatura), de cada vez mais o que uns colhem e produzem viesse sendo colhido e produzido para ser trocado pelo que outros colhem ou produzem.”
E é antes de se abordar a passagem ao patamar seguinte, ao feudalismo, que se antolha muito útil escrever sobre a troca, aliás, conversa já várias vezes prometida (ou ameaçada) e adiada.
Se uma comunidade de humanos - até porque integrou elementos, também humanos mas escravos de que se serve como instrumentos - recolhe da natureza e produz, transformando a natureza, para além do que necessita para satisfazer as suas necessidades próprias, de sobrevivência, de um determinado bem, e se, para satisfazer algumas outras das suas necessidades, começa a recorrer ao que outras comunidades recolhem e produzem para além do que as suas necessidades exigem, está a entrar-se abertamente no tempo (histórico) da troca e dão-se os primeiros passos no “reino da mercadoria”. O que tinha um valor de uso, porque satisfazia necessidades, passa a ter, também, valor de troca.
Aqui - “lugar 1” –, produziram-se x medidas de trigo tirado da terra, ali – “lugar 2” –, produziram-se y medidas de pano tirado de peles. Aqui – 1 –, sobraram, do uso próprio (ux1, ou seja, parte do trigo usado em 1), x-ux1 medidas de trigo e, ali – 2 –, sobraram do uso próprio (ou seja, parte do pano usado em 2), y-uy2 medidas de pano. Como em 1 se necessita de pano e em 2 se necessita de trigo, uma parte ou a totalidade de x-u1 troca-se com uma parte ou a totalidade de y-u2.
E quem quiser tentar perceber o que está para trás e o que vai vir, como é o caso deste escriba, tem de reter esta passagem, até porque a esta ilustração outras se seguirão (algumas já desenhadas, à espera de oportunidade para aparecerem) como sua sequência.
segunda-feira, setembro 22, 2008
Aviso aos visitantes e navegantes
domingo, setembro 21, 2008
A cor da coisa, segundo ele, Nicky Florentino
De regresso...
sexta-feira, setembro 19, 2008
Mais um...
E no dia 1 de Outubro temos de nos encontrar TODOS. E nos que se lhe seguirem...
O Código...
E há mais aí pela blogosfera!
No dia 1 de Outubro temos de ser TODOS.
quinta-feira, setembro 18, 2008
Código do Trabalho na Assembleia da República
Mas se alguém já o fez como o gostaria de ter feito, porque não o recomendar?
Veja
quarta-feira, setembro 17, 2008
A terapia...
terça-feira, setembro 16, 2008
Materialismo histórico - 23
Mas, antes de o fazermos no momento da História em que foi deixado, termine-se a reflexão suscitada pela pausa provocada por vários (e bons) motivos.Esta ilustração gráfica do materialismo histórico, com a comunidade primitiva, o esclavagismo, o feudalismo, o capitalismo como patamares de um caminho da Humanidade, exige um complemento. Além da intenção de, através do diferente tamanho dos “patamares”, dar a ideia de que há um evidente diferente dimensionamento temporal de cada modo de produção e formação social, deve acrescentar-se que a passagem a um patamar superior não representa a extinção imediata e completa dos anteriores. Em muitas zonas do mundo há situações ainda assimiláveis a comunidade primitiva, em muitas “cabeças”, ao nível da consciência social, há quem pense como se estivesse no esclavagismo, no feudalismo, no salazarismo (e a estes “estádios” desejasse voltar).
Por outro lado, as roturas, isto é, as passagens ao degrau acima, quando vistas de perto, ou melhor, quando vividas na contemporaneidade, não são momentos (históricos) simples, sem passos atrás (dois passos atrás, um passo em frente - Lenine).
Vendo à lupa a actualidade (séculos xx e xxi), poderia ser assim representado o que avançou, o que recuou e o que (é nossa convicção) se perspectiva em virtude da leitura das dinâmicas económico-político-sociais, em que o patamar mais acima (e não o último) é o do SOCIALISMO:
Então, até ao feudalismo e à troca… de que os “leitores” estarão à espera há alguns episódios.
segunda-feira, setembro 15, 2008
Está bonito isto está!
domingo, setembro 14, 2008
Carta aberta a um comentador
Nesta forma de comunicação, os comentários são desejados. Há, no entanto, vários tipos de comentadores: i) os de complemento, dúvidas, apoio; ii) os de crítica a que, à falta de melhor, chamaria de “boa fé”; iii) os de ataque desbragado, caceteiro, insultuoso. A estes, não devia ligar nenhuma mas, por vezes, não resisto; aos primeiros, agradeço o estímulo e com eles, tal como com os segundos, gostaria de conversar, à volta das dúvidas (que também não me faltam) e das críticas.
Um comentador, que assina José Manuel, nos últimos “posts" ilustrou o segundo tipo e descortinei dúvidas (todas legítimas), preconceitos (alguns na fronteira da tal “boa fé”), pressupostos (vários e de vária origem). Fazendo afirmações e tocando temas que me desafiam a esta carta aberta.
Não vou ser muito longo, porque aqui não é o lugar para largos textos, mas aqui quero deixar umas notas. Com uma questão prévia: não escrevo em nome do PCP, apesar de ser do CC e da responsabilidade que isso implica.
- “política de esquerda” é expressão controvertida, e é difícil que o JM, ou quem quer que seja, a encontre em actuais textos programáticos do PCP.
- Para o 18º Congresso, a formulação nas teses em discussão por todo o Partido (que é aberta a quem queira participar… de “boa fé”) é a de alternativa de esquerda (ou alternativa política de esquerda), no quadro claro de luta de classes.
- Para este Congresso, o projecto de resolução política tem o título proposto de por Abril, pelo Socialismo – um Partido mais forte, sem qualquer ambiguidade quanto ao objectivo-socialismo, que o JM quer descobrir não sei onde.
- A distinção entre anti-monopolismo e anti-capitalismo – a que JM parece dar tanta importância –não tem qualquer significado se o anti-monopolismo é integrado na luta anti-capitalista.
- O capital é uma relação social definida há 160 anos, com duas classes antagónicas – a burguesia que, no seu bojo, cria o proletariado de que se alimenta –, nas condições concretas historicamente mutantes e uma complexidade social que não pode ser encarada redutoramente.
- É no quadro da luta de classes, tendo tomado partido insofismável por uma classe – a do proletariado – que tomo posições relativamente à situação de micro, pequenas e médias empresas (muitos delas de falsos empresários, que se desconhecem explorados).
- Não confundo classes com os “estados médios” ou "intermédios" (“Os estados médios (Mittelstände) – o pequeno industrial, o pequeno comerciante, o artesão, o camponês -, todos eles combatem a burguesia para assegurar, face ao declínio, a sua existência como estados médios. Não são, pois, revolucionários, mas conservadores. Mais ainda, são reaccionários, procuram fazer andar para trás a roda história. Se são revolucionários são-no apenas à luz da sua iminente passagem para o proletariado, e assim não defendem os seus interesses presentes, mas os futuros, e assim abandonam a sua posição própria para se colocarem na do proletariado.”), tal como está no Manifesto (e muito mais poderia transcrever) e subscrevo inteiramente.
- Também é preciso ter presente que o Socialismo não se construirá sobre “terra queimada”, que “a burguesia desempenhou na história um papel altamente revolucionário” (Manifesto) e que não seria revolucionário deitar fora o bebé com a água suja do banho.
- A luta é muito dura, mas também é vital para a Humanidade, o voluntarismo e a especificidade na escolha de palavras e slogans pode ser perniciosa se não se escora na acção permanente, na reflexão e no estudo, e bem me parece que JM tem poucas (e más) leituras arvorando-se em avaliador encartado do marxismo-leninismo dos outros.
Ainda assim, fica um abraço
sábado, setembro 13, 2008
E uma migalha de honestidade intelectual?...
Nesta edição, a (relativa) surpresa de uma capa do caderno actual colocando “perante nós a grisalha moldura” de Marx de que falava o poema de Maiakovski.
Mas, logo na capa, o rabo do gato: “Qual a importância de Marx no século xxi? António Guerreiro, Daniel Oliveira e Henrique Raposo fornecem as respostas. O consenso permanece impossível.”
Lá dentro, o gato esparramado em quatro páginas, aliciantemente paginadas, com textos de António Guerreiro, licenciado em Letras e Literatura Moderna, critico literário do Expresso, acolitados por duas colunas de opinião dos opinantes Daniel Oliveira e Henrique Raposo, um, conhecido bloquista (parece que de esquerda), outro, o supra-sumo ou o sumo-sacerdote do liberalismo, tanto sumo deita a sua caudalosa verborreia.
Nos textos, a glosa sobre o momentoso problema do interesse intelectual relativamente ao pensamento de Marx, 160 anos depois da edição do Manifesto do Partido Comunista que ele publicou em co-autoria com Engels.
Não há dúvida: anda um espectro pela Europa! Não se pode resistir à enorme actualidade do que há 160 anos foi escrito e publicado por Marx e Engels. E há que procurar vacinas, choques profilácticos e imunitários. O Expresso vem na rebentação desta vaga e procura “surfar”, recorrendo ao crítico literário residente que, com o seu Walter Benjamin e outros , se esforça (de balde...) por manter “a coisa” no plano literário-intelectual, enquanto os outros dois dão as “cassetadas” que lhes competem, com o ar (inteligentíssimo) de quem está acima das políticas enquanto cozinham as políticas rasteiras, rasteirinhas, rasteiríssimas.
Não encontro as palavras. Talvez náusea…
Aqui, e em primeira reacção, chamo a atenção (de quem?) para o facto de O militante, revista do PCP, nos seus números de Maio-Junho e de Julho-Agosto, ter publicado dois cadernos-separatas sobre os 190 anos do nascimento de Marx e os 160 anos do Manifesto. Com originais de seus membros do Comité Central e da Direcção do Sector Intelectual e doutorados em filosofia e em economia – um deles, até há pouco Reitor da Universidade Clássica de Lisboa – e vária documentação. O que, evidentemente, foi ignorado – e ignorado se procurará que fique para sempre – nesta oportuna recensão do Expresso. Oportuna, oportunista e demonstração de que há quem esteja assustado com a evidente actualidade do Manifesto. Que, no seu bojo, trazia virtualidades incompreensíveis por alguns, decerto a abarrotarem de “inteligência”:
a capacidade de “arrumar” conhecimentos acumulados pela História e de abrir caminhos para o entendimento de dinâmicas sociais,
a humildade de se manter aberto às actualizações e à correcção dos erros de análise e prospectiva (ver, por exemplo, o prefácio de 1872, verdadeiramente exemplar para quem se queira marxista, e indispensável para quem queira escrever, com um mínimo de probidade intelectual, sobre Marx e marxismo).
sexta-feira, setembro 12, 2008
Ainda a propósito de 11 de Setembro
Pronto! E agora?
quinta-feira, setembro 11, 2008
11 de Setembro de 1973
terça-feira, setembro 09, 2008
Materialismo histórico - 22
Na Festa encontramo-nos. Vendo-nos envelhecer, vendo crescer outros e outras, uns e umas que parecem ter nascido na Festa.
Nesta “página” do M.H. tem de estar a vivência destes dias. E há razões para isso. Muitas.
Uma delas, talvez a mais funda – é, pelo menos no plano afectivo – foi… uma prenda! Esta:
Uma Amiga deu-se ao trabalho de imprimir os 20 primeiros episódios e, com eles, fez um volume de que me ofereceu cópia.
Se logo fiquei grato, e emocionado!, no regresso da Festa folheei o volumezinho e muito aprendi. Sobre M.H. E sobre os riscos e as virtualidades da “aventura” em que me meti.
Não tinha considerado esta possibilidade de edição – assim – de “episódios” que, embora respeitando um esquema e uma linha de progressão pré-estabelecida, "saem ao momento” serem juntos num mesmo volume, ressaltando dois aspectos, a sua “momentalidade” – aliás, como tenho sublinhado, tendo muito em atenção comentários – e a ausência de sentido de conjunto dos textos e gravuras – embora cumprindo um esquema – o que, aliás, se entre-explica.
De qualquer modo, esta prenda – que prenda é – obriga a um patamar de reflexão. Se o M.H. se pode assemelhar a uma rampa ascendente – as forças produtivas – onde se incrustam degraus e patamares – as relações de produção – assim é porque assim é a vida. Um processo ininterrupto com degraus e patamares.
Recusando esquematismos, mas usando esquemas gráficos, já se ilustrou com os modos de produção:
Ou seja, tal como no processo histórico a comunidade primitiva se alongou por séculos de séculos, a que se seguiu a predominância do modo de produção e da formação social esclavagista e, depois, depois a do feudalismo e, desde há pouco mais de dois séculos, a do capitalismo, com as suas crises, rupturas e adiamentos de ruptura, como se fossem patamares, esses modos e formações podem representar patamares, também na nossa vida, nos posts que blogamos, vamos subindo degraus e, por vezes, tem de se avaliar o que se está a fazer, num patamar de reflexão.
segunda-feira, setembro 08, 2008
Foram 3-dias-3
sexta-feira, setembro 05, 2008
Materialismo histórico - 21 - a representação de coisa nenhuma
Parafraseando Gedeão, e na sequência do último “passo”, quando o homem se põe a pensar o mundo pula e avança. Ora, quando o ser humano começou a ter coisas suas, iniciadas as relações sociais com base na propriedade, começou a ter necessidade de as contar, para saber se alguma perdera ou lhe fora roubada (ou acrescentada…).
Quantos escravos são os meus?, quantas cabeças de gado são as minhas?
Perguntas simples, pouco mais que primitivas. Como responder? Como sempre, com o que se tinha à mão: a mão! Tantos escravos quantos os dedos da mão que se recolhem, com simbologia que a romana (mas não só) expressa bem, fazendo-a corresponder aos dedos – I, II, III, IIII – e à mão, se é a mão toda – V –; se ainda há escravos para além da “mão cheia” juntam-se-lhe dedos – VI, VII, VIII –, mas se já forem muitos mas as duas mãos ainda tem dedo de sobra, pode procurar-se ajuda para fazer as contas que servem para ver se está tudo certo – IX –, e se chegar outro passam a ser as duas mãos – X. E por aí fora, arranjando sinais, (ar)riscando.
Mais uma vez, a correspondência (agora entre corpo, dedos, e coisas) a dar resposta à satisfação de uma necessidade.
E, como sempre, as necessidades reais a exigirem mais e mais. Um enorme salto foi o da descoberta do ZERO, do 0. Que é a correspondência a coisa nenhuma. A abstracção levada à sua representação, à sua simbolização.
A existência do 0 (zero) foi da maior importância para o desenvolvimento das forças produtivas. Porque, entre outros factos, possibilitou que os seres humanos passassem a poder operar com números a partir de uma simbologia decimal - pois se temos dez dedos à mão (normalmente)! -, em que o nada também se representa. Uma dezena (duas mãos, um corpo!) e nada de outra mão de outro corpo: 10! E por aí fora…
(Experimente-se fazer operações simples, de multiplicar, por exemplo, 514 por 28 em numeração romana – DXIV vezes XXVIII!)
Para não falar de outras complicações, e em outros sistemas e simbologias numéricos (ou “linguagens”) que o decimal veio a possibilitar. E que também travou, porque muito mais racional teria sido a passagem por um sistema duodecimal, o que explica o recurso à dúzia, ao quarteirão, à grosa (doze dúzias, isto é, 144 em sistema decimal e 100 em sistema duodecimal). Mas não nascemos com 6 dedos em cada mão…
Espero não ter abusado… e afastado “clientela! Mas, em materialismo histórico, tem de se referir esta determinante descoberta!
quinta-feira, setembro 04, 2008
quarta-feira, setembro 03, 2008
Quadro de medalhas
- a China tem o 1º lugar em medalhas de ouro, tem o 2º em medalhas no total, e tem o 1º em medalhas ponderadas;
- os Estados Unidos alternam as posições de 2º e de 1º com a China;
- a Rússia e o Reino Unido têm, em todos os critérios, os 3º e 4º luagres, respectivamente;
- a diferença mais significativa é a de Cuba, que teria o 28º lugar em medalhas de ouro, o 11º no total das medalhas e o 12º no total ponderado (o que é verdadeiramente extraordinário para um país com 10 milhões de habitantes);
- Portugal, com uma medalha de ouro e uma de prata, ficaria entre os 46ºs. na classificação das medalhas de ouro, entre os 46ºs. em total de medalhas (2) e entre os 51ºs. no total ponderado (5 pontos).
terça-feira, setembro 02, 2008
Materialismo histórico - 20
- Quando seres humanos começaram a ter “tempo livre” porque deixaram de ter todo o tempo de vida ocupado pela satisfação das suas necessidades de sobrevivência como matéria provisoriamente organizada;
- quando uns seres humanos se apropriaram de outros seres humanos, porque estes lhes serviam como força produtiva fundamental, colhendo e criando o suficiente para eles próprios sobreviverem e ainda excedentes para os seus proprietários disporem de “tempo livre”;
a pensar!,
a ter ideias, ideologia.
O esclavagismo não foi (não é) apenas um modo de produção, definido pelo nível atingido pelo desenvolvimento das forças produtivas e pelo estádio das relações sociais de produção, com a prevalência da questão da propriedade de outros seres humanos.
Foi (é), também, uma formação social, uma consciência social, uma ideologia, correspondente ao modo de produção, resquícios das representações das comunidades primitivas, germens de modos de produção futuros. Porque as forças produtivas não podiam (não podem) deter-se no seu desenvolvimento, e exigiam (exigem) outras relações sociais de produção.
Ora, havendo excedentes, colhendo e produzindo os escravos mais do que seria necessário para que a sua sobrevivência fosse assegurada pelos proprietários (enquanto útil a estes), e possibilitando as novas forças produtivas que cada vez mais e maiores fossem sendo esses excedentes, a troca é a consequência de o trabalho de colheita e de produção ter deixado de colher e produzir para quem trabalha, para a satisfação das suas necessidades e dos seus proprietários (no modo de produção da escravatura), de cada vez mais o que uns colhem e produzem viesse sendo colhido e produzido para ser trocado pelo que outros colhem ou produzem.