sexta-feira, setembro 05, 2008

Materialismo histórico - 21 - a representação de coisa nenhuma

Não se quer entrar por caminhos complicados. Mas todos o são com a preocupação de se estar a ser "sério", embora sem a pretensão de fazer mais do que apontar pistas de reflexão. Sérias, mas apenas pistas. Já quando se falou do aparecimento (descoberta-invenção) da roda, e noutros passos, se sentiu necessidade de fazer este alerta: não se pretende estar a “fazer” ou a “refazer” História. Estes episódios sobre materialismo histórico resultam de estudo, de reflexão, e pretendem, apenas, estimular reflexão.
Parafraseando Gedeão, e na sequência do último “passo”, quando o homem se põe a pensar o mundo pula e avança. Ora, quando o ser humano começou a ter coisas suas, iniciadas as relações sociais com base na propriedade, começou a ter necessidade de as contar, para saber se alguma perdera ou lhe fora roubada (ou acrescentada…).
Quantos escravos são os meus?, quantas cabeças de gado são as minhas?
Perguntas simples, pouco mais que primitivas. Como responder? Como sempre, com o que se tinha à mão: a mão! Tantos escravos quantos os dedos da mão que se recolhem, com simbologia que a romana (mas não só) expressa bem, fazendo-a corresponder aos dedos – I, II, III, IIII – e à mão, se é a mão toda – V –; se ainda há escravos para além da “mão cheia” juntam-se-lhe dedos – VI, VII, VIII –, mas se já forem muitos mas as duas mãos ainda tem dedo de sobra, pode procurar-se ajuda para fazer as contas que servem para ver se está tudo certo – IX –, e se chegar outro passam a ser as duas mãos – X. E por aí fora, arranjando sinais, (ar)riscando.
Mais uma vez, a correspondência (agora entre corpo, dedos, e coisas) a dar resposta à satisfação de uma necessidade.
E, como sempre, as necessidades reais a exigirem mais e mais. Um enorme salto foi o da descoberta do ZERO, do 0. Que é a correspondência a coisa nenhuma. A abstracção levada à sua representação, à sua simbolização.
A existência do 0 (zero) foi da maior importância para o desenvolvimento das forças produtivas. Porque, entre outros factos, possibilitou que os seres humanos passassem a poder operar com números a partir de uma simbologia decimal - pois se temos dez dedos à mão (normalmente)! -, em que o nada também se representa. Uma dezena (duas mãos, um corpo!) e nada de outra mão de outro corpo: 10! E por aí fora…
(Experimente-se fazer operações simples, de multiplicar, por exemplo, 514 por 28 em numeração romana – DXIV vezes XXVIII!)
Para não falar de outras complicações, e em outros sistemas e simbologias numéricos (ou “linguagens”) que o decimal veio a possibilitar. E que também travou, porque muito mais racional teria sido a passagem por um sistema duodecimal, o que explica o recurso à dúzia, ao quarteirão, à grosa (doze dúzias, isto é, 144 em sistema decimal e 100 em sistema duodecimal). Mas não nascemos com 6 dedos em cada mão…
Espero não ter abusado… e afastado “clientela! Mas, em materialismo histórico, tem de se referir esta determinante descoberta!

6 comentários:

Maria disse...

Como temes afastar a "clientela"?
Somos fiéis leitores e gostamos de aprender..
A descoberta do ZERO, e a importância que teve esta descoberta.
Pronto, agora vou fazer uma pausa de net... por três dias...

Até já

samuel disse...

Se o ZERO é afinal tão importante, já me sinto um pouco melhor... sempre fui um zero a matemática. :)))

Anónimo disse...

Olha que ainda me lembro do merceeiro lá da aldeia que era analfabeto vendia fiado, e nome das pessoas no rol era feito por sinalética.
Não,eu não sou muito velho...o atraso é qur era demasiado, e continua!
Gostava de ter a tua arte e a tua paciência, nem sabes como te fico agradecido!
Abraço

Justine disse...

Números nunca foram o meu forte, mas percebo a importãncia vital desta descoberta. E está bem explicadinho, para "curiosos" como eu!
Vamos lá prá frente!

Anónimo disse...

-O Zero. -Isto é complicado...é sim senhor!-O Zero, e a sua entrada pela "porta do cavalo" na antiga Grécia e Império Romano... sim senhor pela porta do cavalo! -Ele já existia nas questões da troca ou valor de troca, só que não aparecia ou não era representado...julgo eu; embora não tenha a certeza.(mas que raio de "juiz!"...bem é o que tenho para dar...)
-É verdade PROF. que o Zero, foi descoberto na Índia centenas ou milhares de anos antes da Grécia Clássica e do Império Romano.
E só centenas de anos depois é que entra oficialmente nas "contas" do Ocidente?
-Não levantará isto várias questões??? não e responderá a outras ou mesmo tempo???? -Como por exemplo: desdiz aqueles que afirmam que só por si o progresso tecnológico e cientifico porá fim aos desacertos do Mundo.
ps.
Vi-te na na nossa Festa, mas não me foi possível falar contigo já que entrava de serviço e tu também estavas de serviço a dar "uma de letra" =Leia-se marxismo com outros "alunos".
Fica para a próxima.
Um abraço para todos "alunos" e Setôres.
a.ferreira

Sérgio Ribeiro disse...

Tinha a consciência de que este episódio ia "cair" em má altura, mas pareceu-me de o deixar para os mais "estudiosos" (!?)... e seguir a dança, agora noutro ritmo depois das sequelas da Festa.
Fica para consulta