quinta-feira, janeiro 01, 2009

Bom ano, amigos!

Numa das escalas da nossa viagem de regresso, na madrugada parisiense, peguei no Libération de 31.12.2008/01.01.2009 (número duplo) e li-o durante o percurso.
Valeu a pena!
Sobretudo porque, na página 5, em Rétrospectives, encontrei um artigo com o mote certo para esta saudação de passagem de ano. Michel Onfray, com o título “2008, la paupérisation généralisée”, escreve um artigo muito interessante, muito francês… por isso, talvez com o pecadilho de ser demasiado francês.
Desde logo, o título, que me prendeu, perseguidor que sou, há décadas, do tema pauperisação (ou pauperismo), com recente recidiva “por culpa” das várias releituras do Manifesto nos seus 160 anos. E, evidentemente, por culpa (posterior...) da “crise”.
Depois de referir vários temas e situações merecedoras de “cartão postal” capaz de resumir 2008, Onfray reteve, para si, que 2008 foi o ano da pauperisação generalizada, como “o efeito natural de uma causa que se chama capitalismo liberal” .
E justifica a escolha com o aumento da pobreza dos pobres e do número de pobres, em simultâneo com a rarefacção do número dos ricos e o aumento da riqueza dos ricos.
E o autor, contundentemente, ilustra o que o levou a assim caracterizar 2008, começando por dizer “Morre-se de frio em França. Dito de outra maneira, morre-se de pobreza em França. Porque não se morre de frio, morre-se de não se ter dinheiro que permita ter casa, abrigar-se das intempéries, vestir-se com roupa que aqueça, morre-se de não ter dinheiro para permita comer por forma a revitalizar o corpo correctamente, morre-se de complicações de doenças porque não se tem dinheiro que permita cuidá-las, seja de forma preventiva, seja de modo curativo”.
Não vou reproduzir na íntegra o artigo (não está seleccionado na net), que continua com uma referência duríssima aos suicídios – por desemprego, na cadeia, por desespero – , e com o confronto com a “venda sem descontinuidade de relógios correspondentes a cinco anos de Smic[1] líquido, facturas de noites em hotel equivalentes a meio ano de Smic…”, mas vou adaptar o seu final:

A verdadeira direita, durante este tempo que vivemos, faz saltar rolhas de garrafas de champagne ao preço de muitos salários mínimos regateados ao cêntimo; as falsas direitas e as falsas esquerdas esperam as suas horas, os seus dias, os seus anos de alternância no poder político ao serviço do poder financeiro, e só isso e por isso esperam; a verdadeira esquerda… só tem que lutar por rupturas, por verdadeiras alternativas.

Boa ano de 2009. Bom ano de luta. De muitas lutas.
_______________________________________________
[1] - Salário mínimo interprofissional de crescimento (Smic) igual a 8,71 €/hora. O salário mínimo em Portugal passa para 450 €/mês, o que, em semana de 40 horas, cerca de 180 horas mensais, dá 2,5€/hora. E, no avião, vimos o anúncio de um relógio por 297 mil euros… mais de 50 anos de salário mínimo português!

9 comentários:

Fernando Samuel disse...

... e bom regresso!


Abraço grande.

GR disse...

Excelente post para mais um 1º dia de um ano que se adivinha, bem mais difícil do que este que findou.
Na realidade a disparidade da riqueza de alguns e a pobreza de muitos é, cada vez maior.
Todos nós conhecemos casos dramáticos devido ao desemprego, reformas baixas, ordenados de miséria, a juventude é obrigada a sair do país, as dívidas vão-se acumulando. Há cada vez mais desespero levando muitos ao suicídio, roubos e loucura.
È o país real que todos sabem que existe, menos o desgoverno de Sócrates.
As reformas mínimas subiram perto de 6 €/mês. Um escândalo!

Bom regresso.

Bjs,

GR

samuel disse...

Como aqui... se bem que aqui está um pouco mais violenta, a pauperização, embora menos que noutras partes do mundo, onde os pobres nem um vislumbre têm de assistência e apoio. Até para ser pobre é preciso ter sorte!...

Bons ventos vos tragam!

Anónimo disse...

Bom regresso que a luta espera.

Sérgio Ribeiro disse...

Pois cá estamos. Como se de cá não tivessemos saído. Quando as raízes eatão tão fundas, até nos longes aparecem sinais delas. E impõem-se.
Abraços para todos.

Maria disse...

Sejam bem regressados!
Muitas lutas nos esperam...

Bom Ano!
Beijos

Anónimo disse...

Pelos vistos a pauperizacao ainda nao chegou aos burgueses, que hipocritamente disfarcados de comunas, ainda vao tendo dinheiro do seu "produtivo" trabalho em prol da sociedade, para passear pela asia.
Bem haja oo sergio por se contentar pelo zambujal e partilhar o seu dinheiro com os mais necessitados!!!

arre porra!!

Sérgio Ribeiro disse...

Ele há o pauperismo (ou a pauperização) como conceito dinâmico a estudar - e bem -, ele há o miserabilismo, ele há as confusões em certas cabeças, ele há outras coisas de que é melhor nem falar...
E ele há a paciência a ter!

Anónimo disse...

paciência de burguês.