quarta-feira, dezembro 08, 2010

Reflexões lentas, curtas e fundas (em mim), na madrugada

Uso com frequência o argumento de que um instrumento é um instrumento, e que não é bom ou mau em si, mas em resultado de como foi criado e/ou de para que é usado.
Faço-o, muitas vezes, a propósito do euro que, como instrumento que é, poderia ser útil, mas cujo modo como foi criado, ao serviço de que interesses foi e é usado, se tornou um instrumento perverso. A exemplo, gosto de acrescentar, da dinamite que pode servir para abrir estradas e outros fins úteis ou para fabricar armas e outros fins maléficos, ou das drogas.
As palavras (ditas ou escritas), como argumentos são instrumentos no plano da luta de ideias, mas elas, se podem incluir-se nestas reflexões sobre benefícios ou malefícios dos instrumentos, podem, em si mesmas, ter uma intrínseca valoração. Uma mentira é, sempre, uma mentira, o uso da hipocrisia é, sempre, uma hipocrisia; uma agressão verbal não é assimilável a uma pedra que pode estar a ser parte de um muro ou pode servir para arremesso, e é, sempre, uma arma contra outros.
Ao contrário de outros instrumentos, as palavras, os argumentos, podem "ser de direita ou "ser de esquerda. São “de direita”, são seus instrumentos, a mentira, a calúnia, o insulto, a palavra que desinforma e deforma; são “de esquerda”, são seus instrumentos, a verdade, a transparência, a palavra que informa, certa e solidária.
Por isso, é desigual o combate e “ser de esquerda” é – também – não ter pressa, porque ter pressa poderia levar a servir-se de instrumentos com utilizações que são próprias “da direita”, a dizer ou escrever palavras que são do léxico “da direita”, a usar argumentos que "de direita" são. Ou seja, a não “ser de esquerda”!
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Estarei a ver tudo a preto e branco? É possível... mas, acrescento já, que penso haver quem se diga, e julgue, "de esquerda" e tenha comportamentos "de direita", e - sublinho! - há quem se diga, e julgue, "de direita" e tenha comportamentos "de esquerda".
A vida, o ser humano, tudo, é feito de contradições... Não há que etiquetar, mas há que saber do que falamos quando falamos de quê.

5 comentários:

samuel disse...

Não é fácil de conseguir e requer uma enorme vigilância...
Excelente e oportuna reflexão!

Abraço.

Fernando Samuel disse...

Muito bem pensado!

Um abraço.

Graciete Rietsch disse...

O mundo é feito de contradições, mas também é feito de palavras que , aparentemente de boa fé, trazem em si um veneno destruidodr.
E,actualmente, temos disso numerosos exemplos.

Um beijo.

Graciete Rietsch disse...

Desculpa os erros. Ando nervosa.

Um beijo.

Justine disse...

E não pode pôr-se a questão em termos éticos e dizer apenas que há palavras que traduzem um pensamento honesto e palavras que traduzem um pensamento desonesto? E depois há as pessoas que as utilizam...