quinta-feira, janeiro 08, 2015

Reflexões lentas - procura de palavras com acerto-1

Reflecte-se com palavras, porque as reflexões assentam sobre palavras e o significado que se lhe queira dar. Reflectia assim, alinhando palavras, a partir da observação/comprovação de que as últimas reflexões lentas têm sido sobre palavras. Palavras com tanto pêso que, sós, isoladas, exigem reflexão. Ou, vendo ao contrário... ou, pegando pelo outro lado, são precisas palavras para se sintetizar reflexões, sejam estas rápidas ou, preferencialmente, lentas. Para que as reflexões se entendam.

  • CAOS. Vejo a televisão ou folheio jornais e a palavra caos aparece-me repetida. Depois de um processso passo a passo, medida a medida, decreto a decreto, orçamento a orçamento, vetos do TC a vetos do TC (porque vetos são), a evolução dos rendimentos dos portugueses, das políticas de saúde, das políticas de educação, justificam o vocábulo. Sobretudo na área da saúde se tem de entender que quer dizer caos para reflectir a situação. Hoje, no restaurante, no jornal televisivo que me serviram com o cozido à portuguesa: "homem de 77 anos morre nas urgências de Setúbal, depois de esperar 4 horas"; "mulher de 79 anos morre nas urgências de Peniche após esperar 10 horas". E fala-se em caos por estas duas mortes que são anunciadas ao almoço (a mim, que tenho 79 anos e estou constipado...) se juntarem a outras anteriores em outros sítios mas aqui, de outras idades mas sobretudo destas, com outros números para as horas de espera mas sempre muitas, e às macas ocupadas, e às viaturas de apoio médico imobilizadas, e à decisão de apressar baixas, e à responsabilização de empresas de aluguer de pessoal médico, e, e. Caos na situação, pânico não confessado (ou envergonhado) nas... pessoas!, em quem não tem posses para se marimbar no Serviço Nacional de Saúde. Porque é aqui que bate o ponto da reflexão. A responsabilidade, a culpa que sempre se procura identificar, não é deste governo e do seu orçamento, não é do ministro que é mau, não é dos médicos que não há, não é dos enfermeiros que emigram, não é dos administrados que gerem mal. É de uma política que vai em décadas, e que tem vindo paulatinamente a tornar um direito num não-direito, um serviço nacional e público num sistema que o vá substituindo, articuladamente, num sistema em que tenha cada vez maior (até à exclusividade) peso o negócio  da doença. E assim tem sido até se chegar a (este) caos. A culpa é da política que privilegia o privado e abate o homem de 77 anos e a mulher de 79 ao número dos que são "culpados" por (ainda) estarem vivos e serem um encargo para o orçamento! 


  • Segue BARBÁRIE      

   


2 comentários:

Olinda disse...

E esta polîtica,que tem vindo a trocar direitos por nao-direitos,que deixa morrer,irresponsävelmente,doentes ä espera de apoio mêdico urgente,chama-se capitalismo.Ser verdadeiramente socialista,ser de esquerda ,ê ser anti-capitalista.O capitalismo nao se humaniza.

Sérgio Ribeiro disse...

Ora aí está! É o capitalismo que provoca o caos que se espelha na informação e espalha nas pessoas.

Obrigado,Olinda