- Edição Nº2405 - 3-1-2020
OPCW
Peritos da Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ, ou OPCW na sigla inglesa) estão em revolta contra a manipulação e mentira que visa submeter a organização internacional ao belicismo imperialista.
Em Abril de 2018 uma das campanhas mediáticas que antecedem as operações militares dos EUA/NATO/UE acusava o governo sírio de usar armas químicas em Douma. Um video mostrava crianças, supostamente vítimas, a serem encharcadas com água por Capacetes Brancos. A foto dum cilindro em cima duma cama numa casa bombardeadea seria a prova. EUA, França e GB lançaram mais de 100 mísseis sobre a Síria, ainda antes dum relatório da OPAQ falar em cloro no local do alegado ataque.
Mas cientistas da OPAQ divulgaram pela Wikileaks documentos provando que o relatório oficial não foi escrito pela equipa de peritos que visitou o local do suposto ataque e «não reflecte as suas opiniões». Um memorando refere que «cerca de 20 inspectores expressaram a sua preocupação sobre a situação», adiantando que «o relatório da FFM [Missão de Apuramento dos Factos] não reflecte as opiniões de todos os membros da equipa que visitou Douma. Apenas um membro [do grupo que escreveu o relatório final] esteve em Douma». Particular revolta provocou o falso desmentido de que o inspector Ian Henderson tinha estado em Douma. Henderson foi suspenso e expulso à força da sede da OPAQ. Após visitar Douma, tinha escrito que era inexplicável que o cilindro que alegadamente foi lançado dum helicóptero e atravessou um tecto em cimento armado, pudesse estar intacto em cima da cama onde foi fotografado. Foram também questionadas as imagens do hospital, lançando a suspeita duma encenação. O relatório final escondeu a informação de que o cloro encontrado era residual.
Já o primeiro chefe da OPAQ, o brasileiro Bustani, enfrentou o gangsterismo imperialista. Segundo contou à RT (7.4.18), o futuro Director de Segurança Nacional dos EUA, Bolton, visitou a sede da OPAQ antes da invasão do Iraque, dando-lhe um ultimato de 24 horas para se demitir. Face à recusa de Bustani, Bolton imitou Al Capone: «OK, haverá represálias. Prepare-se para aceitar as consequências. Sabemos onde estão os seus filhos». Segundo Bustani, o Iraque já não tinha armas químicas, mas os EUA «já tinham planos para […] acções militares».
Com raríssimas excepções, a comunicação social de regime não noticia a revolta na OPAQ. O jornalista Tareq Haddad conta como foi censurado pela Newsweek. Para não ter de calar-se ou mentir, optou por despedir-se (tareqhaddad.com, 14.12.19). Julian Assange, o fundador da Wikileaks, está preso em Londres, aguardando sentença sobre a sua extradição para as masmorras dos EUA. O Relator Especial da ONU sobre Tortura, Nils Melzer, considerou que Assange está a ser sujeito a torturas psicológicas (RT, 16.10.19). O ex-Embaixador britânico Craig Murray, após assistir a uma das sessões judiciais, manifestou-se «profundamente abalado» pelo estado físico e psíquico de Assange, receando «que possa não chegar vivo ao fim do processo de extradição» (craigmurray.org.uk, 22.10.19).
Querem calar quem desmascara a mentira para poderem cometer crimes com impunidade.
Jorge Cadima
3 comentários:
Como dizia Brecht,Os tempos não estão bons para lirismos.Mas as lutas dos povos um pouco por todo o mundo demonstram que a sua luta consegue resistir e travar a estratégia incendiária do totalitarismo imperialista EUA/UE.Bjo
Arma poderosíssima, cada vez mais requintada, mais elaborada e usada sem qualquer pejo.
A mentira é de facto uma arma de grande poder seja qual for a situação. Em campanhas eleitorais a mentira passa melhor a sua mensagem e colhe mais crédito que a Verdade. A verdade é dura, é a realidade e as pessoas preferem acreditar na mentira pois esta não exige luta pelos nossos direitos. Lutar exige esforço e determinação mas é mais fácil pensar que as melhorias das condições de vida de quem trabalha caem do céu como por milagre. Mesmo sem ser em política (apesar de tudo ser política) é mais fácil as pessoas acreditarem numa mentira que na verdade. Quanto a Assanje, denunciou um ninho de vespas e hão-se matá-lo sem que ninguém mexa uma palha para o libertarem até porque a maioria das pessoas não sabem quem ele é, é estrangeiro, a maioria desconhece as suas denúncias e a informação da situação dele não passa nas TV's. Quanto ao Rui Pinto, as pessoas já o conhecem melhor, é português "aquele malandro" que denunciou entre outras situações o futebol e seus dirigentes e isto é crime de lesa pátria, o futebol é "sagrado", também já está enredado nas malhas da "lei" e com muitos adeptos deste "jogo" ou melhor desta máfia, revoltados, vai seguir o mesmo caminho que Assanje. A MENTIRA É MESMO UM ARMA MUITO FORTE.
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