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reTIRADO do quase-diário:
No último duche do ano 2019,
filosofando sobre a miséria, el(o)ucubrei à volta de Proudhon, procurando perceber
como é que tanta gente (que se quer) boa, que conhece (isto é, não pode
ignorar) como vivem tantos contemporâneos nossos em tantos lugares da Terra (e
aqui perto, nas nossas terras), que sabe das desigualdades crescentes e da
corrupção que de excepção se tornou regra, como é que alinha com teses
simplistas e redutoras, e considera que a propriedade é um roubo e que é a
causa de todos os males. E assim (essa gente) se dispõe a abdicar do que será sua
propriedade (que não lhe faça falta…), ou até a contribuir para que se organize
a sociedade de maneira a que se elimine a propriedade, ou que toda ela seja de
todos, o que não é o mesmo mas parecido.
Sai do duche irritado. A
apostrofar de miséria tal “filosofia”, como foi feito, há quase dois séculos, quando essa “filosofia da miséria” se enunciou e ganhou aguerridos adeptos, que hoje têm continuadores.
Tendo então sido explicado, bem explicadinho, que o fundamento dos intoleráveis
problemas sociais não está na propriedade mas no uso da propriedade, por alguns
seres humanos, para explorarem outros seres humanos.
E insisto, repetindo e/ou à
minha maneira:
denuncie-se, sempre, que a relação do ser humano com as coisas,
com a natureza de que faz parte, não pode servir (mas serve…) para secundarizar
e escamotear a natureza das relações sociais, das relações que foram sendo
engendradas e modificadas ao logo dos tempos, dos séculos, dos milénios, entre
os seres humanos no seu tempo e, nalguns casos, para o futuro. Relações que
são, por sua natureza, transformáveis – pelos seres humanos! –, devendo adaptar-se (adequa-se) às mudanças concretizadas nas coisas pelo ser humano. Ser humano
que, nessa acção – com e pelo trabalho
– também vai mudando.
Sempre.
1 comentário:
Claríssimo e muito pedagógico!
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