do avante!:
Sobre a Cimeira dita «Social»...
Começa amanhã, no Porto, a Cimeira dita Social, que se prolongará até sábado, com a realização de uma reunião informal do Conselho Europeu. Trata-se do momento mais projectado e mediatizado pela Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia.
Da Cimeira não sairá nada de positivo para os trabalhadores, antes pelo contrário
De acordo com o Programa, na sessão de dia 7 (Conferência de Alto Nível) participarão, para além do Primeiro-ministro português, António Costa, a Presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, o Presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, a quem se juntará, na sessão de encerramento, o Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel. Estão também previstas intervenções dos denominados Parceiros Sociais e Sociedade Civil, incluindo da Confederação Europeia dos Sindicatos e da Business Europe, organização do grande patronato europeu.
Os trabalhos irão centrar-se no Plano de Acção do chamado Pilar Europeu dos Direitos Sociais, com três sessões temáticas: Trabalho e emprego; Qualificações e inovação; e Estado e protecção social. Da reunião informal de chefes de Estado e de governo espera-se que saia uma posição conjunta sobre o dito pilar social.
Para lá da propaganda
Está, pois, montado o cenário para a propaganda em torno de um pilar social da União Europeia (UE), que de efectivas medidas sociais tem pouco, como os trabalhadores portugueses muito bem sabem e sentem, já que, ao longo dos anos, as políticas e orientações da UE têm procurado nivelar por baixo os seus direitos e condições de vida. Toda a propaganda em torno deste evento mais não é do que a tentativa de branquear a UE e as suas políticas – cujo carácter e gravidade foram expostas pela pandemia de COVID-19 – e, ao mesmo tempo, de alargar e aprofundar a política de integração capitalista a áreas que continuam na competência dos diferentes países, como as políticas laborais e sociais, incluindo a de saúde.
Sem menosprezar contradições, que se estão a manifestar, entre países e respectivos governos, as conclusões anunciarão previsivelmente renovadas e benévolas intenções; tirar-se-ão as fotos do costume e serão publicados muitos artigos a elogiar os avanços conseguidos na Cimeira. Mas, infelizmente, para os trabalhadores não se adivinham bons augúrios! Sob o mote da resiliência e de transições várias – verde, digital, energética –, o ataque aos direitos laborais e sociais apresenta-se, uma vez mais, disfarçado de reformas ditas necessárias e da adaptação de um conjunto de direitos aos novos tempos que o grande capital anuncia, mas que estão imbuídos de agravamento da exploração e de continuação, senão mesmo aprofundamento, das desigualdades sociais, da pobreza e da exclusão social, do retrocesso social.
A velha exploração...
Os avanços científicos e tecnológicos, ao invés de serem postos ao serviço dos trabalhadores e da melhoria da qualidade de vida de todos, são usados pelo grande capital para agravar a exploração – que o digam os trabalhadores das chamadas plataformas digitais ou os que estão a ser empurrados para o teletrabalho –, maximizar o lucro e concentrar ainda mais a riqueza, quando o que se impõe é a diminuição da jornada de trabalho, sem perda de rendimento, e a criação de condições dignas de trabalho e de vida para todos.
A pretexto do direito a desligar, que já existe na lei e na vida quando o horário de trabalho é respeitado, legitima-se uma disponibilidade permanente que torna impraticável a conciliação entre as várias dimensões da vida e limita o acesso ao descanso e ao lazer. Mesmo a Directiva sobre os Salários Mínimos – cuja fixação, note-se, é uma competência nacional –, no nosso País, corre o risco de se traduzir numa pressão negativa para conter o aumento do Salário Mínimo Nacional, assim como dos salários em geral, que, como sabemos, estão muito aquém do que é exigido e necessário para a generalidade dos trabalhadores. Perante isto, a promessa de criação de emprego – 78% de emprego dos 20 aos 64 anos até 2030 – só nos pode fazer interrogar sobre que emprego fala a UE e recordar as décadas de inúmeras e nunca cumpridas proclamações sociais da UE – incluindo a do pleno emprego –, que na prática levaram à promoção da precariedade e do ataque aos direitos laborais.
Saliente-se que, relativamente à formação, esta é entendida como devendo estar ao serviço das necessidades empresariais imediatas. Além disso, é encarada como almofada para o desemprego, camuflando-o. E, ainda que os trabalhadores tenham ou venham a obter novas qualificações, não é assegurada a necessária correspondência e valorização salarial.
Novas ofensivas
Uma outra área em destaque na agenda e no plano de acção é a protecção social, ficando evidente a pressão sobre os sistemas de segurança social, tal como foram conquistados e os defendemos – públicos, universais e solidários. Nesse sentido, está em vista a criação de um grupo de peritos de alto nível para «estudar o futuro do Estado-providência», conhecendo-se o objectivo, há muito ensejado, de redução e privatização dos sistemas públicos de segurança social.
Estas são algumas das linhas de acção de um plano de implementação do pilar dito social, que encontram eco no Livro Verde do Trabalho, recentemente apresentado pelo Governo português. Um caminho que prenuncia uma nova ofensiva contra direitos laborais e sociais. Preparemos-nos para lhe dar a resposta que merece! Desde logo, mobilizando-nos para a participação na acção convocada pela CGTP-IN para dia 8 de Maio, sábado, às 15h00, no Porto!
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Depois de afirmados princípios (igualização no progresso no Tratado de Roma)
sem política,
e de afirmados objectivos políticos (coesão económica e social, em Maastricht)
sem princípios (prescrições mínimas),
aí vêm mais afirmações de princípios e objectivos como propaganda
sem acções ou com acções que contrariam as afirmações...
S.R.
1 comentário:
Quando os de cima se juntam,tremem os de baixo.A luta é o caminho.Bjo
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