do (quase-)diário (pgs. 7293 a 7297 no caderno 202):
26.09.2022
Os dias
começam pelo correio chegado, com particular atenção para o que canaliza (nunca
inocentemente) informação.
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Sobretudo,
a que nos informa a todos, visando informatar-nos, e que,
dispondo de meios enormes e poderosos (do poder…), ocupa o espaço informativo,
impede, quando não amordaça, qualquer outra informação que não a que serve o
poder, as forças que dominam as relações sociais.
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Sobretudo
e sobre todos, a informação que tem e impõe o seu léxico, feito de valores e conceitos que são utilizados como se estivessem
definidos, fossem definitivos e indiscutíveis, absolutos e consensuais;
a informação que discorre com base em análises temporais e/ou com números
que são falseados e ajeitados como conveniente, sem se hesitar no seu próprio e sequente desmentido
temporal.
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É, em todas
as minhas/nossas manhãs (minha nossa!...), o confronto com esta agressão a
quem possa, minimamente que seja, ter dos mesmos afirmados valores e conceitos definições diferentes (por pequenas
que possam ser as diferenças);
esta violenta
agressão a quem não aceite o que lhe é dado como definitivo e indiscutível, a
quem se ache no direito de pôr em causa o absoluto ou dogmático e que, por isso,
não aceite decretadas consensualidades.
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Dois
exemplos de hoje, desta manhã, motivadores desta quotidianamente suscitada questão
da unicidade da informação, da formatação das consciências:
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Lê-se no Expresso
curto que nos entra
casa:
1. … volta a atirar o mundo para uma inesperada crise económica,
com valores de inflação
a fazer disparar os custos de vida e a perda de rendimentos.(…)
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“… inesperada crise económica, com valores de inflação…”?!, mas quantas vezes, e por
quantos, foi prevista a crise económica, se previu (e preveniu) o disparar dos
valores da inflação?...
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… beliscando
desejável pudor de auto-citação, lembro intervenção minha em acto comemorativo
do centenário da Seara Nova, em que glosei o mote, prevendo,
sem reservas nem agravamentos… inesperados, a crise que aí está
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Mas há
mais (e melhor!):
2. Uma das questões que se coloca é saber como
pode a Europa lidar
com a ascensão de partidos, democraticamente
eleitos, mas que fazem muitas vezes da intolerância, do extremismo e da
radicalização o centro do seu discurso político.
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Desde
logo, assalta-me e agride-me a pérfida contumácia de se considerar a Europa igual a uma União
Europeia, que é organização de Estados membros em construção que, mesmo que
fosse construída-constituida por todos os Estados ou países do
continente Europa, não poderia substituir a
Europa, entidade histórica,
no sentido que este adjectivo tem…
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… a União
Europeia não é, nunca será, o princípio (nem o fim da história) da Europa, substituindo-a.
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Depois, há
quem se arrogue distribuidor de atestados de democraticidade,
a partir de um conceito que, em vez de se basear em cidadania igualizadora de
direitos sociais – o que nada tem a ver com
igualitarismos primários e falsificadores –, tem um único critério: o das eleições
de representantes por eleitores socialmente desiguais, com diferente informação
e desinformados, a maioria deformatada.
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Esse é o
perfeito espelho-reflexo do que, por via da intolerância e da radicalização da prática de uma aparente centralidade, leva, eleitoralmente,
ao extremismo da intolerância e da radicalização anti-social, anti-democrática sem quaisquer limites
de um qualquer conceito elástico ou redutor de democracia.
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A que há que
resistir, agora como sempre.