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segunda-feira, junho 24, 2019

"ESTAR PERMANENTEMENTE EM GUARDA"...





 - Edição Nº2377  -  19-6-2019

Ver, ouvir e depois

Com a «redefinição de conteúdos» a que o «Jornal do Fundão» procedeu recentemente, foi extinta a área de crítica de televisão que aquele jornal mantinha há cerca de quarenta anos. Em consequência, a crítica de TV, que em tempos teve muita leitura na imprensa portuguesa e um consequente impacto na consciencialização dos telespectadores perante a carga televisiva que diariamente recebem, ficou reduzida aos notáveis textos de Bernardo de Brito e Cunha na edição em papel do «Jornal de Sintra» e a esta magra coluna. Se nos lembrarmos de que a televisão é um meio de comunicação social com uma «tiragem» de milhões distribuída ao domicílio e que entra pelos olhos e ouvidos de cada cidadão, isto é, com um incomparável poder de penetração, ficamos com alguma ideia acerca da sua relevância social, política, cultural, e apercebemo-nos de que uma reflexão acerca dos seus conteúdos é como o direito/dever de defesa mínimo que cabe a cada cidadão. É essa reflexão que cabe à crítica fazer, no elementar direito de opinião, e também suscitar no telepúblico como fundamental atitude de autodefesa. Perante o televisor não basta ver e ouvir: é preciso confrontar os conteúdos televisivos com outras fontes, lembrar quem escolheu aquelas mensagens e não quaisquer outras, e porquê. A crítica de televisão pode ajudar.
Em guarda
A crítica de televisão pode ajudar, e decerto por isso não tem tido uma existência fácil ao longo das décadas em que vem acompanhando a quotidiana convivência dos cidadãos com a TV. A coisa chegou ao ponto de, no tempo sombrio do fascismo, os mais impactantes textos de crítica de televisão, os de Mário Castrim no «Diário de Lisboa», terem sido terminantemente proibidos e o seu regresso só se ter verificado na sequência de uma verdadeira pressão popular. Esse tempo passou, hoje a imprensa respira melhor (mas nem sempre tão fundo quanto se supõe e quanto seria necessário), mas a crítica de TV continua escassa e débil. Como se não fosse necessária, isto é, como se uma reflexão acerca dos conteúdos que nos são diariamente injectados não fosse indispensável. E aqui caberá uma espécie de advertência: em verdade, na televisão tudo é informação, sem exclusão dos enredos das telenovelas e das notícias aparentemente anódinas. Sem exclusão dos bons momentos de TV, toda a televisão tem lastro, digamos assim. Pelo que é preciso estar como que permanentemente em guarda. Para nosso bem. E também talvez para bem dela.
Correia da Fonseca
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E é oportuno lembrar, entre tantos textos de mais de meio século de intervenção de Correia da Fonseca, o que ela escreveu em 2000, na abertura do livro que integrava crónicas suas publicadas no âmbito da colaboração no Diário do Alentejo:

terça-feira, setembro 18, 2012

segunda-feira, agosto 27, 2012

A "com sessão" na tele visão

no sapo:
PCP chama Miguel Relvas ao Parlamento
(SIC)


O PCP quer ouvir o ministro Miguel Relvas no Parlamento sobre a RTP, considerando que a possibilidade de concessão do primeiro canal e de fecho do segundo "coloca novas questões a que a Assembleia da República não pode ficar indiferente".

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Constituição impõe que Estado tenha a gestão de um canal
(DE)
Administração manifestou em "tempo oportuno" discordância sobre concessão a privados
(Lusa)

domingo, agosto 26, 2012

Sem pingo de vergonha


SEM SOMBRA DE RECATO



1. Esperava-se, é certo, que mais dia menos dia o governo anunciasse o assassínio da Radiotelevisão Portuguesa, operadora pública de TV. Porque esse crime, desde há muito sonhado pela direita portuguesa mais ortodoxa e também mais negocista, estava inscrito como destino nas invisíveis linhas programáticas que a comandam. O que não se esperaria era que o momento inicial dessa operação fosse duplamente marcado por uma provocação política e por um projecto de óbvio prejuízo financeiro em benefício de uma (ainda) não identificada entidade privada. Uma provocação política: a desastrada alienação de um importantíssimo fragmento do sector estatal é anunciada por um cavalheiro de estranho percurso que não integra o governo, sendo a sua comunicação feita sob a forma de entrevista dada a um dos dois canais privados que são concorrenciais da estação pública. A coisa foi de tal modo escandalosa, e mesmo chocante, que até motivou público desacordo expresso por mais de um dirigente do CDS-PP, partido da coligação sem a qual o governo PSD seria minoritário. Projecto financeiramente desastroso: não apenas prevê que o Estado entregue a uma empresa privada o seu canal principal (ou a licença que permite viabilizá-lo, o que obviamente é o mesmo) mas também que a essa generosa oferta ainda acrescente a dádiva anual de 140 milhões de euros, desse modo garantindo desde logo a rendibilidade do negócio. Embora sendo certo que das práticas do actual governo já não são expectáveis elevados níveis de pudor, a total falta de recato que caracteriza esta iniciativa, quer na forma como surgiu perante o País quer no conteúdo anunciado, marca uma espécie de recorde da desvergonha que não parece de ultrapassagem fácil.

2. É claro que esta privatização, efectiva ainda que eventualmente mascarada de concessão por prazo fixo mas decerto renovável enquanto isso convier aos interesses privados, poderia ser apenas mais uma no quadro da pilhagem sistemática do património público que está a ser realizada pelo governo Passos Coelho. Só que esta é a entrega aos interesses privados, comerciais e financeiros mas inevitavelmente também alguns de outra natureza, do que melhor ou pior ainda subsiste como televisão estatal portuguesa. Para cúmulo, o projecto anunciado inclui a liquidação sumária do canal que com maior ou menor razão ainda mantinha a reputação de ter funções culturalizantes, e este requinte elimina eventuais dúvidas quanto à presença de raízes obscurantistas na construção de mais esta “reforma estrutural”: em verdade, o conhecido desabafo atribuído a Goebbels que relaciona a audição da palavra “cultura” ao gesto assassino de empunhar uma pistola prossegue, pelas décadas fora, a reproduzir-se ainda que sob diferentes formas. Quanto a este ponto, ainda será útil que recordemos quanto a televisão esteve, nos seus tempos iniciais e não apenas em Portugal (onde, de resto, a ditadura fascista coarctava obviamente os horizontes possíveis), relacionada com expectativas de ampla difusão cultural. E parece inteiramente plausível, se não ainda mais que isso, que o velho ódio privado contra a televisão pública, radicado sem dúvida na gula sempre insaciada pelos proveitos financeiros, radique também na memória da ameaça cultural que uma TV estatal, eventualmente fiel à sua mítica trilogia de funções (“informar, cultivar, distrair”, por esta ordem), possa ter constituído um dia para a militância do analfabetismo cultural. Parecendo ocioso recordar que essa militância é, através dos tempos, uma característica permanente de todas as direitas políticas.

3.Os próximos dias ou semanas talvez nos esclareçam acerca do verdadeiro sentido estratégico da lamentável presença na TVI do dr.António Borges, espécie de ministro sem pasta mas também de mitigado prestígio, pois nunca ficou bem esclarecido o motivo da brevidade da sua passagem pelo FMI. Não é inverosímil que esta sua vinda tenha correspondido ao lançamento de um balão de ensaio associado ao desejo de poupar mais uma vez o ministro Relvas a prováveis efeitos de erosão que o projecto revelado suscitaria. É claro, porém, que o projecto é obra de responsabilidade colectiva, digamos que compatível com uma acção de bando. Talvez por isso o CDS se apressou a vir demarcar-se da feia acção. Esperemos, ainda que não com exageradas esperanças, que o indignado clamor que se elevou nos mais variados sectores possa travar a intenção celerada. No todo ou em parte. Até que, um dia, o Estado português possa recuperar plenamente a sua/nossa televisão e utilizá-la em favor do povo que a paga.

nem mais!
nem menos!

sábado, agosto 25, 2012

A táctica para a concessão do serviço público de rádio e televisão

Já publicara o "post" anterior e tinha a intenção de  deixar uma outra "breve" sobre o que é um serviço público, quando dois  factos precipitaram a (boa) intenção.
O primeiro, foi um mail que me foi enviado e transcreve o art. 38º da Constituição:


Ora um serviço público não está destinado a (não tem o objectivo de) ter lucro. O que é completamente diferente de aceitar que lhe seja facultada ou facilitada a delapidação de meios públicos. Mas isso depende da política geral do Estado e dos gestores nomeados, ou eleitos nessa coisa confusa e contraditória que são serviços públicos com forma empresarial de sociedades por (nem todas boas...) acções. Em qualquer caso terão de ser gestores... de um serviço públicos e não representantes do capital investido, a que tem de dar dividendos. 

O segundo facto, foi ter ido comprar o Expresso e... um "scan" vale mais que muitas palavras tecladas:

Breve (entre parenteses...)

A táctica (não, não é estratégia...) do "poder executivo" (e executor) relativamente à RTP é verdadeiramente maquiavélica (Maquiaveis de trazer por casa... apartamentos de duas assoalhadas...).
Avança o peão que se julga rei, depois entram no jogo os bispos e os cavalos e as torres que se julgam reis (todos, aliás, se julgam rei... zinhos), e assim se acaba com o serviço público que dava prejuízo (como se isto tivesse sentido em termos de... serviço público) e se encontra um outro veículo de dar lucros (ou de concentrar capital-dinheiro ainda que cada vez mais fictício) e de dar mais "fogo à peça" da luta ideológica.