Só o rigor dos conceitos pode vencer os preconceitos
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As palavras são conceitos.
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Os preconceitos servem-se de palavras sem cuidar do rigor dos conceitos que as palavras são.
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Todas as palavras têm significados.
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Se assim não fosse nada teria sentido.
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Ortodoxo é “o que está conforme com uma doutrina definida; por ext., é o que é rígido nas suas convicções”.
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Mas… apetece perguntar: as convicções seriam convicções se não fossem rígidas?
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Posso dizer que ortodoxo é o que tem convicções e as defende?
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Dogmático é o que, ou aquilo que “pertence a ou relativo a dogma (sendo dogma um “ponto fundamental da doutrina religiosa ou filosófica apresentado como certo e indiscutível".)/ Que se apresenta com o carácter de certeza absoluta; que exprime uma opinião de forma categórica”.
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E posso dizer que ter convicções não é o mesmo que considerar-se certo, exprimir-se de forma categórica, apresentar-se como dono de certezas absolutas?
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E que firmar as suas posições em convicções, que por isso têm de ser rígidas, não é igual a não aceitar que elas sejam discutíveis e discutidas?
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O dogmático é – tem de ser! – obediente.
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O ortodoxo é disciplinado, e só assim poderá defender as suas convicções, a partir das quais terá todas as dúvidas do mundo.
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Sê o mais ortodoxo dos não dogmáticos!
(de um velho - e sempre em revisita - manualitância)
25 comentários:
É devido a muitos preconceitos que os conceitos não são adoptados.
O preconceito existe na mentalidade do retrógrado!
É também fruto da ignorância!
Somos um povo “ainda”com muitos preconceitos.
Talvez por isso, sejamos um povo triste!
Magnifico conceito:
“O ortodoxo é disciplinado, e só assim poderá defender as suas convicções, a partir das quais terá todas as dúvidas do mundo”.
GR
Venha o diabo e escolha!
Quer-se aqui dar a escolher: ortodoxo ou dogmatico?
Parece-me demasiado redutor. Conceitos, palavras ou definições não encerram em si mesmo ideias e/ou significados estanques seja qual for o contexto. Dogma em filosofia será a opinião imposta sem contestação já no campo religioso (segundo a definição) é a verdade divina e acatada.
Isto são definições apenas e só. Pode-se ser crente e não ser dogmatico. Essa verdade (a divina ou que lhe queiram chamar) pode ter em si não um conjunto espartilhado de leis mas uma orientação(ões) que cada um acata, aceita ou segue se assim o entender, na sua totalidade ou naquelas em que se revê e escolhe.
Não sou aquilo que creio, sou aquilo que faço.
E onde encaixa aqui o materialismo dialectico?
E de Lenin, nada?
Vai de retro Satanás!!
Voltando atrás ou talvez não!
A historia mostra-nos que há sempre explorados e exploradores - creem alguns (nem concordo nem discordo - antes pelo contrario).
Mas se assim for, quem, nos dias de hoje é o explorador? Explora com que finalidade? E eu, serei explorado? Deverei tomar partido? Tomar partido não implica luta de poder? Poder não será exploração?
A diferença entre tomar partido e ter crenças, mesmo com objectivos concordantes, não será o intuito de ganhar 'adeptos' para a causa?
antes irónico que, abrenúncio!, abrenúncio!, ortodoxo. ou dogmático. como escreveu Herberto Helder, “a realidade é apenas o que se propõe como tal. mas devemo-nos munir sempre de uma ironia que coloque dubitativamente a nossa mesma proposta. a vida assenta na tensão que as desavindas propostas de verdade estabelecem entre si” (in photomaton & vox, lisboa, assírio & alvim, 1979/1987, p. 70). o resto é cartilagem.
De passagem: a ironia como ideologia?, como doutrina?, como prática social?, uma dessas coisas...
Não será a ironia uma atitude ao serviço ou ao (de)serviço de uma dessas coisas?
Não será até, mais ou antes que a circunstância, uma questão hormonal?
Quanto ao Mário Abreu, não consegui ainda perceber como um crente não convive bem com as convicções de quem não é crente. E eu, cá por mim, não preciso de diabo para escolher esta coisa muito simples: ter convicções e dúvidas.
E de nenhum modo as minhas reflexões são uma ementa a presentar aos excelentíssimos clientes: "quer isto ou aquilo porque não há mais nada? Se hesita na escolha peça ao diabo que o ajude...".
São... as minhas reflexões (para que me sirvo de palavras e do seu significado, precisando-o) que, em dada altura, arrumei num manualitância, que de vez em quando revisito e actualizo, mas se isso desassossega os meus caros potenciais interlocutores, ainda bem. E até logo.
De volta (rápida) para uma pequena observação ao meu caro Mário Abreu:
mas que mania (!) é essa de querer "encaixar aqui o materialisno dialéctico"?
Para mim, repito, para mim, cheguei lá asssim (cito-me em toda a rapidez):
"Sou matéria, provisória e precariamente organizada;
"Enquanto tal, faço parte da natureza – não vim dela, não volto, pó, a ela… sou dela parte;
"Há uma dinâmica na matéria que é dialéctica, tudo é luta de contrários, tese-antítese-sintese-tese-antítese e por aí fora"
É a partir daquei que procuro "encaixar" o resto (que não é pouco!).
Às vezes, usando a ironia, se é não abuso dela em algumas dessas vezes...
Para já só um comentário: ainda bem que já é uma 'conversa' a três. Benvindo ao irónico: eu já te atendo!
Atenção que a GR também está a dar as suas achegas e muito válidas. Ou querem-me a esgrimir sosinho contra a crença e a ironia?
Por agora, estamos em "conversa a 4", além do Luis que também já "fez a sua perninha" por estes temas polémicos, e com muita oportunidade.
E gostava de estar aí, a fazer a perninha mais vezes, mas vocês são tramados que polemizam mais durante a noite, momento em que a minha ortodoxia e disciplina me recomendam o sono.
De qualquer modo, a minha sensação geral nestas coisas é a confusão e a dúvida.
Bom, não tenho dívidas de que a sociedade não presta e que tem de ser mudada a favor dos actuais explorados...
Mas qual o papel dos anteriores "exploradores"? É que possivelmente eles demonstraram algum jeito para organizar a produção, para a pôr aos serviços das necessidades...
Vou escandalizar...
Imaginem uma maravilha como as catedrais de consumo tipo Colombo, Cascais Shopping. Era possível desfrutarmos delas sem um "explorador" como o que lhes deu origem?
E, agora, venham as pedradas!
Quanto à ironia concordo com o ´patrão': é um meio, uma arma não um objectivo. (na cartilagem caberá tambem a alquimia do referido helder).
Para o 'patrão': ao contrário - um crente convive bem com quem não crente é. (veja-se o nosso caso).
Mas a minha crença não vai a votos e muito menos tenta governar outros.
Para o SF, a GR e o Luis as minhas desculpas mas gostava de ouvir mais vezes outras doutrinas e apareçam mais vezes, que o patrão agradece as audiências (toma).
Como em retorica fico a milhas dos sergios e farto de teorizar passo a outro nivel:
Quando uma prostituta vende 'serviços' a troco de meios financeiros, quem explora quem? E tomo partido? Qual?
Se um empresario hipoteca casa, carro (e a alma ao diabo) e ganha dinheiro é explorador; se perde é incompetente.
Se empresa sobrevive o empregado é explorado e o empresário vai-se safando; se morre, o empresário assume e o empregado muda-se.
- Por que diabo pode o empregado prescindir do empregador quando quizer e o contrário não?
- Por que diabo o empregado deverá ser recompensado por cumprir um contrato (dias de ferias) e a empresa não?
- E se em igualdades de circunstancias um trabalhador produz muito mais que outros não deverá por isso ser recompensado?
- Os professores têm papel fundamental nas gerações, porque raio são recompensados tipo rebanho sem distinções?
Ás vezes estes ideias de igualdade turvam-nos a vista a realidades.
Calhoada para o Luis: sociedade de consumo sem escrupulos é uma dura realidade. Mas a essas catedrais só vai quem quer e os exploradores são varios: veja-se por exemplo a vergonha do iva sobre livros e discos, como se o estado não devesse promover a educação e cultura! Privatize-se o Estado.
A desproposito: parte da minha familia foi ontem ao ninho das aguias ver o barcelona, estarei eu agora exposto ao h5n1?
Ó pedro brincar não brinco (odasironias não sou eu), foi mais para desanuviar.
No entanto, ouvi dizer que para a proxima epoca o slb seria campeão na sequencia de uma agressiva politica governamental para acabar com as listas de espera. LOL
pá!, pá!, alto aí. a ironia não é humor. é desassossego. e é sobretudo uma assunção epistemológica - isto é, uma posição em relação ao mundo e aos outros e às coisas nesse mundo. na prática, a ironia é um modo de calibrar relações, designadamente de razão pura - isto é, de conhecimento - e de razão prática - isto é, de comportamento. recorro ao Bernardo Soares, a quem Pessoa emprestou o corpo, para tentar expressar aqui o que é a ironia. é assim, “o homem superior difere do homem inferior, e dos animais irmãos deste, pela simples qualidade da ironia. a ironia é o primeiro indício de que a consciência se tornou consciente. e a ironia atravessa dois estádios: o estádio marcado por Sócrates, quando disse «sei só que nada sei», e o estádio marcado por Sanches, quando disse «nem sei se nada sei». o primeiro passo chega àquele ponto em que duvidamos de nós dogmaticamente, e todo o homem superior o dá e o atinge. o segundo passo chega àquele ponto em que duvidamos de nós e da nossa dúvida, e poucos homens o tem atingido na curta extensão já tão longa do tempo que, humanidade, temos visto o sol e a noite sobre a vária superfície da terra” (in livro do desassossego, lisboa, assírio & alvim, 1998, p. 165). como se depreende, a ironia não é, pois, sinónimo de gargalhada. é, sim, sinónimo de inquietude. a puta da vida não é fácil.
SF já agora, exclareça lá:
Humor, sarcasmo e ironia são diferentes? Ou são a mesma coisa com roupagens diferentes?
Se fizer o obséquio!
Para o Sérgio e respectivo Grupo, PARABÉNS!
Sem ironia e convictos da missão cumprida, os teus Jovens deram uma banhada AAE!
E por aqui me fico!!!
GR
Foi um jogo muito equilibrado que se decidiu a favor do Juventudo Ouriense como poderia ter sido a favor dos da tua terra, como aliás aconteceu em jogo anterior.
O facto é que estamos em 1º e, neste momento, um forte candidato a subir à 1ª divisão. Que boa perspectiva... e que dor de cabeça para a direcção a que presido!
Em Espinho nos encontraremos, se não for antes...
Sr. Presidente,
Espero que consigam chegar à 1ª divisão!
Cá te esperamos!
GR
sem obséquio, mas com disposição, disponibilidade e abraço à urso. o uso da palavra «ironia» hoje aparece frequentemente associado à paródia, à comédia, ao humor. na origem, porém, a ironia traduzia uma atitude, calibrada filosoficamente. o desgraçado do Sócrates, com aquela converseta «só sei que nada sei», formalizou pela primeira vez o mote da seita - que nunca foi seita como outras, como por exemplo as dos xisistas. e a base dessa atitude é a assunção do limite do que se conhece ou consegue conhecer. daí que um irónico tenda à humildade, mais do que a fazer palhaçadas para se armar ao pingarelho ou para fazer rir os outros. o riso do irónico é o riso dessa humildade perante outras atitudes mais fortes, assentes na convicção, na fé ou na força bruta. claro que um irónico também faz as suas opções, mas com a consciência disso, de que as opções são opções fundadas e orientadas através de si, de critérios e coordenadas que ele assumiu, referências essas que não são necessariamente – muito pelo contrário - apenas suas. ou seja, a ironia é uma forma de condução individual em comunidade. neste sentido, é uma das raízes da atitude liberal, coisa com configuração moderna e que, por isso, é um produto muito mais recente. outra propriedade dos irónicos é não serem propensos à doutrinação ou ao catecismo. mais do que fazerem propaganda a um destino ou a um fim, exercitam e exortam à utilização de um método: a provocação. provocação no sentido de colocar questões. provocação no sentido do exercício maiêutico. como me parece, isto é diferente de comédia ou humor. na prática, um irónico, no sentido clássico do termo, é um desgraçado encharcado em desassossego. faz muitas perguntas, tanto a si quanto aos outros. é por isso que, para viver, se recomenda temperar a ironia com uns laivos de cinismo. lá está, não o cinismo moderno. também não o cinismo de cão. mas o cinismo do desgraçado do Diógenes. o tal que, em plena luz do dia, andava com uma candeia acesa à procura do verdadeiro homem. o tal que, quando Alexandre, o maior, lhe perguntou o que podia fazer por ele, lhe ordenou que se afastasse porque lhe estava a roubar o sol. parece anedota, mas é também osso. e agora, depois de todo este parlapié, desculpa lá, pá, mas tenho que ir trabalhar mais um bocado.
Estás desculpado, pá. E obrigadinho. Mas não ficarás sem resposta. O que não quer dizer resposta como habitualmente se quer dizer, isto é, "estás tramado comigo... já as vais ouverler". Nada disso. estou a gostar da conversa, de umas coisas que estou a ler a gostar muito, de outras nem tanto assim, ou melhor, apenas assim-assim.
Caro SF retribuo o abraço à urso (seja o que isso for) e agradeço a esclarecedora explicação.
bem me parecia. sabes o nome do burro do Shrek, mas não sabes o que é um abraço à urso... louvado seja deus.
Olha, paciência.
Mas não quererá vocelencia iluminar-me quanto a tal abraço?
olha, pá, não sei bem o que é um abraço à urso, mas imagino. é um abraço como os outros, mas mais felpudo. estás a ver?, tipo urso com os braços abertos a acolher outro urso e vice-versa.
A prostituta vende serviços?
E o empresário é explorador por hipotecar a casa e ganhar dinheiro?
Estes dois exemplos do que disse o Mario Abreu, a forma como formulou as questões, permitem-me perceber o tom - que não qualifico - que empregou para comentar o que Sérgio Ribeiro escreveu.
Considero que para debater é fundamental acordar em questões básicas. Se se olha para uma escrava como prestadora de serviços, vale a pena acusar alguém de usar retórica para se expressar?
Julgo que Sérgio Ribeiro pretendeu, com o post, afastar-nos de primarismos redutores. Por mim, sinto-me sempre recompensado com o que leio da sua lavra. Mesmo quando não concordo.
E noto sobretudo que o Sérgio, quando responde, aduz argumentos, não desqualifica a posição dos que pensam diferente colocando-lhe rótulos.
Sr Pedro Namora,
Não faço a minima de quem seja, o que faça ou mesmo se o seu nome é mesmo aquele com que assina, no entanto, se amigo do Dr Sergio Ribeiro é, mau diabo concerteza não será.
Apanha um comentário que é sequencia de duma troca de ideias que começou à cerca de um mês e percebe nele 'um tom' que não qualifica. Gostaria de saber que tom será!
Mas deixe-me que o esclareça que usei a expressão 'vender serviços' por não saber como definir ao certo essa actividade. Não olho essas escravas (palavras suas) como prestadoras de serviços - isso presumiu o Sr. Namora mas presumiu muito mal.
Garanto-lhe ainda que não nutre mais admiração, repeito e reconhecimento, por quem foi e quem é, o Dr Sergio Ribeiro que eu.
Peço-lhe ainda que leia o meu ultimo comentario no post 'Sobre religião e...'.
Respeitosos cumprimentos
Mario Abreu
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