domingo, março 19, 2006

QUESTÃO DE SE SABER SE DEUS EXISTE

Perguntou alguém ao senhor K. se Deus existia. E ele respondeu assim: "Aconselho-te a reflectir, para ver se o teu comportamento se modificaria consoante a resposta que se der à pergunta. Se não se modificar, poderemos esquecê-la. Se modificar, poderei dar-te alguma ajuda dizendo que tu próprio decidiste: precisas de um deus."

(Histórias do senhor Keuner, Brecht, tradução de Luís Bruhein, Hiena Editora, 1993)

9 comentários:

Anónimo disse...

Deus só existe, porque há sempre alguém que diz que acredita!
Existe, porque há sempre alguém que QUER que exista!

Mas existe o quê?
Deus! O que é deus?
É assim, sem “filosofias”:
Se crescemos numa família católica/crente acredita-se em deus! Por costume, hábito ou seja por tradição!
Por vezes, os mais cultos (dessa família), quando começam a questionar, a querer saber, deixam logo de acreditar!
Aqueles que nascem em famílias que sempre foram ateus (de gerações), claro que nunca acreditaram! Nem acreditam!
Já vi crentes tornarem-se ateus!
Nunca vi um ateu, tornar-se crente!

O que é deus?
Para que serve?

Mas se as pessoas quiserem acreditar!
Porque não!
Se lhe der conforto mental e alguma felicidade.
Acho muito bem!

A minha dúvida é,
será que aqueles que dizem que acreditam, quando estão consigo mesmos no seu intimo, acreditam mesmo que existe algo???

GR

Anónimo disse...

Ora aí está o 'ataque' prometido num post anterior - já me parecia tarde.
Quando no inicio num comentario referi que os extremos se 'tocam' era (presunção minha?) antecipando que aqui chegariamos.
Questiona com o titulo e responde com a citação. Comentarios? Vou ponderar!
Abraço

Sérgio Ribeiro disse...

O título faz parte da citação, meu caro Mário

Anónimo disse...

Ó mestre, até ainda consigo chegar: percebi que o titulo faz parte da citação; apresenta a equação e a solução.
Mas, de facto não a resolve - usa retórica para a ignorar (chuta para canto!).
Embora não defina a que deus se refere (ele há tantos!), eu acredito naquele que cristo encarnou. Tá bem: (eu tambem) tenho rotulo: Sou cristão-apostolico-romano.
Se o sou por educação ou por influência de outros não é importante pois hoje sou como sou e creio no que creio assumida, livre e conscientemente.
Deus não é uma invenção, fruto de qualquer reunião secreta de teologos que assim o definiram.
Creio como creio tambem na incoerencia do ateísmo no minimo aceito um agnostico convicto (SF?).
Hoje até nas leis mais avançadas da biogenese parte-se da verdade inequivoca que vida só surge de vida - e nós temos certamente um principio.
Creio, e como tal aceito, mas tambem tenho livre arbitrio portanto escolho e não imponho, jamais deus permitiria que em seu nome cometesse qualquer injustiça.
Como escreveu Sagan: 'Ausencia de evidencia não é evidencia da ausencia'. Não somos só uma combinação quimica de elementos organizados. Esta crença não me faz pior ou melhor que outros: faz-me a mim.
Mas não compete aos que creem provar a existência do criador, pois essas provas não se expõe a troco de premios. No minimo compete aos que ateus se proclamam provar a sua inexistencia.
Manias!
Abraço
PS:Concorda ou não com excerto de Lenin que transcrevi?

Sérgio Ribeiro disse...

Caro Mário Abreu

Respondendo ao este seu último comentário:

Não vou discutir doutrina e muito menos teologia.
Você acredita “naquele que cristo encarnou”. Você acredita, e acredita no que, segundo penso, precisa de acreditar. E não o rotulo de nada até porque, para mim, ser “cristão-apostólico-romano” pode ser uma coisa e pode ser o contrário dessa coisa.
Para mim, na minha concepção de vida e de ser humano, os seres humanos foram criando deuses, e cada um/uma construiu (ou não), com toda a legitimidade, a sua crença, a crença no que não conhece, no que é sobrenatural, uma explicação, uma escapatória, uma fuga para o medo, talvez mesmo pânico, do vazio, do nada, da morte (Schoppenauer).
Eu, há muitas e muitas décadas, terei bordejado essa necessidade (metafísica), interroguei, interroguei-me, cheguei a ter um começo de doutrina, em que deus era tudo o que cada um acredita e TAMBÉM a ausência de crença dos que não acreditam que haja deus. Depois, pelo estudo e pela reflexão, cheguei à minha não crença, separando o ateísmo das crenças dos outros. Sou ateu. E ignorante de/em metafísicas.
Apenas me agride a intransigência dos que crêem no SEU deus, na SUA religião, e acham que os outros deuses e religiões em que outros/as acreditam, que cada um/a outro/a criou “à sua imagem” (passado, cultura, circunstância), e também que a ausência de crença dos/as que não acreditam em nenhum deus, que nenhuma religião têm, estão errados e condenados ao castigo que o seu deus, e a sua religião, impõe aos outros/as crentes de crenças diferentes e increus.
Porquê?
Que privilégio fez com que um sopro divino tenha bafejado uns/umas e não outras/os? Esta é a estrada que levou/leva aos fundamentalismos!

Três notas:
1. não considero que ser ateu me faça pior ou melhor do que sou: faz-me o que sou.
2. não me passa pela cabeça, a mim que ateu sou, pedir, a quem crente é, que prove a existência do seu deus, e nunca quis entrar em concursos teológicos com prémios e/ou outras compensações?
3. e como é que é possível determinar (ou exigir!), aos que não acreditam, pelas razões (ou circunstâncias) que são as suas, a competência de provarem a inexistência daquilo em que outros, pelas suas razões (ou circunstâncias), acreditam. Porquê, santo deus (vosso!)?

Quanto ao excerto do Lenine, fica para outro comentário. Este está já demasiado longo (embora seja só para nós, ainda que em discurso aberto).
Saudações amigas.

Anónimo disse...

Mestre,

Mas porque raio preciso eu de acreditar? Que factores me condicionam, que não o condicionem a si?
Fuga de quê? Da morte? Do vazio? - Não, por aí não justificamos nada.
E essa intrasegência que refere agride-o a si como me agride a mim.
Mas que autor(es) de tal intrasegência encontra? Em que religião(s)? Com que intuito?
Acredito no que acredito sem mais. Porquê? Sei lá - acredito.
Mas está enganado quanto a um detalhe: o 'sopro' não bafeja uns, bafeja todos, uns aceitam outros duvidam e outros simplesmente põe de parte. Mas quaisquer dos três são, aceitando ou não, serão 'recebidos' por aquilo que realmente são. (confuso?)
Das notas realço a primeira e da ultima digo-lhe que tentei (no meu caso) responder ao desafio no titulo do post.
Abraço e até já no paraiso!

Sérgio Ribeiro disse...

De asinhas brancas?

Volto ao Brecht, a questão da existência ou não de deus apenas se põe para quem precisa da existência de deus. Se se põe a questão e se quem responde seria diferente consoante a resposta é porque se precisa de (um) deus, seu, pessoal e intransmissível.
Mas sou intransigente porquê? Porque não acredito (cá por razões, circunstâncias minhas) e acho que quem acredita é porque precisa de acreditar... e que lhe faça muito bom proveito desde que "me deixe" não acreditar? Quanto ao pormenor de estar enganado relativamente ao "sopro lembro-me da anedota do Valium (conhece?): pronto, está bem, estou enganado... Não noto é nada!
E já vamos ao Lenine, ao Feuerbach, ao Marx e a essa malta toda. Isso fia mais fino, e tenho de me conter. Mas só por causa do espaço...
Abraço

Anónimo disse...

Mestre,
Por ora só um esclarecimento: eu não disse que era intransegente.
Sucelencia (como diz o danado) é que enuncia que o agride alguma intransegencia. A dita tambem me agride a mim. Não o apelidei de tal.
Certo?

Sérgio Ribeiro disse...

Certo!
A intransigência! Com que objectivos?, com que intuitos?
Sobre a (ex)citação leniniana falaremos... mais logo.
'Inté.