- Quando seres humanos começaram a ter “tempo livre” porque deixaram de ter todo o tempo de vida ocupado pela satisfação das suas necessidades de sobrevivência como matéria provisoriamente organizada;
- quando uns seres humanos se apropriaram de outros seres humanos, porque estes lhes serviam como força produtiva fundamental, colhendo e criando o suficiente para eles próprios sobreviverem e ainda excedentes para os seus proprietários disporem de “tempo livre”;
os seres humanos começaram a ter representações do que viviam e tinha sido vivido, a tomar consciência do tempo que era o seu, a perspectivar como viria a ser,
a pensar!,
a ter ideias, ideologia.
O esclavagismo não foi (não é) apenas um modo de produção, definido pelo nível atingido pelo desenvolvimento das forças produtivas e pelo estádio das relações sociais de produção, com a prevalência da questão da propriedade de outros seres humanos.
Foi (é), também, uma formação social, uma consciência social, uma ideologia, correspondente ao modo de produção, resquícios das representações das comunidades primitivas, germens de modos de produção futuros. Porque as forças produtivas não podiam (não podem) deter-se no seu desenvolvimento, e exigiam (exigem) outras relações sociais de produção.
Ora, havendo excedentes, colhendo e produzindo os escravos mais do que seria necessário para que a sua sobrevivência fosse assegurada pelos proprietários (enquanto útil a estes), e possibilitando as novas forças produtivas que cada vez mais e maiores fossem sendo esses excedentes, a troca é a consequência de o trabalho de colheita e de produção ter deixado de colher e produzir para quem trabalha, para a satisfação das suas necessidades e dos seus proprietários (no modo de produção da escravatura), de cada vez mais o que uns colhem e produzem viesse sendo colhido e produzido para ser trocado pelo que outros colhem ou produzem.
a pensar!,
a ter ideias, ideologia.
O esclavagismo não foi (não é) apenas um modo de produção, definido pelo nível atingido pelo desenvolvimento das forças produtivas e pelo estádio das relações sociais de produção, com a prevalência da questão da propriedade de outros seres humanos.
Foi (é), também, uma formação social, uma consciência social, uma ideologia, correspondente ao modo de produção, resquícios das representações das comunidades primitivas, germens de modos de produção futuros. Porque as forças produtivas não podiam (não podem) deter-se no seu desenvolvimento, e exigiam (exigem) outras relações sociais de produção.
Ora, havendo excedentes, colhendo e produzindo os escravos mais do que seria necessário para que a sua sobrevivência fosse assegurada pelos proprietários (enquanto útil a estes), e possibilitando as novas forças produtivas que cada vez mais e maiores fossem sendo esses excedentes, a troca é a consequência de o trabalho de colheita e de produção ter deixado de colher e produzir para quem trabalha, para a satisfação das suas necessidades e dos seus proprietários (no modo de produção da escravatura), de cada vez mais o que uns colhem e produzem viesse sendo colhido e produzido para ser trocado pelo que outros colhem ou produzem.
23 comentários:
Sim, senhor, bem explicado e percebido. Mas falas como se esse tempo tivesse acabado. Não é verdade que a ideologia do "esclavagismo" continua bem viva na nossa sociedade? Diferente do que era há uns séculos, com outras nuances, mas no fundo igual??
É só uma dúvida...
É um "esquema" tão fácil para conseguir uma bela vida, que a tentação de perpetuar ou ressuscitar o esclavagismo é enorme...
-Sinto-me escravo-moderno mas escravo!
a.ferreira
-Desculpem; já visitaram o CASTENDO.
Se não visitaram visitem, pois vale bem o esforço.
mais uma vez as milhas desculpas pelo atrevimento.
a.ferreira
Justine - ainda hoje há comunidades primitivas, como ainda hoje há esclavagismo, como ainda hoje há feudalismo. Diferentes do que eram há séculos e milénios? Com certeza que sim, mas não há, na história, uma sucessão de etapas em que a que veio apaga a que estava, e em todo o espaço que o ser humana ocupa. O essencial - acho eu - é tentar perceber as dinâmicas sócio-históricas. Gostei da perguntas, e lembra-te daquela coisa que são os resquícios das formações sociais anteriores na formação social em que se vive!
Samuel - ... também depende dos escravos tomarem consciência de que podem (têm força para) não o serem, ou dos trabalhadores tomarem consciência de que, no capitalismo, a venda da mercadoria força do trabalho pode aproximar-se, se não sobrar tempo ao trabalhador para viver, de escravatura porque, então, não está só a vender tempo de força de trabalho mas o seu tempo de vida.
a. ferreira - sentes-te? Mas isso posso garantir-te, pelo que de ti tenho lido, que não o és. Quanto ao Castendo, sou visitante diário, com gozo e proveito, embora tenha dificuldade (técnica) em comunicar naquele formato. É um excelente trabalho, na minha opinião.
-Ó setôr atão não o sou?! -Só sim senhor...Pois tenho de vender a minha força de trabalho todos os dias e todos os dias sinto que alguém fica com boa parte dela.
-Ora se vendo a minha força de trabalho, vendo também uma parte de mim. Como me é impossível separa uma parte de mim do meu todo... logo alguém é meu "dono" por um par de horas... que alguém quer ver aumentadas e eu diminuídas ai..ai..ai vai haver guerra vai. uma espécie de revolta dos escravos
um abraço
a.ferreira
Ó meu caro a. ferreira, o conceito de escravo é o do ser humano que é propriedade de outro.
Não se é escravo por vender horas de uso da força de trabalho. É-se proletário, assalariado (salário = a preço de horas de uso da força de trabalho), porque o que se vende não é parte de nós, mas parte do nosso tempo para que apropriem o produto da utilização da nossa força de trabalho.
Da revolta de escravos, já dei umas dicas... mas volto se for preciso.
-Concordo setôr... Por isso digo escravo moderno ...Proletário descendente em linha directa dos antigos escravos.
-Quanto ao “o que se vende não é parte de nós” para logo a seguir “mas parte do nosso tempo”
-Era giro armar aqui uma zaragata sobre o “ nosso tempo” ou do tempo que eles se apropriam, porque não se apoderam só da mais valia, ( no que eu me estou a meter... quem te manda a ti sapateiro subir a cima da chinela)produzida mas também do nosso tempo, que vai colado nela.
-Ora ao contrario do que diz o outro, tempo não é só ouro é muito mais que isso é VIDA.
----------------------------------
"Pronto já sei... vou ficar de castigo virado para o quadro preto."
...................................
a.ferreira
Ó p'a mim todo contente! Disto é que eu gosto. De "alunos" como este. Claro que a questão do tempo é fulcral. Inteiramente de acordo: é VIDA. Leia-se o que Marx escreveu sobre isso.
Deixo só uma pergunta que faço habitualmente: Porque é que o 1º de Maio é o dia do trabalhador e o 8 de Março o dia da mulher? Não é para teste!...
E que posso eu dizer depois de ler todos os comentários feitos e das tuas respostas?
Apetece-me ir já tanto para a frente...
Quando os escravos tomaram consciência de qque...
Quando os operários tomaram consciência de que...
Quando todo o povo tomar consciência de que...
...a nossa FESTA vai durar o resto das nossas vidas...
O próximo post, o 21, vai ser lido na Berlenga!!!
Até 6ª, em Santarém.
Maria - olha que não, olha que não!
Já programei, para sair na madrugada de 6ª, o episódio 21, que acho muito curioso. Não partas para a Atalaia sem espreitar, se faz favor
É para ter conversa na Festa..., uma vez que me vão faltar temas (eh!eh!eh!).
Faltar temas, a ti?
hehehehehehe
:)))))
Abreijos
Amigo :)!
não sei em que dia é que o teu "50 anos te economia e militância" vai estar ao alcance de todos nós... mas desejo que seja um tempo de Festa :)! eu vou lá "estar", de coração empolgado e com um imenso abraço!!!!
obrigada por existires e parabéns (a mim), por te ter conhecido :)!
beijocassssss
o anónimo acima e a vovó Maria!
desculpa!
falta de prática!!!...
Maria - A mim? A nós!
Vovó Maria - Palavra, mas palavra mesmo, que me deixas sem jeito. A única maneira de que sou capaz de te responder é agradecendo-te muito as presenças (mesmo virtuais) e, ainda mais, a amizade que é, sempre, o mais importante (com a reciprocidade e tudo o que implica e exige, alegremente).
Camarada´Sérgio, eu garanto-te que estive cá ontem, não me perguntes aonde foi parar o comentário, que acabava assim : -Lá vem chumbo! Sobre uma pergunta que eu fazia sobre o valor de uso e o valor de troca.
Obrigado pela tua paciência!
Abraço
Valor, valor de uso e valor de troca! Mais logo... está bem?
Para já, poesianopopular, qual era a pergunta?
Abraços
-Não haverá por aí um apontamentozito para a malta ler sobre o que disse MARX a "cerca da Vida" setôr ? -É que fazia cá um jeito ao égas. -Já aquela de antecipar para 6ªFeira de madrugada a próxima "aula" e sem aviso prévio, é castigo... é sim senhor, adiantar matéria quando a malta vai dar duro de 6ª prá sab e domingo ó setôr, isto é gente que trabalha...há que ter dó, e também Fá e Só já agora o Lá ...e por aí a cima ou abaixo pois haverá OPERA e eu quero tar numa de relaxe.
-Lá vou pró canto da sala, prontos.
a.ferreira
O escravo era uma coisa que se podia vender e comprar. E há para aí muita gente que nos quer transformar em coisas embora não o assuma política ejuridicamente!
Caríssimo a. ferreira - mas que retrato de prof bera! Nem prof, nem - espero - bera.
O episódio para a madrugada de sexta é para conversarmos na Festa. descontraidamente. Em relaxe.
Quanto a Marx e a vida, antes de qq outro contributo por meu directo intermédio, recomendo a leitura do artigo do camarada Pedro Santos Maia, Marx, a educação e o sentido da vida (28-Mai-2008) em O Militante, no suplemento sobre Marx.
antuã - como já disse, ou sugeriu, a Justine, a ideologia esclavagista não desapareceu com a prevalência do modo de produção e formação social esclavagista.
Como é evidente, eu queria dizer que a ideologia esclavagista, os seus restos e resquícios, não desapareceram com o fim da prevalência ou predominância do modo de produção e formação social esclavagistas. E até acontece que podem ressuscita ao nível do inconsciente.
Às vezes, escreve-se como o Lucky Luke: dispara-se mais rápido que a sombra (ou é o contrário?, é a sombra que dispara mais rápido...)
Abraços
Mas, a existência de excedentes e, consequentemente, a troca é possível antes da existência de classes, não?
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