terça-feira, setembro 23, 2008

Materialismo histórico - 24

Recomecemos, então. Aliás, nós não fazemos outra coisa que não seja recomeçar, como diria (mais ou menos) o sr. Jacques Brel, se tivesse falado português. Sim, porque “isto” do materialismo histórico pode ser contado e conversado de muitas maneiras, até a cantar.
Ora no episódio 20, ainda no esclavagismo, foi escrito que: “Ora, havendo excedentes, colhendo e produzindo os escravos mais do que seria necessário para que a sua sobrevivência fosse assegurada pelos proprietários (enquanto útil a estes), e possibilitando as novas forças produtivas que cada vez mais e maiores fossem sendo esses excedentes, a troca é a consequência de o trabalho de colheita e de produção ter deixado de colher e produzir para quem trabalha, para a satisfação das suas necessidades e dos seus proprietários (no modo de produção da escravatura), de cada vez mais o que uns colhem e produzem viesse sendo colhido e produzido para ser trocado pelo que outros colhem ou produzem.”
E é antes de se abordar a passagem ao patamar seguinte, ao feudalismo, que se antolha muito útil escrever sobre a troca, aliás, conversa já várias vezes prometida (ou ameaçada) e adiada.
Se uma comunidade de humanos - até porque integrou elementos, também humanos mas escravos de que se serve como instrumentos - recolhe da natureza e produz, transformando a natureza, para além do que necessita para satisfazer as suas necessidades próprias, de sobrevivência, de um determinado bem, e se, para satisfazer algumas outras das suas necessidades, começa a recorrer ao que outras comunidades recolhem e produzem para além do que as suas necessidades exigem, está a entrar-se abertamente no tempo (histórico) da troca e dão-se os primeiros passos no “reino da mercadoria”. O que tinha um valor de uso, porque satisfazia necessidades, passa a ter, também, valor de troca.
Aqui - “lugar 1” –, produziram-se x medidas de trigo tirado da terra, ali – “lugar 2” –, produziram-se y medidas de pano tirado de peles. Aqui – 1 –, sobraram, do uso próprio (ux1, ou seja, parte do trigo usado em 1), x-ux1 medidas de trigo e, ali – 2 –, sobraram do uso próprio (ou seja, parte do pano usado em 2), y-uy2 medidas de pano. Como em 1 se necessita de pano e em 2 se necessita de trigo, uma parte ou a totalidade de x-u1 troca-se com uma parte ou a totalidade de y-u2.

E quem quiser tentar perceber o que está para trás e o que vai vir, como é o caso deste escriba, tem de reter esta passagem, até porque a esta ilustração outras se seguirão (algumas já desenhadas, à espera de oportunidade para aparecerem) como sua sequência.

14 comentários:

samuel disse...

Assim eu tivesse alguma coisa "de jeito" para a troca por este texto claro...

Abraço

cristal disse...

Lido e guardado. Agradeço com aquele abraço

Anónimo disse...

Como seria o diálogo entre estas trocas?
será que já existia o puxar a brasa para a minha (deles)sardinha?
Belas ofertas nos fazes camarada!
Abraço grande

Maria disse...

E vamos continuar a esperar oito dias pelo desenvolvimento das trocas (e depois quando as trocas começam a "valer" e se arranja a tal "coisa" que serve de... moeda de troca...) ou vais publicar com mais frequência?
É que sabe bem vir aqui e ler uma página... por dia, pelo menos...

Beijo

Fernando Samuel disse...

Tudo claro, tudo simples... só não vê quem não quer ver...

Abraço grande - e venha mais.

Justine disse...

Mas uma grande lição, stôr!!

Sal disse...

Gostei da lição.
Daqui vai um beijão.
eheh
bjs

Anónimo disse...

--Pois muito bem, continuemos...pelo caminho da luta de classes.
-"vida a trabalhar o dia inteiro"
.................muita força e ainda não há dinheiro...só mesmo troca...............vida a trabalhar o dia inteiro...........
excedentes: troca, um chouriço por um porco- lá vamos na carroça do feudalismo. O caminho é longo e duro. cheio de curvas...
a.ferreira

Anónimo disse...

Bem explicado e com simplicidade o valor de uso e valor de troca.

Sérgio Ribeiro disse...

Este "episódio" é, ou pode ser, central, na perspectiva económica.
Face aos vossos comentários, não tenho muito a comentar e, neste caso, não me parece... de comentar.
Mas, não se esqueçam: retenham aquilo do M<--><-->M.

Sérgio Ribeiro disse...

Ah! e quanto à periodicidade, tendo ficado muito contente com a sugestão da Maria - de voltar às duas vezes por semana (todos os dias seria demais...) - vamos ver se consigo.

Anónimo disse...

Xô tôr.

O xô tôr já deu o seu contributo para as teses, já as aprovou, não vai alterar mais nada. Tem portanto um tempinho menos atarefado. Ponha o caracol a andar um pouco mais depressa, para passarmos do campo da constatação para o campo da explicação destes tão interessantes fenómenos.

Haverá qualquer outra forma do valor, por enquanto ainda encoberta, entre o valor de uso e o valor de troca? Porquê que x disto se troca por y daquilo? E o que é que x e y contêm, para além das suas respectivas utilidades e equivalências mútuas? É a troca de x disto por y daquilo uma troca equivalente? Equivalente em quê?

Isto é que é pano interessante, não a xita em que a novela ainda vai.

A.Fagundes.

Anónimo disse...

Realmente começa a parecer que anda com o rabo à seringa

J. Silva

Sérgio Ribeiro disse...

Para quem estiver interessado (essa da seringa é absolutamente ininteligível, pelo menos para mim!), há alguma informação que desejo pertinente no post acima.