Ao princípio, era o corpo. Como acontece com os animais (outros) que não se domesticam, que não são domesticáveis, que não são postos em cativeiro. Que assim sobrevivem. Apenas com o seu corpo, procurando mantê-lo vivo. E reproduzindo-se. Como acto natural, repetido, sazonal.
Ao princípio, era o corpo. O corpo seu, e o que o pudesse prolongar. Um ramo, uma pedra. O que o ajudasse a tornar a natureza, a que também o corpo pertencia, mais acessível à satisfação das suas necessidades. Fazendo, aos poucos, milénio a milénio, século a século, ano a ano, dia a dia, do que lhe prolongava o corpo, objecto e instrumento de trabalho.
Depois, corpos tornaram corpos de outros seu objecto e instrumento, puseram-nos a trabalhar para si como tinham feito com os ramos, as pedras e o que se lhes seguira e juntara. Dividiram-se: uns donos e outros escravos.
Mas era a terra que trabalhavam, o corpo, o que o prolongava, os corpos de outros, semelhantes, feitos coisas possuídas, instrumentos e objectos, meios de produção. Era a posse da terra que determinava, que dividia uns em senhores e outros em servos.
Os meios de produção foram ganhando crescente importância. Substituindo o corpo e o que o prolongava. Aparentemente, separando-se dos corpos de que eram complemento. Fazendo dos corpos a aparência de que, eles sim, eram o complemento dos meios de produção. Dos instrumentos e objectos. De trabalho.
O que importava possuir deixou de ser o outro, que de escravo em servo se tornou e de servo se liberta, já não é tanto a terra, que ela parece só produzir o que as máquinas a fazem produzir, substituindo a força dos braços, dos corpos escravos e dos corpos servos, dos animais domesticados, de tracção e de lavra. O que há que possuir são mesmo as máquinas e, assim, os produtos das máquinas que transformam as matérias primas daqui para ali transportadas por outras máquinas, por vias criadas pela força de trabalho e seus meios de complemento, ou talvez – dizem uns... – o seu inverso. Vias de caminhos abertos, de serventias a auto-estradas, de caminhos sobre ferro, de caminhos sobre as águas, de caminhos em voo como as aves, de caminhos por túneis feitos à imitação de toupeiras e outros.
Uns, apropriando-se do que a Humanidade foi conquistando gesto a gesto, passo a passo, conquistas que – é verdade! – fizerem crescer enormemente; outros, despojados de tudo menos da sua força de trabalho e da tarefa de concretizar as conquistas, as de antes, as de agora, as de sempre. Despojados de tudo, menos do regateado acesso, em troca de horas de utilização dessa força de trabalho, às necessidades que foram crescendo, e sendo diferentes, e sendo novas, como resultado do caminhar pelos caminhos feitos.
Ao princípio, era o corpo, como hoje é o corpo, desde os braços única força, e fio de vontade e alavanca e tudo, até à força dos dedos que carregam em botões, à força do conhecimento acumulado em dias, anos, séculos, milénios de aprendizagem, de ver, reter, transmitir aos outros.
Ao princípio, era o corpo. O corpo seu, e o que o pudesse prolongar. Um ramo, uma pedra. O que o ajudasse a tornar a natureza, a que também o corpo pertencia, mais acessível à satisfação das suas necessidades. Fazendo, aos poucos, milénio a milénio, século a século, ano a ano, dia a dia, do que lhe prolongava o corpo, objecto e instrumento de trabalho.
Depois, corpos tornaram corpos de outros seu objecto e instrumento, puseram-nos a trabalhar para si como tinham feito com os ramos, as pedras e o que se lhes seguira e juntara. Dividiram-se: uns donos e outros escravos.
Mas era a terra que trabalhavam, o corpo, o que o prolongava, os corpos de outros, semelhantes, feitos coisas possuídas, instrumentos e objectos, meios de produção. Era a posse da terra que determinava, que dividia uns em senhores e outros em servos.
Os meios de produção foram ganhando crescente importância. Substituindo o corpo e o que o prolongava. Aparentemente, separando-se dos corpos de que eram complemento. Fazendo dos corpos a aparência de que, eles sim, eram o complemento dos meios de produção. Dos instrumentos e objectos. De trabalho.
O que importava possuir deixou de ser o outro, que de escravo em servo se tornou e de servo se liberta, já não é tanto a terra, que ela parece só produzir o que as máquinas a fazem produzir, substituindo a força dos braços, dos corpos escravos e dos corpos servos, dos animais domesticados, de tracção e de lavra. O que há que possuir são mesmo as máquinas e, assim, os produtos das máquinas que transformam as matérias primas daqui para ali transportadas por outras máquinas, por vias criadas pela força de trabalho e seus meios de complemento, ou talvez – dizem uns... – o seu inverso. Vias de caminhos abertos, de serventias a auto-estradas, de caminhos sobre ferro, de caminhos sobre as águas, de caminhos em voo como as aves, de caminhos por túneis feitos à imitação de toupeiras e outros.
Uns, apropriando-se do que a Humanidade foi conquistando gesto a gesto, passo a passo, conquistas que – é verdade! – fizerem crescer enormemente; outros, despojados de tudo menos da sua força de trabalho e da tarefa de concretizar as conquistas, as de antes, as de agora, as de sempre. Despojados de tudo, menos do regateado acesso, em troca de horas de utilização dessa força de trabalho, às necessidades que foram crescendo, e sendo diferentes, e sendo novas, como resultado do caminhar pelos caminhos feitos.
Ao princípio, era o corpo, como hoje é o corpo, desde os braços única força, e fio de vontade e alavanca e tudo, até à força dos dedos que carregam em botões, à força do conhecimento acumulado em dias, anos, séculos, milénios de aprendizagem, de ver, reter, transmitir aos outros.
E assim continuou o caminho dos seres humanos. E assim continuará.
14 comentários:
Esta longa e fascinante caminhada do Homem rumo a uma sociedade liberta de todas as formas de opressão e de exploração...
Um abraço grande.
-O resumo da matéria dada está assim como *****superior,eheheheh.
aferreira
É um caminho que se fez lentamente, e se continua a fazer, lentamente, mas que se faz....
Um beijo
Esta lição tem uma dimensão humana, misturada com um rigor próprio de quem estuda estes assuntos há muito tempo. O que a mim me me surpreende (ou não) é a capacidade de nunca perder o Homem de vista e a necessidade de este se superar a si próprio.
Sem esquecer que a Humaninade é composta de tudo: os que rastejam e as águias.
Campanica
Um texto que além de didáctico é poético fica para sempre! Mais uma vez obrigada.
Aquela tirada do "no princípio era o verbo"... na verdade nunca me convenceu.
É apaixonante a caminhada do homem,nem sempre bem sucedida!
Sobretudo contada por quem sabe!
Porque isto esquece muito,a quem não sabe!
abraço
Grata por tudo o que aqui escreves. Este post incluído. Mais uma vez é excelente.
Só lamento não conseguir vir cá com a assiduidade necessária para aprender a matéria toda. Mas não desisto.
Até há para aí uma compilação dos teus posts. Temos que editar isto, Sérgio.
bjs
Esta lição de hoje, para além de ser sobre materialismo histórico, também é sobre a arte de bem escrever!
Assim é mais fácil aprender:))
Este texto saiu assim... Como é que acontece? Estava pensando como fazer a "ponte" do feudalismo para o capitalismo e comecei a escrever... e isto da escrita acontece. Dispara. Quando juntar todos os textos (e vão 27 fora os anexos e apensos) vou ter surpresas.
Obrigado a todos pelos comentários e estímulos, agora particularmente este de juntar tudo. Talvez daqui a uns 5 ou 10 episódios.
Isto anda tudo ligado, e estou a pensar no livro e NO CONGRESSO!
-Um livro boa ideia...O Congresso boa malha.
aferreira
É pá!, quando falo no livro é no "50 anos" com que ando em digressão...
-Pois é bom que faças a tal de digressão com o dos cinquenta enquanto vais pensando no próximo, sobre deixa ver...diz-lá tu Sérgio sobre o quê.
Caríssimo AFerreira, depois destes 50 anos só me vem à ideia a necessidade de ler/escrever uns textozitos sobre o pico da crise do capitalismo e a alternativa que não seja a de fazer guerras e mais guerras até dar cabo desta coisata toda que se chama Humanidade, o socialismo (por agora e caminho).
Abraços
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