segunda-feira, dezembro 29, 2014
Retomando após... férias de natal
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Edição Nº2143 - 23-12-2014
Férias de Natal
Depois de um ano inteiro a olhar o televisor e a ver
nele, dia após dia, imagens (ainda que muitas vezes desfocadas e sempre
insuficientes) de um País empurrado para a penúria e de um povo condenado à
miséria por um punhado de gente a mando do estrangeiro, fica-se cansado. E,
porque se fica cansado, a apetência de uns dias de férias a coberto da quadra
natalícia surge como uma miragem convidativa. Não, neste caso, umas férias como
são costume, esvaziadas de tarefas, com horas e horas aparentemente livres:
aliás, isto de fingir saber do País e do mundo através da televisão, mesmo com a
certeza de que se está a usar uma fonte inquinada, torna-se uma espécie de vício
que subsistiria até para lá de um eventual fim da obrigação. Mas, pelo menos,
uns dias de escolha mais livre, desobrigada de seguir as peripécias do caso BES,
da escandaleira dos submarinos, da desvergonha provocatória do depósito de um
milhão de euros na conta do CDS-PP a coberto de um pseudónimo literalmente
porcalhão, coisas assim. Seriam então uns dias em que fosse possível optar por
programas apetecíveis, que também os há embora pouco nos pareça: as emissões do
«Visita guiada» na RTP2, entrevistas em «Palavra de escritor» na TVI24 ou no
«Ainda bem que viestes» na RTP Informação, decerto outros mais, embora não nos
canais chamados abertos e de maior audiência, estes em princípio especialmente
dedicados ao despejo de telelixo em nossas casas mas, reconheçamo-lo, com
momentos de abrandamento e até de excepção, pois a graça dos céus pode descer
até aos recantos mais fétidos. Seriam, pois, umas férias caracterizadas não pelo
lazer puro e simples, mas sim por uma espécie de selecção higiénica e saudável,
o que já não seria nada mau nos tempos que vão correndo e no chão que vamos
pisando.
Uma triste partilha
Acrescente-se um pormenor: até já havia sido feita a
escolha de uma espécie de prato principal para essa depurada dieta televisiva.
Tratava-se de «A Taxista», uma série transmitida pela RTP2 em quatro dias
consecutivos ao longo da passada semana. «A Taxista» é uma série italiana agora
em transmissão repetida, injustamente desprezada quando da estreia entre nós,
que exibia uma dupla qualidade pouco frequente na televisão portuguesa: ser
europeia e ter qualidade. Não se dirá que é uma obra-prima, mas nem a vida em
geral nem o quotidiano do telespectador pode ser feito de obras-primas: «A
Taxista» tem a frescura da ligeira comoção, um certo sabor a autenticidade que
se diria ainda herdado do cinema italiano do imediato após-guerra, e as ligeiras
pinceladas com que nos remete para o quotidiano de uma Roma de classe média
baixa, de gente de trabalho, são convincentes. No episódio final tem concessões,
mas paciência!, ainda assim «A Taxista» seria um bom momento das tais
projectadas férias. Bem se repete, porém, que o homem põe e alguém dispõe: cedo
aconteceu o desastre. Na passada quinta-feira, quando incautamente se passava
por um noticiário depois de se haver evitado o depoimento de um dr. Sobrinho,
mais uma declaração do dr. Passos, mais uma bazófia do dr. Portas, eis que sobre
nós salta a notícia: numa localidade lá para Viseu (e decerto noutras mais, é de
crer) as férias escolares de Natal não são inteiramente cumpridas, os garotos
continuam a ir lá, dia após dia, para comerem uma refeição que ali continua a
ser servida. Assim evitam a fome que os ronda. Mas há mais. E pior. Com eles vão
também muitos pais que desse modo, e provavelmente só desse modo, conseguem
aceder a uma refeição diária. Tenta-se, mas não se consegue imaginar, entre
outras coisas, o que essa tristíssima camaradagem entre pais e filhos pode
resultar na relação específica entre eles, agora e no futuro. Tenta-se adivinhar
com que sentimentos os pais vão com os filhos partilhar o que é de facto uma
esmola. Tenta-se perceber qual o grau de infâmia que caracteriza quem conduz o
povo a situações destas. E arrepia pensar em férias de Natal assim.
Correia da Fonseca
quinta-feira, dezembro 11, 2014
'inda me espanto!
Depois de ter assistido a (quase) toda aquela "cena" de ontem, em que R. Salgado tentou, com grande "profissionalismo" e em desavergonhada estratégia, impor a sua versão absolutamente inverosimil da queda do BES/GES, que logo a seguir Ricciardi mostrou à exaustão que o era, ainda me consigo espantar por o Excelentíssimo Senhor Governador do Banco de Portugal venha escrever cartas a refutar o que o que o terá incomodado.
A entidade reguladora não só não funciona como não tem nenhum respeito por si própria, na interpretação do seu alto reponsável. Está ao nível do que, em democracia, é o mais alto responsável por isto tudo, do PdaR. Ou seja, ao nível rasteirinho.
Não seria de chamar este último à comissão de inquérito? Isso é que era giro: o PdaR a ser auditado na AdaR!!!
quarta-feira, dezembro 10, 2014
Que insuportável mundo!, este dos banqueiros...(remake)
Ontem foi um dia a que chamaram várias coisas. Foi um dia-chave, embora não daqueles que abrem portas. Pelo meu lado, dediquei-o, quase por inteiro (e por solidária camaradagem...) a acompanhar os trabalhos da comissão parlamentar de inquérito ao BES. Das 9 horas da manhã de ontem às 2 já de hoje. Com curtos intervalos, que também "eles" os tiveram.
Gosto da expressão, que não teria inventado mas que não tinha lido ou ouvido antes, de autópsia do capitalismo regulador, e este teria sido um episódio dos mais significativos. Mas nada de mórbido me "agarra" ao televisor e me prende à cadeira. Só o desejo de melhor conhecer as entranhas do sobrevivo para melhor ajudar - microscopicamente - à transformação do mundo.
E, enquanto via e ouvia, folheava um caderninho que há uns meses organizei, arrumando alguns "posts" que aqui coloquei. Para uso pessoal e oportuno. Como foi agora o caso.
Faço o "remake" de dois extratos:
QUARTA-FEIRA, MAIO
25, 2011
Que insuportável mundo!,
este dos banqueiros...
Uma noite sem tarefa(s). Calma. É como quem diz...
Ao terceiro dia de campanha (e só neste me detive face ao televisor), o
aparelho está em sérios riscos!
Ainda por cima, apanhei com uma insuportável entrevista com o insuportável
dr. Ricardo Salgado.
Como este "mundo dos banqueiros" é insuportável. Coexistir nele só em luta
contínua.
É insuportável. Dêem-me
tarefas ou ainda faço um disparate!
(...)
TERÇA-FEIRA, JULHO 08, 2014
(...)
Foi a financeirização da economia.
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O BESCL, agora BES, “devolvido à família
Espirito Santo”, entrou no jogo todo, tomou lemes e rédeas.
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E fez disso alarde em certos momentos,
como foi o de chamar a"troika" para nos invadir explicitamente, sem pensar no ricochete, sem pôr as barbas
de molho.
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Bem pelo contrário.
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O médio e o longo prazo deixaram de contar
(Keynes, se relembrado, diria que amanhã estaremos todos mortos… e não lhes importa
os que nasçam depois de amanhã).
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Especular, especular, especular sempre e
cada vez mais.
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A opção deixou de ser entre o pão e a
”pastilha elástica” para passar a ser entre o nada e a coisa nenhuma, para o
que dê maior dividendo ou cotação na Bolsa, ou o “off-shore” mais
rentável e/ou menos fiscal izado.
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Está a dar-se o esperado.
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Está a dar-se o previsto, o prevenido e… o
inevitável na correlação de forças dominante sempre, aqui e ali, mais ou menos
moderado pela resistência… porque nunca nenhuma força está sozinha, toda a
força tem o seu contrário.
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O que está a acontecer ao “meu” BES, se
diferente nas formas, nasce do mesmo que aconteceu ao PBN, ao BPP, ao BCP.
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Entretanto, pode comprar-se hoje a 0,6 o
que amanhã se pode vender a 1, transferindo riqueza (das nações) de mão em mão
sem que nada se crie, e sem que se recuperem os milhares de milhões
volatilizados.
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Filme de terror?, estou de acordo com a
designação do género, embora me interesse muito mais o genérico e a ficha
técnica!
(...)
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E fico-me por aqui, apenas com mais uma nota.
Já li, hoje de manhã, no sapo-expresso, um interessante resumo da audição de ontem de R. Salgado (Um homem sem confissões, nem de Santo Agostinho, de Filipe Santos Costa), mas a que faltou a 2ª parte das audições de ontem, a das "confissões" de S. Ricciardi, que mexeram mesmo nas entranhas do "bicho" em autópsia, e que, entre as 19 e as 26 (24+2) horas, puseram a nu muito do que R. Salgado tapou, com grande "profissionalismo", contenção e contensão, entre as 9 e as 19. horas.
tem continuação!
terça-feira, dezembro 09, 2014
domingo, dezembro 07, 2014
E venho eu e digo POIS!
Num fim-de-semana (ainda que prolongado) cheio de deslocações, lendo a imprensa e enquanto se aguarda com alguma expectativa a audição dos "primos" Espirito Santo na Assembleia da República (que o esCAVACadO PdaR já dispensou... democraticamente como é seu timbre), tinha alguma ansiedade por uma paragem aqui à secretária (e computador) para reproduzir e divulgar esta "pérola":
Embora possa ser lido clicando sobre a imagem, não resisto a copiar o texto que me fez gargalhar (embora amarelamente), com algum arranjo gráfico e sem fotografia porque outros mereciam tal "distinção". além do Vitor Bento (que cada eventual leitor escolha a sua ilustração).
Vem o governador do Banco de Portugal e diz: há investidores privados interessados no BES!
Vem Vitor Bento, ex-presidente do BES, e diz: "Ainda hoje não sei se houve ou não investidores interessados no banco".
Vem a ministra da Finanças e diz: "Nunca foi apresentado ao Governo qualquer pedido de rcapitalização pública do BES."
Vem Vitor Bento e diz: pedi ao Governo uma declaração pública de que poderia vir a fornecer liquidez ao banco em caso de necessidade.
Vem o vice-governador do Banco de Portugal e dá 48 horas à administração para apresentar um plano de recapitalizaçãodo banco.
Vem Vitor Bento e diz "Recapitalizar em dois dias era impossível."
Vem o Banco de Portugal e não exige provisões para o empréstimo de €3,3 mil milhões do BES ao BESA.
Vem o Novo Banco e exigem-lhe que provisione a 100% o empréstimo.
Vem Mário-Henrique Leiria e pergunta:
"O que aconteceria se o arcebispo de Beja fosse ao Porto e dissesse que era Napoleão?
Toda a gente acreditava que era. O presidente da Câmara nomeava-o Comendador. Iam buscar a coluna de Nelson, tiravam o Nelson e punham o arcebispo lá em cima. E davam-lhe vinho do Porto.
Então o arcebispo dizia: Sou a Josefa de Óbidos.
Ainda acreditavam que era, embora menos. O presidente da Câmara apertava-lhe a mão. Iam buscar o castelo de Óbidos, tiravam os óbidos e punham o arcebispo na Torre de Menagem. Além disso, davam-lhe trouxas d’ovos.
Nessa altura, convicto, o arcebispo de Beja afirmava: Sou o arcebispo de Beja.
Não acreditavam. Davam-lhe imediatamente uma carga de porrada. E punham-no no olho da rua. Nu."!
TLIM!
sexta-feira, dezembro 05, 2014
Que vergonha!
um mail amigo mandou-me esta notícia. fiquei envergonhado!
EUA, Canadá e Ucrânia
rejeitam na ONU moção
contra “glorificação” do nazismo
Ao todo, 115 de 173 países
votaram a favor da moção, enquanto 55 delegados
– em sua maioria embaixadores dos países da União Europeia – se abstiveram
26/11/2014
Por Archille Lollo
De Roma (Itália)
QUADRO DAS VOTAÇÕES NA ONU
Numa moção contra "a glorificação do Nazismo, neo-nazismo e outras práticas que contribuam para incentivar contemporâneas formas de racismo, discriminação racial e correspondente intolerância" , Portugal, obedecendo à União Europeia, absteve-se!
segunda-feira, dezembro 01, 2014
Voltou pior que antes... se possível
Marinho e Pinto: «Há alguns políticos bem piores do que o Sócrates que deviam estar na cadeia»----------------------------------------Não resisto a brevíssimo comentário:
Sócrates não "está na cadeia" por ser, ou ter sido,um mau "político".Se Sócrates estivesse em prisão preventivapor esse motivo, muitos outros deveriam fazer-lhecompanhia, a começar por um tal Marinho (e) Pinto
domingo, novembro 30, 2014
Reflexões lentas suscitadas por outros
DESPACHO: não obstante riscos que, no texto, se não quer (ou se não pode?) pisar e ao não usar determinado e identificador léxico, transcreva-se este escrito dada a sua evidente lucidez e assertividade... para reflexões lentas:
SÉCULO XXI, O SÉCULO DOS TRIBUNAIS,
OU SÉCULO DO ESTERTOR DA DEMOCRACIA?
As negociações, no Parlamento Europeu, relativas ao Acordo sobre o Comércio dos Serviços (ACS, em inglês, TISA), que congrega cerca de 50 países, entre eles os da EU), iniciaram-se em março de 2013, com os votos favoráveis (526), dos partidos da direita e dos partidos socialistas, e a oposição dos partidos de esquerda (111).
O ACS, de entre os seus objectivos, estabelece a aceleração das privatizações em praticamente todas as áreas do comércio e serviços dos países aderentes e a proibição de qualquer forma de nacionalização ou reapropriação pública de não importa que actividade comercial ou de serviços que tenha sido objecto de privatização.
Lembremos o princípio da irreversibilidade das nacionalizações incluído na nossa Constituição em 1976, mais tarde suprimido pelos partidos “do arco da governação” que preparam agora a aceitação do princípio da irreversibilidade das privatizações, não no texto constitucional, sujeito a revisão democrática, mas em tratados internacionais que vão prevalecer sobre a Lei fundamental portuguesa.
Aqueles que ainda conservavam a expectativa de, um dia, sectores estratégicos da economia portuguesa vendidos a preço de saldo para se “reduzir” a dívida pública - que afinal aumentou de 90% para 130% do PIB em 3 anos - poderem voltar à esfera pública para ali cumprirem o desígnio do serviço à comunidade, bem melhor é que se unam e se organizem para não permitirem que o processo da prevalência dos interesses empresariais se consolide sobre os interesses da soberania dos Estados e dos cidadãos.
É que uma empresa privada, operando num sector estratégico para a população, sendo de tal modo mal gerida que implique insuportáveis custos sociais, mesmo assim, o Estado não poderá intervir, pois regerá o princípio de que qualquer modificação do estatuto da empresa deverá operar “dentro” da esfera privada; assim, por exemplo, a “renacionalização” dos CTT, se amanhã a empresa deixar de cumprir o serviço público a que se “obrigou”, será impossível.
Dir - se - á: mas ainda vai correr muita água sob as pontes antes do ACS e do TTIPS (o Tratado Transatlântico), e outros na forja, começarem a produzir efeitos.
Mas já está a correr: a onda de privatizações em Portugal, dos sectores energéticos às águas, da saúde aos aeroportos, da TAP à CGD (lá irão!) revela que as multinacionais estão em campo, “encolhendo” o Estado e utilizando para isso a docilidade, senão mesmo o entusiasmo, dos partidos do arco da governação e dos seus agentes que vão propagando a irreversibilidade do poder das multinacionais sobre os Estados.
Veja-se o que diz o deputado ao parlamento europeu Paulo Rangel no Público de ontem (25.09.2014), a propósito de declarações, no âmbito de uma organização de magistrados, que apontam o século XXI como o século dos tribunais (o século XX seria, assim, o século do poder legislativo/executivo): “a desterritorialização do poder e o fim do monopólio estadual do poder político enfraquecem os centros legislativos e executivos e valorizam o poder judicial como polo de arbitragem e de regulação politico-constitucional dos conflitos sociais”.
Paulo Rangel (PR) está de acordo: o século XXI vai ser o século dos tribunais, porque a “capacidade de afirmação do eixo do poder legislativo – executivo diminuiu francamente - PR”; enquanto deputado ao Parlamento Europeu, ex-deputado ao parlamento português e membro do governo, Paulo Rangel não pode desconhecer que a “captura” dos centros políticos dos Estados pelos grandes interesses (financeiros, conglomerados industriais, químicos, alimentares, armamentistas, etc, estes de facto na génese do ACS, do TTIPS e quejandos), gerou a origem da redução da “capacidade de afirmação do eixo do poder legislativo – executivo” dos países; e não pode desconhecer que, para o conseguirem, tais interesses contaram sempre com a colaboração infamante de deputados, nos parlamentos, e de ministros, nos governos dos Estados onde operam, em iniciativas contrárias aos interesses de quem os elegeu ou designou.
Parece, assim, não ser preocupante, antes natural, para um qualquer democrata, a perda de substancia dos poderes legislativos e executivos nas sociedades democráticas, ou quando se se descarta a prioridade do reforço e da consolidação da casa da democracia (o Parlamento) e a prioridade do reforço e fiscalização da acção governativa, dentro do quadro constitucional e do respeito pelos cidadão; eis, assim, a defesa da teologia da inevitabilidade do declínio dos poderes do Estado, da lógica da propriedade/acumulação e da sua prevalência e da consequente perda de direitos cívicos e políticos das pessoas.
E esta defesa, respaldada no conforto da máxima liberal de que os mercados tendem sempre para o equilíbrio e para o pleno emprego e no delirante efeito de “compensação salvífica” dos tribunais que, “emergindo” no século XXI (“valorizados” através de uma mexida “nos pilares da sua legitimidade - PR”, obviamente!), harmoniza-se já, em Portugal, com o grande número de tribunais suprimidos, ao mesmo tempo que as custas judiciais aumentaram escandalosamente e o acesso à justiça é crescentemente dificultado.
Entretanto e simultaneamente, a “onda” da desjudicialização alastra através da criação e funcionamento de tribunais arbitrais, em passo ultra-rápido e acertado com o “imperativo” incontornável de se obter a condenação fatal do Estado e o ganho das empresas dominantes.
Mas com o ACS e o TTIPS, apoiados pela maioria dos deputados europeus, nem ao que “resta” dos tribunais judiciais sobrará grande coisa: espoliados de legitimidade para dirimirem conflitos entre multinacionais e os Estados, matéria reservada aos tribunais arbitrais, os tribunais judiciais, no século XXI, ainda vão ficar mais imersos no estatuto de soberania limitada, remexendo em bagatelas e, claro, aplicando as leis que punirão a “des-ordem” provocada pela inexorabilidade da “natural” e crescente incapacidade “de afirmação do eixo legislativo – executivo”.
E mesmo que, episodicamente, aumente o “circo mediático” à volta de casos em que haja “biqueiradas” dentro de um bloco central superficialmente desavindo (mas sempre consolidado enquanto bloco dos interesses), o circo mediático, justicialista e antidemocrático assinalará, não a vitalidade, mas o real declínio dos tribunais.
Vai, assim, a democracia do século XXI, nos seus três pilares, legislativo, executivo e judicial, escorregando no plano inclinado que, simultaneamente, descolora e esvai cada um dos pilares… até à extorsão total dos seus poderes, perante a mansidão dos eleitos e a perplexidade dos cidadãos transformados em ordeiros produtores e consumidores, sem direitos, sem liberdades, sem garantias.
Rui Coelho e Campos
Advogado
sábado, novembro 29, 2014
Pintar o céu de azul claro e limpo
Queria de ti um país de bondade e de bruma
queria de ti o mar de uma rosa de espuma
Cesariny
Numa pátria não de malfeitores e névoa, numa mátria querida e tão ferida,
o que queria dos Cesarinis,
o que queria de nós/para nós e o futuro?
Trabalho, Festa, Juventude;
juventude a pintar o céu de azul claro e limpo
como aquela madrugada que a Sofia esperava...
... e todos nós
(e eu!, em Caxias...).
Como suportar este presente
se não se tiver a força que vem do futuro
em que se acredita e por que se luta?
sexta-feira, novembro 28, 2014
Reflexões lentas - os incómodos dos "intocáveis" e as pedradas anacrónicas
MARIANA ADAM
mariana.adam@economico.pt
Avante ‘coloca' Sócrates atrás das grades num cartoon publicado na última edição do jornal oficial do partido. PS reage com desagrado.
O PS não gostou do cartoon publicado no Avante, jornal oficial do PCP, em que o retrato de José Sócrates aparece como tendo sido captado atrás das grades. Na legenda lê-se: "O PS diz que não corta fotografias da sua história. Mas...podem actualizá-las?".
Na reacção, fonte próxima de António Costa, que este fim-de-semana é ‘entronizado' líder do PS, disse ao Económico que "o mau gosto não tem comentários".
O próprio PCP tentou demarcar-se da ilustração: "O referido cartoon - com o que reflecte de expressão própria de um autor a propósito deste ou daquele facto de actualidade - não altera nem substitui a posição do PCP".
A mesma fonte oficial dos comunistas remeteu para as declarações em que Jerónimo de Sousa pediu que "não sejam feitos julgamentos ou precipitados" sobre a detenção de José Sócrates. "Recusamos fazer qualquer comentário que tenha uma componente de julgamento prévio", lê-se nas declarações feitas pelo líder comunista e transcritas também na edição do Avante. Mas a primeira ‘pedra' chegou (talvez inesperadamente) de um órgão oficial comunista.
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COMENTÁRIO:
Embora não fosse decisão minha, ou até disciplina (partidária ou outra) a de que seria sujeito voluntário, não me referi (ainda!), aqui, directamente ao caso Sócrates, tendo, não obstante, reagido a uma expressão que considerei uma "pedrada" despropositada de António Costa, reveladora do seu anti-comunismo.
Não o terei feito por considerar que a situação é demasiado séria para se tratar com leveza, e porque não gosto de fulanizar o que não é senão reflexo de condições criadas para que aconteça o que vai acontecendo (as ocasiões que fazem os ladrões... embora só os ladrões as aproveitem).
Cito-me: "A corrupção está no ADN do capitalismo, a promiscuidade é a sua vocação e o clientelismo voctacional" (os casos personalizados, os nomes, apenas interessam para ilustrar... e se ilustram!)".
Como militante sem quaisquer responsabilidades (partidárias ou outras) que consintam que se atribua às minhas reacções outro significado que não o de posição pessoal, reagi ao que António Costa entendeu referir-se como "práticas estalinistas", e reajo também agora ao que se chama, até anacronicamente, a "primeira pedra".
Já que há democracia a encher tanta boca que não parece saber do que fala, que se reflicta sobre o "incómodo" que um "cartoon" terá provocado, e o acinte de considerar que se atirou a primeira pedra do lado que é alvo de frequentes e sucessivas pedradas.
E termino com inocentes perguntas: Não é verdade que Sócrates está atrás de grades?, e quem o pôs lá?, foi a Justiça, ainda que só preventivamente, ou foi a imaginação criativa de um cartoonista fazendo "julgamentos precepitados"?
O 16.º Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários (EIPCO)
- Edição Nº2139 - 27-11-2014
16.º EIPCO
De 13 a 15 de Novembro, realizou-se em Guayaquil, no Equador, o 16.º Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários (EIPCO). Um Encontro que foi acolhido pelo Partido Comunista do Equador e que contou com a participação de 53 delegações de partidos comunistas dos cinco continentes, entre os quais o Partido Comunista Português.
Este Encontro Internacional constituiu um importante espaço de debate, permitindo uma ampla troca de opiniões, de informações e de experiências, tendo sido adoptado um conjunto de linhas de orientação para a acção comum ou convergente durante o próximo ano.
A realização do 16.º EIPCO no Equador (seis anos depois de ter tido lugar no Brasil) permitiu um melhor conhecimento dos exigentes desafios que se colocam aos processos de afirmação soberana, progressistas e revolucionários que têm lugar na América Latina e nas Caraíbas – de que Cuba é expoente exemplo. Processos que têm vindo a constituir um importante factor de resistência anti-imperialista no plano mundial e a dar um significativo contributo para a luta pela construção de alternativas de desenvolvimento e progresso social e pela emancipação social e nacional.
No Encontro foram colocadas em evidência grandes tendências que marcam a actual evolução da situação internacional, como o aprofundamento da crise estrutural do capitalismo, a ofensiva contra as transformações e avanços alcançados pelos trabalhadores e os povos, a séria ameaça à paz que representa a aposta do imperialismo na guerra e no fascismo, o complexo e vasto processo de rearrumação de forças que se verifica à escala mundial, a resistência e as lutas dos trabalhadores e dos povos que tem lugar por todo o mundo.
Do debate realizado salienta-se que, apesar dos grandes perigos que resultam da ofensiva do imperialismo, confirma-se não só a premência, mas igualmente a possibilidade do desenvolvimento da luta dos trabalhadores e dos povos travar os sectores mais reaccionários e agressivos do imperialismo, derrotar a sua ofensiva exploradora e opressora, e conquistar processos de transformação progressista e revolucionária – que, por diversificados caminhos e etapas, apontem como objectivo a construção do socialismo.
Constatando-se a existência de naturais e inevitáveis diferenças, continuaram, no entanto, a manifestar-se sérias divergências que, pela acentuação e absolutização que alguns partidos nelas colocam, impossibilitaram a adopção de uma Declaração final pelo 16.º EIPCO, tendo o partido anfitrião do Encontro tomado a iniciativa de elaborar um Comunicado da sua responsabilidade.
Como salientou neste Encontro, o PCP contribuirá para o encontrar de soluções que permitam ultrapassar dificuldades e que contribuam para o fortalecimento do movimento comunista e revolucionário internacional, com base nos princípios de igualdade, respeito mútuo, não ingerência nos assuntos internos e solidariedade recíproca, e rejeitando as diferentes formas de oportunismo, seja na sua expressão de adaptação ao sistema ou dogmática e sectária que, como a experiência comprova, dificultam o exame franco e fraternal de problemas comuns e prejudicam a unidade do movimento comunista, incluindo a unidade na acção contra o inimigo comum.
Neste mesmo sentido, o PCP empenha-se na solidariedade internacionalista com as forças políticas e sociais que, nos respectivos países, lutam em defesa dos interesses dos trabalhadores e dos povos, assim como no alargamento e maior expressão da frente anti-imperialista.
Pedro Guerreiro
quinta-feira, novembro 27, 2014
Vá lá...uma boa notícia!
Da Rádio Renascença, no Sapo
Cante alentejano
é agora Património da Humanidade
Foto: Nuno Viega/Lusa
A distinção foi aprovada, esta quinta-feira,
pelo Comité Intergovernamental da UNESCO.
27-11-2014 10:24
O cante alentejano, um canto colectivo
sem recurso a instrumentos
e que incorpora música e poesia,
foi esta quinta-feira classificado
como Património Cultural Imaterial da Humanidade
pela Organização das Nações Unidas
para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).
A distinção foi aprovada, esta quinta-feira,
pelo Comité Intergovernamental da UNESCO
para a Salvaguarda do Património Cultural
Imaterial da Humanidade,
que está reunido esta semana em Paris.
O comité aprovou a candidatura do cante alentejano
e a sua inscrição na lista representativa
do Património Cultural Imaterial da Humanidade.
A candidatura do cante alentejano foi entregue
à UNESCO em Março do ano passado,
depois de, em 2012,
o Ministério dos Negócios Estrangeiros
ter decidido adiar a sua apresentação,
por considerar que o processo
não reunia condições para ser aceite.
Elogio de "uma arte vibrante"
Em comunicado, o primeiro-ministro
diz que a distinção é o "esperado e merecido tributo"
a uma das referências culturais que
"melhor reflecte a identidade e a história
de uma comunidade e de uma região",
assim como uma "forma de expressão musical única"
que se pretende continuar a "valorizar e divulgar",
agora com o estatuto reforçado de "legado mundial".
Pedro Passos Coelho elogia
“a grande comunidade do cante alentejano",
especialmente os seus intérpretes,
"que o elevaram a uma arte vibrante
e plenamente consagrada".
“Após a inscrição do fado, em 2011,
e da dieta mediterrânica, em 2013,
na lista representativa do património cultural
imaterial da humanidade,
este é o terceiro elemento português ali inscrito,
facto que nos deve encher a todos de orgulho",
refere ainda o comunicado.
quarta-feira, novembro 26, 2014
Um "libelo acusatório"
Aproveitando um título de Modesto Navarro (Prelo, 1968) para uma brilhante intervenção num episódio significativo numa luta mais larga e a alargar. Com alternativa possível e urgente.
Jerónimo de Sousa
Recebeu-se, na redacção(...), este mail :
"JERÓNIMO
DE SOUSA cumpre na próxima quinta-feira 10 anos como secretário-geral do PCP.
Assinalo
e registo aqui o facto, pois a sua acção cívica e política orgulha-me como
cidadão e militante.
Sim,
é verdade, os políticos não são todos iguais. E Jerónimo é, nestes tempos de chumbo, o
mais claro e vibrante exemplo."
que mereceu o seguinte despacho:
Transcreva-se e subscreva-se
S.R.
segunda-feira, novembro 24, 2014
Reflexões lentas - a contra-face "indisível" do empobrecimento social
A situação é muito séria! Não dá para graças, e não as estou a tentar. Não, não se trata de jogo de palavras, não se trata (apenas) de uma "questão de estilo". Trata-se de procurar palavras que traduzam a seriedade (e profundidade) da situação que estamos a viver, com tudo o que comprova a instabilidade e a podridão em que mergulhou o regime em que vivemos, nesta fase do capitalismo. Aqui. Neste nosso Estado de direita que se disfarça e arroga de Estado de direito.
A estratégia aplicada, lentamente ou aceleradamente segundo o condicionamento do contexto geral e geográfico em que nos integramos e a correlação de forças sociais, tem-se traduzido no empobrecimento social, na saúde, na educação, na segurança, na estabilidade. E na cultura. E na ética.
Mas a estratégia tem duas faces. E à face do empobrecimento contrapõe-se a face do enriquecimento não invisível mas escamoteado, ou que se quer apresentar como estando desligado da outra face. E poder-se-ia pedir a ajuda de Almeida Garrett em viagens na minha terra... com a sua dúvida (matemtática) de quantos pobres se faz um rico.
Por isso, escrevo agora, com toda a seriedade, sobre a face "indisível" do enriquecimento. Que é face alegal da estratégia. Alegal porque à margem das leis, porque, como se está a tornar público e evidente, o enriquecimento ilícito só será penalizável desde que se encontrem provas da ilegalidade da origem desse enriquecimento inexplicável e seu branqueamento.
domingo, novembro 23, 2014
Reflexões lentas - Notas pela madrugada
No "dia Sócrates" (que se prolongará pela semana... e adivinha-se que bem mais), a comunicação social massacrou-nos.
Guardo, para futuras reflexões (ainda mais) lentas, duas notas da enxurrada entre directos e comentários.
- Um jurista, justamente indignado pelo modo como se estão a concretizar os procedimentos relativamente a Sócrates, lembrou que em Março de 1975,sendo ele advogado de um Espirito Santo detido por acções passiveis desses procedimentos, teve todo o seu processo inicial (interrogatórios e medidas de coacção decididas) resolvido no espaço de 12 horas, dentro dos prazos compatíveis com um "Estado de direito".
- O dr.António Costa, no compreensível embaraço que lhe criou a situação, deixou escapar argumentação reveladora do seu visceral anti-comunismo ao dizer que o PS não adopta "práticas estalinistas". De Estaline diria que, recusando liminarmente o que a imagem/preconcceito de estalinista implica na sua versão para uso anti-comunista, lembro um povo (soviético), um Exército (Vermelho), um dirigente (Estaline) que a memória histórica deveriam respeitar. E que eu, que vivi e me formei como adulto durante e após a 2ª guerra mundial, respeito e muito admiro.
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"acordo" troikas,
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