Ao
saber da morte de Jacinto Nunes senti a perda que se sofre quando morre alguém
de quem se gostva. Para mim, morreu um professor. De economia. Da economia que
ele me ajudou a começar a aprender. Há 60 anos, no ISCEF. Com Keynes quase escondido,
ou com Samuelson de fora...
Nunca
direi – como o “estudante alsaciano” – que, então, a escola era risonha e franca. Era
fascista! Mas tinha, também, professores que não o eram, e que não
aceitavam que a escola o fosse. Poderia referir muitos nomes de professores que
tive na velha escola do Quelhas, e que muito falta lá estarão a fazer. Hoje.
Entre
esses nomes estaria sempre o de Jacinto Nunes, não obstante ter feito parte de
governos de Salazar. Por isso mesmo, falarei apenas do professor que tive, das
portas que me abriu, do apoio que dele senti quando anos mais tarde foto voltei a ter contacto com ele, então director da Escola, ainda o fascismo durava e se construía o 25 de Abril; assim como quero dizer que me servi da sua tese de doutoramento para artigos no suplemento de economia
do Diário da Lisboa (sujeito, é preciso não esquecer!, à censura fascista).
Os seus trabalhos e a sua posição de economista muito úteis foram - e são hoje - no combate por uma
economia que privilegie a produção, o crescimento, que recuse a
obsessão do equilíbrio financeiro estagnante, no combate, então e hoje, por um outro rumo para uma economia
que se começava a evidentemente financeirizar. Financeirização (e especulação)
que tomou as rédeas do capitalismo nestas 3/4 décadas, e está a atingir o
absurdo. E o desastre!
Se,
ao ter conhecimento da morte de Jacinto Nunes, lembro o que com ele aprendi, e
reconheço a sua postura cidadã, com contributo (pelo menos de apelo ao bom senso num
regime e num sistema de enriquecimento de uns e empobrecimentos de quase todos, intrinsecamente irracionais e violentos), mas não deixo de sublinhar que a "minha economia" é outra que não a que ele me ensinou, e até tentei, há 20 anos, publicar uma
crítica a um livro seu sobre a União Europeia – no Diário de Notícias... e sem
êxito –, em que dizia o que hoje gostaria de lhe dizer de vivas vozes:
obrigado, professor, por estar entre os que me abriram as portas para uma outra
economia que não esta, a vossa.
2 comentários:
é preciso não esquecer,homens e mulheres que ao longo das nossas vidas,nos marcaram com a sua forte personalidade.
Muito digna esta manifestação de pesar pela morte de um Professor que soube abrir horizontes. E não será essa a missão de um professor? Não se fechar nos seus conceitos e abrir portas para a expansão do pensamento?
Um beijo.
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