do quase diário:
18.12.2018
(...) ontem mesmo comecei a pensar em retomar trabalhos
feitos sobre o IDH do PNUD, o que levou a buscas hoje de manhã.
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E apanho logo com esta
ONU News
13 dezembro 2018
Em 2019, Pedro
Conceição passa a liderar pesquisadores que elaboram Índice de Desenvolvimento
Humano; administrador do Pnud diz que este é o “produto icônico” da organização
e que o economista é uma “excelente escolha” para o cargo.
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Acho muito significativo não ter encontrado qualquer
referência a este facto, se é que alguma houve…, na comunicação social
portuguesa.
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O que corresponde ao pouco interesse que lhe merece
esse “produto icónico” do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento que
há quase 30 anos é uma espécie de pedrinha no sapato do PIB em dólares e
paridades de poder de compra e “per capita” sempre tratado como se fosse único,
puro e exclusivo em co-habitação promíscua com o défice orçamental.
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No entanto, tanto é o desmerecimento que até a mim me
contagiou, pois foi tema que muito me atraiu nos princípios do anónimo e de certo modo fui deixando
cair, tal como o blog arrastados pela onda-vaga facebookiana.
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Mas não esqueci nada e fui rever, em diagonal, 49
posts com a etiqueta IDH publicados entre 1 de Junho de 2010 e 15 de Dezembro
de 2015.
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Deles transcrevo um, de 17.12.2010:
Qualquer indicador ou índice tem a finalidade de representar a realidade.
Essa representação deve ser tratada não como a realidade mas uma
sua representação. No entanto, as estatísticas têm vindo a tomar tal
importância que é cada vez mais frequente ver-se substituída a realidade pelas
suas representações. Na política, no crescimento económico, no desenvolvimento
humano, esta verificação chega a ser assustadora. Por ilustrarem a manipulação da informação,
como arma perversa da luta ideológica.
Refira-se, e apenas a título de exemplo, o uso que se faz de
sondagens de intenções de voto nas "nossas democracias ocidentais"…
Mas passe eu adiante, que quero ir por outros caminhos menos
enlameados ou minados (embora nem todos o sejam menos!).
As representações relativas à situação económico-social das
populações têm de ter por base o factor
monetário. A medida em PIB, ou em RNB, é indispensável. Mas em
que valor? Não pode ser físico, em quilos, litros, metros, ou
"paletes". Naturalmente (porque resultado de um real processo
histórico) será em medida monetária, no equivalente geral. E assim nos
encontramos no âmago
da economia política. Na questão do valor e como o
definir e medir(*). Uma unidade de medida comum é tão indispensável como se foi
tornando cada vez mais um instrumento usado com fins que servem os interesses
(de classe) dominantes.
Venhamos ao que, agora, importa. O nível de
crescimento económico pode ser assimilado à riqueza das nações e medir-se em
RNB per capita,
numa moeda (dólar), com uma correcção técnica que se chama paridades de poder de compra.
É muito, mas de modo nenhum é tudo e pode ser, e é, falseador. Porque é uma média, não entra
com as desigualdades
de distribuição pelas “cabeças”, alimentos e armas e petróleo
"valem" o mesmo quando traduzidos em moeda.
79 mil dólares de RNB por habitante do Qatar são,
sobretudo, galões de petróleo possuídos por uma pequeníssima minoria dos 835
mil habitantes da nação e não podem servir, como representação exclusiva da(s)
realidade(s), para se comparar com os 22 mil dólares de RNB por habitante
de Portugal.
Daí a importância do
índice de desenvolvimento humano, como passo – e pequeno e tímido, mas muito
importante – que, numa primeira aproximação, nos diz que, incorporando indicadores de saúde e de
educação, o Qatar está em 38º,
com um IDH de 0,803 e Portugal logo a seguir com um IDH de 0,795 (igual ao do
Bahrein, que tem um RNB por habitante de 26,7 mil dólares em ppc), enquanto
que, no indicador estritamente monetário, o Qatar seria o 2º em aparente
riqueza das nações (o 1º seria o Liechtenstein, minúsculo país que é uma
autêntica lavandaria de dinheiro.., onde vivem “principescamente” 30 mil
habitantes), e Portugal guardaria o 40º lugar na lista dos 169 países para que
o PNUD apurou dados.
É com estas prevenções que devemos usar as representações
quantitativas. Trabalhando-as com… pinças.
E, a seguir, falarei de Cuba no
IDH!
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(*) – Marx, numa carta de 27 de Abril de 1867, sobre O
Capital:
«O que há de melhor no meu
livro (e aí repousa toda a compreensão) é que
1º - como o sublinho desde o
começo, o trabalho tem um carácter duplo segundo ele se exprime em valor de uso
ou em valor de troca;
2º - a mais-valia, (que) é tratada independentemente das suas
formas particulares, tais como o lucro, juro, renda financeira, etc. (...)»
… e, a seguir, falei
de Cuba em outros posts porque é um caso muito significativo, como sublinho num
post do dia seguinte (a 18 de Dezembro… mas de 2010):
(…)
A lista que elaborei inclui os 45
primeiros países dos 173 arrolados (os 169 com IDH calculado mais 4 que, não
estando incluídos nessa lista de IDH total, estão, no entanto, numa outra lista
em que se referem os seus valores de IDH de não-rendimento).
Algumas notas de sublinhado:
1.
Cuba que foi excluido da lista de IDH
total por "falta de dados internacionalmente compilados e
verificados", só o terá sido devido a dados relativos ao rendimento
monetário pois no IDH de não-rendimento ocupa um verdadeiramente
extraordinário: 17º lugar, entre a Espanha e a Grécia!
(…)
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Soube bem (embora amargamente) recordá-lo… e por aqui
me ficaria, passeando pelas memórias, se não fosse o tempo… que escasseia e
está de chuva (J).
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Mas ainda fui ver a última lista de IDH, publicada em
13.09.2018, como se pode ver em notícia no…
14 setembro 2018
Maioria dos
Estados lusófonos desce no ranking; pessoas em países com desenvolvimento
humano muito alto podem esperar viver mais 19 anos e passar mais sete anos na
escola do que pessoas que vivem em países com baixo desenvolvimento humano
em que, actualizada a lista a dados de 2017, os 5 primeiros são Noruega,
Suíça, Austrália, Irlanda e Alemanha (entre IDH-0,953 e IDH-0,936).
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Portugal, entre os 58 países de desenvolvimento humano muito alto
(acima do IDH-0,800) ocupa o 41º lugar com IDH-0,847, enquanto Cuba está no 73º
lugar com IDH-0,777, na faixa dos 53 países de desenvolvimento humano alto; entre os 189 países para que o PNUD
calculou o IDH há, ainda 38 considerados de desenvolvimento humano médio e também 38 países de desenvolvimento humano baixo, sendo o
de mais baixo índicador o Niger com IDH-0,354.
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Amanhã falarei do artigo de Spiglitz no Expresso, Além do PIB.
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