- Edição
Nº2377 - 19-6-2019
Ver,
ouvir e depois
Com a «redefinição de conteúdos» a que o
«Jornal do Fundão» procedeu recentemente, foi extinta a área de crítica de
televisão que aquele jornal mantinha há cerca de quarenta
anos. Em consequência, a crítica de TV, que em tempos teve muita leitura na
imprensa portuguesa e um consequente impacto na consciencialização dos
telespectadores perante a carga televisiva que diariamente recebem, ficou
reduzida aos notáveis textos de Bernardo de Brito e Cunha na edição em papel do
«Jornal de Sintra» e a esta magra coluna. Se nos lembrarmos de que a televisão
é um meio de comunicação social com uma «tiragem» de milhões distribuída ao
domicílio e que entra pelos olhos e ouvidos de cada cidadão, isto é, com um
incomparável poder de penetração, ficamos com alguma ideia acerca da sua
relevância social, política, cultural, e apercebemo-nos de que uma reflexão
acerca dos seus conteúdos é como o direito/dever de defesa mínimo que cabe a
cada cidadão. É essa reflexão que cabe à crítica fazer, no elementar direito de
opinião, e também suscitar no telepúblico como fundamental atitude de
autodefesa. Perante o televisor não basta ver e ouvir: é preciso confrontar os
conteúdos televisivos com outras fontes, lembrar quem escolheu aquelas
mensagens e não quaisquer outras, e porquê. A crítica de televisão pode ajudar.
Em guarda
A crítica de televisão pode ajudar, e
decerto por isso não tem tido uma existência fácil ao longo das décadas em que
vem acompanhando a quotidiana convivência dos cidadãos com a TV. A coisa chegou
ao ponto de, no tempo sombrio do fascismo, os mais impactantes textos de
crítica de televisão, os de Mário Castrim no «Diário de Lisboa», terem sido
terminantemente proibidos e o seu regresso só se ter verificado na sequência de
uma verdadeira pressão popular. Esse tempo passou, hoje a imprensa respira
melhor (mas nem sempre tão fundo quanto se supõe e quanto seria necessário),
mas a crítica de TV continua escassa e débil. Como se não fosse necessária,
isto é, como se uma reflexão acerca dos conteúdos que nos são diariamente
injectados não fosse indispensável. E aqui caberá uma espécie de advertência:
em verdade, na televisão tudo é informação, sem exclusão dos enredos das
telenovelas e das notícias aparentemente anódinas. Sem exclusão dos bons
momentos de TV, toda a televisão tem lastro, digamos assim. Pelo que é preciso
estar como que permanentemente em guarda. Para nosso bem. E também talvez para
bem dela.
Correia da Fonseca
E é oportuno lembrar,
entre tantos textos de mais de meio século de intervenção de Correia da
Fonseca, o que ela escreveu em 2000, na abertura do livro que integrava crónicas suas publicadas
no âmbito da colaboração no Diário do Alentejo:
2 comentários:
Correia da Fonseca ensina e alerta ,contribuindo sempre para desmontar a engrenagem manipulatória da TV.Bjo
Excelente texto do CdF, excelente ideia de o divulgares
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