sexta-feira, fevereiro 19, 2021

A saga do vaci-negócio

de páginas de um quase-diário:

19.02.2021

Ontem coloquei, em dois posts, intervenções de deputados no Parlamento Europeu, sobre o magno problema das vacinas.

Um, do João Ferreira, que sublinhava aspectos muito relevantes sublinhando a operação público-privada em benefício evidente dos privados, e outro, de deputada francesa, que se dirigia à presidente da Comissão, com grande acutilância, e denunciava a submissão da dita Comissão aos grandes laboratórios privados.

Nesta intervenção, a deputada Manon Aubry mostrou um dos documentos do acordo da Comissão com os laboratórios, a que apenas com muitos esforços os deputados tinham tido acesso… mas em que partes do acordo estavam ocultas, ilegíveis.

O que, sendo estranho, é inaceitável num equilíbrio institucional, os eleitos parecem ter de se submeter a executivos nomeados sabe-se lá (a U.E.) como, embora tenham de passar por um ritual aparentemente democratizante.

Essas partes do contrato mostrado, com tiras a negro em documento dactilografado (melhor se diria computorizado ou digitalizado) seriam evidentemente as que mais interessariam, sobre preços, calendário de entregas (e se isso nos interessa!), cláusulas de responsabilidade…

Hoje, na informação de que me “alimento” ao pequeno-almoço, encontrei, num documento dos promocionais da imagem da U.E., uma informação que considero interessante:

Biontech et Pfizer exigeaient 54 euros par dose de vaccin 

en juin

[Politique] Les sociétés pharmaceutiques Pfizer et Biontech avaient demandé 54,08 euros par dose de vaccin en juin dernier, montant qui a ensuite été ramené à 15,50 euros par dose lors de négociations.

A isto chama-se “marralhar”: o vendedor começa por oferecer a mercadoria, em Junho, por 54,08 euros a dose de vacina e acaba por a contratar por 15,50 euros a dose… em que prazos de entrega, com que cláusulas de responsabilidade em caso de não cumprimento?

E importaria também conhecer qual o investimento público para que o privado tivesse a mercadoria e… a patenteasse como sua propriedade industrial.

E eu a lembrar-me de texto de 1848 sobre a não neutralidade social do aparelho de Estado nacional (ou, actualizando, associação de Estados com apregoadas virtudes públicas mas submetendo-se e beneficiando vícios privados – e vacinas...)   

2 comentários:

Olinda disse...

Não sei o que é "marralhar",mas o que se passa com as farmacêuticas e as vacinas dá-nos uma imagem de negócios mafiosos e inescrupulosos.Bjo

João Baranda disse...

O Estado não é neutro ... está sempre ao serviço da classe dominante ... sou tentado a concordar ... abraço