terça-feira, junho 29, 2021

Desde 1992, todos os anos... Cuba, SIM, bloqueio NÃO!

 Embora antecipando (e - aqui - seja tarde), sempre a tempo:

 - Nº 2482 (2021/06/24)

Retribuir

Opinião

Quando estas linhas foram escritas não era ainda conhecido o desfecho da votação de ontem, na Assembleia-geral das Nações Unidas, reclamando o levantamento do bloqueio norte-americano contra Cuba. Mas a julgar pelos resultados mais recentes, não será demasiado ousado prever um clamor massivo, quase unânime: 191 Estados a favor e dois contra, em  2017; 189 a dois, em 2018; e, no ano seguinte, 187 a favor, três contra e dois abstiveram-se. Ao lado dos EUA votou sempre Israel e, em 2019, também o Brasil. E mais ninguém! Se não é isto a comunidade internacional, o que será?

Imposto há quase 60 anos pela administração Kennedy, o bloqueio foi agravado diversas vezes, quase sempre em momentos particularmente difíceis para o povo cubano: no início da década de 90, após o desaparecimento do campo socialista europeu (principal aliado económico e político de Cuba), e em 2020, quando a pandemia de COVID-19 ceifava já vidas um pouco por todo o mundo e obrigava a esforços – e investimentos – redobrados para proteger a saúde. As recentes medidas impostas pela anterior administração norte-americana, que reforçaram o (ilegal) carácter extraterritorial do bloqueio, não foram revertidas por Biden.

Só entre Abril e Dezembro de 2020, o bloqueio provocou à economia cubana prejuízos superiores a 3,5 mil milhões de dólares: impedida de adquirir produtos e tecnologia com pelo menos 10% de incorporação norte-americana, Cuba viu dificultado o acesso às vacinas desenvolvidas pelas principais multinacionais farmacêuticas, a ventiladores e a outros materiais essenciais a um combate eficaz à doença; na produção das suas próprias vacinas (duas delas, a Soberana 2 e a Abdala encontram-se já em fase muito avançada de desenvolvimento), foi forçada a comprar equipamentos e reagentes a preços 50 a 65% superiores ao estabelecido nos mercados internacionais.

Mas não é só Cuba que perde com o bloqueio imposto pelo imperialismo: vários países viram seriamente limitado o acesso a tratamentos e a produtos farmacêuticos e biotecnológicos desenvolvidos em Cuba, enquanto dos próprios Estados Unidos surgem apelos a uma mais estreita colaboração científica com a ilha socialista.

Apesar de todas estas dificuldades, crescentes, Cuba resiste e continua a assumir a Saúde como um direito fundamental de toda a Humanidade: a uma eficaz resposta à pandemia no país, junta-se a solidariedade internacionalista, com 57 brigadas médicas cubanas envolvidas no combate à COVID-19 em 40 territórios da América Latina, de África, da Ásia, mas também da Europa.

Que sejamos capazes de retribuir a sua solidariedade e o seu exemplo!

Gustavo Carneiro
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Em 2021, foram 184 a favor do levantamento do bloqueio,
2 (Estados Unidos e Israel) contra
 e 3 abstenções (Colombia, Ucrania e E.A.U.);
o Brasil "ausentou-se" na votação. 
"O Governo dos EUA assumiu o vírus como um aliado na sua implacável guerra não convencional, deliberada. E, oportunisticamente, intensificou o bloqueio económico, comercial e financeiro, causando ao país perdas recordes de cerca de cinco mil milhões de dólares (cerca de 4100 milhões de euros)", disse, na Assembleia Geral, Bruno Rodriguez,
ministro dos negócios estangeiros cubano.


quinta-feira, junho 24, 2021

Crónica internacional

  - Nº 2482 (2021/06/24)


Sullivando

Opinião

Dias após a cimeira entre Biden e Putin, o Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, anuncia novas sanções contra a Rússia. Os pretextos são as já estafadas mentiras anti-russas: alegados ciberataques, alegadas interferências em eleições, o alegado envenenamento de Navalny. Salivando, Sullivan anuncia já novas aldrabices belicistas: «quando tivermos imposto [estas sanções], vamos impôr novas sanções em relação a armas químicas» (CNN, 20.6.21). O único país que usou armas nucleares, com um longo historial de uso de armas químicas e biológicas, guerras de agressão, subversões, golpes de Estado (na mira está agora o Peru), ingerências e actos de terrorismo; o país que mente todos os dias e impõe a prisão de Assange e Manning, o exílio de Snowden, «culpados» de revelar ao mundo essas mentiras – esse país só conhece uma «regra»: os EUA mandam e os outros obedecem.

É legítima a dúvida: para que serviu então a Cimeira de Genebra, proposta por Biden? Para quê a Declaração Conjunta sobre Estabilidade Estratégica e o regresso dos embaixadores? O Financial Times esclarece: «A América está de volta – e quer que toda a gente se centre na China» (18.6.21). O jornal fala numa tentativa de – mudando os actores – fazer como Kissinger no início dos anos 70, quando ganhou a China para uma aliança contra a União Soviética: «a América deve deixar de empurrar a Rússia para os braços da China. Mas isso levará mais de um mandato presidencial a alcançar» sonha um analista, daqueles que pensa que somos todos parvos e que ninguém percebeu que as «alianças» e «acordos» dos EUA duram apenas o tempo necessário para que estejam em posição de desferir golpes mortais contra quem neles acreditou.

Sullivan também aponta baterias à China, afirmando que «enfrenta uma opção dramática: ou permite, de forma responsável, que os investigadores façam um real trabalho de identificar as origens [da COVID-19], ou enfrentarão o isolamento no seio da comunidade internacional» (Bloomberg, 20.6.21). De pouco adianta que «a comunidade internacional» (Organização Mundial de Saúde) já tenha feito uma «real investigação» e concluído que a COVID-19 teve origens naturais. Tal como nos referendos da UE, a conclusão não interessa e terá de ser mudada, nem que seja com ameaças e sanções: os EUA seguirão adiante «até esclarecermos a questão de como este vírus veio ao mundo e quem será responsabilizado [has accountability] por isso». «Responsabilizado»? Um morcego? Um pangolim? A eterna evolução dos vírus? A frase só faz sentido se Sullivan já predeterminou a conclusão da «real investigação».

Os sonhos duma aliança anti-China são a miragem de preservar uma hegemonia mundial dos EUA que já não corresponde à realidade económica e política. Nem todos são como Augusto Santos Silva, disposto a seguir os EUA até ao abismo. Alguns fazem contas à vida. Uma professora escreve no New Statesman (17.6.21) sobre «Porque Joe Biden foi forçado a aceitar a relação energética entre a Rússia e a Alemanha», explicando: «a retirada de sanções relativas ao gasoduto Nord Stream 2 é uma tentativa de empurrar a Alemanha para uma confrontação com a China». Mas duvida que a Alemanha esteja interessada. O mais provável sucessor de Merkel, Armin Laschet, parece corroborar (Financial Times, 21.6.21). Não se trata de boas intenções. É apenas a confirmação de que a parada e os perigos são muito elevados.

Jorge Cadima

segunda-feira, junho 21, 2021

Desinformação ou informatação



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Ora aqui está um bom exemplo
de desinformação a combater...
a não ser que
comecem lá por casa!

domingo, junho 20, 2021

Exame e examina dores

No Público de hoje:


Quem é que vai a exame?

Quem são os examinadores?

A quem é que o povo português delegou autoridade/soberania para examinar os seus representantes eleitos? 

 

sábado, junho 19, 2021

Modismos nada inocentes

Ler, reler e reproduzir

A santa resiliência

18 de Junho de 2021 Público

Antes que o jargão da tripla aliança política, económica e mediática nos submerja com a sua capacidade injuriosa e de cancelamento da crítica, devemos cuidar das palavras, observar a sua vida e perceber o sentido das suas inflexões. Num tempo que nos parece hoje já distante, mas do qual, se nascemos nos últimos quarenta anos, somos ainda contemporâneos, a palavra “progressista” teve uma considerável fortuna e sinalizava o “imaginário” político (“imaginário” é, aliás, outra palavra defunta).

Ser “progressista” era acreditar no progresso. Não no progresso tecnológico ou científico (muito embora esse também fizesse parte do processo), mas num progresso que tinha uma escala muito mais ampla: a do curso inelutável da história em direcção à “justiça” social e à “emancipação” política. “Progressista” era o termo condescendente usado pelos comunistas para nomear quem não se comprometia com lutas revolucionárias, mas também não estava do lado das soluções conservadoras ou até reaccionárias.

Nesse jargão outrora dominante, ser progressista significava olhar em frente, em direcção a um futuro radioso, em oposição aos reaccionários, que olhavam para trás, para um passado geralmente mitificado. Quando o progresso e o mundo por vir em vez de inspirar confiança e mobilizar a acção começaram a gerar o medo, ser progressista perdeu a condição de título a reivindicar.

A herança dos antigos progressistas reside hoje num pensamento que, pelos critérios de antigamente, seria considerado reaccionário (como classificar muitas das lutas identitárias e ecológicas?). Esta inversão de valores constitui um enorme desafio às representações baseadas na topologia que divide o espaço político entre esquerda e direita.

Hoje, que a palavra “revolução” passou por uma zona demoníaca e tornou-se depois uma ruína inerte, um outro “re-” substituto entrou em cena e triunfou. Comecemos por uma aproximação negativa: não é “resistência”. Resistir era a atitude do “antes quebrar que torcer”, era um heroísmo com uma dupla face: ou era épico ou trágico. A atestá-lo, aí estão, por todo o lado, os monumentos e os “lugares de memória” que celebram os “heróis da resistência”, ao serviço do uso que em cada momento se faz da história.

Um discurso do presidente francês, Emmanuel Macron, pronunciado no dia 9 de Novembro de 2020, pelo cinquentenário da morte do general de Gaulle, indica-nos qual é o novo “re-” que revogou a “resistência”. Nessa ocasião, Macron, com a eloquência francesa que serviu durante séculos como medida da “civilização”, saudou o “espírito de resiliência” do general. E assim passou de Gaulle a herói da “resiliência” francesa. Foi uma operação “revisionista” sem grandes custos: bastou a substituição de uma palavra por outra, muito mais actual. A República ganhou assim o seu terceiro “re-”, caducado que foi o tempo da revolução e fora de moda em que caiu a resistência.

Os novos tempos são pois os da resiliência. Do Atlântico aos Urais e para além, da costa leste à costa oeste e vice-versa. Temos a nova palavra-maná pronunciada a toda a hora pelos políticos democratas (sim, porque nos regimes ditatoriais os opositores não julgaram ainda adequado substituir a resistência pela resiliência, e os ditadores movem-se noutro campo semântico). Basta ouvir os nossos políticos para perceber que a resiliência se tornou uma ideologia: a ideologia do sofrimento e da infelicidade que salvam e purificam. O resistente estava disposto a quebrar; o resiliente é maleável, adapta-se a tudo, não tenta alterar nenhuma ordem, mas, pura e simplesmente, fazer o jogo da ordem presente para daí retirar ganhos.

A táctica da resiliência é o consentimento. Por cada crise, infortúnio ou catástrofe, os arautos da resiliência prometem que “vamos sair daqui ainda mais fortes”. Toda a felicidade é conseguida à custa da infelicidade, e é sempre a destruição que é uma fonte da reconstrução. Aliás, o pressuposto da resiliência, essa terapia inventada nos gabinetes clínicos da aliança económico-política, é que a infelicidade é um mérito e a destruição uma bênção. Uma coisa que tem o nome de “Plano de Recuperação e Resiliência” poderia ser uma prescrição médica seguida numa associação de alcoólicos anónimos. Tudo neste jargão político tresanda de vício e de uma execrável ideologia.

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há que resistir revolucionariamente!

quinta-feira, junho 17, 2021

Os retratos e os retratados

  - Nº 2481 (2021/06/17)


Ei-los

Opinião

A deslocação de Joe Biden a Inglaterra para participar na cimeira do G7 – Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos da América – saldou-se como seria de esperar por muita parra e pouca uva. Num faz de conta de que veio reatar laços de cooperação desfeitos por Trump, o presidente norte-americano anunciou aos «parceiros» o que já tinha sido decidido em Washington e fez voz grossa à China e à Rússsia, no que logo foi seguido pelo afinado coro da União Europeia e da NATO.

O denominador comum, para consumo público, parece ter sido Alexei Navalny, o opositor de Putin preso na Rússia desde meados de Janeiro, a quem a Amnistia Internacional retirou em Fevereiro a designação de «prisioneiro de consciência» devido às suas posições racistas e xenófobas, como comparar imigrantes muçulmanos a baratas e defender o porte de armas de civis para «resolverem» o problema. O mesmo Navalny que em 2007, depois de ter sido expulso do partido liberal Yabloko por denegrir a sua imagem, formou o próprio partido, Narod, e logo recebeu uma bolsa de estudo do Programa Maurice R. Greenberg da Universidade de Yale, nos EUA, que forma líderes políticos. E ainda há quem diga que não há coincidências!

Voltando à reunião na Cornualha, cabe lembrar que para além de varrer da zona os sem-abrigo que podiam estragar a foto de família, serviu ainda para Biden dizer coisas de duvidoso tacto, como afirmar que a rainha, por quem foi recebido, lhe fazia lembrar a mãe. O Palácio de Buckingham não esclareceu se a monarca, que por acaso conheceu os 12 presidentes que antecederam Biden e já «enterrou» sete deles, apreciou a comparação, mas adiante.

No interim do que verdadeiramente interessa, o encontro agendado para ontem com Vladimir Putin, na Suíça, a viagem do presidente norte-americano à Europa foi antecedida de um gesto pretensamente magnânímo: o anúncio da doação de 500 milhões de doses de vacinas contra a COVID-19 a países pobres. Os convivas do G7 não se ficaram atrás e do conclave saiu a promessa de doar mil milhões de doses aos mais desfavorecidos. Até podia parecer grandioso não fora o portal estatístico «Our World In Data» vir estragar a pintura com a informação de que enquanto os países ditos desenvolvidos já vacinaram mais de metade da sua população com pelo menos uma dose de vacina, nos países em desenvolvimento essa percentagem não chega a 1%.

E por falar em números, o Instituto para a Paz e a Economia acaba de divulgar que, no total, os conflitos bélicos custaram 14 400 mil milhões de dólares por ano aos diferentes países envolvidos, o que representa 10,5 por cento do PIB mundial, ou seja 1895 dólares por pessoa, cinco dólares por dia.

Eis o mundo capitalista no seu esplendor.

Anabela Fino

quinta-feira, junho 10, 2021

Regiões (nem) à vista (desarmada)!


Iliteracias

Opinião

Por superficialidade, iliteracia ou ingenuidade, tomando por certo a inexistência de outras tortuosas intenções, são dados à luz títulos de imprensa que qualquer leitor desprevenido toma por certos. É disso exemplo o que anunciava, a propósito de uma entrevista do secretário-geral do PS, «regionalização em 2024». Os mais entusiasmados ou crédulos podiam ser levados a pensar que o PS, responsável com PSD e CDS, pelo incumprimento da Constituição da República há mais de 45 anos havia sido possuído por um qualquer assomo efectivamente descentralizador. Depois de anos a combinar com PSD o que fazer para a impedir, desde recurso à revisão constitucional como as de 1997 ou o acordo já em 2018 subscrito por Rio e Costa para em nome da democratização das CCDR a manter adiada, mandaria a prudência leitura atente da entrevista. Em rigor, o que António Costa afirma o que permitiria seria um título do tipo, «regionalização uma vez mais adiada» ou, num jornalismo mais sensacionalista, «regionalização para o dia de São nunca à tarde». O que ali se diz é que lá para o final de 2024 se procederá ao inicio de uma avaliação do que chama de «processo de descentralização em curso», leia-se transferência de encargos para as autarquias e desresponsabilização do Estado, que feita essa avaliação se iniciará depois um debate público sobre as vantagens de criação das regiões administrativas. Registe-se esta ideia de pôr em debate a Constituição e o que ela determina. Há de admitir que só com uma enorme boa vontade alguém podia, a partir do que foi dito, concluir o que em título foi dado à estampa.

Jorge Cordeiro

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 ... e tão necessárias são para o avanço 
da democratizacão do País... 
além de serem obrigação constitucional!










Há 1/4 de século!









a resposta só pode ser uma: 

FAÇAM-NAS, porra!

quinta-feira, junho 03, 2021

Sobre dislexias e luta de classes

 A regalar-me com a esclarecedora opinião de Jorge Cordeiro, que de tão esclarecedora me exigiu divulgação, assaltou-se uma reflexão que me toma frequentemente sobre a questão do léxico e seus escaninhos. A ela me devolvo, após a leitura e divulgação da opinião de Joge Codeiro, que vivamente recomendo 

 - Nº 2479 (2021/06/2)

Dislexia política

Opinião

Manda a prudência que se não extraiam ilações precipitadas do que à primeira se pode ser levado a concluir. O rigor conclusivo de fenómenos, políticos ou não, é sempre mais exigente e menos linear do que neles é dado observar.

Rui Rio proclamou no conclave que uniu a nata do grande capital e dos seus representantes políticos e económicos de que só ali estava porque aquilo, onde havia desaguado, não era um congresso da direita. Se assim fosse, acrescentou lesto, ali não estaria porque o PSD não é de direita.

Espíritos mais abertos ou juízos de almas mais compreensíveis sempre predispostos a conclusões benévolas remeterão a questão para o foro psíquico. Na verdade, a confusão entre esquerda e direita é uma das três dezenas de expressões da sintomalogia disléxica. Em concreto, um problema com reflexos no plano da inteligência espacial, sem implicações na inteligência cognitiva. Sem a gravidade, em termos de consequências, de outras expressões. Tirando a maçada de ter de dar umas voltas a mais a uns quarteirões para se chegar ao destino desejado sempre se acaba por lá ir ter.

Como se pode ver teria sido isso que sucedeu a Rio. Trocando as mãos, virando para o lado contrário para onde havia feito sinal e, zás!, quando deu por isso estava onde julgaria não estar. E como Rio tratou de acrescentar já que ali estava, não sendo de direita, porque se de direita fosse ali não estaria, aproveitaria para unir as direitas! Confuso e para lá da dislexia? Arredada a imprudência de olhar os factos pelo que aparentam o que emerge é, no plano político, o que se sabe.

Rui Rio tem para o País um projecto antidemocrático e de perversão do regime que a Constituição consagra, projecto que rivaliza com os seus pares, originais ou sucedâneos, que enxamearam aquele espaço, sejam Passos Coelho, Francisco dos Santos ou André Ventura.

                                                                                                                                                        Jorge Cordeiro


Ora, dizem os especialistas da neurologia que a dislexia é uma disfunção neurológica, que se manifesta ao nível da dificuldade de aprendizagem da leitura, em pessoas com inteligência normal ou acima da média. O que, a mim que sou leigo (em quase tudo), bem me parece que a questão também tem a ver com o léxico, ou seja, com o dicionário em uso e, por vezes, imposto ideologicamente. Assim sendo, aceitando sem rebuço o uso no léxico político da distinção direita-esquerda, também considero de juntar outras distinções, mais esclarecedoras ainda, e que têm a ver com o posicionamento político-partidário dos cidadãos e de como se agrupam partidariamente. Diria, nesse sentido dicionário, que num léxico mais ideológico, que adopte a separação entre interesses de classes sociais, me parece claro que há um tratamento na comunicação dita social que, se aplica e fomenta uma abordagem que coincide com a divisão direita-esquerda, vai mais ao fundo da questão social e exclue da equidade de tratamento direita-esquerda aquela esquerda que, sendo esquerda, também é ideologicamente de classe. Com maior clareza: o PCP não tem o (des)tratamento que tão evidentemente lhe é dado na dita comunicação social por ser de esquerda mas por ser de classe, de onde tantas vezes haja quem se perturbe com o tratamento privilegiado que tem uma certa esquerda que, como tal se afirmando, faz o mesmo "jogo" da direita, na perspectiva - claro! - da classe que esta representa e defende.