sexta-feira, outubro 10, 2008

Materialismo histórico - 28

De uma forma um pouco diferente, sob a inspiração do momento da escrita, ter-se-ia chegado, no último passo, ao capitalismo. Como modo de produção e como formação social.
Se no feudalismo a terra era a força produtiva nuclear, dela se procurando tirar tudo o que era possível com a ajuda dos meios adquiridos, dos instrumentos de trabalho que sobre ela, enquanto objecto de trabalho, agiam, no capitalismo a força produtiva nuclear passou a ser os instrumentos de trabalho.
E se no feudalismo a relação social fulcral era entre os senhores da terra e os servos da gleba, no capitalismo passou a ser entre os detentores dos meios de produção, sobretudo dos instrumentos de trabalho, e os trabalhadores, sobretudo os operários, os que operam com esses instrumentos.
Eram estas as linhas dinâmicas gerais e repete-se (até à exaustão, de quem lê e de quem escreve) a prevenção de que não se pretende estar a escrever História mas tão-só a que este caminho de que se procura dar notícia não seja mais que o de grandes etapas por que passou a Humanidade.
O arado de madeira dera lugar à charrua de ferro, a tracção por animais cada vez melhor domesticados e com melhores aparelhos passou a ter outros propulsores, como com a máquina a vapor, as ferramentas tornaram-se máquinas-ferramentas, criaram-se debulhadoras, empilhadoras, tudo o que continuava uma evolução imparável no aproveitamento da natureza e das transformações nela introduzidas pela força de trabalho para complementar a força de trabalho.
“A burguesia desempenhou na história um papel altamente revolucionário”. Quem o escreveu foi Marx e Engels no Manifesto, e são páginas que se devem ler como autênticas lições de objectividade. “Tudo o que era dos estados (ou ordens sociais – ständish) e estável se volatiliza, tudo o que era sagrado é dessagrado, e os homens são por fim obrigados a encarar com olhos prosaicos a sua posição na vida, as suas ligações recíprocas.”

Há que não perturbar a escrita (e a leitura) com juízos de valor escorados em condições, princípios, valores enfim, de hoje e de aqui. Na ruptura com o feudalismo como modo e formação social predominantes, o capitalismo caracteriza-se por

  • grande aceleração do desenvolvimento das forças produtivas
  • trabalho assalariado
  • relação fundamental capital-trabalho, em que o primeiro termo significa a propriedade dos meios de produção e de troca por uma classe, e o segundo termo a força de trabalho tornada mercadoria
  • a lei fulcral da produção acrescida da mais-valia proveniente da exploração do trabalho assalariado.

Como é evidente, tudo isto tem de ser muito explicadinho, com a certeza de que a todo o momento há mudanças, quando não convulsões. De crises se falará…
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Foto (Vitral) de João Santiago

6 comentários:

Anónimo disse...

Lamento não ter nada a acrescentar, mas não resisto em manifestar o meu encanto - é o termo mais adequando - a este post. É "curto e grosso" (passem a expressão).

Meu colega (o Luiz) e eu partilhamos a mesma opinião acerca do blog do Sérgio Ribeiro: um achado. :-D

Quando tiver lido finalmente os posts acerca do Materialismo Histórico (e muitos outros), talvez deixe (deixemos) aqui algumas questões acerca da concepção marxista do Mundo. Este aparenta ser um local onde seremos bem esclarecidos, inclusive pelos comentadores habituais.

Boa noite.

Sérgio Ribeiro disse...

É bom começar assim o dia.
Aqui a mais-valia são os comentários. Nem todos, nem todos... Mas estes sim, Venham as questões!
Bom dia.

Anónimo disse...

E com a queda do Feudalismo e a chegada do Capitalismo aparecem os trabalhadores livres!....

Sérgio Ribeiro disse...

Sim, amigo e camarada antuã... livres de venderem a sua mercadoria força de trabalho, criadora de valor (de uso e de troca) e de mais-valia, aos detentores dos meios de produção.
Grande abraço

Maria disse...

Ontem à noite não tive net, e hoje estou a pôr em dia as leituras obrigatórias.
Vamos entrar, aqui, na parte mais actual do MH e, como dizes, vai ter que ser tudo muito bem explicadinho...
... quem sabe o nosso PM e ministros não vêm aqui fazer revisões de matéria dada há muito tempo e não revêem algumas posições...

Estava a tentar ironizar. Não me esqueço que "é a luta de classes, estúpido".

Sigo viagem para o post de cima.
Sei que daqui a bocado estarás em Espinho. Sei que vai ser, com certeza, muito bonito...

Sérgio Ribeiro disse...

Curioso, Maria. 1:18, hora do teu comentário, vinha eu a 120 (+/-) pela A1 a regressar de Coruche onde, no Museu Municipal, se fez uma iniciativa à volta dos "50 anos" que foi... diferente. Em conversa amena, depois de ter assistido à parte final de uma sessão da AMunicipal convocada extraordinariamente. Conversámos, animadamente, 15 camaradas e não só, sobre a situação que estamos a viver. É isso que temos de fazer, a partir do livro e destes episódiod do MH. Para ONDE vamos sabemos, COMO e "QUE FAZER" temos de inventar colectivamente, QUANDO... depende.
Daqui a pouco lá vou para Espinho: "50 anos" e hóquei!