Não. Não acabou. Tem é havido muito pouca disponibilidade relativamente à disponibilidade que esta série me exige. Aproveito um trecho (adaptado) de uma intervenção pública para continuar:
“… a possibilidade de ocorrência de sobressaltos na circulação começa com a transformação de M-M (coisa trocada por coisa) em M-D-M (mercadoria trocada por mercadoria por intermédio de moeda, na designação genérica de dinheiro). Com o modo de produção capitalista, a circulação passa a ser D-M-D (dinheiro trocado por mercadorias para serem trocadas por dinheiro), e as crises começam a fazer parte do funcionamento do sistema pois a circulação exige que as mercadorias se troquem por dinheiro e a finalidade dela deixou de ser o de satisfazer as necessidades sociais, com M (coisas), mas o de realizar mais dinheiro, com D’ (mais dinheiro) no final da circulação económica e, para essa realização, não são suficientes as potencialidades de procura para consumo criadas na esfera produtiva.
Na viragem da década de 70 para a de 80 do século passado, tudo se complicou ainda mais com a ultrapassagem, no quadro da luta de classes, de um pico de crise (monetária com inconvertibilidade do dólar, do petróleo) pela via neo-liberal, monetarista, com expressão no maior papel da circulação D-D’ (dinheiro trocado por mais dinheiro, sem passar pela criação de bens, de riqueza). Chamemos-lhe especulação (bolsista e outras).
Mas esta foi uma forma, precária, instável e desestabilizadora, de ultrapassar uma contradição. Agravando-a. E, ao mesmo tempo, relevando a crise como inerente ao sistema, pois servindo para o capitalismo tentar superar, dentro dos seus parâmetros de classe, a contradição fulcral no seu funcionamento, cuja é a do desenvolvimento incessante e sem limites (até os que deveria ter!) das forças produtivas em oposição às dificuldades e aos limites da valorização do capital, enquanto valor sob forma monetária.
Daqui resulta a necessidade, para a sobrevivência do sistema, da destruição de forças produtivas excedentárias (maxime, de seres humanos), excedentárias para a reprodução do e acumulação do capital por não permitirem o processo de sua valorização como valor monetário.
Capital cada vez mais concentrado e menos valendo porque, mantendo-se a necessidade vital de criação de mais-valia e agudizando-se o desenvolvimento da contradição entre a capacidade de produção e a capacidade de consumo, esse capital monetário está cada vez mais empolado pela desmesurada circulação D-D’ (dinheiro --> dinheiro), mais acrescido desmesuradamente pelo crédito, também face às pulsões das necessidades e insuportáveis travões na evolução dos níveis salariais.
Por isso mesmo, no actual e gravíssimo pico de crise, a injecção de dinheiro pelo “moderno poder de Estado (que… lê-se no Manifesto) é apenas uma comissão que administra os negócios comunitários de toda a classe burguesa”, é solução precária para a situação estrutural, sistémica, agravando-a a prazo, prazo cuja dimensão temporal é imprevisível - e só esta o é, na "leitura" do materialismo histórico.
Na viragem da década de 70 para a de 80 do século passado, tudo se complicou ainda mais com a ultrapassagem, no quadro da luta de classes, de um pico de crise (monetária com inconvertibilidade do dólar, do petróleo) pela via neo-liberal, monetarista, com expressão no maior papel da circulação D-D’ (dinheiro trocado por mais dinheiro, sem passar pela criação de bens, de riqueza). Chamemos-lhe especulação (bolsista e outras).
Mas esta foi uma forma, precária, instável e desestabilizadora, de ultrapassar uma contradição. Agravando-a. E, ao mesmo tempo, relevando a crise como inerente ao sistema, pois servindo para o capitalismo tentar superar, dentro dos seus parâmetros de classe, a contradição fulcral no seu funcionamento, cuja é a do desenvolvimento incessante e sem limites (até os que deveria ter!) das forças produtivas em oposição às dificuldades e aos limites da valorização do capital, enquanto valor sob forma monetária.
Daqui resulta a necessidade, para a sobrevivência do sistema, da destruição de forças produtivas excedentárias (maxime, de seres humanos), excedentárias para a reprodução do e acumulação do capital por não permitirem o processo de sua valorização como valor monetário.
Capital cada vez mais concentrado e menos valendo porque, mantendo-se a necessidade vital de criação de mais-valia e agudizando-se o desenvolvimento da contradição entre a capacidade de produção e a capacidade de consumo, esse capital monetário está cada vez mais empolado pela desmesurada circulação D-D’ (dinheiro --> dinheiro), mais acrescido desmesuradamente pelo crédito, também face às pulsões das necessidades e insuportáveis travões na evolução dos níveis salariais.
Por isso mesmo, no actual e gravíssimo pico de crise, a injecção de dinheiro pelo “moderno poder de Estado (que… lê-se no Manifesto) é apenas uma comissão que administra os negócios comunitários de toda a classe burguesa”, é solução precária para a situação estrutural, sistémica, agravando-a a prazo, prazo cuja dimensão temporal é imprevisível - e só esta o é, na "leitura" do materialismo histórico.
7 comentários:
Este post fez-me lembrar estas palavras:
«As relações burguesas de produção e de intercâmbio, as relações de propriedade burguesas, a sociedade burguesa moderna que desencadeou meios tão poderosos de produção e de intercâmbio, assemelha-se ao feiticeiro que já não consegue dominar as forças subterrâneas que invocara. De há decénios para cá, a história da indústria e do comércio é apenas a história da revolta das modernas forças produtivas contra as modernas relações de produção, contra as relações de propriedade que são as condições de vida da burguesia e da sua dominação. Basta mencionar as crises comerciais que, na sua recorrência periódica, põem em questão, cada vez mais ameaçadoramente, a existência de toda a sociedade burguesa. Nas crises comerciais é regularmente aniquilada uma grande parte não só dos produtos fabricados como das forças produtivas já criadas. Nas crises irrompe uma epidemia social que teria parecido um contra-senso a todas as épocas anteriores - a epidemia da sobreprodução.»
Tirado, como sabem, do Manifesto.
Esta fase sobre o MH tem muitos pontos que não absorvo com tanta facilidade, e há pouca nitidez nos meus pensamentos. Por exemplo, esta frase:
"limites da valorização do capital, enquanto valor sob forma monetária."
Embora tenha suspeitas acerca desse limite, está tudo muito nublado... e talvez esteja já mais que explicado neste pelo blog!
As peças vão-se encaixando...
Bruno
Meu Caro Bruno,
quase a correr, lembro a "baixa tendencial da taxa de lucro", sendo o lucro o epifenómeno da mais-valia, e a evolução da "composição orgânica do capital", em que tende a diminuar o capital variável origem da mais-valia, o que obriga a aumentar a taxa de exploração.
Um abraço
“moderno poder de Estado (que… lê-se no Manifesto) é apenas uma comissão que administra os negócios comunitários de toda a classe burguesa”
Curioso!... Ainda há bem pouco tempo o inexplicável ministro Pinho afirmou que "este governo é um conselho de administração de luxo..." :)))
Abraço
E então não é?!
Claríssimo!
E desesperante!
Desde ontem que me pus a reler sobre a composição orgânica do capital, e pus-me a preparar um novo comentário, mas quanto mais se lê e se sabe, mais se precisa de ler; espero amanha conseguir ter um tempo para publicar aqui o comentário.
Quer o faça ou não, é para desde já agradecer a resposta, que muito me ajudou a direccionar na minha busca.
Agora está na hora de apreciar um belo prato gastronómico. Quantos conselhos de administração não esquecem aqueles, cujos prazeres gastronómicos é um luxo. Ali por São Bento parece haver pelo menos um.
Portanto, agora que fui rever o que é a "composição orgânica do capital", conceito que não tinha interiorizado, ver se estou agora a ver melhor o boneco:
1-
Devido à concorrência entre burgueses no mercado, faz tender o lucro para zero...
2-
Sendo o lucro epifenómeno da mais-valia, surge a tendência para o aumento da taxa de exploração (mais-valia)...
3-
Por sua vez, como
COC = (m)/(c+v)
Sendo:
COC = Comp. Orgânica do Capital
m = Mais-Valia
v = Capital Variável
c = Capital Constante
A competição entre burgueses também obriga-os a um aumento do capital constante, que juntamente com o desenvolvimento tecnológico, permite a diminuição do capital variável.
A diminuição do capital variável resulta em maior taxa de exploração. Pois apesar de este desenvolvimento técnico permitir menor trabalho para a mesma quantidade de trabalho, o trabalhador continua a trabalhar e a receber o mesmo; resultando num aumento da mais-valia. Certo?
4-
Mas, com tudo isto, parece-me então que, o limite da valorização do capital está no limite da exploração dos trabalhadores.
Ufa..! E por aqui me fico, que isto abre o apetite! :-P
Espero não andar a fazer uma tremenda confusão.
Bruno
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