segunda-feira, novembro 30, 2009

O Livro segundo

Engels previa, no seu prefácio – e o José Barata-Moura sublinha em apresentações da tradução que fez –, que “o volume segundo (de O Capital) vai suscitar grande desilusão, por ser tão puramente científico e não conter muito de agitatório”.
Em parte, corroboro porquanto os Tomos IV e V do Livro segundo são menos apelativos à agitação quanto o seriam os três tomos do Livro primeiro. São de grande densidade na análise dos processos de circulação do capital, das suas metamorfoses e reprodução, com exemplificações e ilustrações – sem o recurso ao Excel... – por vezes exaustivas... e que deixam o leitor/estudioso exausto.
Mas só em parte. Porque, por vezes, dá para parar e sorrir, com a fina ironia que Marx usa, pela qualidade da sua escrita.
Por exemplo, num trecho que reproduzo e em que inclui notas que julgo pertinentes (de passagem):
«De passagem. O senhor capitalista, tal como a sua imprensa, está frequentemente descontente com a maneira como a força de trabalho* despende o seu dinheiro, e com as mercadorias II** em que ela realiza o mesmo***. Nesta oportunidade, ele filosofa, tagarela de cultura e filantropiza (...).
«Longas horas de trabalho parecem ser o segredo do comportamento racional e saudável que há-de elevar a situação do operário pelo melhoramento da sua capacidade espiritual e moral e fazer dele um consumidor racional.»
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* - não a força de trabalho mas o seu “proprietário”, o trabalhador que vendeu a força de trabalho.
** - sector de produção dos meios de consumo.
***- que ele, o trabalhador, compra com o dinheiro da venda da sua mercadoria, a força de trabalho.

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