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No entanto, à noite – antes de adormecer, claro – ainda li umas
coisas (que coisa!) em jornais que estão a atrasar-se ou adiantados em relação ao meu atraso.
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Apanhei com Espírito Santo em todas as opiniões e posições (uma
espécie de Kama Sutra…).
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Ele é o ESI, ele é o ES Control, ele é o BES e o seu fundo de pensões,
ele é o Grupo ES, ele é a “família” Espírito Santo, com o Pai, o Filho e,
sobretudo, o “padrinho” que… coitadinho.
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Ora, para mim, tudo isto me transporta umas dezenas de décadas
atrás, aos meus primórdios, e me ajuda a partir daí para percorrer em
“ongoing” (mais uma... mas com outro sentido) uma vida que é a minha e a sua
aprendizagem que continua.
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E dá-me uma irreprimível vontade de escrever essa história minha, que se insere
e ensina muito da outra, a do agá grande: História.
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Que é a da luta de classes… desde que há classes, invenção humana
embora copiada do reino animal, de que o ser humano se julga senhor e, alguns,
dono.
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Conte-se, contidamente:
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Nos idos anos 50 do ido século XX, ajudava o meu pai nas suas
actividades de pequeno comerciante, com residência e “armazéns” (dois pequenos
barracões no quintal) na Rua do Sol ao Rato.
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Assim, sendo esse o local central da vida e das operações, natural
foi o prolongamento próximo para o balcão do Largo do Rato do Banco Espírito Santo e Comercial
de Lisboa, que era – e ainda é – já no começo da rua Alexandre Herculano na bifurcação para a Braamcamp.
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Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa, que comecei a
frequentar... com alguma frequência.
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Primeiro, só por conta de outrém, que meu pai era, depois, também por
minhas contas e rosários, que entretanto abrira.
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Antes de entrar para Económicas fui ali apre(e)ndendo “economia
bancária”, que me ensinou que ali se depositavam poupanças e se pediam
empréstimos, garantidos por documentos, como letras e livranças, e só possíveis
por serem tais empréstimos alimentados por esses depósitos, os nossos e os de
outros.
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Meu pai queixava-se de ser difícil conseguir tais empréstimos, que
não eram senão adiantamentos, e mais o fazia quando, periodicamente, tinha de
reformar letras, ou seja, de renegociar, de reestruturar, ou o que queiram chamar mas
que tinha a ver com montantes, prazos e juros.
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Tudo contido, controlado pelo Banco de Portugal – que então não era
regulador que não regula nada mas controlador que controlava… tudo – e sua taxa de
desconto salazarenta, igual para tudo.
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Algumas vezes falei com meu pai sobre isso e sobre a necessidade de uma
banca que não fosse tão-só comercial, mas que incentivasse o comerciante e o
industrial, que ajudasse ao crescimento económico.
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Assim fui crescendo, primeiro mais por fora que por dentro, depois
– acho eu… – mais por dentro que por fora.
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O que levou a contratempos – prisão e outras coisas piores –, mas
com alguma segurança material pelas poupanças depositadas no BESCL-Largo do
Rato.
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Quando nasceu o primeiro filho abri-lhe uma conta a prazo e, quando
nasceu o segundo – filhos únicos é de evitar! –, fiz o mesmo.
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No BESCL-Largo do Rato.
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E como os saldos da conta minha não eram, então, desprezíveis, com
a inevitável “abertura marcelista” e a “nova política industrial” – a que
Salazar não teria conseguido fugir e até caboucara - sem se abrir mão da política
fascista e guerra colonial, ao balcão do Largo do Rato foram-me propostas
“aplicações”, de rendimento certo numa agitação bolsista que (a)pareceu
desmesurada.
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Recusei, porque estava, como sempre estive e estou, do lado da vida
e não do lado da Bolsa e suas (a)variações.
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O certo é que tudo mexia e resumia, então, o dilema do investimento em capitalismo entre o pão e a “pastilha elástica”, com a decisão
“natural” a partir das respecttivas taxas de lucro, por muito que pudesse
escassear o necessário pão e fosse desnecessidade a “pastilha elástica".
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De episódio quantitativo em episódio quantitativo, se chegou ao
salto de 25 de Abril de 1974, consolidado em 11 de Março de 1975.
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O BESCL passou a fazer parte de uma banca nacionalizada, ao serviço
do povo, a exigir uma reestruturação em que o movimento de dupla-face depósito
de poupanças-concessão de crédito fosse diversificado, e se integrasse numa
política global onde o papel da banca tivesse lugar fulcral no financiamento à
economia… produtiva!
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Reestruturação que ficou por fazer, como a do Sector Empresarial do
Estado e, para resumir, a da parte económica da Constituição.
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E foi, desde os governos a partir desta constituídos, a
contra-revolução, o regresso lento - e sempre com resistência - ao redil da
integração capitalista europeia e à correlação de forças em que sobrenada a
exploração do trabalhador e a desigualdade social dela decorrente.
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Nos anos 90 do ido século, depois da inconvertibilidade do dólar desde
1971 e o derrube dos constrangimentos a Leste, com a progressiva ficticização
do capital-dinheiro, a banca, recuperada pelos antigos donos e senhores, ganhou
um enorme alento suicida.
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Foi a financeirização da economia.
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O BESCL, agora BES, “devolvido à família Espirito Santo”, entrou no jogo todo,
tomou lemes e rédeas.
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E fez disso alarde em certos momentos, como foi o de chamara a "troika" para nos invadir explicitamente, sem pensar no ricochete, sem pôr as barbas de molho.
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Bem pelo contrário.
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O médio e o longo prazo deixaram de contar (Keynes, se relembrado,
diria que amanhã estaremos todos mortos… e não importa os que nasçam depois de
amanhã).
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Especular, especular, especular sempre e cada vez mais.
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A opção deixou de ser entre o pão e a ”pastilha elástica” para passar a ser
entre o nada e a coisa nenhuma, para o que dê maior dividendo ou cotação na Bolsa, ou o
“off-shore” mais rentável e/ou menos fiscal izado.
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Está a dar-se o esperado.
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Está a dar-se o previsto, o prevenido e… o inevitável na correlação
de forças dominante sempre, aqui e ali, mais ou menos moderado pela
resistência… porque nunca nenhuma força está sozinha, toda a força tem o seu
contrário.
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O que está a acontecer ao “meu” BES, se diferente nas formas, nasce
do mesmo que aconteceu ao PBN, ao BPP, ao BCP.
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Entretanto, pode comprar-se hoje a 0,6 o que amanhã se pode vender a
1, transferindo riqueza (das nações) de mão em mão sem que nada se crie, e sem que se recuperem os milhares de milhões volatilizados.
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Filme de
terror?, estou de acordo com a designação do género, embora me interesse muito mais
o genérico e a ficha técnica!
10 comentários:
Bela lição de História!
A crise capitalista no seu apogeu.A mostrar-nos que as suas grandes contradicoes sao um prel[udio da vitôria do trabalho sobre o capital.
Um beijo
O império prepara-se para a guerra nuclear.
Tão bem descrita a história da Banca ao longo dos tempos e a sua evolução para um sistema bolsista que usa o dinheiro das pequenas poupanças( e também das muito grandes, mas essas saem sempre beneficiadas) em proveito do grande capital!!!!!
Saudades,tantas, de Vasco Gonçalves que nacionalizou a banca ao serviço do POVO!!!!!!!!!!
Um beijo.
BESCL Praça do Brasil
Cada vez mais se justifica a homenagem ao Companheiro Vasco no dia 18/7.
Excelente lição de economia,e de como ela podia e devia ter rosto humano!
E tudo foi previsto e prevenido.
Grande Abraço, desde Vila do Conde,
Jorge
Grande lição de História e Economia, quem como eu trabalhou na Banca do capital, depois na Banca nacionalizada e voltei a assistir á sua privatização é confrangedor assistir a toda esta evolução deste sistema capitalista, e bolsista, em que uma vez mais quem sai prejudicado é o POVO!!!
Ainda há poucos minutos, ouvi na Antena-1 o Nicolau Santos afirmar que o Estado terá que injectar dinheiro no BES. Lá vamos nós pagar mais uma vez as vigarices dos capitalistas!...
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