Hoje é o
dia! Eis chegado o momento de proclamar a gloriosa máxima dos idos
de 1975 e outros quentes verões, quando bombas explodiam e matavam a Norte, onde, dizia-se, se trabalhava,
enquanto no Sul se gastava o dinheiro. Está encontrada a
deixa, porque é de dinheirinho que quero falar nesta manhã trabalhosa,
chuvosa e de grandes trovoadas, a Norte, enquanto no sul lisboeta se faz
gazeta. O dinheiro vem
à colação a propósito de um acalorado debate ontem travado na Assembleia da
República. Por isso, é este o momento em que apetece dizer, não apenas por tique reacionário, que Lisboa anda mesmo a dormir.
Entenda-se aqui Lisboa
como metáfora do poder político sediado na capital e que
não sabe, não pode, ou não quer lidar com esse monumento à livre iniciativa
e ao capitalismo solidário – contradição nos termos? – que dá pelo nome de “off-shore”.
PSD e CDS atiraram-se
ao Governo por, ao excluir o Uruguai e as ilhas de Man e de
Jersey da lista negra de paraísos fiscais, ter cometido uma ilegalidade. Ripostou o
secretário de Estado dos Assuntos Fiscais para dizer que aqueles partidos
estão a criar “uma
floresta de fantasias e falsidades”. Sobre o que está em
causa neste debate, nada como ler o detalhado trabalho do Adriano Nobre com 15 perguntas
capazes de dar resposta a algumas das questões essenciais sobre um tema que ao longo dos anos tem
aproximado, mais do que distanciado, sucessivos governos com a participação
do PSD, CDS e PS. Em causa estão paraísos de acesso
restrito, onde nem a lei fiscal, nem as autoridades judiciárias ou a
supervisão financeira entram, decidem, ou controlam o que quer que seja.
São muitos e estão espalhados pelo mundo, como o mostra este trabalho da Economist
Intelligence Unit.
São milhões, biliões de
euros a circular em roda livre, ao ponto de, num estudo bem
mais antigo daquela estrutura ligada à insuspeita The Economist,
sintomaticamente intitulado “Lugares
ao Sol”, se afirmar, após o sub-título “parasitas ou pioneiros?”
que estes centros “são
frequentemente retratados como parasitas financeiros que
sobrevivem desviando impostos e outras receitas da economia ‘real’,
oferecendo um paraíso para
fraudes fiscais e lavagens de dinheiro. Em parte isto
continua a acontecer – mas acontece de igual modo nas grandes economias”.
Pois. Valha-nos Stº António, que não tem culpa nenhuma disto e só está à
espera do S. João para tomarem juntos um copo com o S. Pedro. Até porque já
perceberam que, não
obstante estes ocasionais e trepidantes desaguisados, tudo vai continuar na
mesma no que às “shores” que são “off” diga respeito.
Porque Lisboa prefere continuar a dormir.
(...)
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"Acordai!"
enquanto tanto há quem cante e dance...
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1 comentário:
De vez em quando surgem uns "papers"sobre as contas em determinados paraísos,mas de pronto,cai no esquecimento e os dinheiritos continuam salvos.Os media contribuem para que os trabalhadores fiquem confundidos impedindo-os de acordar.Bjo
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