INTRODUÇÃO À MANHÃ – V
Parece terem antecipado a
reflexão de uns dias. Ela, a reflexão, estava agendada para logo à meia-noite
(como o recolher obrigatório, não é?), mas já a começaram. Aflitos.
Baseadas ou não em sondagens,
encomendadas ou não, as pré-campanha e campanha eleitorais começaram em “lume brando”,
de que não se esperava que levantasse muita fervura. Em ambiente de surto epidérmico,
de que também não se esperava a dimensão e a gravidade que está a ter.
Para melhor localizar, até
se pode dizer que houve uma pré pré-campanha eleitoral numa “histórica” (para a
pequena história) declaração do Primeiro Ministro em surpreendente apoio-empurrão
ao Presidente da República em exercício, numa visita à Auto-Europa. Mas deixe-se esse episódio para outras reflexões
igualmente a procurarem desatar nós em novelo emaranhado.
Bem… era para ser apenas o
cumprimento de um ritual, que a Constituição imporia com os seus prazos de
mandatos, irrevogáveis sem revisão que teriam prazos para que não se fique fora
de lei.
Um mero ritual, baseado ou
não em sondagens, encomendadas ou não.
Marcelo seria afectuosamente
reeleito. Calmamente (apesar de, ou até porque, teria de dar apoio ao executivo
a ter de encarar um teimoso vírus, de que os dois eram a frente visível de
combate) percorreria a passadeira cor-de-rosa avermelhada com tons de laranja,
até à entronização. Calcorrearia o tempo destinado a campanha, ladeado por
damas (e damos) de honor a lançarem pétalas (algumas com inofensivos espinhos)
para abrilhantarem a suave e leve caminhada de predestinado para ser, e voltar
a ser, presidente.
Assim se foi ajustando o
episódio necessário mas que quase se diria dispensável e, com o agravamento
pandemónico, com incomodidade crescente mas sem alterar as previsões e
sondagens (claro!).
É verdade que apareceu, com
inusitada e excessiva exuberância, um animador nem de todo inesperado, a afirmar-se
gritadamente e em atitude provocadora de estraga-festas, fazendo parte do
elenco mais conservador. Parte do sistema, a berrar contra o sistema, para ter
apoio dos condenados pelo sistema.
Também é verdade, mas esta é
verdade para ser varrida para debaixo do tapete que, no cortejo, havia quem, insistentemente
pusesse em causa o sistema, baseando-se na Constituição que fundamenta o cargo
a que se candidatava o “em exercício” e os acompanhantes da campanha (acampanhante…).
Era de esperar, não seria novidade essa presença.
No entanto, a campanha como
que se desdobrou. Teimosa, persistente, conhecedoramente, esse candidato fez – efectivamente – a diferença. Que já era, mas fê-lo
repetindo até à exaustão, sem ser exaustivo, ao que se candidatava: defender,
cumprir e fazer cumprir a Constituição.
Sendo esse o mote, porque
era esse o mote!, soube glosá-lo, dominando-o com inteligência e (até) elegância.
Nada deixou sem resposta, nunca deu uma resposta esteriotipada, sempre utilizou
a expressão-mote em defesa do que ela(expressão)-ele(mote) contém de
virtualidades em favor dos desfavorecidos, do trabalho, dos trabalhadores, dos mais
pobres, do povo.
Fecho o parênteses, com
confessada dificuldade por, ao encerrá-lo, pouco ter escrito sobre o enorme
respeito e a merecida homenagem a João Ferreira.
Mas afinal, por aquilo e por
isto, pela incerteza do tempo que vivemos, pela imprevisibilidade que é sempre
a manhã de amanhã, as certezas de ontem, o inabalável (e quantificado, que há lá
algo de mais certo que o número certo às unidades em milhões, que as centésimas
em percentagens…) parece abalado ou a abanar.
O temor da abstenção fez
nascer a mobilização geral, o apelo aos mais informados e conscientes a votarem
útil (ainda que contra a sua consciência!) para evitar que o mais perigoso do
sistema que todos defendem, o que se conclama em berraria atacá-lo fique em 2º,
a requisição dos meios que se hesita requisitar para travar a pandemia: o VOTO!
Dos lares, dos asilos, dos frades e confrades, das irmãs e primas, das donas e serviçais.
Aux votes! (ont-ils dit), cidadãos… por um dia.
Não importa saber porquê,
para quê,
em quem é
e o que defende.
No dia 24 do mês 1, há apenas 1 (a eleger PdaR); há só 1 (que justificou ao que vem )
João Ferreira
(o 7º de quem desce, o 2º de quem sobe)